PASSAR AO LADO
Por Eduardo Louro
Decidi passar ao lado do tema do dia – o assédio sexual de que é acusado o bispo D. Carlos Azevedo que, remontando a acontecimentos com 30 anos, prova que o passado não prescreve e que, servindo os interesses de alguém, estará sempre pronto a saltar para a actualidade – para regressar a Relvas e à indignação que por aí anda por parte daqueles que acham que a democracia está em riso.
Vejam bem ao que isto chegou: a democracia está em risco porque há muita gente que não está disposta a tolerar o que um ministro que está envolvido em tudo o que se sabe e que, noutro sítio qualquer minimamente democrático e de vergonha, há muito que não era ministro. Nunca sequer teria chegado a ser!
A democracia e a liberdade não estão em risco quando Relvas pressiona e condiciona a imprensa, quando ludibria e engana tudo e todos, seja nas suas supostas qualificações seja nas suas actividades públicas e privadas. Quando insiste em permanecer no poder à revelia de sentimentos tão básicos e estimáveis como a vergonha, a decência e o respeito pelos outros, já para não falar do sentido do ridículo.
A democracia e a liberdade não estão em risco quando, à revelia do mais elementar bom senso e do respeito mínimo pela inteligência das pessoas, há gente que convida uma personagem como o ministro Relvas, de quem se não conhece um pensamento estruturado, de quem se não conhece uma linha escrita sobre o que quer que seja, para uma conferência de pensadores.
A democracia e a liberdade não estão em risco quando, à revelia do mais elementar bom senso e do respeito mínimo pela inteligência das pessoas, há gente que convida - serão estes convites inocentes? - uma personagem como o ministro Relvas para encerrar um colóquio sobre o futuro da comunicação social.
A democracia e a liberdade não estão em risco quando o primeiro-ministro segura este ministro Relvas sem perceber que é um problema de higiene pública. Sem perceber que destrói a autoridade do governo para manter a política que prossegue e que mina o moral que ainda resta ao país para a tolerar.
A democracia e a liberdade não estão em risco quando uma se restringe a, de quatro em quatro anos, depositar um voto iludido por promessas nunca cumpridas, e a outra à de aceitar isso como uma inevitabilidade.
Não. Isso é para passar ao lado! A democracia e a liberdade estão em risco quando, fartos e cansados de tudo isto, fartos e cansados de serem enganados, fartos de desilusões e cansados da mentira, fartos de aturar gente que já não se pode aturar e cansados de sacrifícios que só a eles tocam, há gente que canta e grita para tão simplesmente dizer: nós sabemos quem és e por onde tens andado. Nós sabemos onde e com quem estiveste na passagem de ano. Vai-te embora, tem vergonha, sai daqui que já não te queremos ouvir…
Haja decência. Quem quer ser respeitado tem que se dar ao respeito!