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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

TOUR DE FRANCE V (FINAL)

Por Eduardo Louro

 

A 99ª edição do Tour chegou hoje aux Champs Eliysés, onde precisamente acaba todos os anos. Nem sempre foi assim – embora tenha acabado sempre em Paris - mas é assim nos últimos largos anos!

Foi o dia da consagração final de Bradley Wiggins (na foto), o digno vencedor, mas também de Mark Cavendish, que ganhou a etapa que toda a gente quer ganhar e, ganhando-a, igualou com três vitórias os seus rivais do sprint que na fase inicial da competição: o eslovaco Peter Sagen – uma das principais revelações deste Tour – e o alemão Andre Greipel, e tornou-se no ciclista em actividade com mais vitórias (23) em etapas desta que é a maior competição mundial de ciclismo, ultrapassou Lance Amstrong – vencedor de sete edições do Tour e de 22 etapas – e ameaça o recorde de 34 vitórias do mítico Eddy Merckx. Ao fazê-lo pela quarta vez consecutiva, igualou este lendário belga - o Canibal, como ficou conhecido - também ele vencedor por quatro vezes em Paris.

Hoje a festa foi britânica: um inglês inscreveu pela primeira vez o seu nome na lista de vencedores do Tour, outro inglês foi o segundo classificado e ainda outro ganhou a etapa. Todos da mesma equipa, a Sky, também inglesa!

Foi o corolário normal e esperado de três semanas de competição que estes ingleses dominaram por completo. Um domínio que não foi ainda maior pelos contratempos de Cavendish na primeira semana da competição, quando duas quedas lhe retiraram a possibilidade de outras tantas vitórias. Este trio inglês é composto apenas pelo melhor contra-relogista e campeão mundial da especialidade (Wiggins), pelo melhor trepador, mas também o segundo melhor no contra-relógio (Froome) e pelo melhor sprinter e campeão mundial de velocidade. E todos na mesma equipa!

Wiggins é um justo vencedor deste Tour, aquele que aqui dávamos pelo mais aberto dos últimos anos: Lance Amstrong já arrumara a bicicleta, Alberto Contador estava ainda impedido de competir e Andy Schleck estava afastado por lesão. Cadel Evans vencera no ano anterior, mas nunca estaria à altura destas três super estrelas. Tinha vencido um Tour onde não estava nenhum deles. Nem Wiggins, vítima de queda na primeira semana.

É injusto retirar mérito à vitória de Cadel Evans na competição do último ano pelo seu desempenho na deste ano. Mas já não é a imagem do ano passado que subsiste. Essa está esbatida. Bem nítida é a da sua impotência para seguir na roda do seu jovem companheiro de equipa – Van Garderen - nas montanhas deste ano nos Alpes e nos Pirenéus. Ou a da dobragem por esse mesmo jovem no contra-relógio de ontem, que tinha partido 3 minutos depois.

Wiggins justificou a vitória essencialmente nos dois contra-relógios. Que ganhou, sempre com o seu colega Froome logo atrás. Mas ficará para sempre a dúvida se o que lhe ganhou nessas duas etapas seria suficiente se Froome tivesse podido atacar nas montanhas, onde deixou evidente ser bem mais forte. Mas Wiggins justificou ainda pelos elogios que soube dirigir a este seu colega, e pela forma como soube trabalhar para as duas últimas vitórias de Cavendish: hoje e anteontem.

As figuras neste Tour não se esgotam nestes nomes. Voeckler, o vencedor do Prémio da Montanha, é uma figura incontornável do Tour. Como o já referido Peter Sagen, o vencedor da classificação por pontos que, aos 22 anos, deixou indicações para o futuro. E mais três jovens de respeito: o americano Van Garderen, também já referido, o melhor – no sexto lugar, à frente de Cadel Evans, o líder da equipa, que tanto rebocou - e por isso o camisola branca, e ainda as esperanças francesas Pierre Rolland e Thibaut Pinot, os melhores franceses, que fecharam o top tem.

Dos portugueses não há muito a acrescentar ao que foi dito nas últimas edições. Sérgio Paulinho não justificou mais qualquer registo. Já Rui Costa esforçou-se por dar nas vistas nas três últimas etapas em linha, sucessivamente em fuga. Incluindo hoje, em plenos Campos Elísios, onde tentou ganhar a mais improvável das etapas. Andou na frente, primeiro num grupo de onze fugitivos e, depois, num trio que seria alcançado pelo pelotão já nos últimos três quilómetros. Acabou num 18º lugar da geral que, sabendo a pouco, está longe de ser uma desilusão.

Acabou o Tour número 99. Viva o Tour centenário!

 

PS: Uma nota para a cobertura televisiva da RTP Informação. Um trabalho excelente, com o saber e a capacidade de comunicação de Marco Chagas a merecerem nota alta. Um reparo apenas para o excesso de patrioteirismo colocado na avaliação do desempenho dos portugueses. Acho que não se justifica e prejudica o excelente trabalho produzido!

 

 

 

 

TOUR DE FRANCE III

Por Eduardo Louro

 

A segunda semana do Tour começou a definir as coisas, com o contra-relógio de segunda-feira e com as montanhas dos Alpes, a que hoje os ciclistas disseram adeus e até para o ano. É certo que ainda faltam os Pirenéus, e o longo contra-relógio do penúltimo dia da competição, mas os contornos da história desta pré-centenária edição do Tour estão já bem definidos.

Bradley Wiggins e Chris Froome – que já vencera a primeira etapa de montanha, no sábado -, ingleses e companheiros de equipa na Sky, dominaram o contra-relógio – consolidando então Wiggins a amarela que retirara a Cancellara, como aqui se previra, na mesma etapa de sábado – e, depois, chegava-se aos Alpes. Onde, para além de um duelo entre Cadel Evans e o camisola amarela, se esperavam grandes espectáculos de ciclismo.

A verdade é que, lá chegados, sentimos imensas saudades de Lance Amstrong e lamentamos as ausências de Andy Schleck e Alberto Contador. Os momentos de espectáculo foram raros, e neles não vimos nem Evans nem Wiggins: o primeiro porque não pode e o segundo porque, podendo ou não, não precisa. Conta com a equipa mais poderosa da prova e nem precisa de se incomodar, até porque o seu maior adversário é o seu compatriota e colega de equipa: Chris Froome. Que, tendo sido o único a estar ao seu nível no contra-relógio, provou estar bem melhor a trepar montanhas. Na etapa de ontem – a etapa rainha dos Alpes, com duas montanhas de categoria especial (Col de la Madeleine e Col de la Croix de Fer), uma de segunda categoria e outra de primeira, precisamente na meta – Froome, depois de rebocar o líder da equipa para anular um ataque do italiano Vicenzo Nibaldi (terceiro da classificação geral), fez-se de distraído e, alcançados os fugitivos, manteve o ritmo. Não abrandou e deixou Wiggins para trás, sendo logo mandado parar. As coisas são como são!

Frank Shleck, derrotado logo no contra-relógio, também não conseguiu justificar a sua fama de grande trepador, percebendo-se que afinal o irmão, em vez de o libertar, faz-lhe falta. E o espectáculo nos Alpes acabou por ser dado pela equipa da Sky – pela forma como controla e comanda a corrida, pelas soluções que tem para sucessivamente impor ritmos e cadências que destroçam os principais adversários – e por uns jovens que vão aparecendo e prometendo muito para os próximos anos: dois franceses – Pierre Rolland, vencedor de ontem e do prémio da juventude do ano passado, com 25 anos e Thibaut Pinot (na foto), o segundo na etapa (e vencedor no domingo) e o mais jovem em prova, com 22 anos – e o americano Van Garderen, líder da classificação da juventude e colega de equipa de Evans que, para o rebocar e minimizar as consequências do estoiro do australiano, acabou impedido de maiores feitos.

Claro que anda por lá a coragem – e a capacidade - do italiano Nibaldi e do belga Van den Broeck. Mas que nada podem contra o poderio da Sky: vão-se aguentando, o que já é para poucos!

Como as coisas estão a correr só uma catástrofe evitará que o vencedor deste Tour seja um inglês. Pela primeira vez na História!

Rui Costa – o melhor português, nem se tem dado por Sérgio Paulinho, que anda lá pelos lugares incógnitos do meio da classificação – fez um excelente contra-relógio, que o deixou à porta do top ten. Mas apenas se aguentou no primeiro dia de montanha, ontem perdeu perto de quinze minutos e deu um grande trambolhão na classificação geral. E um lugar entre os dez primeiros, que estava ali tão perto, não passa agora de uma miragem! 

Ainda entraria na primeira fuga da etapa de hoje, na despedida dos Alpes – a maior mas que praticamente não teve história – mas sem sucesso. 

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