Já aconteceu noutras partes do mundo, e ameaça espalhar-se. A democracia já foi vil e violentamente assassinada muitas vezes. Noutras, resolve ela própria o seu destino, suicidando-se. É assim em muitas partes do mundo. É mais assim na América Latina.
Voltou a ser assim, ontem, na Argentina. Desta vez não foi com generais, nem com as ruas inundadas de canhões, foi nas urnas. Não foi assassínio, foi suicídio.
Desiludidos e frustrados com os partidos tradicionais do sistema democrático - e como isto está a acontecer por todo o lado, incluindo por cá - os argentinos elegeram Javier Milei presidente da República. Um extremista que promete fazer da Argentina uma grande potência mundial, com propostas tão extravagantes quanto estúpidas: como a venda de armas "à americana", a venda de órgãos humanos, o fim da educação sexual e a penalização do aborto; ou adoptar o dólar americano como moeda nacional, e acabar com as relações comerciais com o Brasil e a China, os dois maiores parceiros comerciais.
Trump aplaude, de pé. Como Bolsonaro. E como, por cá, se sabe bem quem.
Depois de, ontem, a Croácia ter conquistado o terceiro lugar frente à surpreendente selecção de Marrocos, num jogo típico dessa disputa, hoje foi o dia da final. Inédita, num jogo épico que foi futebol na sua expressão máxima.
Uma final de duas por três. Em que houve duas sem três e, às três, foi de vez.
França e Argentina procuravam o seu terceiro título mundial. Os sul americanos à terceira, depois de duas finais perdidas (1990 e 2014) após o último título, em 1986. O de Maradona,de quem deveria também ter sido o de 90, em Itália.
Hoje, por duas vezes, a Argentina teve a mão na Taça dourada, e por duas vezes a França lha retirou. À terceira, foi de vez, e não a largou mais.
O jogo começou dentro das expectativas, com os franceses expectantes, dentro do seu registo calculista, e os argentinos com mais iniciativa. A Argentina dava mais nas vistas com o seu futebol sólido, mas também mais entusiasmante, com Messi, Enzo Fernandez e Mac Allister (sim, é escocês de origem) a mexerem os cordelinhos, e Di Maria a partir a loiça toda. Do lado francês não se via Mbappé, nem Grizmann. Via-se Dembelé, mas no pior.
Estava o jogo nisto, com Di Maria - precisamente - a dar cabo da cabeça a Koundé e a Dembelé quando, depois de levar mais um nó do ainda mágico argentino, o extremo do Barcelona cometeu infantilmente um penálti. Messi bateu naturalmente Lloris e, na altura, pensou-se que, com a primeira parte a meio, isso era o que melhor podia acontecer ao jogo.
A França teria que abandonar a sua convencionada - e convencida - atitude expectante e começar a jogar a bola. E, com aqueles jogadores todos de enorme qualidade, era o que todos queríamos ver.
Pura ilusão. O que aconteceu foi exactamente o contrário, e foi a Argentina que, em vantagem, partiu para o domínio do jogo, e para o seu melhor período em toda a partida. E pouco mais de 10 minutos depois, numa saída rápida de compêndio, com tudo bem feito e ao primeiro toque, do primeiro passe de Messi à assistência de Mac Allister e ao remate final de Di Maria, chegou ao 2-0. E tudo parecia resolvido.
Deschamps mexeu de imediato na equipa, sem esperar sequer pelo intervalo, tirando Giroud e Dembelé. Mas o jogo não mudava de sentido. À entrada do segundo quarto de hora da segunda parte Scaloni trocou o desiquilibrador mor, Di Maria, então já esgotado, por Acuña, convencido que o jogo estava ganho e que bastaria controlá-lo.
Tinha as duas mãos na Taça do Campeonato do Mundo!
Tudo parecia dar-lhe razão, até porque os franceses nem sequer um remate à baliza tinham feito. O primeiro só surgiu aos 70 minutos, de Mbappé, e totalmente desenquadrado da baliza de Emiliano Martinez, apenas mais um espectador da final, quando Deschamps tirava do campo Grizmann, trocando o organizador e pensador de jogo por mais uma "moto" - Coman, o ala do Bayern.
Mas nada mudava. Até que, às duas por três, já o ponteiro ia nos 80 minutos, Otamendi teve um dos seus deslizes. Não tem muitos, mas como já cá anda há muitos anos, às vezes até parece. Deixou a bola bater, e acabou antecipado por Kolo Muani - a primeira das "motos" a entrar -, com o polaco Szymon Marciniako a assinalar penálti.
Mbappé converteu o penálti e nem deu tempo para imaginar o que aí vinha porque, no minuto seguinte, ao terceiro remate do jogo, num golo de efeito estético digno de uma final de um campeonato do mundo, empatou o jogo.
Pensou-se então que a germanização da França, que Pétain não conseguira há 80 anos sob Vichy, era agora consumada pelo futebol. E que Gary Lineker teria que alterar o seu axioma para ... "e no fim ganha a França"!
Dificilmente a Argentina resistiria a um golpe destes. Oitenta minutos por cima do jogo para, em dois minutos, ver desaparecer uma vantagem de dois golos. À França só podia sobrar motivação para o vitorioso ataque final a um título que há bem pouco parecia completamente irrecuperável.
Nos quase 20 minutos que o jogo ainda durou nem a Argentina afundou, nem a França avassalou. E o jogo foi para prolongamento, acrescentando mais trinta e tal minutos aos 105 que já tinha tido. E a Argentina volta pôr a mão na Taça, com novo golo de Messi, logo no arranque da segunda parte do prolongamento. Para ter que a tirar de novo, a dois minutos do fim, com novo penálti convertido por Mbappé, com a notável marca de três golos na final do campeonato do mundo - provavelmente a melhor de todas as finais - e sagrar-se melhor marcador, com 8 golos, mais um que Messi.
Chegou então a vez de Emiliano Martinez se tornar no melhor guarda-redes do mundial. Primeiro com uma defesa notável, a negar o golo a Kolo Muani, no último minuto do prolongamento - ainda assim, antes da última oportunidade da Argentina, desperdiçada por Lautaro Martínez - e, depois, no desempate nos penáltis, ao defender o remate de Coman, o segundo da série, que lançaria os franceses para novo falhanço (Tchouaméni rematou ao lado).
Pela terceira vez os argentinos tinham a mão na taça. Às três foi de vez, e os argentinos nem precisaram do quinto penálti para segurar definitivamente o terceiro título mundial. Este de Messi (melhor jogador), de Martinez (melhor guarda-redes) e de Enzo Fernandez (melhor jovem)!
Dois dos campeões do mundo são do Benfica, tantos quanto o Atlético de Madrid. Nenhum outro clube tem mais!
Depois de uma entrada a raiar o escândalo, coma derrota perante a Arábia Saudita, a selecção da Argentina é a primeira a garantir lugar na final deste mundial do Catar.
Da decepção à partida, ao sucesso à chegada, foi um curto caminho de cinco jogos com uma história em três etapas. E quatro nomes. Primeiro o do treinador, Lionel Scaloni, que soube fazer fácil - emendar a mão - o que para grande parte dos treinadores é difícil. Depois os de dois jovens - Enzo Fernandez, primeiro; e Julien Alvarez, logo a seguir. O quarto é incontornavelmente o de Lionel Messi.
Ao estrear o benfiquista Enzo a titular logo no segundo jogo, Sacaloni mudou o rumo do futebol da equipa. Quando, ao terceiro, lhe acrescentou Alvarez, consolidou-o. O resto está em Messi, o génio que se solta da lâmpada para iluminar aquele futebol, e emprestar-lhe o brilho que sem essa luz se não consegue ver.
Foi este futebol consolidado, iluminado pelo brilho de Messi, que hoje foi suficiente para afastar a Croácia da sua segunda final consecutiva. Numa vitória clara, mas ainda mais expressiva!
Não há golos de primeira e de segunda. Mas a verdade é que, num jogo que seguia sem balizas, o resultado se decidiu já perto do intervalo, em apenas cinco minutos, em dois lances atípicos, estranhos mesmo. No primeiro, dois toques verticais, o primeiro de Otamendi e o segundo de Enzo, deixaram Alvarez sozinho na cara - e no corpo todo - do guarda redes Livakovic (uma das maiores revelações da competição) donde seria difícil sair sem penálti.
Que Messi converteu de forma a não poder ser defendido.
No segundo, não foi muito diferente o comportamento defensivo dos croatas, apanhados em contra-pé num canto a favor. Diferente foi que, em vez dos passes, foi com ressaltos sucessivos que o jovem do City chegou, e passou, pelo guarda-redes adversário.
Foram dois lances de KO para os croatas. Depois chegou Messi, e aquele espectáculo da criação do terceiro golo, que entregou em bandeja para Alvarez bisar. E acabar, com a segunda parte ainda a meio, por trazer ao jogo, e à própria exibição, a luz que os golos "sujos" não deixava brilhar.
Vai ser a segunda final de Messi. E a última - já anunciou ser este o seu último mundial - oportunidade para se juntar a Maradona.
Pelo que se tinha visto, ninguém imaginaria as dificuldades por que a Alemanha iria passar nesta final. À superioridade patenteada pelos alemães ao longo da competição juntavam-se as vantagens de mais um dia de descanso e de um muito menor dispêndio de energias para chegar à final. Enquanto a Argentina, para aqui chegar, teve o desgaste de um prolongamento, e até dos penaltis, com a Holanda, a Alemanha, à meia hora de jogo tinha tudo tratado com o Brasil. Acresce ainda que, com o tipo de jogo da selecção alemã, com muita posse de bola, eram os jogadores argentinos que mais tinham de se desgastar a procurá-la.
Mas, mesmo com dificuldades inesperadas, ganhou. Foi preciso esperar pelo minuto 22 do prolongamento para que Gotze, que tinha entrado para jogar o prolongamento apenas na segunda substituição alemã, – e a primeira tinha sido logo aos 30 minutos de jogo por lesão de Kramer, que substituira Khedira (que falta fez!), lesionado no aquecimento – fazer o golo (na imagem), magnífico deve dizer-se, que garantiu o primeiro título de uma selecção europeia no continente americano.
Ganhou a Alemanha, como toda a gente esperava, mas também podia ter ganho a Argentina. Que fez um campeonato em crescendo, de menos para mais. Ao ponto de hoje ter podido discutir o jogo, e até ganhá-lo. Mesmo que na verdade a melhoria da equipa fosse especialmente notória na forma como defendeu e se defendeu. Mesmo com um processo ofensivo rudimentar, ficou a ideia que, com Di Maria, esta Argentina daria ainda outra resposta mas, acima de tudo que, com Messi perto do seu nível – de facto, e não na visão enviesada da FIFA, que lhe atribuiu o troféu de melhor jogador da competição – seria campeã do mundo!
Muito se bateu aqui no seleccionador argentino. Alejandro Sabella teve a virtude de não ser tão teimoso quanto Paulo Bento ou Scolari, mas nem assim deixou de cometer erros que porventura este segundo lugar, atrás de uma grande equipa como é a Alemanha, irá esconder. Não se saberá que culpas terá – se é que tem alguma – na má condição de Aguero e no sub rendimento de Messi. Mas tem-nas nas ausências de Gaitan e de Tevez, e na falta de um modelo de jogo conforme com o talento de que dispõe.
Ganhou a Alemanha, que foi a melhor equipa do campeonato e é actualmente a melhor selecção do mundo, confirmando - paradoxalmente - a regra da continentalidade: na Europa ganham os europeus, na América ganham os americanos. É que, com este título, a Alemanha é a excepção que confirma a regra. Como foi o Brasil em 1958, na Suécia!
Não foi um bom espectáculo, este que Argentina e Holanda nos serviram nesta segunda meia-final do campeonato do mundo. Foi um jogo mastigado, enrolado, que só abriu nos últimos 10 minutos dos noventa.
A Argentina não teve Di Maria. Nem Messi, que esteve lá mas foi como se não tivesse estado. Provavelmente porque Messi terá achado que o seleccionador Sabella não merecia ter Messi. Teve Enzo Perez, que acabaria substituído aos 80 minutos, quando o seleccionador argentino fez uma dupla substituição (saiu também Higuain) com a entrada de Palácio e Aguero, uma das maiores desilusões deste mundial.
E já que se está a falar de substituições vale a pena dizer que quando, depois, Sabella trocou Lavezzi por Maxi Rodriguez, decidi que não torceria mais pela Argentina.
Quando o melhor jogador em campo é Mascherano, está tudo dito!
A Holanda também não fez melhor, antes pelo contrário, se bem que Robben, mesmo longe da sua praia (sem espaço), tenha espalhado ainda o seu perfume pelo jogo. Foi, apesar de tudo, a única das estrelas a chegar perto do seu estatuto!
Mas também Van Gaal voltou a não estar bem. Voltou a descaracterizar a equipa, cortando-lhe todas as possibilidades de se superiorizar a um adversário que, sem Di Maria e com aquele Messi, estava perfeitamente ao seu alcance.
Já no prolongamento, Van Gaal hesitou entre fazer entrar Huntelaar ou guardar a última substituição para repetir a insólita substituição do guarda-redes. Acabou por se decidir pela troca de pontas de lança. Não ganhou nada com isso, mas não terá sido também por isso que acabou por ser afastado da final. Não deixa no entanto de ser verdade que perdeu nos penaltis, que o guarda-redes agora não defendeu um único, e que foi Romero, o guarda-redes argentino, a defender dois. Brilhantemente, e porque não foi preciso defender mais. É que apenas Robbem e D. Kuyt converteram!
E pronto, lá teremos no Maracanã a Alemanha e a Argentina a disputar o título mundial. Correu bem para o Brasil: o pior que lhes poderia acontecer teria sido, depois do desastre de ontem, defrontar a Argentina no jogo de consolação!
Nos quartos de final, com menos espectacularidade e menos golos, imperou a lei do mais forte.
O Alemanha-França já foi aqui tratado. Não vi o Brasil-Colômbia, pelo que não sei se alguma coisa mais importante que a lesão do Neymar aí se passou. Que afastou aquele que era uma das grandes figuras deste mundial e talvez o maior pilar das aspirações brasileiras. A carga do jogador colombiana não terá certamente sido propositada. Não terá tido por objectivo partir-lhe as costelas, mas não é aceitável!
O Argentina-Bélgica teve bastantes semelhanças com o primeiro destes jogos, com os das pampas a fazerem de alemães, e os belgas de franceses. Os argentinos são, e foram sempre, melhores. Mas bem podiam não ter ganho, com os belgas a desfrutarem da sua melhor ocasião de golo nos últimos momentos do jogo.
A Argentina continua sem encantar, embora tenha vindo a melhorar a sua qualidade de jogo, continuando a ser levada às costas de Messi. E de Di Maria, que hoje se lesionou e que, tal como Neymar, está também fora do mundial.
A Bélgica voltou a confirmar que é uma equipa de compartimentos, com valores individuais de grande qualidade, atrás e à frente. A começar no guarda-redes, tem uma defesa de imensa categoria. E no entanto defende mal!
Na frente tem igualmente jogadores do melhor que se viu no Brasil. E nem por isso constrói muitas oportunidades de golo. Porque não tem – não teve – meio campo, e não tem sistema de jogo. Faz mal as transições ofensivas, e com isso não tira o melhor proveito da qualidade que tem no ataque. Mas é nas transições defensivas que é um verdadeiro desastre. Não se percebe quem fica, quem compensa nem quem transporta. E aquele Fellaini... Francamente!
O último, mesmo sem golos, foi o mais emocionante de todos os jogos dos quartos de final. Encontravam-se a surpreendente e extraordinária Costa Rica e a Holanda que, ao contrário das restantes apuradas, vem de mais para menos. Começou espectacularmente com a goleada imposta à Espanha, mas depois disso foi sempre a descer. Pela simples razão de que é uma equipa – a exemplo da portuguesa, e salvo as devidas distâncias – talhada para o contra-ataque e para o ataque rápido. Quando enfrenta adversários que não tomam a iniciativa do jogo, e tem de jogar em ataque planeado, o rendimento é outro. E bem inferior!
Esta Holanda é a capacidade de passe de Sjneider, a aceleração, velocidade, drible e diagonais de Robben, e capacidade de execução de Van Persie. Sem espaços nada feito, não funciona!
Se bem que haja sempre Robben: a alma de Robben, a encher o campo todo e… os mergulhos, às vezes a resolverem o que tudo o resto não resolveu!
Dá vontade de dizer que a selecção das Caraíbas mereceu toda s sorte que teve durante os 90 minutos do jogo e mais 30 de prolongamento, e não mereceu o azar que teve nos penaltis, acabando por morrer com os ferros com que matara a Grécia
Os holandeses tiveram três bolas na barra, mas só verdadeiramente tomaram conta do jogo nos últimos 10 minutos dos noventa e no prolongamento. Tivessem mais cedo posto em campo o empenho, e especialmente uma velocidade aceitável, e talvez não tivessem de se sujeitar aos penaltis que, pela história deste campeonato e pela extraordinária exibição – mais uma – do fantástico (será apenas guarda-redes de engate?) Navas, tinham tudo para não desejar.
Van Gaal não fez muito para alterar o curso dos acontecimentos. Fez duas alterações bastante tarde, a segunda (entrada do ponta de lança Huntelaar por saída do defesa português Bruno Martins, que está a caminho do Porto) já na segunda parte do prolongamento. E guardou a terceira para o último minuto do prolongamento. Insólito: trocou de guarda-redes, para os penaltis. Como já se percebia pelos exercícios de aquecimento que o guarda-redes Krul há minutos vinha fazendo à vista de toda a gente!
E resultou, defendeu dois penaltis e assegurou a qualificação da Holanda para as meias finais. Para compensar o azar das três bolas no ferro, Van Gaal teve sorte!
Com a Argentina, nas meias finais, a Holanda poderá voltar a encontrar as condições naturais ao desenvolvimento do seu jogo. Pode ser que se volte a sentir como peixe na água... Mas se há coisa que caracteriza esta Argentina de Sabella é a forma como não permite desiquilíbrios!
Argentina e Suíça abriram o dia da despedida dos oitavos de final do mundial, num jogo igual a tantos outros, com o favorito a não provar o privilégio de o ser.
A equipa europeia vestiu de vermelho e o hino era o da Suíça mas, apesar de ter jogadores melhores, bem podia estar de azul e chamar-se Grécia… A sul-americana foi a Argentina que se tem visto, igualzinha… Não tão má quanto a do primeiro jogo, cheia de defesas, mas nem por isso muito diferente.
Não admira por isso que na primeira parte as ocasiões de golo tenham sido uma raridade, e apenas para o lado da selecção europeia. Da Argentina, nada. Nem Messi!
E o jogo continuou assim na segunda parte, ainda com mais uma boa oportunidade para os suíços. Até se chegar à hora de jogo.
Não que alguma coisa tenha mudado na Argentina – a teimosia é um dos mais apreciados atributos dos treinadores, mas este seleccionador argentino não precisava de levar tão longe a sua admiração por Paulo Bento – mas porque o adversário começou a cair fisicamente. O vai e vem começou a ser mais difícil, e a Suíça começou a mostrar outro produto: queijo, com uns buracos à vista, em vez do relógio, certinho.
Mas nem isso valeu aos argentinos. E como Messi apenas apareceu em duas ou três ocasiões, lá veio mais um prolongamento. Não menos penoso que todos os outros…
Di Maria continuou a ser o melhor, e a merecer o golo, que o nosso conhecido Diego Benaglio não merecia sofrer. No último minuto!
Nos três minutos de compensação, com um coração do outro mundo, a Suíça jogou com Benaglio na área adversária, e podia ter empatado. Teve ainda uma bola no poste…
Sorte para a Argentina, que Sabella não merece. Nem essa nem a de escolher jogadores num dos maiores e melhores viveiros do planeta!
No outro jogo, que fez cair definitivamente o pano sobre os oitavos, voltamos a ter oportunidade de nos lembrar de Paulo Bento e dos seus rapazes. Eram eles que ali deviam estar…a correr e a lutar como aqueles!
Mas eram os americanos que lá estavam. Com a Bélgica, aquela promessa de grande selecção a parecer interessada em chegar lá. E o jogo foi muito disso, com os americanos a fazerem lembrar o jogo com os portugueses, - muito longe da equipa que os ganeses tinham dominado – até mesmo na exploração do corredor direito. Mesmo que sem o buraco que Raul Meireles, Miguel Velosos e André Almeida abriram, e mesmo que sem Johnson, o pulmão daquela asa, substituído por lesão. E os belgas, particularmente na segunda parte, porque na primeira não foi tanto assim, a projectarem-se para bem perto do que se pode esperar do somatório dos seus valores individuais.
E já que se fala de promessas deve já dizer-se que este foi um jogo que, sem ter prometido muito, cumpriu tudo. Pode não ter sido técnica e tacticamente um grande jogo de futebol mas foi, no fim dos 120 minutos que teve, um espectacular e emocionante jogo de futebol. Daqueles que nos fazem vibrare que tenderemos a não esquecer!
As oportunidades iam-se sucedendo mas, ora por alguma inépcia dos belgas, ora pela excelência das intervenções de Tim Howard – que grande exibição do veterano gurada-redes americano – os golos é que não. Curiosamente seria dos americanos o mais clamoroso dos falhanços, já nos últimos segundos do tempo de compensação.
E lá veio mais um prolongamento, o sexto, em oito jogos!
E Lukaku, o jovem belga que o Chelsea anda a emprestar a uns e a outros. Que tomou conta da história do jogo, a construir o primeiro golo logo a abrir, concluído por Kevin de Bruyne e, em inversão de papéis, a marcar ao fechar da primeira parte.
Parecia que tudo ficava resolvido. Nada disso, porque este era um jogo de emoções. Klinsmann lançou um miúdo de 19 anos - viu, Paulo Bento?-, Green, que logo marcou mudando por completo o jogo. Que afinal até podia ter tido um resultado diferente!
O primeiro jogo do grupo E - o tal, feito por encomenda - entre a Suiça e o Equador, terá sido o mais morno de todos, a convidar mesmo a uma soneca, mesmo ao jeito da hora do jogo, a que nem mesmo os fusos horários trocaram muito as voltas. Ia mesmo dando o primeiro empate da competição, o resultado normal destes jogos que dão sono… Mas acabou por não dar, a quinze segundos do final do jogo que teve três minutos de compensação a Suiça, que ao intervalo perdia por 0-1, marcou o segundo golo e desfez o empate, provavelmente o resultado que mais se ajustava ao jogo. Fraco, repito!
Curioso é que a Suiça, sem que aí nunca atinja prestações dignas de qualquer realce, está quase sempre presente nas fases finais das grandes competições. Quase sempre em razão de sorteios muito simpáticos, como aconteceu na fase de apuramento (com a Islândia, Chipre, Albânia, Eslovénia e Noruega) e se repetiu agora. Depois desta vitória, caída do céu nos últimos segundos, sobre um adversário acessível como é o Equador, restando-lhe as Honduras e a França, tem praticamente garantida a presença nos oitavos de final. O facto da FIFA estar sedeada na Suiça e de Blatter ser um cidadão suíço – e Platini, francês – não são mais que simples coincidências. Nem a tragédia que foi a participação francesa no último mundial – e no antepenúltimo – tem nada a ver com a constituição deste grupo. É apenas sorteio!
A França, de Platini, mas também, lá dentro, de jovens como Varane, Pogba, Matuidi, Cabayé, Valbuena, Griezmann... tudo de primeira água, ganhou facilmente às Honduras, uma selecção assim para o fraquinho, mas das rijas. Durinha, mesmo. Talvez por isso tivessem sido dispensados os hinos… Para evitar que os hondurenhos, que aguentaram até mesmo à beira do intervalo, levassem a coisa ainda mais a sério!
Resistiram até onde puderam, e a sorte – duas bolas na trave da sua baliza – ajudou. Depois, já com a praia ali tão perto, foi o penalti e a expulsão de Palácios. Porque um azar nunca vem só, o segundo golo surgiu logo no arranque da segunda parte, quando a sorte de uma bola do poste vira logo azar, ao bater no guarda-redes hondurenho e entrar. Sem dúvidas, porque agora já há chip na bola!
A segunda parte foi, por isso, um treino de ataque da equipa francesa. Os hondurenhos aproveitaram também para treinar… mas foi mais afinar a pontaria às pernas dos adversários. No fim, a França com 3-0 e Benzema em grande, entrou bem no Mundial. Como se pretendia, e não acontecia desde 1998, em França!
Mas o momento alto do dia foi a estreia de duas entidades míticas. O momento M, de Maracanã e Messi, juntos pela primeira vez!
Messi chegou tarde ao encontro, com mais de uma hora de atraso, e valeu à Argentina a estranha generosidade que se abateu sobre os defesas neste mundial. Mais um auto-golo, logo aos dois minutos, ditou a vantagem imerecida da selecção das Pampas ao intervalo. Porque surpreendentemente a Bósnia foi melhor, e foi mesmo a única equipa a criar oportunidades de golo. Dos dois guarda-redes, apenas o argentino teve trabalho!
Não se sabe muito bem o que terá passado pela cabeça do seleccionador argentino quando escalou a equipa inicial. Apresentou-se com três centrais, um dos quais o Garay, que vale por dois. Mas, com Mascherano à frente deles, e com o Rojo na esquerda, passam a ser cinco. Com Zabaleta, na direita, passam a ser seis os defesas. Como inventou ainda o regresso do velho Maxi Rodriguez, que apenas andou por lá, nada mais, sobravam Messi, Di Maria e Aguero para agarrar no jogo. Não dava. Nem estavam para isso!
Ao intervalo o treinador argentino mudou, e nem precisou de reparar que tem lá um rapaz no banco chamado Enzo Perez. Bastou passar para quatro defesas, meter um jogador no meio campo e outro na frente. Para que o jogo mudasse e aparecessem as estrelas... E chegasse Messi ao jogo, para fazer o segundo golo. Que só não arrumou com a questão porque a Bósnia, se bem que em circunstâncias mais esporádicas que as da primeira parte, ainda marcou, a pouco mais de cinco minutos do fim.
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.