Foi Deus
Por Eduardo Louro
Quando comecei a ouvir cantar – ou seria declamar? - os primeiros versos, não queria acreditar: “Não sei, não sabe ninguém”… E interroguei-me: o que é que este gajo quer daqui? Onde é que se está a meter?
Em poucos segundos deixei de ter qualquer dúvida. Estava a ouvir cantar: “Por que canto o fado”… Numa voz limpa e cristalina, sozinha… “Foi Deus, que deu luz aos olhos”… e passou a ter a companhia do contrabaixo do Ricardo Cruz, em acordes leves e espaçados. Baixinho, para não estragar nada!
“Eu sinto” – todos sentimos – “que a alma cá dentro se acalma nos versos” que ouvíamos cantar…
Quando, três, quatro ou cinco minutos depois – o tempo perdeu dimensão – se ouviu pela última vez “ai, e deuuuuuuuuuu-me esta voooooz a miiiiiiim” a sala cheia, esgotada, rebentou num aplauso arrepiante de uma plateia deslumbrada.
"Foi Deus" que ganhou outra dimensão. Não ficaria bem dizer que o António Zambujo deu outra dimensão a Deus...
Amália teria gostado de ouvir. Não tenho dúvida nenhuma!