O Chelsea é o novo campeão europeu, tirando autenticamente o pão da boca do Manchester City, de Pepe Guardiola, nesta final do Porto. Se não a final que mais nos envergonha, a que mais nos diminui enquanto cidadãos portugueses.
O único jogo de futebol em Portugal com público em quase um ano e meio. A única vez em que, durante a pandemia, um estádio português pôde receber adeptos. Pessoas de primeira, estrangeiras, num espectáculo lamentável de uma cidade cheia de pessoas, de primeira, com capacidade para não cumprir as regras que se aplicam aos portugueses. De segunda.
E isso, se não envergonha todos os portugueses, diminui-nos na condição de cidadãos de segunda na sua terra. O que não é exactamente novidade, é até coisa muito generalizada. Não sei que consequências terá, mas imagino que nada fique como antes. E que a autoridade de quem tem que a ter deixe de ser o que deveria ser. Dois pesos e duas medidas é sempre o maior tumor do exercício de autoridade. Qualquer que seja.
Mas houve jogo. O Porto encheu-se de ingleses, praticaram os desacatos do costume, mas vendeu-se muita cerveja e as caixas registadoras tilintaram como se fossem slot machines a anunciar jackpot.
E no jogo o Chelsea ganhou. Entupiu completamente a máquina de Guardiola, e adiou o mais sério sonho do City se tornar campeão europeu pela primeira vez. Por isto ou por aquilo, com mais ou menos escândalo, a equipa de Pepe Guardiola que há anos se entretém a espalhar bom futebol, ficava sempre pelo caminho na Champions. Desta vez chegara com brilhantismo à final, pela primeira vez. Era desta.
Não foi. E não foi porque o futebol capaz de ganhar a Champions já não é, há anos, o futebol romântico. É o futebol de alta intensidade e do rigor. É o futebol regermanizado.
O Chelsea de Tuchel é, e foi, isso. Altíssima intensidade, rigor defensivo e insuperável espírito colectivo. E assim foi melhor que o City. Sem surpresa, até porque ganhara os dois últimos jogos que tinham disputado.
A conquista do Chelsea, a segunda - curiosamente ambas em épocas em que a meio mudou de treinador (em 2012, tinha sido com Di Matteo, que substituíra André Vilas Boas) - não foi, assim, surpreendente. E não tem paralelo com a primeira, quando ganhou (ao Bayern) sendo claramente inferior ao adversário. Surpreendente é a volta que Tuchel deu à equipa que, com os mesmos jogadores, não tem nada, mas mesmo nada, a ver com a que Lampard lhe deixou em Janeiro. Há quatro meses!
Ouvimos os treinadores em Portugal dizer que não têm tempo para treinar em competição. Que é apenas jogar e recuperar. E depois vemos um treinador pegar numa equipa a meio da época, com uma carga competitiva que não tem sequer comparação, ter tempo para mudar do avesso o futebol de uma equipa. E ganhar, com todo o mérito, a maior competição mundial!
Surpresa? Sim, mas na enorme competência de Tuchel.
Cada vez que voltarmos a ouvir um treinador português dizer que só tem tempo para treinar na pré-época, e quando tem um jogo para disputar por semana, deveria haver sempre alguém a perguntar-lhe se já ouviu falar em Tuchel.
Não se imaginaria que o Benfica pudesse ser afastado da Champions logo à primeira. Era uma eliminatória de um só jogo - e sabe-se que num jogo de futebol tudo pode acontecer -, no campo do adversário. Mas contra o PAOK, um adversário bem mais fraco, com um plantel avaliado em menos de um terço do do Benfica. E com quem tinha uma história de vitórias.
Mas aconteceu, e o Benfica falha a presença na Champions, com pesadíssimas consequências financeiras e desportivas, depois do all in que marcou a estratégia para esta época. Financeiramente o Benfica não perdeu apenas os 50 ou 60 milhões que a simples presença na fase de grupos da Champions garantiria, e com o que a tal estratégia contava para uma insaciável política de contratações. Perdeu também os outros tantos 60 milhões com que contava em vendas, particularmente de Vinícius, que saiu de Salonica simplesmente invendável. Nem em saldos|
Para realizar metade dessa verba apontada para Vinícius o Benfica precisa agora de vender três ou quatro jogadores nos saldos. Com esta eliminação o Benfica vê-se obrigado a abrir a época de saldos.
Como é que aconteceu? Como é que o Benfica não ganhou um jogo que tinha de ganhar? E que tinha a obrigação de ganhar...
O Benfica dominou por completo o jogo e o adversário durante toda a primeira parte, em que apresentou um futebol agradável, com boas jogadas e com três ou quatro boas oportunidades de golo, entre as quais uma bola na trave, de Pizzi. Teve dois problemas, este domínio.
O primeiro foi que Seferovic, o ponta de lança que Jesus lançou para o jogo, a mais discutível das suas opções na constituição do onze, foi o que já é há muito. Fraco. O segundo foi o de convencer os jogadores que aquilo estava ganho. Com aquela superioridade toda, não havia como não ganhar aquele jogo.
A estes dois juntar-se-ia o problema da segunda parte. Toda ela um problema!
Provavelmente a estratégia do Abel Ferreira, o treinador da equipa grega, passava por contar com a sorte de passar incólume a primeira parte, e contar depois com a acomodação dos jogadores do Benfica. Fazer da primeira parte o engodo. O isco que os jogadores encarnados haveriam de morder.
E morderam. Quando o PAOK passou para outro registo o Benfica ficou surpreendido, e não conseguiu reagir. E foi vê-los a invadir o seu meio campo ofensivo em saídas rápidas para o ataque. Logo à primeira, pouco depois do primeiro quarto de hora, chegou ao golo. Ainda por cima um auto-golo, de Vertonghen.
De imediato o Abel fez entrar Zivckovic, acabado de sair da Luz pela porta pequena. Percebeu-se a ideia e resultou em cheio: o ex-jogador do Benfica não perdeu uma única bola, ao contrário de Vinícius, que entraria pouco depois, que as perdeu todas. De uma delas, a segunda consecutiva em dois displicentes passes de calcanhar, saiu o contra-ataque que daria o segundo golo da equipa grega. Por Zivckovic, dez minutos depois de ter entrado. E tudo ficou decidido logo ali.
Antes do golo de Rafa, a 1 minuto do fim, o Benfica poderia ter marcado. Teve duas boas oportunidades para isso, mas o PAOK tem dois "Zivckovics". Tinha outro na baliza, que resolveu tudo o que teve para resolver. Também ele enganador. Parecia que não tinha grandes aptidões para a função, mas era mentira.
Zivckovic foi também nome de problema. O quarto deste jogo!
O problema maior é que, com tantos milhões gastos, e a gastar em massa salarial, está criado um problema em cima dos problemas que havia. E que não estão resolvidos!
Terminou hoje na Luz a "Champions" desta longa - a mais longa de sempre, quando já se disputam jogos de apuramento para a próxima - e anormal época de 2019/20, num formato de emergência ditado pela emergência da pandemia. A condensação das quatro últimas fases da competição numa espécie de fase final a eliminar, em Lisboa, trouxe uma sensação de uma outra dimensão da competição, a que a falta de público tirou ambiente e espectacularidade, mas não interesse.
Foi uma final inédita, como seria sempre. Mas também inédita pelas equipas em confronto, não pelo Bayern, que já anteriormente disputara dez finais da maior prova de clubes do futebol mundial, mas pelo PSG, que a atingia pela primeira vez nos seus 50 anos de História. Foi a final que a UEFA desejava, mas também foi a final ajustada ao desempenho das oito equipas que chegaram a Lisboa há duas semanas para disputar o mais importante título do futebol da Europa e do Mundo.
E se não foi a mais espectacular de sempre - e não foi mesmo, se nos lembrarmos de Istambul, em 2005, mas também de mais uma ou outra - teve talvez a melhor primeira parte de sempre. Mesmo sem golos. Com o Bayern a confirmar que é neste momento a equipa mais forte do futebol mundial, porventura apenas ao alcance do Liverpool, e o PSG a confirmar que já é uma equipa, e até uma equipa espectacular.
Não se pode dizer que a equipa de Paris tenha sido superior. Mas criou mais, e mais espectaculares, oportunidades de golo. Só que na baliza dos alemães estava Neuer... Que fez a diferença. Que faz sempre a diferença quando a sua equipa não consegue controlar tudo, e chega a sua vez de dizer presente.
A segunda parte foi substancialmente diferente. Primeiro porque o Bayern marcou ainda cedo, à beira dos 15 minutos, por Coman, e acentuou a sua capacidade de controlar o jogo. E depois porque a condição física dos jogadores já não permitia nem o mesmo ritmo, nem a mesma disponibilidade mental. E a qualidade do jogo teve que se ressentir.
Mesmo assim, voltou a ser Neuer a fazer diferença. Não que, do outro lado, Keylor Navas tenha tido culpas no golo sofrido. Simplesmente porque, imperialmente, defendeu tudo, mesmo o que não tinha defesa.
E decidiu esta "Champions", que se confirma como competição aristocrática, continuando a virar as costas ao novo riquismo do futebol mundial. Os novos ricos, movidos a dinheiro de magnatas das arábias, terão de continuar à aguardar à porta deste clube aristocrata dos velhos emblemas europeus. Salvo uma ou outra distracção, a "Champions" continua com reserva do direito de admissão!
Caiu o pano sobre os quartos de final da Champions com, mais que surpresas, alguns escândalos. As meias finais serão franco-germânicas. Sem equipas inglesas nem espanholas, dos dois melhores campeonatos de Europa, e do mundo. E com a particularidade de lá estarem as duas equipas do grupo que o Benfica disputou, o que poderá querer dizer alguma coisa.
Pelo caminho ficou o Atlético de Madrid, eliminado pelo Leipzig, num jogo que, para quem não acompanhou a Liga Espanhola, explicou como João Félix, há um ano, escolheu mal. Ou foi empurrado para escolher mal. Ficou o Barcelona, no que foi o maior escândalo do futebol mundial dos últimos anos, só equiparado aos 7-1 da Alemanha ao Brasil, no Mundial de 2014. Esmagado na Luz por 8-2 pelo Bayern, o Barcelona viveu um autêntico pesadelo. Culpados há certamente muitos, mas a factura não será apresentada a todos. O nosso Nelson Semedo não escapará, e terá provavelmente chegado ao fim da linha. E ficou, hoje em Alvalade, o Manchester City.
Não caiu com o peso da goleada que vergou o Barcelona, mas o estrondo não foi menor. Numa época em que Guardiola não podia falhar a Champions, e depois de eliminar o Real Madrid, nos oitavos de final, mas apenas há uma semana, falhou em toda a linha neste jgo de hoje com o Lyon.
O resultado (1-3) ficou marcado pelos erros de Lapporte, de Ederson e de Sterling, mas a derrota é toda ela resultante dos erros de Guardiola. À excepção, mesmo excepcional, dos últimos três minutos da primeira parte, o futebol de Guardiola nunca se viu no jogo, mercê da opção estratégica de todo incompreensível do treinador. Que abdicou completamente da identidade do seu futebol de sempre, e que lhe sustentou todo os sucessos da sua carreira. Que são muitos, como se sabe.
Arrancou a "final 8" da Champions, em Lisboa. O primeiro destes oito jogos, hoje na Catedral da Luz, opunha o Golias PSG ao David Atalanta, de Bergamo, a cidade mártir do Covid, e a grande sensação na Europa desta época estranha que, ficará na História do futebol mundial.
A equipa italiana entrou no jogo a justificar plenamente essa condição sensacional. E durante 55 minutos foi melhor que o adversário. A partir daí, quando os treinadores começaram a ir ao banco, é que as coisas mudaram.
Até aí, como que a justificar o facto do PSG pagar mensalmente a Neymar tanto como o Atalanta paga à equipa toda, o que se viu foi uma equipa, a italiana, a jogar contra um só jogador. Neymar jogou sozinho, e sozinho não pode ganhar a ninguém.
O Atalanta chegou ao golo, por Pasalic, a pouco mais de meio da primeirs parte, e só não foi mais além porque Keylor Navas estava na baliza para ajudar Neymar. Quando aos 55 minutos começou a dança do banco aconteceu que Tuchel tinha por onde dar companhia a Neymar, e Gasperini tinha de fazer exactamente o contrário - retirar os seus "Neymarzinhos", um a um, esgotados.
Com a entrada de Mbapé - a recuperar de prolongada lesão - o PSG deu a companhia que faltava a Neymar. E com a entrada de Wessler desobrigou Neymar de fazer tudo. Depois foi esperar que o tempo fizesse o seu trabalho, dizimando a equipa italiana e projectando a francesa para o apuramento para as meias-finais. Mesmo que o tempo tenha levado muito tempo para, em pouco tempo, ser implacável com esta formidável equipa italiana.
Aos 90 minutos o PSG empatou, por Marquinhos. E dois minutos depois consumou a reviravolta, com o golo do camaronês Choupo-Moting, entrado poucos minutos antes. Em ambos, e na reviravolta, Neymar e Mbapé. Pois claro!
Concluída a chamada fase de grupos da Champions League, pela primeira vez, apenas estão apurados para a fase a eliminar, que se inicia com os oitavos de final da competição, clubes das cinco principais ligas europeias.
Acontece pela primeira vez aquilo que se sabia que acabaria por acabar assim. Inglaterra e Espanha, sede das duas mais importantes competições nacionais, fizeram o pleno, com o apuramento dos quatro clubes participantes. Alemanha e Itália, as restantes ligas que têm garantida a participação de quatro equipas na prova rainha do futebol de clubes, perderam apenas uma e seguem com três cada.
As quatro grandes ligas, com direito a quatro participações na competição, garantem 14 das dezasseis vagas da próxima fase da competição. As duas restantes são ocupadas por duas equipas da liga francesa, a quinta do ranking da UEFA.
Do sexto lugar desse ranking, que voltará a ser ocupado por Portugal - tudo o indica que a ultrapassagem à Rússia feita esta época é já irreversível - o melhor que dá para esperar é mesmo a Liga Europa. Tudo indica, e há muito, que a tendência é para este fosso se aprofundar. E os oitavos de final da Champions dos próximos anos só não serão exclusivamente disputados entre as equipas dos big four enquanto subsistir o fenómeno financeiro do Paris Saint Germain.
O Benfica saiu da Champions de cabeça erguida, ao contrário do que em certa altura chegou a parecer. Fez um grande jogo na despedida, com uma bela exibição coroada com uma vitória expressiva sobre o Zenit, que saiu da Luz sem nada, quando entrara com a possibilidade de sair com tudo. Ou até com alguma coisa, com a única coisa a que o Benfica podia aspirar.
Os primeiros momentos do jogo pareciam querer mostrar um Benfica com o tal bloqueio mental da Champions. Foi no entanto coisa passageira, aos poucos a equipa foi-se libertando desse espartilho mental e começou a soltar o seu futebol, claramente de volta, depois de tanto tempo desaparecido.
Na primeira parte, sem criar grandes situações de golo, é certo, o Benfica esteve sempre por cima do jogo, mesmo que por duas ou três vezes a equipa do Zenit tenha conseguido ameaçar a baliza de Odysseas, que nunca teve grande trabalho. Fez apenas uma defesa, e logo das grandes, mas já a segunda parte ia alta, e o resultado em 2-0.
Na segunda parte tudo foi ainda melhor, e o Benfica voltou aos momentos de grande brilhantismo. Logo ao segundo minuto chegou ao golo, por Cervi, com assistência do suspeito do costume, numa brilhante jogada de futebol que partiu por completo uma defesa que até aí parecia intransponível.
A equipa continuou com o seu futebol corrido, variado e alegre não permitindo aos jogadores da equipa russa muito mais que fazer faltas, e acumular amarelos. Quinze minutos depois do primeiro golo, e de mais três claras oportunidades de golo, o Benfica chegou ao segundo. De penalti (corte da bola com a mão, a evitar a finalização de Chiquinho), com o suspeito do costume a marcar. E com expulsão, por segundo amarelo, do defesa brasileiro do Zenit.
Com 2-0, com mais um jogador em campo, e com cerca de meia hora para jogar, o Benfica tinha tudo para consolidar uma exibição notável e reduzir a equipa russa à banalidade. E foi o que fez!
O resultado atingiria a marca final de 3-0 num auto-golo (a retribuição do que, lá, tinha feito Rúben Dias) que escreveu direito. É que surgiu do canto que resultou de um golo cantado de Vinícius, que ainda está por saber como lhe tiraram aquela bola de dentro da baliza.
Entretanto em Lyon, onde se faziam as outras contas do grupo, a equipa francesa, a perder com o Leipzig desde muito cedo, estivera fora das competições europeias durante muito tempo. O mesmo tempo em que, mesmo a perder, o Zenit estivera apurado para os oitavos da Champions. Como o empate o Lyon acabou nos oitavos da prova rainha, atirando com os russos para fora da Europa, mesmo que tivesse sido o Benfica a fazê-lo.
É certo que fica um certo amargo na doce vitória de hoje, que garantiu a passagem para a Liga Europa. Como poderia ter sido diferente esta participação na Champions...
O Benfica teve o pássaro na mão mas deixou-o fugir. Os minutos finais foram fatais. Ao minuto 90, num penalti esquisito, o Leipzig reduziu. E ao 96 (o árbitro deu, justificadamente, 9 minutos de compensação) empatou.
Mas não foi hoje, em Leipzig, que o Benfica foi afastado da Champions. Foi em Lisboa, na primeira jornada, com este mesmo adversário. Foi em S. Petersburgo e em Lyon. Foi nesses jogos, quando Bruno Lage teve opções inexplicáveis, deixando de fora boa parte dos melhores jogadores.
O Benfica não fez hoje uma exibição memorável, longe disso. Mas foi uma equipa solidária e certinha, na maior parte do tempo. Podia e devia ter ganho o jogo, e podia até ter marcado os dois melhores golos desta edição da Champions. Primeiro, já depois do primeiro golo (Pizzi, aos 20 minutos), numa fantástica jogada de Pizzi, que a concluiu com um remate sensacional que levou a bola a bater na quina do poste com a barra da baliza adversária. E depois, na segunda parte, quando já ganhava por 2-0 (golo de Carlos Vinícius, aos 59 minutos), num fabuloso chapéu de RDT, ainda atrás da linha de meio-campo, que o guarda-redes conseguiu in-extremis desviar para canto.
Agora resta ganhar ao Zenit (que, no entanto, ganhando, assegura a participação nos oitavos de final) no último jogo, na Luz, daqui a duas semanas. O que pode até nem evitar o último lugar do grupo. Mas pode também deixar as contas da classificação numa embrulhada dos diabos. É que, na eventualidade do Lyon perder o seu jogo (em casa) com o Leipzig, ficariam as três equipas com 7 pontos. E se calhar com contas complicadas de fazer...
Mas isso são os ses do futuro. Os do passado - se o Benfica tivesse sempre jogado com os melhores; se hoje a bola do Pizzi tivesse ido três centímetros mais dentro, se a equipa tivesse tido a classe necessária para se opor à cavalgada final dos tipos da Red Bull - esses é que já não contam!
O Benfica assinou hoje a guia de marcha da Liga dos Campeões, ao perder em Lyon o jogo que não podia perder. E mesmo o apuramento para a Liga Europa só não ficou em cheque porque o Leipzig tratou de mostrar que o Zénite só mesmo ao Benfica consegue ganhar.
É mais uma enorme frustração para o benfiquismo, maior ainda depois de se ter dado a retoma por adquirida nos últimos dois jogos. Sabemos que o Benfica não tem equipa para a Champions. Constatamos até que o jogo que por cá se faz não tem grandes hipóteses de sucesso nos níveis mais evoluídos do futebol europeu.
É por isso ainda mais difícil perceber que o Benfica tenha prescindido dos seus melhores jogadores em todos os quatro jogos que disputou. Se com os melhores disponíveis seria difícil, assim é impossível.
Hoje voltou a acontecer o mesmo, e a ficarem demonstradas as limitações do Benfica. Bruno Lage deixou de fora Pizzi e André Almeida, para lançar para os seus lugares Gedson e o miúdo Tomás Tavares. Não deixou apenas de fora os melhores, deixou mesmo de fora a alma da equipa. Manteve Carlos Vinícius, justificadamente, à luz das últimas exibições. Mas que, chegado ao exigente palco da Champions, simplesmente desapareceu. A entrada de Seferovic apenas serviu para amplificar essa evidência.
Para um jogo que tinha obrigatoriamente de ganhar, o Benfica não partia apenas sem os seus melhores jogadores. Partia também sem ambição de o ganhar. Talvez por isso o jogo se tenha encarregado de castigar as opções de Bruno Lage, dando logo aos 4 minutos o golo ao Lyon, a penalizar a passividade com que os jogadores do Benfica entraram em campo. Afastando Ferro do jogo, logo a seguir, lesionado num choque com Odysseas, e garantindo o segundo golo à equipa francesa, no segundo remate à baliza, depois de mais uma série de maldades ao Tomás Tavares. Que fez todos os jogos da Champions!
A partir daí o jogo foi o que o Lyon quis que fosse. A sorte é que talvez tenha entendido que não podia querer de mais.
Mas pronto. O que interessa é o Santa Clara. Já percebemos...
Foi com muito sofrimento, e alguma sorte, que o Benfica alcançou a primeira vitória nesta edição da Champions, e uma das raríssimas dos últimos anos nesta fantástica competição.
No meio da alegria desta vitória, a profunda tristeza da certeza certa do desaparecimento definitivo do Benfica alegre, confiante e competitivo de Bruno Lage. Nada esconde esta triste realidade!
Este jogo de hoje com o Lyon, provavelmente a equipa do grupo melhor apetrechada a nível de individualidades, foi um jogo de paradoxos. O primeiro é mesmo aquela alegria naquela tristeza. O segundo, mas mais notório ainda, foi que o Benfica acabou por ganhar, com sorte, um jogo cheio de azares.
À sorte de marcar na primeira oportunidade, logo aos 4 minutos, por Rafa (Who else?) seguiu-se logo o azar da sua lesão, privando a equipa do seu mais desiquilibrador e talentoso jogador. E não se ficaram por aqui os azares do jogo porque, vítima de uma das muitas entradas violentas e cheias de maldade dos jogadores do Lyon, Seferovic cedo ficou inferiorizado e praticamente fora do jogo. E, sem que se percebesse bem por quê, Bruno Lage deixou-o em campo até à hora de jogo.
Ao azar do remate de Pizzi ao poste, quando o Benfica esboçou a reacção possível ao golo do empate do Lyon sucedeu, dois minutos depois, aos 86, a sorte do golo da vitória... Não. Essa é que não. Não foi sorte o golaço de Pizzi, foi um grande golo, de grande execução. A reposição da bola do Anthony Lopes foi um incidente de jogo, um erro como tantos outros. O que se seguiu foi um momento de grande concentração competitiva, de enorme visão de jogo e de finalização de excelência. Aqui, a sorte foi ter Pizzi naquele momento, como já tinha sido dois minutos antes. E o azar foi nunca ter tido Pizzi desde os vinte minutos de jogo quando, mais de cinco minutos depois da lesão, entrara a substituir o azarado Rafa, acabadinho de regressar.
Do resto, para além destes paradoxos de sorte e azar, fica mais um jogo muito fraquinho do Benfica, de novo com demasiados passes errados, a quebrarem todas as hipóteses de qualquer dinâmica de jogo.
Apesar de tudo a primeira parte nem foi verdadeiramente má. De mau apenas que o Benfica não tenha tido capacidade para tirar mais de um jogo que lhe estava de feição, ainda mais depois daquele golo madrugador. Haverá sempre a desculpa da lesão de Rafa que, evidentemente, cortou com tudo o que tivesse sido a planificação do jogo. A segunda parte foi pouco menos que péssima, e o Benfica só ganhou o jogo, pesem todas as incidências, porque o Lyon, como afinal todos quantos assistiam àquela pálida exibição, pensou que tinha tudo para o ganhar.
Não foi um milagre, esta primeira vitória. Mas não ficou muito longe disso. E se não há milagres todos os dias, também os sucedâneos são esporádicos. Por grande que seja a fé!
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.