Ainda não há muito tempo dizia-se que António Costa canibalizara o PSD, que lhe invadira o terreno e o secara com a ocupação do centro. Agora, diz-se o contrário. Montenegro faz o que Costa fez!
Há pouco tempo Montenegro chamava a isso propaganda. Agora copia tudo, e chama-lhe "governar para os portugueses".
Há pouco tempo, Costa fazia tudo para antecipar eleições. Agora, Montenegro faz o mesmo.
Nem se sabe bem quem faz melhor. Fazem o mesmo, e exactamente da mesma forma.
É alternância, sem dúvida. Não é, também sem qualquer dúvida, alternativa.
Apenas fazem o mesmo - ou até pior - convencendo o pagode que é melhor. E como o conseguem não há alternativa. Apenas alternância!
Primeiro foi António Costa a ser confirmado Presidente Conselho Europeu. Depois, anteontem, foi Roberta Metsola a ser reeleita na Presidência do Parlamento Europeu. Hoje, foi Ursula Von der Leyen a ser confirmada para mais cinco anos de mandato à frente da Comissão Europeia. Ambas do PPE, e ambas com votação expressiva, o que fez o "establishment" respirar de alívio.
Todos se entenderam, ninguém roeu a corda, e está completa a distribuição do poder na União Europeia. António Costa, é afinal o único a chegar de novo. Mas é como se não fosse.
António Costa é oficialmente presidente do Conselho Europeu. Como sempre quis!
O Presidente Marcelo ameaçou-o quando o empossou para o terceiro, e último, governo: se for para Bruxelas, demito o governo e vamos para eleições. E a coisa ficou preta.
Ironicamente - há sempre ironia na História - o governo caiu pela própria demissão e fomos para eleições. Por outras e conhecidas razões. E a coisa voltou a ficar preta. Com a velocidade a que por cá corre a Justiça, seria difícil apagar a tempo o fogo em que António Costa ardia sem se ver.
O fogo é assunto de bombeiros, não da Justiça. E os bombeiros apareceram. Em força, e a tempo!
Parabéns senhor ex-primeiro-ministro. E boa sorte, porque o ordenado não é mau. E comparado com o do Presidente da República nem tem comparação...
O país esperou, e ouviu António Costa ... apresentar a sua defesa.
Foi isso, António Costa defendeu-se, ponto por ponto, de tudo aquilo que até hoje é conhecido da "operação influencer". "À política o que é da política, e à justiça o que é da justiça" é apenas um slogan. Mais isso também já se sabia!
Há já algumas semanas recebi a informação que estava em curso uma operação de investigação a membros do governo e ao próprio primeiro-ministro. Foi-me apresentada como uma bomba que estaria prestes a rebentar. E não era para menos.
A minha "fonte" era, para mim, de credibilidade máxima. O facto dessa informação permanecer durante semanas fora do circuito mediático, e mesmo do "boateiro", acrescentava-lhe, do meu ponto de vista, ainda mais credibilidade.
Por isso, as notícias das buscas e das detenções de hoje não me apanharam de surpresa. A surpresa foi que esta era a velha investigação do processo do lítio e do hidrogénio de Sines, que já vinha de 2019 e que tinha João Galamba, entretanto já constituído arguido, como figura principal. E que tinha sido há cerca de dois anos objecto de fugas de informação que, se tinham por fim atrasá-lo ou "meter alguma areia na engrenagem", foram bem sucedidas.
O primeiro-ministro, António Costa, que vai ser investigado, num processo autónomo, pelo Supremo Tribunal de Justiça, surge por envolvido por três vias: em primeiro lugar porque é o seu próprio gabinete a ser objecto de buscas, o que é inédito na democracia portuguesa; em segundo porque entre os detidos constam o seu chefe de gabinete, e o seu amigo, e provavelmente o mais influente do seu mais mais próximo círculo pessoal, Diogo Lacerda Lopes; em terceiro lugar porque o seu nome é evocado no processo como pessoalmente "desbloqueador" de actos alegadamente criminosos.
Se criminalmente isto é ainda, e apenas o início, do que será certamente um processo longo, como todos os desta natureza, politicamente não. E só não será o imediato fim político de António Costa porque se lhe reconhece uma resiliência absolutamente ímpar na política portuguesa. Circunstância que, desta vez, não lhe deve ir valer de muito porque, no centro de tudo isto, está João Galamba, a espinha que ele próprio encravou na garganta de Marcelo. Em que ainda há dias voltou a remexer, ao ecolhê-lo para encerrar o debate parlamentar do Orçamento.
Para já, hoje já foi chamado duas vezes a Belém. Diz-se que vai prestar esclarecimentos daqui a cerca de uma hora. Nessa intervenção se verá se está apenas ferido. Ou se mortalmente atingido!
O Presidente Marcelo vetou e devolveu ao Parlamento o diploma da privatização da TAP. António Costa respondeu que tomou boa nota das preocupações do Presidente, que serão ponderadas.
Tem sido assim muitas vezes. Marcelo tem vetado muita coisa; e António Costa tem sempre registado. Na maioria das vezes muda qualquer coisa para que tudo fique na mesma. Raramente não muda nada para que tudo fique na mesma. No primeiro caso - frequente -, Marcelo fica satisfeito. No segundo - raro - fica furioso.
Tudo indica que volte a ser assim, mesmo quando parecia que, desta vez, não poderia ser assim.
O que António Costa quer deste diploma é que tudo fique em aberto para tudo negociar no processo de privatização. Quer, por isso, que as regras sejam estabelecidas no caderno de encargos. O que o primeiro-ministro quer é que as regras para a privatização sejam as que vierem a ser negociadas. Ao referir-se à transparência, Marcelo quer dizer que as regras devem ser estabelecidas à partida, para que sejam iguais para todos.
Estas duas posições, mais que inconciliáveis, são antagónicas. Nessa medida não seria possível a António Costa mudar qualquer coisa para tudo ficar na mesma. Mas como Marcelo resolveu não ser claro, e transformar a questão fundamental da transparência em apenas uma de três - "pedindo clarificação sobre a intervenção do Estado, a alienação ou aquisição de activos e a transparência da operação" - lá volta a ser possível o que parecia impossível.
O "Expresso" publica hoje um estudo de opinião sobre as preocupações dos portugueses à volta dos principais temas do Orçamento - que será apresentado na próxima semana - cheio de pormenores interessantes que porventura nos andavam a escapar.
Não surpreende que, à pergunta central, a maioria dos portugueses (dois terços) responda que deseja a descida dos impostos. A partir daí, e quando na equação são introduzidas as variáveis "défice orçamental" e "funções sociais do Estado", tudo surpreende.
Surpreende que apenas uma escassa minoria (7%) "caia" na utopia de desejar que os impostos e o défice baixem e as prestações sociais subam. Pela "vox populi" característica do país, que vemos reproduzida na maioria dos "foruns" que "dão voz ao povo", seríamos levados a concluir que grande parte dos portugueses quer mesmo é "sol na eira, e chuva no nabal". Afinal, não. Têm (93%) perfeita noção que baixar impostos implica baixar despesa, ou aumentar dívida.
Surpreende que, 74%, já não queira impostos mais baixos se isso implicar cortar na mesma medida nas despesas com saúde, educação e prestações sociais.
E surpreende que 62% não queira menos impostos, nem mais prestações sociais, à custa do aumento do défice.
Por tudo isto ser surpreendente não surpreende que António Costa ande tão tranquilo como, apesar de tudo, vai mostrando. E confirmou na enfadonha noite de televisão que a TVI/CNNP lhe ofereceu no início da semana.
Repare-se como, num dos períodos de maior degradação dos serviços públicos, em que a perda de qualidade é transversal a todos serviços prestados pelo Estado; em simultâneo com um dos de maior carga fiscal de sempre, os portugueses dão prioridade ao controlo do défice orçamental.
Imagine-se, por isso, como ficam quando ouvem falar de excedente orçamental, ano após ano!
Há vinte anos ninguém queria saber do défice para coisa nenhuma. Há 10 sentiu-se na pele. Hoje chamam-lhe "contas certas", e é o "anjo da guarda" de António Costa. E o diabo para toda a oposição. À direita, e à esquerda!
Os que por aqui me acompanham mais de perto conhecem a "série" "gostava de ter escrito isto". Nos últimos tempos não tem sido muito frequente, provavelmente porque infelizmente não tenho lido assim tanta coisa que "gostasse de ter escrito".
"Gostava de ter escrito isto", mas nunca o conseguiria escrever com a subtileza, o humor e o talento do Manuel Cardoso. Mas a verdade é que gostava também de escrever qualquer coisa sobre isto.
Sabemos todos que esta JMJ de Lisboa 2023 começou por dividir a sociedade portuguesa. É certo que uma certa divisão seria praticamente inevitável logo à partida. Pelo que a Igreja Católica divide, mas mais ainda pelo dividiu com os crimes dos abusos sexuais na ordem do dia. O envolvimento "político", os dinheiros públicos, o secretismo e a falta de transparência, o improviso, as obras de última hora fizeram o resto, polarizando a polémica que culminou na célebre questão do altar.
Tudo isto arrastou o poder político para um processo justificativo profano, sobrando-lhe em contradição o que lhe faltava em dignidade. Tudo justificavam com razões economicistas sustentadas em estudos e certezas que eram, esses sim, questões de fé. À revelia da fé!
Para Moedas era fazer de Lisboa o “centro do mundo”. Para António Costa era a “projecção internacional do país”, essa obsessão nacional. O retorno económico em turismo seria uma coisa nunca vista. Era um investimento de futuro. E a requalificação daquela zona de Lisboa teria um impacto só comparável com a Expo-98.
Não faziam a coisa por menos. E, se já havia motivos de divisão, somavam-lhe mais outro. Agora dividiam os portugueses entre os que lhes validavam as pantominices e os que sabiam que não passavam disso. E dividiam mesmo muitos que a JMJ não tinha antes dividido.
O que podemos dizer hoje, no fim de tudo e de uma semana memorável para o país, é que, como dizia o Diácono Remédios, não havia nexexidade!
A Jornada tinha méritos suficientes para convencer os portugueses. E como podem eles ter uma visão para a cidade, e para o país, se nem sequer tiveram visão para o perceber?
O país encheu-se de rapazes e raparigas. Alegres, educados, e felizes que deixaram um rasto de festa, alegria e simpatia por onde passaram. Ficaram, como se sabia, em escolas, em famílias de acolhimento, ou quartos baratos. Não em hotéis. Não encheram restaurantes, consumiram fast-food.
Então porquê, e para quê, vender pantominices quando era tão simples - e genuíno, verdadeiro e apropriado - vender o banho de festa e de alegria que eles traziam nas mochilas?
O país correu a receber um Papa que é um exemplo de humildade, simplicidade e saber. Um Papa mensageiro de inclusão, de justiça, de inconformismo e de amor à vida:
- "Não sejam administradores de medos, mas empreendedores de sonhos."
- “Sujem as mãos no combate à pobreza dos outros, da qual não devemos ter nojo”.
Um Papa que não é preciso ser-se católico, nem sequer crente, para admirar. Um Papa de todos, mas que, nas suas próprias palavras, é "pedra no sapato" de alguns.
Foi este Papa, estas largas centenas de milhares de jovens dos quatro cantos do mundo, e uma multidão enorme de pessoas de boa vontade - entre as quais a Albina, a mais entusiástica e entusiasmante das que conheci, a quem o destino, numa crueldade sem limites, se encarregou de lhe alterar a viagem de ontem, trocando-lhe o Parque Tejo pela sua última morada - que transformaram esta JMJ num acontecimento não absolutamente - nada nunca o é - mas largamente consensual.
Agora acabou. Quem cá veio desfrutou, viveu e vai embora. O país voltará a olhar-se a si próprio, a encontrar-se com os mesmos problemas, bem longe da propaganda de António Costa. A cidade acordará como antes, e não como a que Carlos Moedas quis vender. Até esta Igreja, que aqui se tentou mostrar pátria da fé católica, seguirá igual. Como se percebeu ainda na presença do próprio Papa.
À espera que o ar fresco que sopra do Papa Francisco, e o brilho que dele brilha, se vão com ele, quando ele se for... E a pedra lhes sair do sapato!
Não há volta a dar - nem os casos ecasinhos largam este governo, nem o governo os quer largar. Desta vez é o próprio primeiro-ministro, o mais improvável do mais provável, a prová-lo.
O que é que terá levado António Costa, em trânsito para Chisinau, capital da Moldova, para uma Cimeira da Comunidade Política Europeia, num Falcon, da Força Aérea Portuguesa, a fazer escala em Budapeste para assistir a um jogo de futebol, ao lado Orban?
Funções de Estado, não foram, isso está fora do campo de hipóteses. Não é credível que tenha sido a sua paixão pelo futebol, e o abraço a Mourinho, que o Presidente Marcelo (desta vez tão compreensivo e benevolente ) dá como justificação, nunca o poderia ser.
Já hoje, como sempre depois do assunto ter migrado para mais um caso, António Costa veio dizer que simplesmente respondeu a um convite do Presidente da UEFA. Que, ou não fez a nenhum dos primeiros-ministros dos países das equipas envolvidas (Roma e Sevilha); ou, se o fez, ambos declinaram. Entre as duas, venha o diabo e escolha a menos abonatória.
E o que é que o terá levado a pensar que o poderia esconder, sem que ninguém o viesse a saber?
Aqui, a resposta é fácil: má consciência. Com razões de sobra!
Na verdade, António Costa vai acumulando ainda mais actos e omissões de má consciência do que mesmo casos e casinhos!
Não nutro qualquer simpatia, antes pelo contrário, pela personagem João Galamba. É coisa que já vem de longe, dos tempos malditos de Sócrates, de quem, a par do actual Presidente da Assembleia da República, e do eurodeputado Pedro Silva Pereira, foi um dos principais escudeiros e, para mim, todos para sempre cúmplices.
Desses tempos guardei uma imagem de arrogância, de manipulação, e de desfaçatez. Neste tempo actual sugere-me pena. Dó. Que não é lisonjeiro.
Sobreviveu à primeira imagem, não sobreviverá a esta segunda.
Foram as mesmas arrogância, manipulação, e desfaçatez que o enfiaram no buraco onde está metido. São no entanto outros traços de carácter que não lhe permitem de lá sair, acabando na triste e penosa figura de marioneta no jogo de sombras que Marcelo e Costa resolveram disputar.
Marcelo decidiu desde cedo iniciar o "jogo" a brincar com o cutelo da dissolução. A folhas tantas trocou a dissolução pela remodelação. E surge João Galamba, que Costa lhe dava de barato, mas que não lhe bastava. Era demais, Costa "não se ficou" e fez de Galamba ... marioneta. Aceitou, provavelmente por excesso de vaidade e escassez de dignidade e lucidez, e hoje dá pena. Mete dó!
Prestou-se a tudo. Até a ser exibido nas comemorações do 10 de Junho onde a marioneta se fez de bombo da festa.
Sairá inevitavelmente na inevitável remodelação que, em vez de solução para o problema da governação, e do país, é apenas mais uma parte do jogo em que Costa e Marcelo continuam entretidos. Sem honra nem glória. Nem sequer compaixão. Como "ramo morto" caído da árvore e desaparecido no meio dos despojos.
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