Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
É público e notório que o governo está esgotado, e nem é preciso evocar o ministros mais fragilizados, que são já muitos. É hoje praticamente impossível apontar um membro do governo de quem se possa dizer que goza de boa saúde política, e nem mesmo António Costa, que nos momentos mais difíceis sempre conseguiu aguentar com o governo às costas, escapa. Por muito que se esforce em aparentar boa forma, não consegue esconder o esgotamento e a desorientação.
Poderá dizer-se que é da pandemia. Que não é fácil - muito pelo contrário, é muito difícil - governar nas condições que esta pandemia nos impôs. O que ontem parecia uma coisa, hoje é outra. E amanhã outra ainda. O que parecia certo, está depois errado. A realidade ultrapassa-se a si própria a cada passo.
A pandemia trouxe novos desafios aos governos. A este, como a todos os outros por todo o mundo. Já vai longa, e a luz ao fundo do túnel não passa de uma penumbra invisível. Estamos todos cansados dela, e o governo não é excepção.
Se no entanto desviarmos por um momento os olhos da pandemia, seremos capazes de ver que, mesmo sem pandemia e sem catástrofes, os governos, e muito especialmente os governos do Partido Socialista, costumam esgotar-se mais ou menos por esta fase das suas vidas. Sempre que chegam ao segundo ano do segundo mandato começam a abrir brechas e implodem.
Muito tempo seguido de poder faz mal aos partidos da governação. E pior, faz mal ao país. Lembramo-nos dos governos de Cavaco, e como acabaram, e que Cavaco só não acabou porque ganhou fôlego para uma segunda vida, dez anos depois. Depois veio Guterres, governou quatro anos, mas no segundo ano do mandato seguinte veio o pântano, e foi-se embora. Veio Barroso, e depois Santana Lopes, e nada correu bem. Só deu para chegar a segundo ano... do primeiro mandato. E veio Sócrates, que deu no que deu. E ao segundo ano do segundo mandato rebentou, depois de rebentar com o país.
O esgotamento deste governo de António Costa não é, por isso, nada de anormal. Anormal, só mesmo a pandemia. Está dentro da tendência.
Com o passar dos anos vêm o deslumbramento e o abuso do poder. E com eles o desrespeito pelos cidadãos e pela sua inteligência. A mentira, e o incumprimento e a manipulação do prometido.
Tem sido sempre assim. Com esta pandemia passou a ser ainda mais assim. Repare-se no que se passou com o ensino à distância. Em Abril do ano passado António Costa prometia que todas as escolas estariam preparadas para o ensino à distância no início do novo ano letivo. As escolas fecharam há poucas semanas, tarde de mais, e percebeu-se por quê, e regressam hoje as aulas "on line". Soube-se então que os prometidos computadores tinham começado a ser encomendados em Novembro, e que o grosso da encomenda foi mesmo colocado em Janeiro, já com as escola encerradas.
António Costa diz-nos que o Estado não poupou no combate à pandemia, que o esforço é de 22 mil milhões de euros, qualquer coisa como 11% do PIB. E no entanto sabemos que o governo português é dos que menos investiu no combate à doença e no apoio à economia de toda a União Europeia. É o terceiro que menos gastou. Diz-nos o BCE que nem aos 3% do PIB chegou. O governo fez com a pandemia o que fizera nos anos anteriores com as cativações, com que cumprira os orçamentos. Anunciou fazer, mas não fez. E maquilhou os números, incluindo nos 22 mil milhões euros o valor dos empréstimos bancários em moratória com aval do Estado. Para que os 22 mil milhões euros de António Costa fossem 22 mil milhões euros de verdade seria necessário que ninguém pagasse os empréstimos depois de Setembro, ou lá ainda mais para a frente, como irá ter que ser. Quando se sabe que se o incumprimento passar dos 10% estaremos perante mais uma calamidade.
O exemplo mais flagrante da despudorada manipulação de números nem vem do governo. Vem do próprio partido, e chega-nos no gráfico que divulgou nas redes sociais no final da semana, acima reproduzido. Inacreditável!
Com o governo neste estado, e a oposição ainda pior, sem alternativa para alternância, a democracia portuguesa encontra-se também ela à beira do esgotamento. Talvez por isso um conjunto de personalidades se tenha lembrado de governos de iniciativa presidencial, e tenha decidido pressionar o Presidente Marcelo para entrar nessa aventura. Marcelo fez bem ao rejeitar dar esse passo, de resto de duvidosa constitucionalidade.
Mas, sem alternativa a este governo, ficou claramente, e aos olhos de toda a gente, obrigado a obrigar António Costa a arrepiar caminho. De que forma, não sei. Mas espero que ele saiba. E que seja bem sucedido!
Uma coisa é eu achar que, na sequência do assassinato vergonhoso daquele cidadão ucraniano às mãos de uns torcionários do SEF, Eduardo Cabrita há muito que deveria estar fora do governo. Em boa verdade nunca lá deveria ter entrado, nem ele nem mais uns tantos, como por exemplo o Sr Augusto Santos Silva. Outra coisa é o Presidente da República achar o mesmo.
É que, eu, digo o que acho e ... nada. Não tem problema nenhum. Marcelo, não. Não diz nada mas desata às caneladas por baixo da mesa. Ontem fê-lo sem grande descrição e nenhuma reserva. Primeiro mandou recado pelo Marques Mendes, e depois meteu mesmo ao barulho, e com estrondo, o Director Nacional da PSP. Que, ou não está bom da cabeça. ou foi incumbido pelo Presidente de acabar com o SEF e incluir as suas estruturas na PSP. Deu até as boas-vindas ao pessoal, garantindo-lhes que seriam bem acolhidos e tratados...
Ouvimo-lo todos. E, mesmo com algumas dificuldades no português, percebemos bem que aquilo não era nenhuma opinião pessoal. Era ele a levar a sério, como não poderia deixar de levar, uma ordem do Presidente. Que tinha por objectivo queimar o ministro e chamuscar seriamente o chefe do governo, a quem "inúmeras vezes" terá falado do assunto.
Bem pode agora o ministro espernear ... A António Costa só lhe faltava mais esta. Mas pôs-se a jeito, e quase dá para, como antigamente, dizer que só se perdem as que caírem no chão.
O governo reuniu-se ontem à noite para analisar, e aprovar, o Plano de Reestruturação da TAP, a entregar amanhã em Bruxelas.
O Plano, bom ou mau - não é o que aqui está em causa - foi desenvolvido pela empresa, como se sabe em modo de gestão interino. É contestado pelos sindicatos - dirão que seria sempre, qualquer que fosse, mas para o efeito é também indiferente -, que dizem não ter sido ouvidos, e que entendem que está erradamente enquadrado. Que a TAP deveria nesta altura estar enquadrada nos apoios que as suas concorrentes estão a receber no quadro da pandemia (recorde-se que a União Europeia impede o acesso a esses apoios a empresas que já tivessem problemas anteriormente ao início da pandemia, mas também que esses problemas são mais iguais para uns que para outros), e que só o não está por prévia opção do governo. E, tanto quanto se sabe, prevê a redução da frota de 105 para 88 aviões, o despedimento de 2.000 trabalhadores, redução da massa salarial em 25%, e mais 1.600 milhões de dinheiros públicos, que acrescem aos 1.200 milhões já injectados neste ano.
O governo fez entretanto saber que o Plano será submetido a aprovação no Parlamento. Lá para Fevereiro... Porque - justificam - não dispondo o governo de maioria absoluta é preciso envolver os partidos com representação parlamentar na aprovação do deste Plano. À primeira vista, aos olhos mais descuidados, pareceria uma posição prudente, sensata, responsável e democrática.
Não é, no entanto e mais uma vez, muito mais que puro cinismo político. A esquerda, que certamente viabilizaria as injecções de capital, nunca aprovará um Plano que tenha despedimentos, e neste despedem-se 2.000 trabalhadores. E a direita, que facilmente aceitará os despedimentos, reagirá negativamente às necessidades de mais dinheiro do Estado.
Alguém vai ter de engolir sapos. Ou não, e ficar com o ónus da falência da TAP. António Costa e o seu governo é que não têm nada a ver com o que venha a suceder. Lavaram as mãos!
Isto não é alta política. É simplesmente o cinismo da política.
PS: Nada disto tem alguma coisa a ver com a minha posição sobre a situação da TAP, que aqui expressei em diversas ocasiões. Como nesta, por exemplo.
É por demais evidente o desgaste de António Costa nesta sua primeira, mas já relativamente longa, experiência governativa.
António Costa era apresentado como um político arguto, mas sensato; pragmático, mas intransigente nos valores. Eram atributos que o distinguiam de outros políticos, e que lhe garantiam à partida um substancial prazo de validade política, capaz de lhe garantir dois governos de legislatura e uma candidatura presidencial bem sucedida, logo que Marcelo Rebelo de Sousa fechasse os seus mandatos.
Os principais traços desse quadro começaram a desfazer-se, e hoje pouca gente acreditará que esta legislatura chegue ao fim, e que António Costa possa sair incólume dessa queda, e em condições de entrar na fila para Belém em 2025.
Acontece muitas vezes as contas saírem furadas. Há em tudo uma certa dose de imprevisibilidade, e muitas vezes basta um incidente, um acontecimento fortuito, qualquer coisa de incontrolável, para fazer ruir todos os projectos, por mais bem construídos que estejam. Há sorte e azar!
Não terá sido o que aconteceu com António Costa. Não lhe aconteceram grandes imponderáveis. Nem aconteceu nada como em 2017. E também não foi a pandemia. Foram as escolhas de António Costa a partir das legislativas de 2019. Foi uma certa soberba.
E hoje está sozinho e esgotado. Gasto e agastado. E com pouco rumo, a dizer e a desdizer-se. Trocando a argúcia e pelo chico-espertismo, e a sensatez pelo taticismo errático.
A "estória" do telefonema a Cristine Lagarde é uma boa imagem de tudo isso!
Assiste-se no Parlamento a duas corridas com vista à aprovação do Orçamento do Estado para o próximo ano: uma corre contra o tempo, outra contra a descredibilização do próprio orçamento. E da política em geral, mesmo que essa seja há muito uma corrida perdida.
Discute-se horas sem fim o IVA do frutos vermelhos congelados, e depois o tempo foge. Imagine-se o que foge a discutir centenas, ou milhares, de propostas idênticas, nas mais de quatro mil propostas de alteração ao orçamento, que é o que por lá se vai fazendo.
Não se consome apenas tempo nesse irracional processo. Consome-se a credibilidadade do Orçamento, e consome-se a respeitabilidade da polítca.
Um orçamento é um todo, onde para além dos números, terá de haver uma lógica interna. É difícil acreditar que a lógica e a coerência de uma coisa como um orçamento seja a mesma depois de quatro mil alterações. Nem faz sentido um Orçamento aprovado com quatro mil alterações introduzidas na discussão na especialidade; nem faz sentido discutir e aprovar à última hora, só para garantir a sua aprovação final, tanta alteração.
É o que há, dir-me-ão. É verdade que sim. Quando os governos não estão sustentados em maiorias claras, sejam de um só partido - e sabe-se que disso já não há -, ou resultantes de alianças de coligação, ou ainda de acordos de base parlamentar, vai acabar nisto. Num navegar à vista num mercado ao ar livre, onde tudo se regateia com toda a gente.
Foi isto que o PS e António Costa escolheram. É hoje claro que foi uma escolha errada. Errou nos cálculos, e logo a seguir às eleições descartou os parceiros de geringonça. E voltou a errar quando, mais a mais no quadro da pandemia, empurrou o PSD para fora de qualquer quadro de entendimento.
Acabou sozinho no meio confusão, e à mercê de quem grita mais alto. Se se chamar a isto irresponsabilidade eu assino por baixo.
Não sei como classificar a embaraçada reacção de António Costa aos embaraçosos resultados das eleições regionais dos Açores. Mas não encontro melhores adjectivos que patético e cínico.
Já tínhamos visto muitas vezes o Costa cínico. E algumas vezes tão bem no papel que até lhe chamamos rara habilidade política. O Costa patético é que era raro. Mas começa a surgir-nos à frente com bastante frequência.
Depois de perder a maioria absoluta no Parlamento Regional, com resultados que não deixam vislumbrar maneira de formar qualquer outra, e com memória do que aconteceu nas legislativas de 2015, achar que não há mais nada a dizer que festejar a sétima vitória consecutiva do PS nos Açores não é habilidade política, é cinismo. Fazê-lo como o fez, é ridículo.
Bem podia ter entregado esse papel a outro. Até porque teria sempre a desculpa de ter bem mais que fazer.
Duas notícias do dia de ontem: a abrir o dia, o discurso da presidente da Comissão Europeia; a fechá-lo, a remodelação no governo.
Grande discurso, o de Ursula von der Leyen, sobre o Estado da União. Há muito que não ouvíamos do mais alto responsável da União Europeia um discurso tão afirmativo, mobilizador e inspirador. Mas também há muito que a União não tinha um alto responsável que merecesse sequer ser ouvido. Ursula von der Leyen está a construir o carisma que faltava na liderança europeia. O desafio é agora utilizá-lo para levar o discurso à prática.
Por cá, a remodelação do governo. Que mais parece um quebra-gelo que António Costa decidiu levar hoje para Belém. Com a tomada de posse dos novos Secretários de Estado a anteceder a reunião semanal entre o Presidente e o Primeiro-Ministro, o puxão de orelhas poderá ser menos puxado. Pode não ser nada disto. Mas parece!
Soube-se no sábado que o primeiro-ministro, António Costa, e Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, integravam a comissão de honra da candidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica. E ficou notícia, como não poderia deixar de ser.
É mais, bem mais, que apenas mais um caso de promiscuidade entre política e futebol. Percebe-se que os dois juntos fazem um pacote, mas são obviamente diferentes as responsabilidades de cada um. Desde logo porque são diferentes as responsabilidades políticas de cada um. Mas também porque, se é frequente ver os autarcas envolvidos com os clubes dos respectivos municípios, e encontrar até aí o paradigma daquela promiscuidade, como acontece no Porto com Rui Moreira, é raríssimo um envolvimento como este de um chefe de governo. Não me ocorre sequer qualquer um.
Evidentemente que a esfarrapada desculpa de que estes são actos da esfera pessoal de cada um, que nada têm a ver com o exercício dos respectivos cargos públicos, não colhe. Desde logo porque é o exercício desses cargos que lhes dá a notoriedade que lhes confere peso e a notabilidade que lhes dá a honra para uma comissão de honra.
Acresce a tudo isto Luís Filipe Vieira e as suas circunstâncias, suficientemente conhecidas para me dispensar de as enumerar. Enquanto não for condenado por coisa alguma, Vieira é inocente de tudo o que é suspeito e/ou acusado. Mas as suas circunstâncias vão hoje muito para além do quadro criminal, como também se sabe. E aí não há julgamentos, há factos. Que não abonam a honorabilidade de ninguém e objectos de forte condenação moral.
Só uma total falta de apurado sentido político justificaria esta decisão de António Costa se empenhar desta forma na candidatura de Luís Filipe Vieira. Não é por falta de faro político que António Costa é conhecido. É reconhecidamente o mais astuto dos políticos na praça, e não é fácil cair em lapsos comprometedores.
Resta então outra hipótese: sensação de impunidade. António Costa terá entendido que a forma como joga o jogo político lhe deu um estatuto que o coloca acima de tudo e de todos. E não é a primeira vez que se lhe nota essa soberba. Começa até a ser recorrente...
Diz-se que que o Presidente Marcelo quer que o primeiro-ministro lhe explique. Poderia começar assim: "Ó António explique-me lá, como se eu fosse muito burro, como é que se meteu nesta alhada"!
Às duas grandes novelas do Verão, a de Cavani, já nos últimos capítulos, e da Messi, agora nos iniciais, ambas no reino da bola respondeu, pelo meio, a política com a saga "cobardes", protagonizada por António Costa, na qualidade de actor principal, e Miguel Guimarães, num papel secundário que não lhe ficou nada atrás.
Nos higlights da série dois flashs lamentáveis: uma lamentável frase de sete segundos pronunciada em off pelo primeiro-ministro; e a não menos lamentável fuga desse registo para as redes sociais, pelas mãos de quem se estava nas tintas para as normas da deontologia a que está obrigado.
O erro de um não desculpa o de outros. E vice-versa.
A novela parecia despedir-se com a cena final gravada nos jardins da residência oficial do primeiro-ministro, depois de uma reunião de três horas. A cena final de sempre, com tudo a acabar bem e a viverem felizes para sempre. Mas eis que, poucas horas depois, com as luzes apagadas e as câmaras desligadas, mas não em off, como da outra vez, Miguel Guimarães rói a corda. E diz que não. Que António Costa, nas declarações públicas, "não revelou a mensagem de retratamento da mesma forma enfática que aconteceu na reunião"....
Nas declarações públicas prestadas na sua presença, ao seu lado. Das duas, uma: ou o bastonário é de compreensão lenta, e precisou de dormir e acordar para perceber que as declarações do primeiro-ministro não respeitaram o guião; ou faltou-lhe qualquer coisa para logo ali, olhos nos olhos, às claras e para toda a gente ver, lhe dizer o que depois escreveu a dizer aos médicos.
Se o problema estava na ênfase, que diz ter faltado nas declarações de Costa, agora fica na ênfase que ele próprio colocou no que já era o título da saga.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
50 seguidores