O que os benfiquistas disseram a Vieira
Em Assembleia Geral os sócios do Benfica chumbaram a proposta de Orçamento. A proposta encerrava muitos motivos para ser chumbada, mas não terá sido por isso que o foi.
Foi-o porque os benfiquistas quiseram dizer a Vieira que basta. Que é o responsável pela grave situação a que conduziu o clube, e em especial a sua maior forma de expressão - o futebol. Que é o responsável pela falta de rumo do futebol do Benfica, pelos ziguezagues, pela falta de coerência estratégica, pela incapacidade de decidir, que está mais uma vez a ser gritante neste dossier de Bruno Lage. Que é o responsável pela negligência de deixar fugir o penta. Que é o responsável por o Porto, falido, ganhar dois dos três últimos campeonatos. Que a sua gestão financeira não é transparente, e que, das centenas de milhões de euros de receitas das transferências de jogadores, só conhecem os das comissões pagas. Ou que há dois meses tinha dinheiro para uma OPA manhosa, que deixou claro a quem serviria, mas agora precisa de lançar um empréstimo obrigacionista, curiosamente no mesmo montante. E antes precisou de antecipar as receitas das transmissões televisivas de mandatos que não sabe se lhe pertencem.
Quiseram dizer-lhe que não é o dono do Benfica, de que passou a dispor à exclusiva medida dos seus interesses, e dos dos seus parceiros de negócios pessoais.
Nada que Vieira que não soubesse que os sócios lhe queriam dizer, mas que julgava ter condições para evitar que lho dissessem. Espalhando os seus porta-vozes pelos miseráveis programas que enchem as televisões, e fazendo da BTV um instrumento ao seu serviço. Evitando que cada sócio votante tivesse que exibir cartão de cidadão e de sócio em simultâneo, e permitindo que um votante pudesse votar com vários cartões de sócio. Ou atribuindo aos dirigentes das Casas do Benfica, que manipula a seu belo prazer, independente da sua antiguidade como associado, os 50 votos que, achava, tudo decidiriam. E decidirão em Outubro.
Mesmo assim, os benfiquistas disseram o que tinham a dizer. Espera-se que não tenham aguçado a arte e o engenho para artimanhas que os impeçam de o voltar a dizer em Outubro.