Cavalo de Tróia ou bombista suicida?
Por Eduardo Louro
Toda a gente sabe que o acordo imposto à Grécia pelo Eurogrupo não resolve coisa nenhuma. Nem à Grécia nem à União Europeia, daqui por (poucos) meses tudo volta á mesma!
Tsipras disse-o desde logo: “assino, mas não concordo” – mais ou menos isso – e por todo o lado, gente de todos os quadrantes afirmou e reafirmou que nada tinha ficado resolvido, tudo tinha sido adiado, empurrado para a frente. Muitos salientaram ainda os riscos da humilhação. A História está farta de os mostrar, e se alguma coisa emerge deste acordo a que a Grécia foi forçada é justamente a humilhação a que foi sujeita.
Vem isto a propósito da onda de indignação que por aí anda por parte da mais cega ortodoxia da direita a propósito de um eventual plano secreto do governo grego para abandonar o euro, confirmado até num suposto vídeo de Varoufakis. A Grécia é – dizem – o cavalo de Tróia do euro!
Sendo evidente para toda a gente que se a União Europeia não mudar – e não só não se vê como possa mudar, como essa mesma ortodoxia de direita e germanófila não quer que mude – a Grécia não cabe no euro (nem, nessas condições, Portugal, mas isso eles não percebem), normal é que o governo grego esteja a trabalhar num plano de regresso à sua moeda. A não ser que fosse ainda mais incompetente e irresponsável do que o que o pintam. O governo grego só não saiu – nem teve condições de ameaçar fazê-lo, e daí ter de se sujeitar à humilhação – pelo seu próprio pé porque não estava em circunstâncias de o poder fazer. Por razões (menores, apesar de tudo) conjunturais de política interna – os gregos queriam manter-se no euro – mas acima de tudo – que não é pouco, é mesmo tudo – porque não teve apoio externo. Nem Rússia, nem Estados Unidos, nem China, e sem reservas de divisas para pagar importações, nunca podia adoptar uma moeda própria …
Antes de acusar o governo grego de cavalo de Tróia, haveria que acusar a União Europeia de fazer da Grécia um bombista suicida. Se o governo grego estiver a preparar a sua saída está apenas a fazer o que a realidade lhe impõe. O que lhe compete. O que a lucidez aconselha.
Que no meio disso tudo recuse apertar os explosivos à cintura é o que nós devemos ardentemente desejar!