Brincadeiras*
A notícia é de um destes dias – anteontem, se não estou em erro – e é mais um exemplo da forma como somos informados.
Reza assim: “Juiz manda arrestar mais de mil milhões em contas suspeitas”.
Foi dada pelo Jornal de Notícias, referia-se a saldos de contas bancárias de responsáveis do BES indiciados de acções criminosas e foi praticamente replicada em todos os jornais e televisões. Com mais ou menos pormenores, mas sempre sem qualquer perplexidade. Entre os pormenores ressaltava o objectivo de arrestar um montante de mil milhões de euros, com destino a pagar as indemnizações de todos os chamados lesados do BES, objectivo que apenas o jornal que deu a notícia em primeira mão considerou difícil de atingir. Para os restantes, nem isso.
Quer dizer, dois anos depois da resolução do BES, a Justiça portuguesa decide arrestar as contas bancárias das pessoas e empresas ligadas ao Banco e ao grupo que o integrava. E a imprensa portuguesa acha que o dinheiro que existia nessas contas lá continuou durante dois anos, à espera que alguém se lembrasse de o ir a buscar para pagar a todos os que os seus titulares tinham enganado. Ou quer fazer-nos crer que acha…
Não sei se existem formalidades e preceitos que impedissem a Justiça de fazer o óbvio na altura própria. No acto de resolução, evidentemente.
O arresto das contas bancárias agora anunciado é tão mais ridículo quanto, já em Maio de 2015, a mesma Justiça foi mal sucedida quando decretou o arresto de imóveis dos mesmos arguidos. Se, nove meses depois da resolução, não foi, como não poderia ir, a tempo de encontrar os imóveis na posse dos arguidos, a Justiça portuguesa acha que, passados mais quinze meses, vai encontrar dinheiro nas contas bancárias.
E os media, que insistem em fazer de nós parvos, também. Quando é também notícia que o Tribunal de Contas apurou que a tentativa falhada de venda do Novo Banco custou 10 milhões de euros. Ou que as propostas que há para a compra estão ao nível da venda do BPN… Ou os prejuízos dos bancos, praticamente de todos, por causa das imparidades…
Parece que se continua a brincar com coisas sérias.
* Da minha crónica de hoje na Cister FM