Não foi de oito a exibição do Benfica, esta noite no Principado do Mónaco. Nem de oitenta, inatingível nesta altura da época, e nesta conjuntura que a equipa atravessa.
Bem vistas as coisas, e mesmo que as últimas imagens sejam sempre as que prevalecem, não se tratou de uma exibição entusiasmante. Nem sequer de uma exibição que atenue as dúvidas e as angústias dos adeptos.
O Benfica entrou bem no jogo, a prometer muito. Teve logo uma boa oportunidade para marcar num remate de Carreras. Só que à medida que o tempo foi correndo a promessa dos primeiros minutos ia entrando em incumprimento. Ao segundo quarto de hora já o Mónaco mandava no jogo, e o Benfica mostrava intranquilidade, com muitos passes falhados, sem conseguir segurar a bola, e sem fio de jogo. Ainda assim, já em cima do intervalo, o Benfica dispôs de duas boas oportunidades para marcar. Começou (Carreras) e acabou (Carreras e António Silva) a primeira parte a criar ocasiões soberanas de golo. Pelo meio, em jogo jogado, o adversário foi melhor. Mas apenas com uma boa oportunidade para marcar, num golo negado por Trubin. Contra as três do Benfica!
Ainda com as sensações de golo do final da primeira parte na retina, não foi estranho que o Benfica voltasse a cheirar o golo (de novo Carreras) logo no arranque da segunda parte, e acabasse a marcar logo ao terceiro minuto. Um grande passe de Tomás Araújo - que passara a maior parte da primeira parte aos papéis, sempre com três adversários no seu espaço, sem saber onde acudir - a solicitar a desmarcação (à pele) de Pavlidis, que foi simplesmente brilhante, com uma execução do outro mundo.
É incrível como um jogador marca um golo com aquele grau de dificuldade falha tantos e tantos tão mais fáceis.
O Mónaco não chegou sequer a ter oportunidade de reagir ao golo. Quatro minutos depois ficava reduzido a 10 jogadores, com a expulsão do nosso velho conhecido Al Musrati, em estreia a titular, acabado de chegar da Turquia - onde nem aqueceu o lugar - neste mercado. O Mónaco apresentou dois reforços de inverno: o segundo foi o dinamarquês Mika Biereth, que tem vindo a fazer furor na liga francesa.
A partir do minuto 52, com mais 44 minutos de jogo, o Benfica deixou de ter oponente em qualquer outra zona do campo que não fosse na grande área do adversário. No limite no seu último terço. Por isso dominou, subjugou, teve bola, criou uma dezena de oportunidades de golo, e dispôs de ainda mais ocasiões de criar condições para marcar.
Falhou sempre. Falhou na altura de marcar. Mas falhou ainda mais na altura de criara as condições para marcar. Porque - lá está, as dúvidas e as angústias dos adeptos - os jogadores tomam invariavelmente decisões erradas. Tomam decisões erradas porque não estão treinados para decidir bem. Porque não têm automatismos trabalhados. Porque têm de recorrer vezes de mais à iniciativa individual, expondo limitações técnicas de outra forma escondidas.
Pois. Não fosse isso, e a exibição teria sido de oitenta. E a eliminatória - que chega à Luz, na próxima terça-feira presa no magro 1-0 - estava a esta hora mais que resolvida!
Entretanto abriu a época de lesões. Depois de Manu e Bah, com paragem para um ano, hoje foi Di Maria, precisamente no regresso, e Tomás Araújo. Aursenes - hoje pareceu mais próximo do seu melhor - já teve que voltar a vestir-se de lateral direito.
O mote para o jogo desta noite na Luz - cheia, mas não como um ovo, com algumas clareiras - tinha sido dado ontem, com o empate no clássico do Dragão. Onde as coisas até correram bem, com as habituais broncas de fim do jogo a fazerem de cereja no topo do bolo, que era o resultado.
Este jogo com o Moreirense, que até tem pregado umas partidas na Luz, era para ganhar. Não era para mais nada, mas sabe-se que jogar bem é sempre o caminho mais perto, e seguro, para ganhar.
Ainda antes de conseguir dar a perceber se vinha para jogar bem, já o Benfica estava a ganhar. O relógio marcava 6 minutos quando Pavlidis converteu em golo o penálti que aconteceu à passagem do primeiro minuto, praticamente na sequência de um primeiro lance em que Aursenes, depois de perfeitamente enquadrado, e com espaço para um remate de golo, acabou por decidir atravessar com a bola toda a frente da área adversária, até a perder. Dificilmente a entrada no jogo poderia correr melhor. Ou, se calhar, pior ...
Porque, se um golo logo a abrir era tudo o que melhor se podia esperar do jogo, a (in)decisão do Aursenes dava também o mote para o que seriam praticamente 90 minutos de más decisões.
Entrando a perder, o Moreirense não foi de experimentalismos, e pegou no jogo. Pressão alta sobre a defesa do Benfica, muita posse, e boa troca de bola. Se logo no pontapé inicial fora Aursenes a pronunciar más decisões, na resposta do Moreirense foi Bah, aos 11 minutos. Quando a equipa não se conseguia libertar da pressão alta do adversário, numa bola vinda de um ressalto no lado esquerda da defesa benfiquista, Bah, à vontade, e com o corredor aberto, em vez de correr para a bola para arrancar em posse, decidiu que era melhor deixá-la sair pela lateral, e usufruir do lançamento.
Bah não conseguiu perceber aquele momento do jogo. Não percebeu que um ressalto tinha resolvido (mudança súbita de flanco, é assim que se responde à pressão alta!) o que a equipa não conseguia resolver. E, depois, não percebeu que, com aquela pressão, na reposição entregaria - como entregou, não havia alternativa - rapidamente e de novo a bola ao adversário.
Estava o Moreirense entretido a jogar à bola quando o Benfica engata a única transição rápida em todo o jogo: Kökçü tentou lançar Schjelderup no ataque, Dinis Pinto conseguiu a intercepção, mas a bola sobrou para Pavlidis. Que abriu em Aktürkoğlu, que rematou para grande defesa de Kewin para canto. Cobrado pelo turco para o bis de Pavlidis, no sítio certo a aproveitar um ressalto.
Em quinze minutos, e três remates, o Benfica marcava dois golos. Melhor só o Moreirense, que marcava ao primeiro remate. Apenas 4 minutos depois de sofrer o segundo golo, e depois de mais uma trapalhada de Carreras, a perder a bola quando queria entrar com ela por onde não cabia uma agulha.
Em 20 minutos, três golos. Em quatro remates. E o Moreirense, que nunca saíra do jogo, antes pelo contrário, regressava à discussão do resultado.
O jogo só dava Moreirense quando Bah se lesionou. Gravemente, pareceu. Logo a seguir foi Manu. Lesão grave, pareceu também. Entraram António Silva (para Tomás Araújo passar para a lateral direita) e Florentino. As lesões fazem mal à equipa, mas as substituições fizeram-lhe bem. Não muito, mas Tomás Araújo e Florentino passaram a estar melhor no jogo que os infortunados Bah e Manu.
Menos de um quarto de hora depois de ter sofrido o golo o jogo voltou a sorrir ao Benfica. Mais um canto, agora na esquerda, cobrado por Kokçu, para Otamendi marcar o terceiro. E repor a tranquilidade de dois golos de vantagem, antes do intervalo que, por força dos 7 minutos de compensação, chegaria 10 minutos depois.
A segunda parte foi mais do mesmo, entre a chatice e o suplício. Aos 85 minutos o Moreirense marcou, ainda a tempo de acentuar ansiedade nas bancadas da Luz. Mais um clássico do "não é preciso muito para o Benfica sofrer golos": Carreras foge para o meio e arrisca um passe em profundidade, permitindo a intercepção da bola e o golo de Ivo Rodrigues, a finalizar com competência. A competência que Aursenes - mais uma vez -, à passagem do primeiro quarto de hora, não teve quando desfrutou de idêntica oferta do guarda-redes Kevin.
Mas mais frustrante, ainda, que a primeira parte. Foi um acumular de decisões erradas por parte de jogadores e treinador, e a gritante exposição da falta de rotinas. Os jogadores não sabem o que hão-de fazer e por isso tomam sucessivamente más decisões. O treinador ... idem, idem ... aspas, aspas!
Bruno Lage está perdido. Perdido no seu discurso labiríntico, nos seus equívocos e, receio, que na sua incompetência. E a encaminhar-se em passo acelerado para um beco sem saída.
Bruno Lage quer esconder este Benfica de oito, incapaz de transportar para os adeptos as sensações que vêm da classificação. Para que os benfiquistas acreditem que é possível recuperar os quatro pontos de desvantagem para o Sporting, poderá não ser preciso um Benfica de oitenta. Mas é preciso um Benfica constante, pelo menos de setenta.
Uma última nota para as substituições, onde Bruno Lage ficou logo condicionado pelas duas a que foi obrigado pelas lesões. Não tendo optado por utilizar o intervalo, o treinador ficou com três substituições para um único momento: a 25 minutos do fim, tirando os três da linha avançada - Aktürkoğlu, Pavlidis e Schjelderup. Entraram Leandro Barreiro, que desperdiçou a segunda maior oportunidade da segunda parte, e Belotti e Bruma, que só perderam a oportunidade para uma boa primeira impressão. Jogadores, e treinador, não conseguiram mostrar nada que abonasse a sua contratação.
Não foi com uma grande exibição que o Benfica, esta noite na Amadora, fugiu da ressaca europeia. Foi com uma exibição estranha: competente, autoritária e eficaz na primeira parte, e nervosa na segunda.
Sem grandes surpresas no onze inicial - à excepção da estreia de Manu Silva, na vez de Florentino, e ao regresso de Akturkoglu à titularidade na ala esquerda, na vez de Schjelderup, já que o regresso de Carreras, depois da ausência em Turim por acumulação de amarelos, era esperado - a surpresa foi na primeira parte a posição de Di Maria. Que fugiu da ala direita, para deambular pelo campo todo, como um 10 vagabundo, contribuindo decisivamente para a enorme superioridade que o Benfica foi construindo a partir do domínio do meio campo.
O Benfica entrou muito forte. E ainda por cima eficaz, o que é raro. Aos 5 minutos já Otamendi marcava o primeiro golo, a partir do primeiro canto. O árbitro João Pinheiro não viu que a bola entrara, e teve de vir do VAR a validação do golo. Aos 7 minutos.
Três minutos depois chegava o segundo. Livre de Di María, na esquerda, com o Dramé, o gigante central do Estrela, a roubar o golo a Pavlidis, ao desviar a bola para a própria baliza. Era o Benfica com o domínio absoluto do jogo, com grande mobilidade, e excelente circulação de bola, com o estreante Manu em especial relevo, com o seu futebol de um só toque.
Estava o jogo nisto quando, à beira da meia hora, o lateral Diogo Travassos chegou às cercanias da área de Trubin, passeou com a bola da direita para o centro, sem ninguém o incomodar muito e rematou. O resto foi Otamendi a desviar a bola para a baliza, para fora do alcance do seu guarda-redes.
É assim: não é preciso muito para o Benfica sofrer golos.
Foi como se nada se tivesse passado. O jogo prosseguiu nos mesmos termos, e pouco mais de 5 minutos depois, novamente depois de um canto, o golaço de Pavlidis repôs a diferença dos dois golos no marcador. A uma boa exibição o Benfica aliava uma eficácia notável, e pouco comum. Só não foi total porque em cima do intervalo o chapéu de Akturkoglu acabou na trave, e não dentro da baliza.
Depois veio a segunda parte. Contra o vento, sem que se tivesse notado que o Benfica tinha jogado com ele a favor, na primeira. Na realidade só o Estrela quis jogar com o vento. E jogou!
E como não é preciso nada para o Benfica sofrer golos, logo no arranque da segunda parte, mais por Trubin que pelo vento, e mais pelo Dramé (uma carraça daquele tamanho nas costas de Pavlidis, no campo todo, para secar a capacidade de construção do avançado grego) que pelo Pavlidis, a bola acabou por ir parar à frente do Chico Banza, que só teve de contornar Trubin para marcar. E deixar o resultado no tangencial 3-2.
Faltava praticamente toda a segunda parte para jogar. Melhor, para passar. Jogou-se pouco. O Benfica intranquilizou-se, o Estrela jogava com o vento, e os jogadores passaram a passar mais tempo no chão que a jogar a bola. E como está demonstrado que não é preciso nada para o Benfica sofrer golos, poucos acreditavam que no meio daquilo tudo não surgisse o golo do empate.
Quando, já perto dos 90 minutos, Arthur Cabral falhou o penálti que reporia a tranquilidade, soou a "déjá vue". E a maldição.
Vá lá que tudo acabou em bem. Houve sofrimento, mas nunca houve verdadeiramente risco de o Benfica não ganhar o jogo. Que poderia ter ganhado de goleada, mas acabou por ganhar à rasquinha.
Há uma semana foi inacreditável como o Benfica perdeu aquele jogo. Hoje foi inacreditável como o Benfica ganhou este jogo, em Turim, e acabou a garantir o apuramento para o play-off de acesso aos oitavos de final da Champions.
Há uma semana foi inacreditável porque o Benfica esteve em vantagem folgada no marcador, e acabou traído - também por falhas próprias, é certo, mas que fazem parte do jogo - por uma arbitragem escandalosa, que transformou uma vitória numa derrota.
Hoje foi inacreditável como, depois da exibição e da derrota de sábado passado, com o Casa Pia, e especialmente de tudo o que de lamentável se lhe sucedeu, a equipa se apresentou em Turim para jogar com a Juventus. Ir ganhar à Juventus de forma tão clara, demonstrando uma competitividade, um espírito de equipa e uma organização de tão elevado nível, era de todo improvável depois do terramoto do fim-de-semana com epicentro naquele áudio deplorável.
Que Rui Costa prometera explicar e esclarecer em Turim, depois do jogo. Não explicou nada, e apenas deixou esclarecido que a exibição e o resultado resolveram tudo. O futebol é isto, é também um jogo do gato e do rato, em que as vitórias ora curam tudo, ora escondem tudo.
O contexto do jogo, todos o percebemos, não podia ser pior. Bruno Lage estava mais que fragilizado, e crescia o impedimento de Carreras, há meses o jogador do Benfica em melhor forma. Muito mais que um lateral esquerdo - ele é defesa, é ala e é até o 10, e o melhor transportador de bola da equipa. E no entanto tudo saiu perto da perfeição.
Com Bah, a fazer de lateral esquerdo, na única alteração àquele que é o onze base de Bruno Lage, o Benfica entrou no jogo decidido a mostrar que trazia fragilidades de nenhuma espécie. Que a haver fragilidades elas estavam na Juventus. Começou logo aos 32 segundos, com Pavlidis a centímetros de desviar para a baliza um centro de Di Maria. Continuou aos dois minutos, com Schjelderup a falhar uma grande oportunidade, que repetiria cinco minutos depois, na primeira grande defesa de Perin, o tal que esteve na Luz, há pouco mais de cinco anos. Pelo meio a única defesa a sério de Trubin na primeira parte.
A superioridade do Benfica começou a ganhar expressão no marcador logo à passagem do primeiro quarto de hora, como o golo de Pavlidis, a concluir uma jogada simples: passe longo, a rasgar, de Otamendi, Bah a ganhar na antecipação ao central Gatti e a deixar bola para o grego fuzilar Perin. E poderia ter-se aproximado mais da realidade da exibição mesmo ao fechar a primeira parte, se o mesmo Pavlidis, isolado em frente a Perin, e ainda com Schjelderup e Di Maria em linha de passe, não tivesse optado por rematar e permitir uma fantástica defesa ao guarda-redes italiano, com a bola a acabar por cair sobre a barra da baliza, quando parecia levar o caminho das redes.
Na segunda parte o registo do jogo não se alterou. O Benfica continuou a controlar o jogo e a Juventus apenas por meia dúzia de minutos, na transição do primeiro para o segundo quarto de hora, com as duas substituições operadas por Thiago Motta, empurrou o Benfica para trás e ameaçou a área de Trubin.
Bruno Lage refrescou a equipa, retirando Di Maria e Schjelderup para entrarem Aktürkoğlu e Leandro Barreiro. Que trouxe uma nova dimensão às saídas da equipa e, à entrada do último quarto de hora, falharia um golo feito. O segundo, já mais que justificado.
Que chegaria pouco depois, aos 80 minutos, em mais uma fantástica jogada colectiva do Benfica, com Aursnes a conduzir pela direita, o passe de Pavlidis e a simulação de Akturkoglu, a deixar a bola redondinha para Kokcu atirar colocado para o 2-0. E deixar o jogo definitivamente arrumado, e a Juventus sem capacidade de reacção.
Foi notável o trajecto do Benfica fora de casa. Apenas perdeu em Munique, com o Bayern, no tal jogo do 0-1. Ganhou claramente os restantes três. Ao contrário, em casa, apenas ganhou naquela goleada de 4-0 ao Atlético de Madrid. Na verdade apenas perdeu bem o jogo com o Feyenoord, em teoria o mais acessível. Mas é o oito ou oitenta desta equipa. Acabou no 16º lugar, o segundo do grupo dos 13 pontos, atrás do PSG, que ao marcar quatro golos em Estugarda (4-1) ficou com um golo de vantagem.
Não fossem os muitos oitos e, na Champions, o Benfica tinha atingido o apuramento directo para os oitavos de final. E no campeonato, em vez dos 6 pontos de atraso, levaria mais de 10 de avanço.
E para isto não há explicação. Na verdade, para o resto também não.
Ontem disse aqui que era preciso uma explicação. Não terá sido por isso que Rui Costa, sentado na primeira fila, obrigou Bruno Lage à conferência de imprensa, hoje.
Se não foi por isso, também não foi para isso. Para explicar coisa nenhuma. Como cantava o Zeca, o que é preciso é animar a malta. Nem que seja com equívocos.
Rui Costa voltou a fugir com o rabo à seringa, e equivocou-se, pensando que Bruno Lage o safava. Bruno Lage, com o equívoco aberto, entrou por ele dentro, a toda a velocidade: "malta, o que é preciso é o vosso apoio, do resto trato eu". Isto é, a confirmação oficial e solene do "se eu tiver o vosso apoio vou resolver esta merda".
O equívoco de Lage não é a falta de conteúdo da lamentável mensagem. O grande equívoco de Lage está em pedir apoio aos adeptos, sem perceber que só eles nunca faltam ao Benfica. Que enchem sucessivamente a Luz, e esgotam todos os campos do país onde a equipa jogue.
O que falta ao Benfica não é apoio dos adeptos. Falta é gente que faça mais alguma coisa que simplesmente tentar a safar a pele!
Há jogos que são três num só. Foi o caso do jogo do final desta tarde, em Rio Maior, onde o Benfica foi defrontar o Casa Pia, em casa emprestada.
Foi o jogo da passada terça-feira, com o Barcelona, pelas marcas que deixou, foi o próprio jogo com o Casa Pia, e foi o jogo da próxima quarta-feira, em Turim, com a Juventus. Que ainda nem aconteceu, mas que teve forte presença em Rio Maior.
Se o que por esta altura não falta ao Benfica é sobrecarga de jogos, jogar três num só é acrescentar dificuldade ao que já está difícil!
O Benfica só jogou este jogo na primeira meia hora. Depois jogou o da próxima quarta-feira e, por fim, acabou a jogar os últimos minutos do da passada terça.
Para este jogo Bruno Lage poupou Tomás Araújo (Bah), Aursenes (Leandro Barreiro), Schjelderup (Akturkoglu) e Pavlidis (Arthur Cabral), e fez regressar Di Maria. Normal, não seria por aí que as coisas correriam mal. Até porque começaram mesmo a correr bem. Quando, logo aos 12 minutos, Barreiro sofreu a falta para o penálti que Di Maria transformaria - com a habitual classe - no primeiro golo do jogo, já Arthur Cabral tinha desperdiçado duas oportunidades para marcar. Logo a seguir Akturkoglu só não fez o segundo porque, depois de sobrevoar o guarda-redes do Casa Pia, a bola embateu na barra.
Na meia hora em que o Benfica jogou este jogo marcou um golo e criou oportunidades para mais três. Foi claramente dominante, e isso deverá ter levado os jogadores a pensar que o facto de a equipa da casa mostrar que sabia jogar à bola servia apenas para tornar o jogo ainda mais agradável à vista, pelo que poderiam seguir para Turim.
Poderia dizer que não vejo outra razão para o António Silva ter decidido fazer a assistência para o golo do empate do adversário, aos 32 minutos. Mas deve haver. São tantos e tão repetidos estes erros que tem mesmo de haver. Até porque logo a seguir voltou a repetir-se mais um, que acabou num penálti que o VAR obrigou António Nobre a transformar em livre directo.
Já desligada, a equipa não conseguiu regressar ao jogo na segunda parte. Então apenas o Casa Pia conseguia apresentar um futebol ligado, capaz de jogar de uma área à outra. O Benfica atacava, mas tudo acabava invariavelmente em cruzamentos. E em cantos. A uns, e a outros, a defesa adversária chamava um figo.
Já não era com a cabeça em Turim, era com a cabeça perdida no jogo da Luz com o Barcelona. Foi já assim que o Casa Pia marcou o segundo golo, logo à passagem do primeiro quarto de hora. Quando já se percebia que dificilmente o Benfica escaparia a mais uma derrota, a terceira nos últimos quatro jogos do campeonato.
O terceiro golo do Casa Pia, já no último minuto dos cinco de compensação, que só não é exactamente como o do Barcelona porque não tem atrás qualquer ilegalidade, apenas veio dar ao resultado a expressão pesada de uma derrota inapelável.
O futebol pode ser isto mesmo. Não pode é deixar passar entre os pingos da chuva uma equipa que em 12 pontos perde 9. Tem que haver explicação para a intermitência da equipa. É preciso explicar como é uma equipa jogou o que jogou com o Atlético de Madrid, com o Porto, com o Braga (na Taça da Liga), ou até agora com o Barcelona, depois joga o que jogou na primeira parte com o Sporting, com o AVS, com o Braga, com o Casa Pia. E como é que, à crise dos adversários, por maior que seja, se responde com uma ainda maior.
O que aconteceu nos últimos segundos desta noite a Luz pertence ao domínio do irreal. Tivemos que nos beliscar para sentir que era real, que aquilo não era um sonho.
E não foi. Aquilo aconteceu mesmo!
O Barcelona chegou à Luz de mão estendida, à espera de generosidade. E ela não lhe faltou. Não lhe faltou a generosidade de alguns jogadores do Benfica, especialmente de Trubin. Nem lhe faltou a da arbitragem.
O Benfica entrou para fazer um grande jogo, a única forma de ganhar ao Barcelona. Também a única de manter vivas as aspirações a seguir em frente nesta Champions, depois de todos os oitos e oitentas.
Marcou logo aos dois minutos, num grande lance de futebol, quando Tomás Araújo descobriu Alvaro Carreras nas costas de Koundé, no flanco contrário, para o lateral espanhol cruzar de primeira, e Pavlidis marcar, também de primeira. Logo a seguir, em mais um excelente lance com a marca da superioridade do Benfica, Aursenes falhou incrivelmente o segundo, com a baliza de Szczęsny à mercê.
Estava o jogo neste pé, com o Benfica a mandar no jogo como queria, quando o VAR detecta um penálti que passara despercebido ao árbitro. Tinha marcado canto, considerando que o Tomás Araújo tinha cortado a bola pela linha final. Não tinha, chegou atrasado e pisou mesmo pé de Baldé, o lateral esquerdo, e o minuto 13 foi mesmo de azar. E Lewandowsky empatou!
O Benfica não sentiu o golo, e continuou, como nada se tivesse passado. E na verdade o Barcelona também. Quando, 10 minutos depois, também Szczęsny quis ser generoso, e Pavlidis marcou o segundo golo, tudo parecia natural. O Benfica estava melhor no jogo, e fazia sentido estar a ganhar. E nem o 3-1, antes da meia hora de jogo, do hat-trick de Pavlidis (parecia o frasco do ketchup), no penálti com que Szczęsny derrubou Akturkoglu que, desmarcado por Aursenes, lhe picara a bola por cima, pareceu outra coisa que não o rumo natural do resultado, lado a lado como o do jogo.
Ao intervalo o que ficava era um jogo controlado pelo Benfica. O Barcelona tinha marcado um golo num penálti caído do céu, e Trubin tinha feito uma defesa, e negado a Gavi o golo na única oportunidade criada.
Na segunda parte o jogo manteve-se nas bases que trazia da primeira parte, com o Barcelona com muita bola e o Benfica a controlar e tapa os espaços, com autoridade e solidez. Era o Benfica dos oitenta desta Champions, e aos 10 minutos Aursenes volta a falhar o cheque-mate. Isolado frente ao guarda-redes polaco do Barcelona, embrulhou-se (nas ideias) com a bola e desperdiçou o quarto golo.
Estava o jogo nisto, e a segunda parte a meio, quando a generosidade de Trubin lhe deu a volta. Do nada, sabe-se lá como e porquê, ao repor a bola em jogo o guarda-redes do Benfica atira-a contra a cabeça de Raphinha. Depois ficou a contemplar o seu percurso até dentro da baliza.
De repente o Barcelona voltava ao jogo. Só que logo a seguir, quatro minutos depois, em mais uma cavalgada de Schjelderup, Araújo esticou-se para interceptar o cruzamento para Pavlidis, e desviou para a própria baliza a bola que, certamente, Szczęsny iria recolher. O quarto golo repunha a diferença em dois golos, e pagava, sem apagar, a generosidade de Trubin.
O jogo caminhava para o quarto de hora final, e o Barcelona apertava. Os jogadores do Benfica já acusavam o desgaste físico, e as substituições de Hansi Flick - de incidência táctica - resultavam melhor que as de Bruno Lage, que trocava os que não podiam mais.
Chega então a generosidade de um senhor holandês, já conhecido da época passada do jogo com o Inter, que se chama Danny Makkelie. Aos 78 minutos arranjou um novo penálti para Lewandowski marcar, só porque Carreras passou com a mão pelo braço de Yamal. Imprudência de Carreras, sim. Não no gesto em si mesmo, mas em fazê-lo com este árbitro.
Então sim, o Benfica sentiu o golo. E a injustiça. O cansaço dos jogadores retirava-lhes a concentração e os erros começaram a pesar. Na defesa, mas também na saída de bola. Os jogadores do Barcelona sentiram pela primeira vez que poderiam não perder este jogo, e acabaram por empatar, na marcação rápida de um canto, já com os 90 minutos à porta. A chuva caía impiedosa no relvado, com a mesma impiedade com que o empate caíra sobre os 64 mil benfiquistas nas bancadas da Luz.
Ao minuto 90 Di Maria - que entrara para o lugar de Schjelderup -, isolado, teve nos pés o golo da vitória. Daqueles que não falha, mas Szczęsny defendeu. Também conta: Szczęsny compensou a sua generosidade com duas grandes defesas, que valeram dois golos. Trubin não teve essa oportunidade.
Quatro minutos de tempo de compensação. A esgotarem-se quando Carreras - que grande jogo! - foi ceifado a meio do meio campo. Livre cobrado por Di Maria, e toda a gente para a área do Barcelona. Natural, o tempo de compensação estava esgotado, e não tinha havido qualquer interrupção que motivasse o seu alargamento. O apito final surgiria na conclusão desse lance.
A bola sai do pé de Di Maria, chega à esquerda, e é de novo cruzada para o centro da pequena área, onde surge Barreiro, primeiro empurrado pelas costas e depois, já no chão, imobilizado por um defesa adversário. Penálti - grita-se. E gritam e gesticulam os jogadores do Benfica, enquanto a bola sobra para Lewandowski, na meia lua, que a atira para a frente, na direcção de Raphinha. Sozinho, com tempo para correr o campo todo e marcar o quinto do Barcelona.
O VAR vai intervir - pensou-se. Vai mostrar ao Sr Danny Makkelie que penálti é aquilo que fizeram ao Barreiro, e não o que Carreras fizera a Yamal. Vai anular o golo, e se o Benfica concretizar o penálti - e já lá estava Di Maria - vai escrever-se direito o resultado deste jogo.
Não. Nada disso. Na UEFA não se tira uma vitória ao Barcelona. Na verdade só isso é que não é inacreditável!
Jogo tranquilo na Luz, a abrir a segunda volta do campeonato. Não tivesse sido a agitação que o Sr João Gonçalves - mais uma encomenda que chegou do Porto - introduziu no jogo e teria sido dos mais tranquilos a que assisti na Luz, desta vez um pouco abaixo das enchentes do costume, com "apenas" 54 mil nas bancadas.
O adversário era o Famalicão, uma sombra daquela equipa que iniciou o campeonato "a fazer a cama" ao Schmidt, naquela derrota 0-2 na abertura do campeonato, que ainda não ganhou um jogo desde que trocou o treinador Armando Evangelista pelo Hugo Oliveira, há mais de um mês. E foi na realidade inofensivo. Mas ... lá está o axioma do futebolês - "uma equipa joga o que a outra deixa".
E o Benfica fez o "qb" para que o Fama não jogasse nada. Ninguém diria que era o quarto jogo em 10 dias. Sem Di Maria, substituído por Akturkoglu - com vantagem na pressão e na recuperação de bolas, mas sem comparação em tudo o resto - Bruno Lage apostou em Leandro Barreiro para as funções de Aursenes (este ano a precisar do descanso que não teve nos dois anteriores). No resto não fugiu do onze inicial estabilizado nesta fase da época, que passa já por Schjelderup na ala esquerda, Tomás Araújo no lado direito da defesa, e António Silva ao lado de Otamendi, o grande capitão. Provavelmente muita gente não repara, mas vale a pena desligarmos da bola por momentos para o ver aos comandos do jogo.
Como comecei por dizer a tranquilidade que a qualidade da exibição do Benfica transportou para as bancadas só foi perturbada pelo tal árbitro do Porto. Depois de ter subjugado o adversário, a exibição do Benfica teve ainda de tornar o tal João Gonçalves irrelevante. Mas não foi fácil. Durante toda a primeira parte, que acabou precisamente com o apito final quando a bola ia a caminho do Pavlidis, a isolar-se na cara do guarda-redes, depois de garantir total imunidade aos jogadores da equipa famalicense, já ter amarelado os dois jogadores do eixo central do meio campo Benfica, e de uma séria de faltas, e até lançamentos, marcadas ao contrário.
Daí a assobiadela monumental à saída para o intervalo, já mais arrefecida no regresso.
Para além da história dos quatro golos que fizeram o resultado, de outros tantos remates que acabaram por sair um bocadinho ao lado dos postes, ou acima da barra, e de oito grandes defesas do Carevic, o único jogador do Famalicão a exibir-se a grande nível, o jogo tem outras histórias. Também de golos!
A primeira é a de um goleador improvável. Parece que o Leandro Barreiro só tinha marcado um golo na sua carreira. No Benfica - sabia-se - estava em branco, mas também não tem assim tantos jogos. Marcou três, um hat-trick sem espinhas. Seguidinhos: 11, 36 e 67 minutos. Até para os grandes goleadores é um feito raro. Para um jogador do meio campo que ainda não tinha marcado, é do outro mundo. Mas a sua movimentação e a forma como rompe em desmarcações para dentro da área, fazem com que marcar golos não seja tão improvável quanto possa parecer. Hão-de certamente vir aí mais!
A segunda é a do suposto goleador que não marca golos. Pavlidis joga para a equipa, assiste, voltou a fazer um bom jogo, não regateia uma gota de suor, esforça-se, mas não consegue marcar. Voltou a ter quatro ou cinco oportunidade claras de o fazer, mas a verdade é que a bola não entra. Quando as bancadas se levantaram a gritar-lhe o golo, porque a bola estava mesmo a entrar, sem se saber como o Carevic tirou de lá dentro. Quando ia mesmo a marcar, a bola foi à barra. Ainda foi a tempo de procurar a recarga. Consegui-a e, quando finalmente marcou, o árbitro assinala-lhe fora de jogo no início da jogada. Que ninguém tinha visto (depois viria a saber que as linhas marcavam 17 centímetros, o que só "prova o olho de facão" do auxiliar) e que por isso deu festa. Em vão.
Por isso o aplauso das bancadas a Pavlidis na substituição (por Cabral) é também um dos momentos bonitos do jogo.
Acabada, com a sua substituição, a saga de Pavlidis e, com o terceiro golo, a de Barreiro (o homem do jogo, evidentemente), não acabou a história do jogo. Ela passou ainda pela fantástica jogada do João Rego - como gosto deste miúdo! - que passou por toda a gente por aquele lado direito até entregar a bola atrasada para Akturkoglu, de calcanhar, a deixar à frente de Kokçu, a jeito do remate rasteiro, de grande qualidade técnica, para o quarto. E último da história dos golos.
Ao terceiro dia o Benfica - não, não ressuscitou, isso aconteceu só na segunda parte - depois do dérbi, e dos festejos da conquista da Taça da Liga, apresentou-se no S. Luís, em Faro, para disputar os oitavos de final da Taça de Portugal.
Para um jogo ao terceiro dia, com outro já para fazer em três dias, este na Luz, com o Famalicão, para o campeonato, logo seguido da recepção ao Barcelona, para a Champions, no meio de um ciclo de cinco jogos em menos de duas semanas, Bruno Lage poupou Tomás Araújo, Kokçu e Pavlidis. Na realidade foram quatro as alterações no onze, mas Trubin não foi por poupança, foi para a clássica oportunidade a Samuel Soares, na Taça.
Ao contrário do que até tem sido mais habitual, o Benfica entrou no jogo a todo o vapor, deixando claro que a ideia era resolver depressa o problema do resultado, para depois poder gerir o jogo e o cansaço acumulado. Logo na jogada de saída Barreiro desmarcou Scheljderup na esquerda, que virou a bola para a direita, para o extraordinário remate de Di Maria, que saiu a milímetros do ângulo superior direito da baliza de Ricardo Velho. Seria mais um golaço à Di Maria, mas foi apenas o mote para os cinco minutos iniciais de domínio absoluto do Benfica. E de bom futebol!
Na primeira vez - parece que é sina - que o Farense conseguiu sair daquele colete de forças, e chegar à frente, num canto resultante de um ressalto no António Silva, com toda a gente do Benfica a dormir - se não era de sono era de hipnose - marcou. Havia 7 minutos de jogo. Que mudou, naquele momento!
O Farense fechou-se lá atrás, defendendo com competência e gerindo, com manha, o tempo de jogo. Com Florentino e Barreiro faltava dinâmica e visão de jogo ao meio campo do Benfica. Aursenes, que também não atravessa um grande momento de forma, não podia resolver tudo. O regressado Bah não acertava uma, e o futebol do Benfica engasgava-se sistematicamente. Os cantos sucediam-se, uns atrás dos outros, mas só isso. A reforçada defesa do Farense não passava por grandes incómodos. Esperava-se que Di Maria resolvesse mas, se não estava fácil, pior ficaria com a sua saída, queixando-se do que parecia ser uma dor muscular.
Entrou Amdouni, a frio. Como frio se arrastou o jogo até ao intervalo, sem que o Benfica tivesse conseguido acrescentar grande coisa ao que tinham sido os primeiros cinco minutos.
No intervalo Amdouni fez aquecimento, e Bruno Lage diz que alterou uns posicionamentos, e que explicou aos jogadores o que era o campo no S. Luís. Estranho é que só ao intervalo tenha dito aos jogadores que o campo é mais pequeno, e que não dá largura para explorar as alas, nem comprimento para a profundidade.
A verdade é que a segunda parte foi completamente diferente. Admito a ignorância, mas a mim pareceu-me mais que foi por ter marcado três golos em cinco minutos que propriamente por grandes alterações tácticas. É que nem o primeiro quarto de hora da segunda parte foi muito diferente dos últimos quarenta minutos da primeira, nem nenhuma alteração foi introduzida no onze.
Aconteceu que Scheljderup - hoje, para além de Di Maria (mas noutro registo) o único jogador do Benfica com capacidade para desequilibrar no drible e na velocidade - novamente lançado por Barreiro, fez um grande jogada individual e um grande golo. E que no minuto seguinte num espectacular cruzamento de Carreras - este sim, em grande forma - Arthur Cabral marcou o segundo, numa execução irrepreensível.
Depois de tanto terem defendido, de tanto terem queimado tempo, e de tanto terem acreditado que eliminariam o Benfica, os jogadores do Farense caíram a pique. E, quando passavam apenas 5 minutos do golo do empate, de Scheljderup, Bah marcou o terceiro.
Depois - sim - o Benfica jogou bem e dominou como quis o jogo. E depois é que Bruno Lage fez as substituições. Essa é que é essa!
No fim, com 5 minutos de boa qualidade na primeira parte, e outros 5 na segunda, estes de rara eficácia, o Benfica resolveu uma eliminatória que chegou a parecer complicada. Mas o "futebol é isso mesmo", já diz o futebolês. Se aquele fantástico remate de Di Maria tem entrado logo no primeiro minutos, tudo teria também sido diferente. Assim, o Benfica acabou a dominar completamente o jogo e, como se sabe, o que fica são as últimas imagens.
Nove anos depois o Benfica voltou a conquistar a Taça da Liga. A oitava. É caso para dizer que a Taça da Liga voltou a casa. Muito tempo depois. Tanto que ainda nem se falava em "campeão de inverno", e depois de oito anos a vadiar pelas mãos deste e daquele. Mas voltou!
Foi o terceiro dérbi na final da competição. Disputada em Leiria, aqui ao lado, bem no centro de Portugal, e não no estrangeiro, na tal internacionalização prometida por Pedro Proença, antes de perceber que, comparar o nosso futebol ao inglês, ao italiano e ao espanhol, é enganar-nos a nós para se enganar a ele.
E no entanto a primeira parte do dérbi da final desta noite até deu para comparar. Benfica - com a mesma equipa inicial que brilhara a grande altura na meia final, com o Braga (a novidade foi Beste ter ficado de fora, na bancada) - e Sporting - com três alterações no onze relativamente á outra meia final (duas pelas lesões de Morita e de Matheus Reis, a outra por o Rui Borges ter retirado o surpreendente Fresneda) - ofereceram-nos uma primeira parte de alto nível, como se joga nos grandes campeonatos do futebol europeu.
Ambas as equipas jogaram em altíssimos ritmo e intensidade, e com enorme pressão em todas as zonas do campo. O Benfica fê-lo através de um jogo mais elaborado, e mais agradável à vista, enquanto o Sporting o fez mais através de um futebol directo. O Benfica jogava um futebol mais associativo, trabalhado nos três corredores, especialmente pelos laterais, frequentemente com mudanças de flanco, obra de Di Maria - mais uma grande exibição! - e de Kokçu.
Esta espécie de contraponto entre as duas equipas, naquele registo de intensidade, acabou por trazer ainda mais espectacularidade ao jogo. Era virtualmente impossível manter aquele ritmo na segunda parte, disso ninguém tinha dúvidas.
Os golos acabam por se encaixar no que foi o jogo. E até de o justificar. O Benfica inaugurou o marcador às portas da meia hora de jogo, num bonito golo de Schjelderup, assistido por Di Maria, justamente num passe da direita para esquerda. O Sporting empatou à beira do intervalo, num penálti assinalado pelo árbitro João Pinheiro, e convertido por Gyokeres.
O golo do empate, e as circunstâncias em que ocorreu, transporta-nos para os temas da arbitragem e da sorte, que aqui trouxe há pouco. Dizia então que, com razão de queixa das arbitragens, não era por elas que o Benfica perdera. E que a equipa não tinha sorte, mas também não fazia por a merecer.
Pela dualidade de critérios que João Pinheiro evidenciou ao longo de todo o jogo, e pela forma como nunca assinalou nenhuma das muitas faltas sobre o Di Maria, apesar de o contra-factual ser impossível de provar, tenho poucas dúvidas que o penálti assinalado a Florentino nunca o seria, em idênticas circunstâncias, contra o Sporting. Exactamente como o uso da mão por parte do João Simões, dentro da sua grande área, teria dado penálti se tivesse ocorrido na área do Benfica. Ou como, se no final da primeira parte, a chapada do Maxi ao Otamendi, tivesse sido ao contrário, João Pinheiro teria puxado do cartão vermelho.
Na primeira parte o Benfica merecia ter sorte. Tinha feito tudo para a merecer, mas voltou a não a ter. Não a teve nas circunstâncias em que o penálti foi assinalado. E voltou a não a ter quando Trubin o defendeu com o pé, e a bola subiu para cair dentro da baliza. Por poucos centímetros teria saído. Os mesmos poucos centímetros que, por clara falta de sorte de Pavlidis, impediram o 2-0, logo a seguir ao primeiro golo.
E assim - e com uma segunda parte igualmente emotiva, mas claramente de bem menor qualidade, por força do desgaste físico (o Benfica estava a jogar menos de 72 horas depois do jogo das meias finais, o Sporting tinha-a jogados 24 horas antes) - o empate subsistiu até ao final. E o troféu foi decidido nos pontapés da marca da grande penalidade, nos penáltis, como se diz.
Na primeira séria de cinco ninguém falhou, nem ninguém defendeu. E só não foram todos os dez excepcionalmente bem executados porque não se poderá dizer que o quinto do Benfica, marcado pelo Renato Sanches, tenha sido muito bem marcado. O guarda-redes do Sporting - Franco Israel devia estar com grande moral, sabendo que já contrataram o Rui Silva ao Bétis para o seu lugar - ainda tocou na bola.
A partir daí quem falhasse perdia. Do lado do Benfica, Leandro Barreiro marcou o sexto, e Florentino - o homem do jogo - o sétimo. Ambos irrepreensíveis. Quenda ainda marcou o sexto, mas já aí tinha deixado francas possibilidades a Trubin de defender. Calhou a Trincão permitir-lhe a defesa decisiva.
Da festa. Merecida. O Benfica foi melhor. As estatísticas não mentem: o Benfica teve mais bola, mais ataques, mais remates (16, contra 10, e 4 contra 3 enquadrados), fez mais passes, e mais passes certos.
Foi bonita, a festa. E foi muito bonito ver Trubin, em vez de sair a correr disparado para o festejo, dirigir-se a Trincão e abraçá-lo. A sua prioridade foi confortar um adversário, e isso é bonito. Como fez também, e foi igualmente bonito, Bruno Lage.
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