Um conjunto de figuras públicas, complementado – de forma que me não parece inocente - por uns jovens desconhecidos começou a surgir-nos nos ecrãs de televisão a avisarem-nos que “querem matar uma instituição com mais de dois séculos de História”. Depois interrogam-se (interrogam-nos): porquê?
A “instituição com mais de dois séculos de História” é o Colégio Militar. E a ameaça de morte é a admissão de meninas. Das meninas de Odivelas, exactamente!
Com a extinção do Instituto de Odivelas, igualmente uma escola do exército, mas feminina, as alunas foram transferidas – a ver vamos se integradas – para o Colégio Militar, coisa que levou o pavor à nobre, fidalga e marialva associação de ex-alunos daquela instituição centenária. E que me trouxe a mim enormes surpresas.
Desde logo a de alguém ver um mal naquilo que é um bem. Eu, que ainda sou do tempo da rígida separação de turmas masculinas e femininas, fico parvo de surpresa ao saber que, hoje, nestes dias que todos vivemos, uma escola masculina morre por se abrir a raparigas. Como é que aquilo que para mim seria uma bênção dos deuses é para esta gente um instrumento de morte?
Depois, a surpresa de ainda me não ter apercebido de nenhuma reacção feminista. Activistas que todos conhecemos, e em particular na blogosfera, estão surpreendentemente caladas. Reacções institucionais, que eu saiba, nada…
Bom, não conheço aqueles rapazes que aparecem a disfarçar aquele quadro de figuras públicas. Admito que sejam dos mais puros marialvas. Também não conheço o Luís Esparteiro se não das telenovelas que não vejo - o que não me impede de saber que é o que faz na vida - mas reconheço-lhe até um certo ar de marialva… Também não são os generais que por lá passam a surpreederem-me.
Mas se o marialva Adriano Moreira me surpreende, para o marialva José Fanha não encontro palavras. Dizer que me surpreende é pouco. E que me intriga não chega!
Vestido a rigor, bem cedo o povo saiu à rua. Primeiro de Maio há só um, e há que aproveitar… antes que esgote. Que acabe, como tudo está a acabar… Nunca se sabe se vai haver mais, quando tudo se está a ir, como se tudo o vento levasse…
Chegar bem cedo, como o povo gosta. Porque, cedo erguer, mesmo no feriado, dá saúde e faz crescer. E depois é esta coisa estranha que temos dentro de nós, esta vontade indómita de chegar primeiro. De sermos os primeiros, os maiores… Quem primeiro alça, primeiro calça!
Vestido o melhor fato de treino domingueiro, foi um ver se te avias… A corrida começou logo à saída da porta e ainda mal o sol raiava já lá estavam todos, ordeiramente arrumados em fila. Sim, porque não é primeiro quem quer, se assim fosse seríamos todos primeiros. E somos ordeiros, mau grado um ou outro exagero, um ou outro excesso em situações limite.
E ali, em fila ordeira, depressa passaram aquelas duas ou três horas. Que seriam sempre de seca, de enorme seca, não fossemos também dados à conversa. Rapidamente fazemos conversa, de tudo fazemos tema, sobre tudo temos opinião: a melhor – claro, não fazemos isso por menos. A facilidade com que temos opinião sobre tudo, mesmo sobre aquilo de que nem fazemos ideia, é a mesma com que a transformamos numa verdade insofismável dos factos.
Fala-se de tudo e de nada. Da novela ao futebol, mas fala-se sobretudo deles. Eles, essa entidade mítica criada no imaginário da condição portuguesa, são as estrelas das conversas que temos. Eles, os culpados de tudo o que nos acontece a todos e a cada um de nós. Eles, os responsáveis pelo estado a que isto chegou. Eles, que só existem para tratar da vida…deles. E para nos tramar!
Entretanto começavam a chegar uns polícias. O povo é sereno. E ordeiro, mas as coisas às vezes descambam … Os ajuntamentos comportam sempre riscos, e aí está a História para ajudar a lembrá-los. E, como o homem, polícia prevenida vale por dois. Por duas!
O grande momento aproxima-se. Os ponteiros do relógio marcam já as nove horas, as portas abrem-se e rapidamente engolem aquela multidão, já desordenada que não, ainda, desordeira. Ouvem-se as primeiras exclamações de surpresa, logo seguidas de outras, mais fortes, de desilusão. Daí à revolta foi menos que o tempo de um foguete no ar: malandros, enganaram o povo!
Então? Mas isto é só descontos de 25%... E durante toda a semana, exactamente como está aqui no folheto…Foi para isto que viemos para aqui às seis da manhã?
Isto não se faz… Andam agozar com o povo...
Pouco a pouco começavam a sair com os seus carrinhos cheios. Uns, de compras, outros de raiva!
Foi assim, no sítio do costume: um pouco por todo o país, neste primeiro de Maio!
Um investimento promocional, com dumping pelo meio, como então por aqui se disse, e hoje os próprios confirmam: “… as televisões garantiram horas e horas de publicidade gratuita, dando-lhe todos os argumentos de defesa se, coisa inimaginável, alguém decidir acusá-los de dumping. É que podem sempre negá-lo, com o simples argumento de que a sua promoção deste primeiro de Maio contém um proveito extraordinário em horas de publicidade que valem uns bons milhões de euros…
Se bem nos lembramos o tema dominou o espaço mediático durante mais de uma semana e foi pasto para tudo. Talvez por isso se justifique voltar recordar o que aqui então também se disse:
“O que eu não percebo é por que é que esta foi uma questão de direita e de esquerda e não uma questão de princípios, como o respeito – pelos outros e pela História – ou a ética, empresarial e cívica! O que eu não percebo é como tudo o que é fazedor de opinião de direita, que sempre acusam a esquerda de arrogância e de complexos de superioridade intelectual, não tenham resistido a aproveitar esta oportunidade para se atolarem em populismo e se perderem num labirinto de ideias demagogas e de disparates sem nunca encontrarem a saída. Quiseram fazer confundir uma campanha promocional – de mau gosto, mas é apenas uma opinião – como uma missão de solidariedade”.
O tempo encarrega-se normalmente de deixar as coisas claras. Por isso o bom senso popular aconselha a “deixar assentar o pó” ou procurar ver para além da espuma…
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