É estranho que, quando tanto há para dizer, a oposição não tenha tido uma única palavra sobre a insólita "Acção sobre rodas" do fisco e da GNR de ontem, no norte do país. Percebe-se o mau estado em que ficou depois do que lhe aconteceu no domingo... Percebe-se que não queiram ver nada nem ninguém, e que só queiram que os deixem em paz, mas... caramba... um elefante destes a passar à frente dos olhos e nem um movimentozinho?
Estranho já não é que mais um responsável por mais umas centenas de milhões de euros de calote tenha ido à Comissão de Inquérito à Caixa dizer que não deve nada. Agora já sabemos que é assim: quem do lado da Caixa concedeu o crédito "não se lembra", quem, do outro lado, o recebeu, "pessoalmente não deve nada". E já não se estranha.
Estranha-se é que Tomás Correia lá tenha ido dizer, sem se rir, que se demitiu da Administração justamente incomodado com a imprudência da política de crédito...
A Autoridade Fiscal e Aduaneira, as Finanças, como a conhecemos, foi-se transformando numa máquina de cobranças coercivas, num autêntico terror para os cidadãos agora vistos apenas como contribuintes.
A fama correu rápida, e não tardou que toda a gente passasse a querer recorrer aos seus serviços para cobrar dívidas. Primeiro foi o Estado. Ninguém se indignou muito, afinal era o Estado, o mesmo Estado todo poderoso, tudo contas da mesma casa. Não era bem assim, cobravam-se como impostos tudo o que fossem dívidas de que o Estado se lembrasse...
Depois, os privados abençoados pelo Estado lembraram-se que, melhor que seguros de crédito, factoring ou um simples departamento de cobranças, era mesmo recorrer a essa súper máquina de cobranças que o Estado detém. Os parceiros privados entenderam que o parceiro Estado também tinha a obrigação de lhe fazer as cobranças, e toca de cobrar dívidas das taxas moderadoras da saúde e das portagens...
Mesmo que alguma coisa comece a não correr bem, não me admiraria muito que, a curto prazo, a coisa extravase as PPP e passe a uma nova área negócio, com a oferta generalizada de serviços de cobrança. Que Autoridade Fiscal e Aduaneira, as Finanças, se transforme rapidamente num novo cobrador do fraque. Só que muito mais eficiente!
Miguel Relvas esperou que o mau tempo passasse. Hibernou durante uns meses e, assim, calado e imóvel, se foi mantendo no governo.
Veio recuperando o pio aos poucos e, por esta altura, já não sente qualquer inibição. E é então esta figura que tem a relação que tem com os media que vem agora, do alto da sua imensa sabedoria e não menor integridade, dizer que “uma comunicação social enfraquecida constitui uma séria ameaça à cidadania”. Logo ele que, ainda ontem nos Açores, mandou agredir e prender um jornalista. Mas não se limitou a isso: para não enfraquecer a comunicação social, pô-la a divulgar a notícia como o Público ou Expresso fizeram!
Nuno Ferreira é um jornalista, tem um blogue - Portugal a pé – encontrava-se nos Açores e estava instalado no mesmo hotel que Relvas e os seus homens. Conta-se que, encontrando-o, lhe perguntou se não tinha vergonha de andar por aí, pergunta de que a segurança de Relvas não terá gostado. Quando mais tarde se preparava para aceder no seu quarto encontrou a mesma segurança a barrar-lhe o caminho: é preso e algemado, dão-lhe umas bofetadas pelo caminho, e manda-se para os jornais a notícia – que enfraquecidospublicam acriticamente – que um homem ofendeu o senhor ministro e tentou agredir um polícia da sua segurança!
Se ainda alguém tinha dúvidas sobre a autoridade desta figura para falar de enfraquecimento da comunicação social, acabam-se com este episódio. Autoridade não lhe falta!
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