"E o Benfica ganhou. Outra vez" - canta-se na Luz. Cheia, com 60 mil a vibrar com o 5-1 ao Vitória, e com o entusiasmante futebol que a equipa continua a apresentar, jogo após jogo.
A primeira parte foi mais uma gala de futebol. Os primeiros 10 minutos foram de ensaio. A partir daí foi sempre a subir, chegando a momentos de pura maravilha. O primeiro golo surgiu logo aos 13 minutos, depois de um bom cruzamento de Neres, na esquerda - hoje fez de Aursenes, de fora, com o quinto amarelo do Marítimo, há uma semana - desviado ao primeiro poste por Rafa para Gonçalo Ramos cabecear, de rompante, para a baliza.
Depois veio o segundo, de penálti (sobre Rafa), por João Mário. Oito minutos depois, o terceiro. Numa de jogada do melhor que o futebol tem. Espectacular! Por João Mário, bisando, assistido por Gonçalo Ramos, que voltava a ultrapassar na lista de marcadores.
Com poucos remates, bem abaixo do que é normal, o Benfica construiu sete ocasiões de golo. Concretizou três, e uma bola no poste, no remate de Otamendi.
Na segunda parte o Benfica baixou o ritmo. Em condições normais dir-se-ia que naturalmente. Neste Benfica, não. Não tem sido normal o Benfica levantar assim o pé. Mas não deixa de ser compreensível.
O Benfica teve sempre o controlo do jogo. Nem se pode dizer que tenha perdido a ambição de ir mais além, mas baixou a pressão e a intensidade. Sem relaxar. E assim chegou o quarto, em mais uma boa jogada de transição, que acabou em auto-golo (Dani Silva).
Esperava-se o quinto, e o sexto. O Benfica segurava o jogo lá na frente e, quando perdia a bola, respondia com notáveis transições defensivas. Chegou a ver-se um jogador vitoriano a sair em contra-ataque e, pouco depois de passar a linha de meio campo, já estava rodeado por dois ou três jogadores do Benfica. No meio campo defensivo já lá estavam mais três ou quatro, ainda com todos os restantes 10 jogadores do Vitória a saírem da sua área.
A recuperação defensiva é hoje um dos pontos mais altos da equipa. É certo que o golo vimaranense resultou de um contra-ataque. Mas não foi a recuperação defensiva que falhou. Os jogadores estavam lá todos, no seu sítio. Aconteceu apenas que ... acontece. Um segundo de atraso na entrada à bola, às vezes acontece. E nessa jogada aconteceu logo em duas ou três situações. E não é normal que aconteça.
Sofrido o inesperado golo, a equipa voltou a procurar mais. Chegou ao quinto, pelo António Silva, já depois das substituições, podia ter chegado ao sexto, e nunca deixou o domínio total do jogo.
Ainda uma nota para a estreia de Cher Ndour, aos 18 anos. E para uma má notícia: a paragem para as selecções.
Não é nada que agora se desejasse, quando tudo está tão perfeito!
Mais uma etapa cumprida na corrida ao 38. Desta vez na Madeira, no Caldeirão dos Barreiros, com a oitava vitória consecutiva, o novo recorde da Liga, com mais uma boa exibição, e três golos sem resposta. Bem poucos para o que o Benfica - sem Gonçalo Guedes, impedido por lesão que obriga a intervenção cirúrgica ao menisco e, portanto, a ausência ainda prolongada, e sem Rafa, engripado - produziu, e para as oportunidades criadas no jogo.
Mais que mais uma etapa cumprida, foi mais uma confirmação da exuberância do futebol que o Benfica está a apresentar, e da superioridade para a concorrência.
O Marítimo entrou no jogo com a ideia de introduzir uns grãos de areia na máquina benfiquista, pressionando alto, e forte, na tentativa de roubar todos os espaços aos jogadores do Benfica, e impedi-los, assim, de porem os motores em funcionamento.
Durou pouco mais de cinco minutos. Essas estratégias são sempre de curta duração, a isso obriga o desgaste que provocam. Aos 10 minutos já a máquina de futebol do Benfica estava em funcionamento, entrando em velocidade cruzeiro a partir daí.
E quando a máquina entre na sua rotação normal, acontece espectáculo e, se não golos, muitas oportunidades para isso. E foi assim, muitas oportunidades. Mas poucos golos.
Na primeira parte apenas um. Porque João Mário estava como o modo de desperdício activado, falhando até um penálti. Foram três os golos que teve à mercê, e que desperdiçou. E porque, depois, o guarda-redes maritimista entrou em modo superlativo, negando dois golos, um a Neres e outro a Grimaldo.
Foram então quinze, os remates do Benfica. Todos em finalizações de grandes jogadas de futebol, que bem poderiam ter tido sucesso. Mas o golo tardou de mais. Chegou apenas à beira do intervalo, muito depois do penálti falhado (para as nuvens, ao tentar o remate em força para o meio da baliza) por João Mário, então a assistir Neres para uma finalização de grande classe.
O penálti falhado, à meia hora de jogo, foi um bálsamo para Marítimo. Depois de tantas às vezes se ter visto livre do golo, os jogadores acreditaram que todos os Deuses estavam do seu lado. E que, quem não marca, sofre. A reacção imediata acabou até com a bola dentro da baliza de Vlachodimos, que ainda não tinha sido obrigado a qualquer defesa. Toda a jogada foi bem armada, e próprio remate de grande espectáculo, mas já o árbitro assistente tinha assinalado o óbvio e evidente fora de jogo. Mas só por má colocação, porque na realidade, eram apenas 15 centímetros.
Acabou por nem sequer chegar a ser reacção. Foi apenas um acto isolado em toda a primeira parte, o Benfica não permitiu que fosse mais.
O que não ficara resolvido na primeira parte - o resultado - acabou por se resolver logo no arranque da segunda. Para o Benfica foi como se não tivesse havido intervalo. Entrou como saíra, ao mesmo ritmo, com a mesma qualidade, mas com a vantagem de marcar à segunda oportunidade, logo aos cinco minutos. João Mário, assistido por Grimaldo, mas beneficiando do pânico espalhado por Gonçalo Ramos na pequena área do adversário, redimiu-se dos falhanços anteriores. E voltou a igualar o jovem colega no topo da lista dos marcadores da Liga.
Sete minutos depois, o terceiro, numa jogada espectacular, com combinação perfeita, como sempre, entre Aursenes (mais uma exibição enorme) e Grimaldo (outra), concluída com o toque de calcanhar, de classe, com que deixou a bola para a finalização de Neres, que tinha precisamente iniciado a jogado, e bisar na partida. E o Benfica deu por cumprida a missão.
Tirou o pé do acelerador, e passou a gerir o jogo e o resultado, permitindo então ao Marítimo alguma bola. E a Vlachodimos tocar-lhe também. Fez a primeira defesa, e fácil, limitando-se a agarrar a bola, aos 65 minutos.
Novas oportunidades de golo, só para o Benfica. E só para os substitutos, logo depois das respectivas entradas, em substituições tardias. Aos 82 minutos saíram os marcadores dos golos, e entraram Musa e João Neves. Que logo a seguir ficou na cara do guarda-redes do Marítimo, proporcionando-lhe mais uma grande defesa. Musa teria a sua oportunidade 10 minutos depois.
Já em cima dos 90 entraram, em estreia, Tengstedt e Schjelderup, para substituirem Gonçalo Ramos e Aursenes, numa substituição que foi atrasada em dois ou três minutos, por dois cantos consecutivos para o Marítimo. Atraso fatal, já que nesse espaço de tempo o norueguês viu um amarelo. O quinto, que o deixa de fora do jogo com o Guimarães, na Luz.
Tengstedt ainda dispôs da última oportunidade de golo, mas não revelou maturidade para a aproveitar. E Gilberto ainda entrou para substituir Grimaldo, na esquerda, já em cima do final do jogo. Que não foi um passeio à pérola do Atlântico, mas que acabou por não ficar muito longe disso. Porque, ao contrário do que se vê com a principal concorrência, o Benfica está a fazer isso. A transformar dificuldades em facilidades. Ou ameaças em oportunidades, como se diz em "estratégia". Em oportunidades para demonstrar que está num degrau bem acima do dos oito pontos que nesta altura tem de vantagem!
Noite de espectáculo na Luz, num jogo de futebol que soou a sinfonia. De uma orquestra sem bombos!
O tom foi dado na abertura, no primeiro minuto, naquela jogada genial concluída também genialmente por João Mário. Não valeu, o VAR anulou-o por fora de jogo de Gonçalo Ramos no início da jogada, muito antes do fantástico calcanhar de João Mário enfiar a bola na baliza de Mignolet. Soou a crueldade, na altura. O VAR serve para velar pelo cumprimento das leis do jogo, é certo. Mas não devia servir para anular uma obra-prima destas.
Percebeu-se, depois, que afinal aquilo fazia parte do ensaio, e servira para dar o tom à orquestra. E que o VAR, afinal, também pode servir de diapasão. Dado o tom, foi deixar a orquestra funcionar e a sinfonia fluir.
E foi o que o Benfica fez, deixou a sinfonia fluir, empolgante, a deliciar uma plateia esgotada e vibrante. O Bruges ia fazendo o que podia. Atordoado até ao meio da primeira parte; e a tentar também participar no espectáculo logo que saiu do sufoco benfiquista. Exclusivamente remetido à sua grande área, primeiro, na defesa cerrada da sua baliza. Tentando subir um bocadinho no campo e pressionar um pouco mais alto, a seguir.
A música, essa era sempre do Benfica, mesmo com o contratempo do amarelo a Otamendi, perto da meia hora, que o afasta do primeiro jogo dos quartos de final, e mesmo que o golo tardasse. Por isto ou por aquilo, mas muito porque a equipa belga tinha atinado com o posicionamento, e fazia com os jogadores do Benfica caíssem muitas vezes na armadilha do fora de jogo. Surgiria apenas aos 38 minutos, já na fase em que a equipa belga tentava subir no terreno, e dentro do tom dado no primeiro minuto. Nem uma nota faltou: Gonçalo Ramos arrancou pela esquerda e cruzou para o Rafa, dentro da área, se libertar de dois adversários e marcar de "trivela". A trivela já é o que é - uma nota de execução difícil - mas esta não foi uma "trivela" qualquer. Foi uma "trivela" em queda, e isso é uma execução superlativa.
Tinha de ser assim o golo 100 do Benfica na época. Que foi também o primeiro sofrido pelo Bruges fora de casa, nesta Champions. Onde, na fase de grupos, isto é, antes de encontrar o Benfica, até só tinha sofrido golos num jogo.
O golo nada alterou no concerto. Foi como que se nada tivesse acontecido. O espectáculo tinha de continuar, e continuou. Até ao segundo, já em cima do intervalo, de novo no tom, com Gonçalo Ramos a receber a bola da esquerda, a passar por quatro adversários dentro da área dos belgas, e a rematar forte, fora do alcance de Mignolet, a fechar a primeira parte em apoteose. Antes, o árbitro turco tinha perdoado a expulsão ao defesa Lang, por falta sobre Bah à entrada da área, que não assinalou, para assinalar uma segunda, logo de seguida, e mudar o destinatário do amarelo.
Poderia esperar-se que fosse impossível ao Benfica manter o ritmo na segunda parte. Nada disso. Um espectáculo destes tem que ter duas partes ao mesmo nível. E os jogadores já estavam vacinados contra o fora de jogo, que antes tanto os tinha traído.
E a sinfonia continuou, com as bancadas em apoteose. E os golos também, mesmo que abaixo daquilo que o espectáculo merecia. Gonçalo Ramos voltou a marcar, mais uma vez dentro do tom ditado pelo diapasão, ainda dentro do primeiro quarto de hora.
Vieram as substituições, Bah pelo aniversariante Gilberto, em jeito de parabéns. E Chiquinho - outra exibição soberba - por Neres. E nada mudou - quem entrava, entrava dentro do tom. E veio o quarto golo, no penálti sobre Gilberto que João Mário converteu. Com classe, dentro do tom, imediatamente antes de sair para a entrada do menino João Neves. Que entrou com Morato, para o lugar de Otamendi, afastado do próximo jogo. E, de novo, nada mudou - quem entrava, entrava dentro do tom. Tanto que foi o menino a assistir Neres para o quinto, a um quarto de hora do fim.
Nem com 5-0 a equipa abrandou o ritmo do espectáculo. Quis mais, e fez tudo para o conseguir. Mas acabaria por ser o Bruges a marcar, já mesmo no fim, o chamado tento de honra. Por sinal mais um grande golo. Nunca se saberá se foi aquilo que o lateral esquerdo, Mejer, quis mesmo fazer. Aquele gesto técnico - o pontapé - foi uma coisa nunca vista. Diria mesmo que poderá tentar repetir aquilo mil vezes que nunca mais conseguirá voltar a fazer igual.
Um grande golo é sempre um grande golo. E afinal este ficou também dentro do tom de um espectáculo a que nada faltou. Nem a extraordinária ovação a Yaremchuk - perdoando-lhe a entrada dura sobre Chiquinho, logo no início do jogo que lhe valeria o primeiro amarelo da partida - na altura da substituição.
E fica uma exibição memorável do Benfica, com todos os jogadores a alto nível. Sem elo mais fraco, mas onde não é possível deixar de destacar Gonçalo Ramos como o melhor, entre os melhores. Não o entendeu assim a UEFA, que atribuiu o prémio de melhor em campo a Rafa. Que, numa demonstração de carácter, mas também do espírito de equipa que reina entre os jogadores, o entregou ao colega. Também para ele, hoje, o melhor entre os melhores!
Mais uma noite fantástica na Luz, cheia, a ultrapassar hoje - em dia de ouro para Pablo Pichardo (também para Auriol Dongmo) em apenas três saltos - o milhão de espectadores na época. Fantástica porque é fantástica a festa, e fantástico é este novo ambiente de cor e luz. O jogo, esse não foi assim tão fantástico.
Era um jogo que comportava alguns riscos. Pelo adversário - o Famalicão é uma das boas equipas da Liga e, com a superação com todas as equipas defrontam o Benfica, adivinhavam-se ainda mais dificuldades - mas ainda por outras razões. Desde logo, porque Artur Soares Dias é nome de perigo sempre que arbitra o Benfica. Depois, pelas ausências. De Roger Schemidt, do banco, pela expulsão em Vizela, na semana passada. E de Gonçalo Guedes e Chiquinho, da equipa, ambos por lesão (quem diria, há um mês ou dois, que a ausência de Chiquinho viria a ser motivo de preocupação?).
O Famalicão colocou as dificuldades esperadas. Entrou no jogo a pressionar alto, e com agressividade. Rapidamente foi obrigado a recolher-se na sua grande área, mas nem aí baixou a agressividade, com faltas sucessivas. Na maior parte do tempo defendeu com uma linha de 6, e logo outra de 4 à frente. De tempos a tempos lá conseguia subir uns metros e ensaiar uns momentos de posse de bola.
O Benfica chegou a asfixiar, mas também nunca o fez por períodos muito longos. Na maior parte do tempo demonstrava aquela "paciência" que tem caracterizado a equipa nos últimos jogos. Chamam-lhe "paciência", mas aquilo é mais "muita parra para pouca uva". Muita bola, muita circulação, mas poucos remates, poucos desequilíbrios na estrutura defensiva adversária, e poucas oportunidades para chegar ao golo.
Estava-se nisto quando surgiu o primeiro golo, ainda em tempo de paciência, a 10 minutos do intervalo. Só possível porque a jogada não foi nada paciente. Otamendi não teve paciência e armou um passe longo bem medido, Grimaldo, sem paciência, acelerou pela sua ala e, como não teve paciência para esperar por um colega, tabelou mesmo com adversário e cruzou para Gonçalo Ramos, também sem paciência, rematar para o golo. Foi tão bonito que aquele corte do defesa famalicense que devolveu a bola a Grimaldo foi mesmo uma tabela de mestre.
O Famalicão sentiu o golo, e reagiu de imediato. E até podia ter empatado logo a seguir, mas ficou-se por aí. Fora essa resposta imediata, em que o perigo até nasceu de uma bola largada por Vlachodimos, carregado na pequena área sem que Artur Soares Dias ligasse nada a isso, só um remate que saiu perto da trave.
E assim se chegou ao intervalo, já com a Luz sem paciência para Artur Soares Dias. Que tolerava todas as faltas aos de Famalicão, e não perdoava a António Silva sempre que se chegava a um adversário.
A segunda parte, mais que mais bem, ou menos bem jogada, foi estranha. Foi estranha porque pareceu que o Benfica quis apenas controlar o jogo, gerindo-o através da circulação de bola, no tal jogo de paciência, para guardar a escassa vantagem de um simples golo. Que é coisa que assusta !
Foi estranha porque, mesmo assim, o Benfica criou meia dúzia de oportunidades de golo, que poderiam ter dado ao marcador uma expressão até pouco condizente com a exibição. Foi ainda estranha porque a maioria dessas oportunidades resultaram de remates de fora da área, justamente o que tem faltado ao excelente futebol da equipa ao longo da época. E foi finalmente estranha porque, à medida que o tempo ia passando, com o guarda-redes Luís Júnior a engatar e a defender bolas de golo, com Rafa a rematar de cabeça à barra, e com Artur Soares Dias (e o VAR, evidentemente) a não ver o corte com a mão daquele rapaz do Porto, dentro da área e nas barbas do Otamendi, "devidamente" amarelado por reclamar o que toda a gente viu, esperava-se que o Famalicão começasse a fazer alguma coisa por invocar o velho axioma da bola - "quem não marca, sofre". Ou que Artur Soares Dias acabasse por encontrar a cereja para o bolo que tinha vindo a fazer. Mas, não!
O Benfica não lhe permitiu a cereja, e tudo o que o Famalicão conseguiu foi um remate - o único da segunda parte - que mais pareceu um alívio de bola. Mas a verdade é que o suspiro de alívio das bancadas só chegou já nos 4 minutos de compensação. No golo que voltou a ter Grimaldo. No remate de fora da área, com a bola cheia de efeito, que o guarda-redes só pôde sacudir para a frente. Para Gonçalo Ramos bisar, na recarga. E, com 15 golos, voltar a ultrapassar João Mário na lista dos marcadores.
O Benfica completou hoje a bonita idade de 119 anos. E fez-se gala. Na Aula Magna, vestida de vermelho e a transpirar benfiquismo.
Foi bonito. De ver, de sentir... Bonito de ver como bonitas são as atletas do Benfica. Bonito de ver a homenagem a Chalana. E bonito, muito bonito de ouvir Fernando Pimenta. Recebeu o galardão Cosme Damião para atleta de alta competição do ano, mas também merecia o de adepto do ano.
Estava lá gente que não fazia falta nenhuma. Que não devia mesmo lá estar ... mas também ninguém lhe ligou nenhuma.
Não vão fáceis as viagens ao Minho, esta época. O jogo desta noite, em Vizela, confirmou as dificuldades que estão reservadas para o Benfica na longa rota minhota que integra o campeonato de há uns anos para cá. O Minho é hoje decisivo para a classificação do campeonato, mais parece o Rally de Portugal.
O Benfica entrou no jogo dentro do nível exibicional habitual, e na mesma linha estratégica. Quando assim acontece, o Benfica não joga mal. Pode não fazer tudo bem, nem da melhor da forma, e encontrar dificuldades. Mas não joga mal. E foi isso que aconteceu durante a primeira parte - sem fazer tudo bem, e longe de qualquer brilhantismo, o Benfica não jogou mal, e justificou a vantagem mínima que levou para o intervalo, materializada no golo de João Mário, aos 38 minutos.
Mesmo que a superioridade clara do Benfica se tenha começado a esvair a partir do início da segunda metade da primeira parte, altura em que o Vizela passou a acertar com as marcações, a jogar com mais velocidade e, acima de tudo, a disputar todas as bolas e a ganhar a maioria delas, as três jogadas de golo, e o marcado, justificarão o resultado ao intervalo.
Mas as indicações já não eram as melhores. As do jogo, e as do ambiente que o rodeava. À volta do relvado, porque o que tem vindo a ser criado longe dos campos, nas televisões, nos jornais e noutras esferas ainda menos próprias, vale para este e para todos os jogos que faltam ao campeonato.
No jogo, o Benfica chegara ao golo até no período de maior afirmação do Vizela, à custa de uma transição rápida, depois de um canto contra, que começou com Guedes a passar por toda a gente, e a conseguir, mesmo depois de derrubado em falta, libertar a bola para Neres fazer a sua parte, e deixá-la para João Mário marcar, perto da marca de penálti. No jogo, os jogadores do Vizela, pressionavam, e legitimamente, os do Benfica. Mas também, e aí com total ilegitimidade, a arbitragem.
Fora do relvado, era pior. A pressão sobre a arbitragem era enorme, e as provocações ao banco do Benfica ainda maiores. Durante todo o tempo, gente ali estrategicamente colocada e que não serão certamente adeptos vizelenses, disparou isqueiros, garrafas e cuspidelas sobre o banco. Tudo perante a indiferença das forças da ordem... E das câmaras da Sport TV.
Conseguiram o que conseguiram. E conseguiram até fazer expulsar Roger Schmidt, indiscutivelmente o treinador de comportamento mais tranquilo e pacífico do campeonato.
Com tudo isto, não era de esperar outra coisa que não uma segunda parte muito difícil, e cada vez mais complicada. Muito dificilmente os jogadores, mas também o treinador, conseguiriam ter o discernimento e a tranquilidade para tomarem as melhores decisões. E foi o aconteceu, não conseguiram, e o Benfica caiu na segunda parte para um dos piores jogos do campeonato, ao nível de Guimarães. Que não ainda ao de Braga.
A equipa sobreviveu a tudo isso, e à suas próprias limitações, e acabou até para marcar o segundo, num penálti indiscutível sobre Grimaldo, já dentro dos seis minutos de compensação. Que João Mário voltou a marcar, desta vez com enorme classe, tornando-se no surpreendente melhor marcador da Liga.
E o resultado acabou por ser claramente melhor que a exibição, francamente má durante grande parte da segunda metade do jogo. Que só não é preocupante porque teve todos aqueles atenuantes. E porque "é dos livros" que os campeonatos se ganham ganhando jogos destes.
Mais uma enchente na Luz, para receber o Boavista, em pleno Carnaval, e para mais um espectáculo bonito. Desde logo - e até ao fim - nas bancadas. Bonito de se ver!
O jogo também teve momentos bonitos, e não foram sequer poucos. E muitos de ansiedade. Este foi um jogo como tantas vezes acontece ao longo de uma prova longa, como é o campeonato. E como tantas vezes são os jogos com o Boavista na Luz. Têm sempre muita história para contar.
A deste começa a contar-se com uma entrada à Benfica. O primeiro quarto de hora foi o Benfica destes últimos jogos, pressionante, com ritmo e com o seu futebol de qualidade. Logo com uma boa oportunidade de golo (Rafa) no primeiro minutos. Só que, depois, tudo isso foi desaparecendo muito por culpa problemas no passe. Os passes falhados, onde Gilberto era rei, foram retirando ritmo e fluidez ao futebol habitual da equipa. E dando confiança ao adversário que passou a ter oportunidade para fazer mais alguma coisa que fosse correr atrás da bola. E dos jogadores do Benfica.
Aqui ou ali lá aparecia uma jogada mais bem conseguida. Mas não muito mais que isso. Até ao último minuto da primeira parte, apenas uma oportunidade de golo clara. De Gonçalo Ramos, ali pelo minuto 25, daquelas são a sua imagem de marca, e que normalmente ele não falha. Depois veio esse minuto final da primeira parte, igualmente com Gonçalo Ramos como protagonista - e Bracali - em que, por duas vezes, a bola não quis entrar.
Nas bancadas queria acreditar-se que era o pronúncio para a segunda parte. E era!
Neres entrou ao intervalo para a direita, saindo Florentino, e passando Aursenes para o lado de Chiquinho (na verdade passou para todo o lado, e ao lado de todos), e João Mário da direita para a esquerda, e a segunda parte arrancou a um ritmo vertiginoso. Aursenes podia logo ter marcado, numa bomba à entrada da área. Depois dois lances seguidos dentro da área boavisteira a deixarem suspeitas de penálti, sobre Rafa e Gonçalo Ramos, que o VAR não confirmou.
Foram 10 minutos de sufoco total sobre a baliza de Bracali, que tudo ia defendendo, culminando no primeiro golo. Um golo que só poderia ser marcado assim. Na "raça" com que Gilberto se atirou à recarga à defesa do guarda-redes do Boavista ao remate de cabeça de Gonçalo Ramos.
Pensou-se que o mais difícil estava feito, e que a partir dali seria um jogo igual a tantos outros, com os golos a surgirem naturalmente. Nada disso. Bastaram apenas três minutos para o jogo ficar empatado de novo. No primeiro ataque do Boavista, o primeiro remate ... e o golo.
Foi duro, o choque com a realidade. No golo toda a defesa pareceu adormecida, sem capacidade de reacção. Pior fora que os minutos que mediaram entre o golo de Gilberto e o do empate foram passados com o Boavista a ter a bola, e a trocá-la entre os seus jogadores, como nunca tinha conseguido fazer.
A equipa reagiu, mas não conseguia voltar ao ritmo dos 10 minutos anteriores. E a ansiedade começou a passear-se pela Luz. Mais ainda quando, catorze minutos depois, João Mário não conseguiu bater Bracali na conversão de um penálti que, à terceira, o VAR finalmente viu. Porque o árbitro Hélder Malheiro não estava para aí virado.
Com tanta oportunidade de golo desperdiçada, depois de sofrer um golo no único ataque, e remate do adversário, o desperdício do penálti era o cocktail perfeito para um jogo que só podia acabar mal. Na Luz já se viam dois pontos a voar ingloriamente.
Nem sempre as nuvens, por mais carregadas e negras, trazem a tempestade. O raio de sol chegaria a 8 minutos dos noventa, pela magia de Gonçalo Ramos. Num único metro quadrado da área axadrezada sentou o defesa que lhe saiu ao caminho, e desviou, com uma classe do outro mundo, a bola do alcance de Bracali.
Monumental. O golo, e o momento na Luz!
Depois, foi evitar que se repetisse o que acontecera a seguir ao primeiro golo. Continuar a mandar no jogo, sem cedências de qualquer espécie. Assim foi, e o jogo ainda deu para o terceiro golo, num extraordinário cruzamento de João Mário, para um excelente remate de cabeça, em voo, de Musa. O voo que, definitivamente, não levaria os dois pontos. E deu até, já mesmo no fim, para a única defesa de Vlachodimos, a evitar que uma bola desviada em Otamendi entrasse na baliza.
Foi sofrido, como certamente muitos outros ainda serão. A equipa não esteve sempre bem, como inevitavelmente voltará a acontecer. Mas quando, mesmo assim, a equipa constrói mais de uma dúzia de oportunidades claras de golo, nada se compara ao que se vê na concorrência.
Era dada como favas contadas, esta eliminatória dos oitavos de final da Champions. E até este jogo da primeira mão da eliminatória em Bruges. Não havia quem não desse total favoritismo ao Benfica para este jogo na Bélgica, com o Club Brugge. Por cá, mas também por lá. E o jogo começou exactamente sob essa perspectiva, com o Benfica a impor o seu futebol e a equipa belga retraída no seu meio campo, claramente amedrontada e desconfiada de si própria.
Roger Schemidt não replicou o onze inicial de Braga, introduzindo-lhe duas alterações - Gonçalo Ramos, no lugar de Guedes, e Rafa, no de Neres. No resto, tudo na mesma. Nas bancadas, nem parecia que a equipa estava a jogar fora. Não que estivessem mais benfiquistas - eram à volta de 3 mil, 10% da lotação do estádio - mas porque foram sempre quem apoio mais forte deu à sua equipa. Foram fantásticos, e calaram durante duas horas os adeptos belgas, rendidos aos cânticos benfiquistas. Entre eles, Rui Costa. O presidente foi apenas mais um a cantar!
Dizia que o jogo começou com o Benfica a confirmar todo o favoritismo que lhe era atribuído, e foi assim mesmo naqueles três minutos iniciais. Só que, de repente, o Bruges alterou completamente a sua atitude e, de uma equipa recolhida e tolhida pelo medo, passou a uma equipa subida e aguerrida. Passou a disputar todos os lances com alta agressividade, lançou o jogo para a dimensão física, e passou a ganhar a maior parte dos duelos do meio campo. E a ganhar todos os ressaltos, e a grande maioria das segundas bolas.
A ignição para essa metamorfose foi uma escapada de Buchanan, pela esquerda, aos cinco minutos, que Vlachodimos anulou, junto ao poste direito. Durou cerca de um quarto, esse período mais complicado para o Benfica. Mas nem mais uma oportunidade para a equipa belga marcar, graças ao acerto da linha defensiva do Benfica.
A meio da primeira parte já o Benfica tinha recuperado a sua superioridade clara no jogo, e começava a iniciar um autêntico desfile de oportunidades de golo. Primeiro Aursenes, depois um corte que só por acaso não acabou em auto-golo, depois ainda, António Silva, com o remate de cabeça a sair ligeiramente por cima da trave. A seguir foi Rafa, a rematar aos ferros (mesmo no ângulo do poste com a barra), e depois Gonçalo Ramos, por três vezes.
"Quem não marca, sofre" - diz a velha máxima do futebol. E já em cima do intervalo, depois de tanto "não marcar", o axioma cumpria-se: uma perda de bola numa saída para o ataque obrigou Otamendi a uma falta sobre Lang (o melhor do Bruges), que lhe valeu um amarelo e, do livre, apareceu Odoi no segundo poste a cabecear para dentro da baliza. Valeu que estava em fora de jogo, por pouco, mas prontamente assinalado pelo "liner". E assim foi o jogo para intervalo, empatado. Sem golos, mas com muitas oportunidades para o Benfica.
A segunda parte iniciou-se exactamente nas mesmas bases e, logo no primeiro minuto, Gonçalo Ramos voltou a falhar a baliza, com tudo para fazer golo. Falhou o golo, mas ganhou um penálti, três minutos depois. Que João Mário marcou. Em força, ao contrário do que é habitual. Não fosse tanta e Mignolet teria defendido. Chegado ao golo, o Benfica tranquilizou. E refinou o controlo do jogo. Não recuou, não abrandou, mas temporizou mais o jogo.
Pouco depois da hora de jogo Shemidt trocou Ramos e Rafa (ainda longe da sua melhor condição) por Guedes e Neres, e a equipa revitalizou-se. Ganhou novo fôlego e voltou a criar novas oportunidades para voltar a marcar. Só o conseguiu já perto dos 90 minutos, por Neres. Que voltaria ainda a marcar, mas sem contar. Estava também em posição irregular.
No fim, fica mais uma exibição consistente do Benfica. E prestigiante. Colectiva e individualmente, sem elos mais fracos. Aursenes foi considerado pela UEFA o "homem do jogo". Talvez não tenha sido o melhor, por não ter estado tão bem a construir e finalizar como habitualmente. Mas esteve em cada metro quadrado do campo todo. É até difícil escolher o melhor, quando António Silva e Otamendi, estiveram insuperáveis; Florentino, soberano naquele meio campo, João Mário decisivo em todo o jogo, Gonçalo Ramos, um mouro de trabalho e o desbloqueador do resultado ... E só não se pode dizer que Chiquinho já não surpreende porque ainda consegue surpreender. Como naquela recepção fantástica, digna de Zidane.
E ainda um resultado que, podendo ter sido bem mais dilatado, acaba por ser interessante, e praticamente garantir o acesso aos quarto de final desta Champions.
Esta noite, em Braga, estes jogadores desta equipa do Benfica disseram-nos que vão ser campeões. Por mais Tiagos Martins, Veríssimos, Soares Dias e mais não sei quantos que se lhe atravessem na frente, esta equipa está talhada para superar todas as dificuldades. Esta noite, em Braga, os jogadores mostraram que não quebram, nem torcem.
Estes quartos de final da Taça mostraram bem o que os espera. Nos jogos de ontem não houve expulsões, nem prolongamentos. No jogo de ontem, em Viseu, devia ter havido expulsões. João Mário, Uribe e Zaidu tudo fizeram para serem expulsos. Mas não, os cartões vermelhos estavam todos bem guardados para hoje. E em dupla dose dupla: dois para o Casa Pia, e outros dois para o Benfica. Acabaram ambas as equipas em nove contra onze.
No caso do Benfica foi contra muitos mais, para aí dezasseis.
O Benfica entrou na Pedreira, com meia casa - os dirigentes bracarenses preferiram as bancadas meio vazias, a cheias com adeptos do Benfica, impedidos de comprar bilhetes para o jogo - com o onze dos últimos jogos, apesar de já ter Rafa e Gonçalo Ramos no banco. E com o mesmo futebol, bonito, autoritário e seguro. Sem qualquer memória daquele jogo de Dezembro, que continua a marcar a única derrota da época.
Entrou a dominar por completo o jogo e o adversário, e aos quinze minutos marcou. Na sequência de um canto, que era coisa que chegou a parecer perdida, com Neres a assistir Gonçalo Guedes, para um espectacular golo de cabeça. Logo a seguir, o mesmo Gonçalo Guedes foi carregado dentro da área do Braga. Penálti, a que Tiago Martins fez vista grossa. O VAR, também não quis ver.
Mas viu que a falta de Bah - desnecessária e despropositada - era merecedora de vermelho, e não do amarelo com que Tiago Martins tinha penalizado o lateral direito do Benfica. E era. O problema é que já não tinha visto o penálti sobre Gonçalo Guedes. E que também não iria ver, já na segunda parte, que a falta de Racic sobre o Aursenes foi exactamente igual, decidindo manter o cartão amarelo que o árbitro exibiu ao centro campista do Braga. Nem uma mão de um defesa do Braga dentro da área, em cima do intervalo.
Esta é a folha de serviço do VAR. A de Tiago Martins não lhe fica atrás. Permitiu tudo aos jogadores do Braga - agarrar os jogadores do Benfica que lhes fugiam, atropelos sucessivos dos centrais, e todo o tipo de entradas. Para os do Benfica era amarelo certinho cada vez que se chegavam aos adversários. O primeiro amarelo a Morato, sem o qual o segundo, que o levou à expulsão, seria apenas primeiro, é apenas um exemplo. É certo que acabou por mostrar amarelos a quase todos os jogadores do Braga, mas quando o fez já havia perdoado dois ou três a cada um.
À meia hora de jogo, quando dominava completamente o jogo, e jogava o seu futebol prático e vistoso, o Benfica fica a jogar com 10. O jogo muda, como não poderia deixar de ser, e o Braga empata logo de seguida. No primeiro remate à baliza de Vlachodimos. E único, de toda a primeira parte.
O jogo mudou, mas não mudou como costuma mudar nestas circunstâncias. Roger Schemidt reconstruiu a equipa, deu-lhe um novo figurino táctico, com a entrada de Morato para passar a jogar com três centrais, e continuou a controlar por completo o jogo. Em mais de 90 minutos com superioridade numérica, apenas em três ou quatro, à volta dos 75 minutos, o Braga encostou o Benfica à sua área. Só nesses minutos obrigou Vlachodimos a duas defesas com algum grau de dificuldade.
Tudo o resto foi a demonstração do querer, da união, do estoicismo, e da categoria desta equipa do Benfica. Acabou por cair nos penáltis (o guarda redes do Braga defendeu o de Aursenes, enquanto Vlachodimos não conseguiu defender nenhum) mas só teve que chegar a essa forma de desempate porque, hoje, a arbitragem não olhou a meios para conseguir o que sistematicamente persegue.
Hoje, ao Benfica foi negada a possibilidade de continuar a disputar a Taça de Portugal. Hoje, o Benfica viu fugir o segundo dos objectivos para esta época. Mas ficou claro que, nem com muitas mais arbitragens como esta, vão conseguir impedir estes jogadores de serem campeões em Maio!
Casa praticamente cheia, na Luz, como é habitual. Desta vez com perto de 60 mil nas bancadas, para assinalar o regresso a casa, depois de três jogos consecutivos fora. Mas também para "mimar" a equipa, que bem merece, e para um último carinho a André Almeida, na hora da despedida do capitão. Um símbolo do Benfica, por mais que tenha dividido opiniões nos doze anos de águia ao peito.
O jogo começou por ameaçar tornar-se complicado. O Casa Pia, a equipa sensação da primeira volta - essa já ninguém lhe tira, independentemente de o vir ou não a confirmar no fim da época - entrou no jogo com a sua receita habitual, com a forte organização defensiva que lhe valeu ser sempre uma das defesas menos batidas do campeonato, e ainda a terceira melhor, com uma pressão enorme sobre os adversários, e sempre disponível para sair para a frente em velocidade. O seu 5x4x1 permite-lhe defender a sua área sempre com muitos jogadores, e ainda criar nas alas um dispositivo táctico que cria frequentes situações de três para um.
Fechados em cima da sua área, aos gansos sobrava sempre mais um jogador para a dobra a um colega, e sempre mais uma perna no caminho da bola. Logo que a ganhavam tentavam sair em transições rápidas, o que iam conseguindo uma vez por outra.
O Benfica entrou com a mesma equipa que iniciara o último jogo, em Arouca, e com os jogadores a interpretarem os mesmos papéis. Começou pressionante, mas nem por isso deixou de revelar dificuldades em libertar-se daquele cerco. Criou então duas oportunidades para marcar - logo no início, numa boa jogada de penetração na área, que João Mário não concluiu da melhor maneira, rematando por alto e, logo a seguir, numa espectacular abertura de Florentino, a picar a bola para dentro da área, concluída com o remate de Neres junto ao ângulo da barra com o poste.
Lembramo-nos então que o Benfica tinha resolvido os últimos jogos com golos serôdios, no aproveitamento das primeiras oportunidades. E da eficácia nesses jogos. E temeu-se que, jogando o Casa Pia naquela sua maneira, as oportunidades se não repetissem assim tanto.
Por volta dos quinze minutos, já o Benfica estava a abrandar a pressão, e a deixar a ideia de um jogo morno. Parecia um mau sinal, mas não. Era a percepção que aquilo não estava a resultar, e que era preciso mais paciência na circulação da bola. Era a maturidade da equipa a vir ao de cima. E resultou!
Logo aos 19 minutos, surgiu a melhor oportunidade de golo, com Gonçalo Guedes a responder com classe, de calcanhar, à Gonçalo Ramos, para o guarda-redes casa-piano a defender em último recurso, para a frente. E, no novo regime, iniciava-se uma nova fase de sufoco para os gansos. Que culminou ao minuto 34 - sim tem de ser o 34, não o 35 ou o 36, porque André Almeida merece - no primeiro golo, do goleador João Mário (o que Schmidt fez deste jogador!), a concluir com um passe para a baliza, assistido por Neres (mais que o regresso à forma, há ainda que saudar o compromisso com a equipa, muito acima do nível antes revelado, e a alegria que nunca se lhe tinha visto), uma bonita jogada de futebol, que finalmente desmontara a estrutura defensiva do Casa Pia.
A partir daí foi "show de bola". Oito minutos depois, só mudou o assistente, desta vez Grimaldo. O golo foi do mesmo, o novo goleador, já no topo da lista dos marcadores. "Show" que se prolongou pela segunda parte, então já com o Casa Pia a abandonar a sua estrutura super-defensiva, e a abanar por todos os lados. De tal forma que, na derrota mais pesada na época, o melhor que aconteceu ao Casa Pia foi mesmo o resultado.
As oportunidades de golo sucederam-se, com o futebol fluido, e de encantar, da primeira parte da época decididamente de volta. Golos, é que apenas mais um. E numa transição, que era coisa que estava a faltar. Foi uma jogada individual de Bah - mais outro, decididamente de regresso e já melhor que o melhor que tinha mostrado - não foi colectiva. Mas foi em transição!
Numa altura decisiva da época, com a Taça em jogo nos quartos em Braga, com o acesso aos quartos da Champions para discutir com o Bruges, e numa interessante - chamemos-lhe assim - fase da Liga, a exibição do Benfica mostra que a equipa está pronta para todos os desafios.
Hoje já deu para o regresso de Rafa - e como mostrou também que está pronto! -, e o de Ramos também não estará longe. E, a avaliar pelo que Schemidt fez de Bah, Aursenes, João Mário, Florentino e Chiquinho, dos dois reforços nórdicos que "estão no forno" só poderão chegar melhores notícias ainda.
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