Num caminho com destino (in)certo, o Montepio está a copiar o BES/GES, vendendo aos seus balcões produtos para financiar a Associação Mutualista, como está a ser amplamenteanunciado. O produto, anunciado como "capital certo", sugere a garantia integral do capital, depois desmentida nas letras pequeninas. O Banco de Portugal proíbe a sua venda, mas de nada vale. Porque, em Portugal, o cumprimento da lei é coisa a que apenas gente comum está obrigada.
Entretanto, o ministro Vieira da Silva vai hoje ao Parlamento explicar não se sabe bem o quê. Entretanto, a entrada da Santa Casa no capital do Banco continua no ar, de pedra e cal em cima de cada vez mais absurdos...
Em Portugal tudo se esquece muito depressa. E nunca nada se aprende...
Era um dos muitos processos envolvidos na mega fraude do BPN, e aquele que mais publicamente expusera o comendador, ex-ministro e ex-conselheiro de Estado (tudo obra de Cavaco Silva, como se sabe, há bem pouco abençoada por Passos Coelho, como também se sabe), responsável pelo desaparecimento de milhões de euros do BPN/SLN, envolvendo a venda de uma sociedade (REDAL) em Marrocos, e a aquisição de uma participação numa outra de Porto Rico (Biometrics).
O Ministério Público deu como provado tratar-de uma engenharia financeira extremamente complexa, de decisões e práticas de gestão que suscitaram suspeitas sérias sobre os reais fundamentos dos negócios, que envolveram pagamento de comissões não justificadas, tudo com a subtracção de milhões de euros ao BPN, aravés de crédito concedido a sociedades instrumentais ou de capital para a Biometrics.
Nada disso, no entanto, é suficiente para produzir acusação. No despacho de arquivamento, o Ministério Público garante não ter sido possível identificar, "de forma conclusiva, todos os factos suscetíveis de integrar os crimes imputados aos arguidos".
O cidadão comum olha para isto e percebe que o Ministério Público é muito competente. Tão competente que é capaz de perceber, decifrar e até provar complexas engenharias financeiras, de descobrir burlas, burlões e comissões. Até pode perceber que, depois, não consiga provar "de forma conclusiva todos os factos". Mas, nem um? Nem um único facto que sustente uma única acusação, de um único crime?
Entretanto, do Orçamento de Estado, sem ninguém dar por nada, continua a sair cada vez mais dinheiro por conta do BPN... Daquele que ninguém contesta. Nem Bruxelas, nem Passos, nem Portas, nem Cristas, nem Rangel... Este ano são mais 567 milhões de euros, mais quase 40% que no ano passado. Desde 2012, a soma já vai em 3.020 milhões...
E tudo continua como se nada se passasse... Ninguém está preso. Ninguém é julgado. Nem sequer ninguém sai do PSD... Continuam lá todos...
Nasceu uma nova palavra. É germanófila, e não fazia falta nenhuma, porque já cá tínhamos de mais. Se há coisa que não falta na língua portuguesa é riqueza de expressões ajustadas ao acto de enganar, ludibriar, iludir, surrupiar, lixar, mentir dolosamente ou simplesmente mentir com simples dolo. Mesmo assim, aí está: Volkswagenizar!
Toda a gente volkswageniza e nesta altura, mais, ainda. Passos e Portas volkswagenizam em grande, à Passat ou Phaeton, volkswagenizam como se não houvesse amanhã.
Em apenas sete meses - Dezembro de 2013 a Julho de 2014 - Ricardo Salgado desobedeceu 21 vezes ao Banco de Portugal. Que tinha praticado actos de gestão ruinosa já se sabia, mas confirmou-o também a Auditoria Forense levada a cabo pela Deloitte, e hoje dada a conhecer.
O antigo ministro da saúde de Cavco, Arlindo Carvalho, acusado do desvio de milhões de euros no BPN, começou ontem a ser julgado. Também ontem foram detidas cinco pessoas envolvidas na falsificação de declarações de dívida, entre as quais um director e um chefe de serviços da Segurança Social. Dezenas de empresários da Grande Lisboa terão comprado certidões de "ficha limpa" de dívidas, ficando habilitados a concorrer a concursos públicos.
Paulo Pereira Cristóvão, antigo agente da PJ e até há pouco vice-presidente do Sporting, vai ser ouvido hoje pela Justiça, acusado de comandar um gang de assaltos à mão armada, que incluía agentes da PSP no activo e um líder de uma claque sportinguista.
E Sócrates aproveita o grupo de media agora presidido por Proença de Carvalho, seu advogado, para voltar a fazer prova de vida. Desta vez para responder ao primeiro-ministro, que em desepero não tinha resistido a trazê-lo para uma conversa em que não era chamado. E para acusar Passos Coelho de estar "próximo da miséria moral", sem perceber que há muito deixou ele próprio para trás essa barreira!
Há dias assim. Em que o país não podia, ele sim, estar mais próximo da miséria moral...
Beneficiando de informação previlegiada decide comprar os terrenos onde irão ser construídas as instalações do IPO. Ali para Oeiras, que tem bons ares... E como essa de ir ao Totta é do passado, foi ao BPN dos amigos e criou o homeland. A coisa deu para o torto, o IPO ainda continua em Palhavã e os terrenos deixaram de valer um chavo...
Não há problema... O BPN era para isto mesmo, que se lixe a pátria (homeland). Não havia ninguém para matar... E Duarte Lima foi hoje condenado a dez anos de prisão e a devolver uma pequena parte do dinheiro. Agora há que passar aos outros... Faltam tantos!
Sei que são sempre os mesmos que comem, e sei que não fazem ideia do que é a moral... E que a vergonha há muito que também fez as malas e desapareceu deste país!
Mário Soares segue e soma, sem sequer uma pausa para descanso. Não fosse isso, a deixar a ideia que dispara em todas as direcções e sobre tudo o que mexa, e seria bem maior o peso daquilo que diz.
Não fosse isso – isso e alguns flancos pouco protegidos que fazem com que se multipliquem os anticorpos – e o regime abanaria quando diz que os membros do governo são delinquentes, e que devem ser julgados. Não fosse isso e, como escreve hoje Fernando Dacosta no i,Mário Soares seria o líder da oposição que falta ao país. Não fosse isso, isso e o capital político que desperdiçou nas lutas eleitorais em que, fora de tempo e de nexo, se envolveu depois do seu último mandato presidencial, e seria a voz da ressonância do protesto português.
Se da parte do governo não veio qualquer reacção, já Cavaco reagiu de imediato, reiterando “que a única relação que teve com o BPN foi a de depositante”. Mas acrescentando mais uma razão para ser levado a julgamento: por mentir e enganar os portugueses que, como se sabe, não é em Portugal razão para tanto.
Porque, como está farto de saber que nós sabemos, ele não foi um simples depositante. Foi accionista, teve acções, por convite e sem preço de referência da Sociedade Lusa de Negócios, não cotada em bolsa. Lucrou - o lucro não é condenável, mas o lucro anormal é suspeito – em muito com isso. Porque, como ele está farto de saber que nós sabemos, Oliveira e Costa e Dias Loureiro quando fundaram aquela associação criminosa com nome de banco já não eram, como ele diz, ministros dos seus governos. Mas foi à sombra dos seus governos, do partido que liderava e contando com a sua protecção – como ficou mais que evidente na forma como aguentou Dias Loureiro no Conselho de Estado – que o fizeram. As acções que lhe foram parar às mãos reflectem isso mesmo: a sua sombra protectora!