Isto pode até vir a correr mal. É bem provável que venha a correr mal. Mas ... Caramba, é bem mais nobre levantar a voz que baixar as calças!
Nem que os resultados sejam os mesmos - e já vimos onde nos deixaram os que baixaram as calças, também chamados de bons alunos - este ar é bem mais respirável. Mesmo que não nos deixem respirá-lo!
Por este ano já se acabou a sardinha... Não, não acabou a época da sardinhada. Até ao fim do Verão ainda haverá por aí umas sardinhadas... Com sardinha espanhola, e ainda mais cara,,,
Também é para isto que serve o bom aluno... convenientemente confundido com o aluno obediente, que come e cala. Que, no fim de contas, é o que importa: para isto e para outras coisas semelhantes!
Por isso a ministra Cristas diz que tem de ser assim. que o que tem que ser tem muita força. Que temos de cumprir, se não no futuro teremos ainda quotas menores... É assim. Sempre foi assim... É sempre esta a história do bom aluno!
Pelo que se tem visto são infrutíferas todas as tentativas de arrancar do governo uma palavra que seja sobre a decisão de Bruxelas colocar Portugal na lista de países com "desequilíbrios excessivos", submetendo o orçamento português a "vigilância permanente". Não admira. Quando estava tudo a correr tão bem, com o país no quadro de honra de Schauble, a dar lições à Grécia... Quando até o António Costa (onde é que este anda com a cabeça?), nem que fosse para chinês ver, já dizia que afinal isto está a correr bem, vir agora a Comissão Europeia dizer que nada disso, que o bom aluno não percebe nada disto e que está chumbado, é de deixar qualquer um sem fala.
Qualquer um, não. Ao contrário de Passos Coelho e de Pires de Lima, que mantiveram a boca fechada a sete chaves, Paulo Portas há-de ter uma resposta. Ele há-de voltar a falar da soberania recuperada, e há-de encontrar uma maneira de dizer que ter o orçamento na mira de Bruxelas não tem nada a ver com soberania. E muito menos com alguma coisa que não esteja a correr bem nesta história de sucesso que tem para contar aos eleitores.
A reunião de ontem do Eurogrupo no Luxemburgo confirmou a já conhecida decisão da troika de dar mais tempo – mais um ano – para o processo de ajustamento português. Mais tempo que o governo sempre recusou e que boa parte dos que se lhe opõem sempre reclamaram!
Estes dizem agora que esta decisão da troika lhes vem dar razão e que o governo teria poupado o país a grande parte da destruição da sua economia se, a tempo e horas, tivesse reclamado mais tempo para o ajustamento. Os que defendem o governo, por sua vez, dizem que a troika tomou agora esta iniciativa justamente porque o executivo cumpriu rigorosamente com todas as obrigações. Porque Portugal foi bom aluno é que agora foi premiado pela troika!
Se dúvidas havia foram hoje dissipadas.
O FMI veio dizer que calculou mal o impacto da austeridade, veio fazer um tardio mea culpa, e reconhecer que a receita estava errada, como há muito toda a gente excepto o governo afirmava. E veio, diria que dirigindo-se directamente ao governo, dizer que aumentar impostos põe em causa o crescimento económico a longo prazo. O FMI não só disse que se tinha enganado como disse parem com isso. Não continuem a aumentar impostos porque isso é errado!
Independentemente da lata revelada pela Senhora Lagarde – é mesmo preciso ter lata – é coisa rara que uma instituição como o FMI venha fazer um acto de contrição como este.
A Comissão Europeia, pela voz de Olli Rehn, veio pedir justiça social na aplicação do aumento de impostos, falou em esforços de consolidação mas de forma socialmente justa e no respeito pela equidade social, ao mesmo tempo que apelava ao espírito construtivo das diferentes forças políticas em Portugal.
Uma linguagem, a exemplo da do FMI, nunca antes ouvida. E que, evidentemente, tem a ver com tudo menos com a estória do bom aluno. Porque a atitude do governo nunca foi a do bom aluno mas a do cábula e do graxa. O bom aluno há muito que tinha autoridade para dizer que a coisa não iria funcionar. O cábula nunca o percebe e o graxa só serve para dizer sim…
A troika simplesmente concluiu, depois de toda a gente mas antes de Vítor Gaspar e Passos Coelho, que o programa não funciona. Não funciona na Grécia, não funciona em Portugal e não funciona em lado nenhum.
Mas não se julgue que está empenhada noutro, numa estratégia e num programa que resolva este imbróglio em que estamos metidos. Não. Por enquanto apenas quer lavar as mãos, saltar fora …
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