Hoje é dia de regressos. À escola, ao trabalho... Começa até a presidência portuguesa da União Europeia, nestas presidências semestrais rotativas. O ano começa verdadeiramente hoje, mesmo que já leve três dias passados.
E não se pode dizer que tenha começado bem, o que também não surpreende muito.
Começou com a inacreditável "estória" que tem como personagem principal o procurador José Guerra, que o governo português quis que fosse o representante português na nova Procuradoria Europeia. Quis tanto que resolveu inventar no seu currículo, atribuindo-lhe feitos que ele próprio dizia não serem bem assim, que é o que verdadeiramente faz desta uma "estória" inacreditável. Estamos habituados a que toda gente aldrabe no currículo, mesmo sabendo que são apanhados logo a seguir. Que seja o governo - uma Direcção Geral, um Ministério, seja lá o que for - a aldrabar o currículo de um seu funcionário para parecer melhor lá fora, é que é novidade.
Começou com os debates na televisão dos candidatos presidenciais. Com pouco debate, mas o suficiente para percebermos muita coisa. Por exemplo que o André Ventura também aí segue as pisadas de Trump, não debate coisa nenhuma, apenas grita e manipula.
E começou com sondagens. Para as presidenciais, que dão o candidato da extrema-direita a discutir o terceiro lugar com João Ferreira, o candidato do PCP. E para eventuais legislativas, onde o CDS desaparece, com 0,3% de intenções de voto.
O Chicão entendeu fazer queixa à ERC ... Sempre a mesma coisa: mata-se o mensageiro. Afinal, de novo, só mesmo o ano...
Foi mau de mais este ano que nos roubou os abraços e os beijinhos. Até os apertos de mão. As mãos desapareceram serviram apenas para ser lavadas, muito e muitas vezes ao dia, Para o ritual de desinfecção à entrada e à saída de um lugar qualquer. E para teclar, enfiando-nos num mundo digital onde todos julgam acima de tudo e de todos, fazendo de mentiras verdades universais, de ligeiras impressões convicções inabaláveis, construído de certezas absolutas em cima da mais insolente ignorância.
Guardaremos dele más memórias. É inevitável. Mas também é justo que o lembremos por ter sido o ano em que, em poucos meses, o mundo deu ao mundo uma vacina que tínhamos por tarefa de muitos anos. E o ano em que Trump foi corrido da Casa Branca, mesmo que permaneça ainda dentro muitas outras casas de muitas cores. Todas desbotadas!
E se um dia a História nos vier dizer que a humanidade aprendeu alguma coisa com este ano, poderemos então lembrá-lo como o início de uma nova era na nossa relação com o nosso habitat natural É esse um dos poucos sinais da esperança que poderemos levar deste ano noite de 2020.
Fecha-se um ano e uma década. Uma década que teve de tudo um pouco. Teve troika, e muitos sacrifícios. Teve incêndios. Teve BES. Teve Sócrates. Teve revolta, muita revolta, ainda assim menos revolta do que se justificaria. Mas também teve momentos de euforia e de exaltação colectiva, alguns únicos e irrepetíveis.
E teve Quinta Emenda, que deseja a todos os leitores e visitantes um bom Ano de 2020!
Chamem-lhe o que quiserem. Achem o que acharem. Por mim, "curto bué" ter um Presidente que tem a "pancada" de se mandar ao mar no primeiro dia do ano, de dar umas valentes braçadas e de, no fim, dizer que lá é que está bem: só ele e o mar. Nem me interessa se não é exactamente assim, como não me interessou nada que Marcelo tivesse estado, ou não, na primeira sessão da Cornucópia...
E acho até que que aqueles turistas todos que lhe interrompiam cada passo de regresso casa por uma selfie morrem de inveja de nós. Eu, no lugar deles, roía-me de inveja!
Está a acabar... Mais umas horas e, entre rolhas a saltar, foguetes a ribombar, luzes a voar e copos a tilintar, vai-se desta para melhor. Já toda a gente anda farta dele, mas é sempre assim: os últimos dias já quase não contam para mais nada que não seja para contar os que ainda faltam. Tudo se adia, tudo se empurra para o ano novo, engrossando-lhe as responsabilidades. Porque, ano novo, vida nova... mesmo que a vida seja a mesma de sempre.
Queremos acreditar que naquelas doze passas cabe toda uma vida nova. Que naqueles abraços se abraçam todos os sonhos que se renovam na magia de cada meia noite de 31 de Dezembro...
Não vale a pena esperar muito deste novo ano, como não valeu a penas esperar muito destes últimos. Mas os últimos dias deste que está acabar deixaram-me a estranha sensação de que já acomodamos a crise, que com ela encontramos formas de convivência.
Acredito que isso nos possa deixar mais confortados, e que até os votos de feliz ano novo façam algum sentido...