O debate sobre o salário mínimo em Portugal é sempre confrangedor. Às vezes é mesmo pornográfico. É confrangedor falar do salário mínimo mais pequeno da União Económica e Monetária, é confrangedor compará-lo com todos os restantes… E é pornográfico que pessoas como o António Borges não percam a oportunidade para reclamar que baixe!
Mas a propósito deste debate gostaria de aqui trazer um artigo que o Pedro Sousa Carvalho publica hoje no Diário Económico. Partindo de uma conhecida estória do Presidente Truman – tragam-me um economista maneta, uma alegoria aos economistas que nunca dão uma resposta única (on the other hand) – chega à conclusão que Seguro e Passos têm ambos razão no actual debate do salário mínimo. Que Seguro tem razão quando reclama que seja aumentado, porque vai induzir procura que, por sua vez leva a crescimento, a investimento e finalmente à redução do desemprego. Mas que também Passos tem razão quando se opõe ao aumento – a redução deixou a cargo do António Borges, para que não fosse ele próprio tão longe – porque as empresas poupam nos custos, baixam preços, vendem mais e, aí está, o mesmo crescimento, o mesmo investimento e o mesmo resultado na redução do desemprego.
O que acho confrangedor é que possa passar pela cabeça do jornalista que, quer o primeiro-ministro quer o líder da oposição, faça aquele tipo de avaliação. Que lhe passe pela cabeça que as suas decisões resultam do rigor da análise técnico-científica do que quer que seja!
O que acho confrangedor é que se procure credibilizar o que não tem ponta de crédito. Seguro defende o aumento do salário mínimo porque isso lhe traz vantagens políticas. Passos defende o contrário porque não pode defender o mesmo que o seu opositor. Em posições trocadas defenderiam exactamente o contrário.
Porque é essa, e não outra, a visão que têm da política. E é também por isso que o nosso salário mínimo nos enche de vergonha!
PS: É evidente que temos um problema de procura na economia portuguesa. Assim sendo…
Não há limites à surpresa pelas inqualificáveis afirmações de António Borges, em sintonia com as inqualificáveis políticas de ajustamento deste governo. A enorme insensibilidade revelada e a imagem distorcida do mundo real, nomeadamente do valor do trabalho e das pequenas e médias empresas, bem como a manifesta falta de respeito pelos governados, levam-me a concluir sobre outras insensibilidades desta gente que, das humanidades e suas expressões artísticas, tem uma visão muito redutora.
Da poesia, apenas a que se segue lhes merecerá o aplauso:
Os pobrezinhos
Tão engraçadinhos
Pedem esmolinha
Com mil cuidados
Todos sujinhos
E tão magrinhos
A linda graça
Dos pobrezinhos
De porta em porta
Sempre rotinhos
Tão delicados
Os pobrezinhos
Mendes de Carvalho, “Cantigas de Amor & Maldizer” construído sobre o poema de João de Deus “Os Passarinhos"
O que António Borges disse não é mais do que, num tom ainda mais parvo e mais intolerável, Passos Coelho tinha dito um ou dois dias antes. É normal que assim seja, que Passos Coelho diga o que António Borges, Braga de Macedo, Carlos Moedas ou Vítor Gaspar lhe digam para dizer. Se faz o que eles lhe dizem para fazer, é normal que diga o que lhe mandam dizer. E que, quando não diz o que eles querem que seja dito, e no tom que pretendem, venham eles próprios fazê-lo, deixando claro quem é quem neste processo de destruição do país em curso.
Já não há paciência para este cavalheiro… Os trabalhadores ganham de mais, os empresários são ignorantes. Só ele, que não tem vergonha – nem por onde ela passe -, que passou pelos sítios menos recomendáveis deste mundo, que governa sem ter de se sujeitar ao mísero ordenado de um ministro, que anda por aí a vender tudo o que mexe, que acumula e mistura interesses privados e públicos é abençoado pela inteligência e clarividência que lhe permitem ver o que mais ninguém vê. Que vê um milagre económico em Portugal, que acha que o equilíbrio das contas externas é uma obra ímpar deste governo de excelência, e não o resultado de uma economia destruída, sem consumo e sem investimento. Que vê reformas sobre reformas levadas a cabo por este governo de acção e de convicções inabaláveis…
É preciso quem o mande calar porque, por ele, não se cala. Nem se enxerga…
Disse-se e escreveu-se por todo o lado nestes últimos dias – e também aqui - que o governo quebrou o consenso que existia em Portugal.
Ficou hoje provado o contrário: que o governo provocou afinal o maior consenso alguma vez verificado na sociedade portuguesa!
E no entanto não há aqui qualquer contradição. O governo quebrou consensos nas superstruturas político-institucionais, mas gerou verdadeiro consenso na sociedade civil. O governo abriu brechas no campo do jogo político, dinamitou pontes das negociatas que fazem com as nossas vidas mas, sem nunca o perceber – como nada parece perceber do que se passa à sua volta -, provocou o reforço do maior dos pilares da democracia e aquele que mais temíamos estar fortemente degradado e prestes a cair.
O governo, este governo, conseguiu em pouco mais de ano congregar o repúdio e a revolta do país e o máximo denominador comum da mobilização dos portugueses. Que se uniram no maior e mais genuíno protesto cívico da História da democracia portuguesa!
Uma jornada de protesto memorável, de norte a sul do país, que juntou portugueses de todas as idades, de todas as condições sociais, trabalhadores e empresários. Sem necessidade de nenhuma organização tutelar, de qualquer máquina que aluga autocarros para encher de pessoas a despejar numa qualquer Praça da capital. Com a participação de milhares de debutantes em acontecimentos desta natureza: milhares de cidadãos, de jovens a idosos, que pela primeira vez na vida integraram uma manifestação!
O movimento surgiu nas redes sociais, e por lá se ia percebendo que iria ganhar dimensão. Mas sabe-se como é: por lá é fácil pôr um like, ou aderir mas, chegada a hora, o sofá ou a praia – e como foi quente este dia – falam mais alto e ninguém mais se lembra de um compromisso que, sabe, também ninguém leva muito a sério. Também isto este governo conseguiu quebrar: a participação em qualquer dos locais de convocatória nada, mas mesmo nada, teve a ver com os vou registados!
Neste dia quente de final de Verão, que cheirou a Primavera, quando a classe política, e os que a seguram e alimentam não se farta de dizer que Portugal não é a Grécia, enquanto para lá nos empurra todos os dias, os portugueses vieram dizer mais: Que Portugal não é a Grécia nem deixarão que seja!
É comum dizer-se que estas coisas não têm consequências, que tudo acaba quando cada um regressa a casa. Não é bem assim e, desta feita, não será mesmo assim!
Hoje muita gente recuperou algum do orgulho perdido em ser português. E isso tem um valor inestimável: é o primeiro passo para percebermos que podemos ganhar muita coisa. Resgatar o orgulho no colectivo que somos é o primeiro passo resgatar a nossa dignidade. Para, depois, não mais a deixar roubar!
Que se lixe a troika. Queremos as nossas vidas …. Eles vão perceber isto…
António Borges, o chefe de vendas que Passos Coelho contratou para vender Portugal, e que vai assumindo sem qualquer constrangimento o papel de maior odioso de todos os agentes políticos do poder, lançou o tema da semana.
Quando se pensava que na agenda política sobressairiam os dados económicos do primeiro semestre divulgados pelo INE - que não só comprovam a falência total do programa da troika e da acção deste governo que, nascido da esperança, acaba por confirmar a de todo improvável proeza de ser ainda pior que o anterior – e a confirmação final do adeus ao cumprimento do défice, por alma de quem se enterrou a economia portuguesa e se destruiu a classe média, eis que surge a privatização da RTP a dominar as primeiras páginas e a tomar conta dos comentários nas televisões.
Quando o tal senhor, que não sendo ministro mas que é o executivo mor do governo, revelou aquilo a que chamou solução atraente – eu diria mais, é uma solução muito mais que atraente: é um negócio sem risco para o investidor, como foi o da EDP e como são todos os que este senhor engendrar, porque ele não existe para outra coisa – pensei que aquilo não passaria de uma brincadeira para que se não falasse daqueles resultados. Pensei que o governo tinha todo o interesse em tapar aqueles resultados e entreter a opinião pública com outras coisas, até porque a troika chega já amanhã e haverá de servir de amortecedor.
Em alternativa poderia ser que se tratasse de um balão de ensaio: um tipo que não tem nada a perder – creio que na consideração e no respeito dos portugueses já perdeu tudo o que tinha para perder – lança o barro à parede e logo se vê como corre. Porque, evidentemente, ninguém acredita que uma coisa destas fosse lançada por António Borges sem que estivesse cozinhada no governo!
Sou a favor da privatização da RTP, como já aqui manifestei em várias ocasiões. Que não a favor da erradicação do serviço público de rádio e televisão – que poderia ser incluído nos contratos de concessão de licenças - como igualmente aqui tenha defendido. Não é que seja, em tese, contra a existência de rádio e televisão públicas. Antes pelo contrário! Sou é contra uma estação pública de rádio e televisão em Portugal, neste país concreto governado por esta gente concreta. Que a usa para nela interferir e para nela despudoradamente acoitar clientelas à custa do nosso dinheiro!
Por isso apoiei a intenção de privatizar a RTP, logo que Passos Coelho a anunciou na campanha eleitoral. Ora, privatizar não é nada disto. Depois de comissões e mais comissões a estudar o assunto, de milhões e milhões gastos em consultores, e de um ano de voltas e reviravoltas no processo, vêm dizer-nos que há uma solução atraente: entregar a exploração da RTP a privados (e vamos a ver quem são - já todos desconfiamos!) continuando nós a pagar!
Ouvi ontem António Borges, no Prós e Contras, afirmar que Portugal é o país mais desigual da União Europeia, que essa desigualdade se acentuou nos últimos anos e garantir que isso é um factor negativo para o crescimento económico.
O mesmo António Borges que diz ser urgente baixar os salários em Portugal!
A frase que dá título a este texto foi proferida por António Borges, o messias sempre adiado do PSD. Que nunca se submeteu ao voto de ninguém, nem no país nem sequer no partido. Um Goldman Sachs boy, descartado do FMI por incompetência, nas palavras que Marc Roche, jornalista e autor, deixou num livro recente sobre o banco que domina o mundo e ajudou a aldrabar as contas gregas, que, mesmo incompetente, ganha 225 mil euros do FMI – livres de impostos, como a senhora Lagarde – a que junta mais uns milhares pelas funções que mantém em conselhos de administração de empresas. O que, como o governo recentemente declarou, não tem qualquer tipo de incompatibilidade com as funções públicas que o mesmo governo lhe entregou, onde vai buscar mais uns largos milhares. Onde se tornou finalmente ministro, sem o incómodo de se sujeitar a um salário de ministro!
António Borges representa tudo o que de pior se está a passar em Portugal.
Há dez anos atrás os jovens saíam das universidades e tinham acesso ao início de uma carreira profissional. Nas consultoras – nacionais e internacionais -, nos escritórios de advogados, na banca, e nas empresas em geral. O vencimento de entrada generalizou-se nos mil euros, e a ideia que passava era que todos eram pagos pela mesma moeda, independentemente do seu valor actual e do seu potencial futuro. Chamava-se-lhes então a geração dos mil euros!
Hoje, dez anos depois, cerca de metade dos jovens nas mesmas condições não têm emprego. Não têm qualquer possibilidade de entrar no mercado de trabalho. E depara-se com ofertas de emprego como esta:
Foi aqui que chegamos. É aqui António Borges quer que fiquemos!
O ministro dos negócios estrangeiros da economia, que é ministro sem ser ministro, sem ganhar o vencimento de ministro e podendo acumular com outros vencimentos, noutras funções em grupos económicos privados que não são incompatíveis com as suas funções de ministro que não é ministro, decidiu que se tem de vender a Cimpor a estrangeiros.
Eu, por mim, não percebo sequer qual é o interesse de vender a Cimpor: uma empresa portuguesa, com quadros portugueses, que está presente em doze países. Menos ainda entendo onde é que está “o maior interesse para o país” em vendê-la – vender o resto, para ser mais rigoroso – a um grupo estrangeiro quando um português até oferece mais dinheiro – e com isso com maiores mais-valias para a CGD – para que se mantenha portuguesa. E tenho ainda muita dificuldade em perceber como é que agita um espantalho do desmembramento da empresa, quando ele próprio manifesta ser expectável que a Votorantim - o segundo maior accionista – saia na sequência desta OPA levando consigo alguns activos.
Acredito que sejam limitações minhas…
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