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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Inacreditável!

O que aconteceu nos últimos segundos desta noite a Luz pertence ao domínio do irreal. Tivemos que nos beliscar para sentir que era real, que aquilo não era um sonho.

E não foi. Aquilo aconteceu mesmo!

O Barcelona chegou à Luz de mão estendida, à espera de generosidade. E ela não lhe faltou. Não lhe faltou a generosidade de alguns jogadores do Benfica, especialmente de Trubin. Nem lhe faltou a da arbitragem. 

O Benfica entrou para fazer um grande jogo, a única forma de ganhar ao Barcelona. Também a única de manter vivas as aspirações a seguir em frente nesta Champions, depois de todos os oitos e oitentas

Marcou logo aos dois minutos, num grande lance de futebol, quando Tomás Araújo descobriu Alvaro Carreras nas costas de Koundé, no flanco contrário, para o lateral espanhol cruzar de primeira, e Pavlidis marcar, também de primeira. Logo a seguir, em mais um excelente lance com a marca da superioridade do Benfica, Aursenes falhou incrivelmente o segundo, com a baliza de Szczęsny à mercê.

Estava o jogo neste pé, com o Benfica a mandar no jogo como queria, quando o VAR detecta um penálti que passara despercebido ao árbitro. Tinha marcado canto, considerando que o Tomás Araújo tinha cortado a bola pela linha final. Não tinha, chegou atrasado e pisou mesmo pé de Baldé, o lateral esquerdo, e o minuto 13 foi mesmo de azar. E Lewandowsky empatou!

O Benfica não sentiu o golo, e continuou, como nada se tivesse passado. E na verdade o Barcelona também. Quando, 10 minutos depois, também Szczęsny quis ser generoso, e Pavlidis marcou o segundo golo, tudo parecia natural. O Benfica estava melhor no jogo, e fazia sentido estar a ganhar. E nem o 3-1, antes da meia hora de jogo, do hat-trick de Pavlidis (parecia o frasco do ketchup), no penálti com que  Szczęsny derrubou Akturkoglu que, desmarcado por Aursenes, lhe picara a bola por cima, pareceu outra coisa que não o rumo natural do resultado, lado a lado como o do jogo.

Ao intervalo o que ficava era um jogo controlado pelo Benfica. O Barcelona tinha marcado um golo num penálti caído do céu, e Trubin tinha feito uma defesa, e negado a Gavi o golo na única oportunidade criada. 

Na segunda parte o jogo manteve-se nas bases que trazia da primeira parte, com o Barcelona com muita bola e o Benfica a controlar e tapa os espaços, com autoridade e solidez. Era o Benfica dos oitenta desta Champions, e aos 10 minutos Aursenes volta a falhar o cheque-mate. Isolado frente ao guarda-redes polaco do Barcelona, embrulhou-se (nas ideias) com a bola e desperdiçou o quarto golo.

Estava o jogo nisto, e a segunda parte a meio, quando a generosidade de Trubin lhe deu a volta. Do nada, sabe-se lá como e porquê, ao repor a bola em jogo o guarda-redes do Benfica atira-a contra a cabeça de Raphinha. Depois ficou a contemplar o seu percurso até dentro da baliza. 

De repente o Barcelona voltava ao jogo. Só que logo a seguir, quatro minutos depois, em mais uma cavalgada de Schjelderup, Araújo esticou-se para interceptar o cruzamento para Pavlidis, e desviou para a própria baliza a bola que, certamente, Szczęsny iria recolher. O quarto golo repunha a diferença em dois golos, e pagava, sem apagar, a generosidade de Trubin.

O jogo caminhava para o quarto de hora final, e o Barcelona apertava. Os jogadores do Benfica já acusavam o desgaste físico, e as substituições de Hansi Flick - de incidência táctica - resultavam melhor que as de Bruno Lage, que trocava os que não podiam mais. 

Chega então a generosidade de um senhor holandês, já conhecido da época passada do jogo com o Inter, que se chama Danny Makkelie. Aos 78 minutos arranjou um novo penálti para Lewandowski marcar, só porque Carreras passou com a mão pelo braço de Yamal. Imprudência de Carreras, sim. Não no gesto em si mesmo, mas em fazê-lo com este árbitro. 

Então sim, o Benfica sentiu o golo. E a injustiça. O cansaço dos jogadores retirava-lhes a concentração e os erros começaram a pesar. Na defesa, mas também na saída de bola. Os jogadores do Barcelona sentiram pela primeira vez que poderiam não perder este jogo, e acabaram por empatar, na marcação rápida de um canto, já  com os 90 minutos à porta. A chuva caía impiedosa no relvado, com a mesma impiedade com que o empate caíra sobre os 64 mil benfiquistas nas bancadas da Luz.

Ao minuto 90 Di Maria - que entrara para o lugar de Schjelderup -, isolado, teve nos pés o golo da vitória. Daqueles que não falha, mas Szczęsny defendeu. Também conta: Szczęsny compensou a sua generosidade com duas grandes defesas, que valeram dois golos. Trubin não teve essa oportunidade.

Quatro minutos de tempo de compensação. A esgotarem-se quando Carreras - que grande jogo! - foi ceifado a meio do meio campo. Livre cobrado por Di Maria, e toda a gente para a área do Barcelona. Natural, o tempo de compensação estava esgotado, e não tinha havido qualquer interrupção que motivasse o seu alargamento. O apito final surgiria na conclusão desse lance.

A bola sai do pé de Di Maria, chega à esquerda, e é de novo cruzada para o centro da pequena área, onde surge Barreiro, primeiro empurrado pelas costas e depois, já no chão, imobilizado por um defesa adversário. Penálti - grita-se. E gritam e gesticulam os jogadores do Benfica, enquanto a bola sobra para Lewandowski, na meia lua, que a atira para a frente, na direcção de Raphinha. Sozinho, com tempo para correr o campo todo e marcar o quinto do Barcelona. 

O VAR vai intervir - pensou-se. Vai mostrar ao Sr Danny Makkelie que penálti é aquilo que fizeram ao Barreiro, e não o que Carreras fizera a Yamal. Vai anular o golo, e se o Benfica concretizar o penálti - e já lá estava Di Maria - vai escrever-se direito o resultado deste jogo.

Não. Nada disso. Na UEFA não se tira uma vitória ao Barcelona. Na verdade só isso é que não é inacreditável!

 

 

"Jogo de Champions" deixa Champions em jogo

Notícia

O jogo desta noite na Luz, com mais de 60 mil nas bancadas, era para a "Champions". Mas foi mesmo um jogo de "Champions", daqueles que cansam só de ver, e que no fim deixam marcas.

O Benfica, com o onze habitual, hoje já novamente com Kokçu, entrou bem no jogo. E marcou logo, num lance que só não foi excelentemente finalizado por Pavlidis por estar ligeiramente adiantado. E bem que poderia ter evitado esse adiantamento, e ficar-se apenas pelo excelente movimento de finalização. Que, de resto, não mais repetiria.

E o VAR anulou o golo que teria certamente traçado outro destino para o jogo.

Aos 10 minutos já o jogo começava a mudar de feição - curiosamente com o lance mais perigoso de todo o jogo para a baliza de Trubin que, bem secundado por Tomás Araújo, anulou as intenções de Dallinga, isolado -  com o Bolonha a impor a sua estratégia de pressão. Pressão sobre todos os jogadores do Benfica, e sobre a bola, em todas as zonas do campo. Não fosse esta é a estratégia habitual da equipa italiana e dir-se-ia que estava a decalcar o jogo do Guimarães, no passado sábado. Só que, com melhores jogadores, a colocar ainda mais dificuldades.

A meio da primeira parte o Bolonha dominava o jogo. Os seus jogadores chegavam sempre primeiro, ganhavam todos os duelos, e todos os ressaltos. Circulavam a bola em todas as zonas do campo - a posse de bola chegou a andar pelos 65% - começando a deixar  a cabeça dos jogadores do Benfica feita em água. Alguns começavam até a dar sinais de perda do controlo, para que também o árbitro romeno contribuía, tudo permitindo aos jogadores da equipa italiana, e nada aos do Benfica.

Valia que o Bolonha não tirava qualquer partido desse domínio. Nem um remate à baliza. E que era fisicamente impossível prolongar por muito tempo aquela pressão. Assim foi: durou menos da terça parte do tempo de jogo, e aos 35 minutos acabou. Os últimos 10 da primeira parte já foram do Benfica, com duas situações de golo, mais que a equipa italiana em todo o jogo.

Ao intervalo já o Benfica tinha recuperado grande parte da desvantagem na posse de bola, tinha rematado mais (5-2), e mais cantos (5-1). Tinha também mais faltas (9-4) mas apenas pela contribuição do desastrado árbitro romeno.

E na segunda parte o Benfica inverteu por completo as feições do jogo. Os jogadores passaram a ser eles a chegar primeiro, a ganhar as bolas divididas e a pressionar os adversários. A equipa dominou, rematou, criou mais quatro ou cinco oportunidades de golo mas não marcou. Porque o guarda-redes polaco Lukasz Skorupski defendeu tudo o que lá lhe chegou, já depois de tudo o que era filtrado pelos seus defesas. Porque Pavlidis falhou um golo de forma inacreditável.

O Benfica fez um grande jogo?

Não. E poderia ter feito melhor. Provavelmente tudo teria sido diferente se o Pavlidis tivesse evitado aquele fora de jogo logo aos 3 minutos. Também poderia ter sido diferente se Bruno Lage tivesse mexido mais cedo na equipa: Pavlidis e Akturkoglu, que passou ao lado do jogo, deveriam ter saído bem mais cedo. Mas os jogadores, com o capitão Otamendi à frente, foram bravos, e dignos do manto sagrado. E tudo fizeram para merecer ganhar o jogo.

Com este empate o Benfica soma 10 pontos, quando lhe falta defrontar o Barcelona, na Luz, e a Juventus, em Turim. No início dizia-se que 9 pontos seriam suficientes para assegurar a continuação na Champions, através do play-off para os oitavos de final. Agora sabe-se seguramente que não. 

Fora dos primeiros 24 classificados estão, pelo menos, dois que lá terão que entrar: o PSG e o Stuttgart. Palpito que basta que não sejam o Dínamo de Zagreb (com 8 pontos), e o Celtic (com 9), a ceder-lhe os seus lugares para que os actuais 10 pontos não cheguem para o apuramento.

 

 

Emoções fortes no Mónaco

Jogo de emoções fortes, no Mónaco. Se o futebol é emoção, este jogo da terceira vitória do Benfica nesta edição da Champions, foi um grande jogo de futebol. Cinco golos já são garantia de emoção e espectáculo. Quando os golos dão voltas e reviravoltas ao marcador, mais ainda. Há quem lhes chame "jogos de loucos"!

Esperava-se um bom jogo: o Mónaco é uma equipa cheia de jovens com imenso talento, que circula muito bem a bola - estava no top da posse de bola na Champions - , mas também a mais eficaz nas chamadas transições rápidas. Ao fim das anteriores quatro jornadas estava no topo da classificação, só com vitórias (incluindo uma sobre o Barcelona) e apenas um empate. E o actual estado de forma do Benfica, é garantia de qualidade de futebol. 

O Mónaco entrou a confirmar tudo o que se esperava e, cedo, logo aos 13 minutos, na segunda das duas oportunidades que criou, marcou. O Benfica, que pareceu ter entrado adormecido, reagiu ao golo, e não só equilibrou rapidamente o jogo como passou para cima. Até ao intervalo só o Benfica criou oportunidades, e bem poderia ter marcado por mais que uma vez. Di Maria, isolado, aos 37 minutos, Otamendi, no minuto seguinte, e Aktürkoğlu aos 40, dispuseram de excelentes condições para marcar.

Com Florentino amarelado logo aos cinco minutos, e Carreras à meia hora, os jogadores do Mónaco - que são novos mas não inocentes - carregaram sobre eles à procura do segundo amarelo. Fossem os senhores da Sport TV os árbitros e bem que o teriam conseguido.

Esperava-se que ao intervalo Bruno Lage retirasse o Florentino, já que para Carreras não tinha alternativa se não arriscar. Mas não, e vieram os mesmos onze para a segunda parte. Tinha razão, Bruno Lage, como se veria logo que o retirou do campo.

A segunda parte arrancou com a loucura ao mais alto expoente. Embolo rodou sobre Otamendi e atirou ao poste. Na resposta, num erro clamoroso do defesa brasileiro Caio Henrique, Pavlidis empatou. Dois minutos depois, em contra-ataque, o Mónaco voltou a marcar. O golo de Akliouche seria anulado pelo VAR, por fora de jogo do marcador. Imediatamente a seguir, com uma defesa enorme, o guarda-redes Majecki evitou novo golo de Pavlidis. E quatro minutos depois Bah marcou um belo golo, depois de um recital de Di Maria. O golo seria também anulado pelo VAR por fora de jogo milimétrico de Di Maria.

Tudo isto em 10 minutos. Mas logo a seguir, aos 13 - ou aos 58 - o cutelo do segundo amarelo caiu mas sobre a cabeça do defesa central Singo. Como o jogo estava, e com superioridade numérica, só se podia esperar pelo cheque mate do Benfica.

Mas não. O treinador do Mónaco mexeu na equipa e conseguiu dar-lhe equilíbrio. Bruno Lage reagiu a seguir, tirando finalmente Florentino, porventura a pensar que poderia passar pela cabeça do árbitro equilibrar as coisas em campo. Dois minutos depois de Florentino sair, aos 67, na posição onde ele já não estava, e com a defesa do Benfica paralisada não se sabe por quê, surgiu Magassa a rematar à vontade, e a marcar o segundo do Mónaco.

A equipa não conseguia tirar qualquer vantagem da superioridade numérica. Pelo contrário, o Mónaco estava tão por cima do jogo quanto estivera no primeiro quarto de hora do desafio. Os adeptos - entre eles os maluquinhos das tochas, a voltarem a fazer merda  -, em maioria no Estádio Luís II, iam puxando pela equipa, mas ela tardava em responder.

Até que, de repente, por obra e génio de Di Maria, Cabral voou para a bola, empatou o jogo, e deixou ver que ainda era possível ganhar aquele jogo. E foi. Bastaram quatro minutos, já com Leandro Barreiro em campo, a substituir Aursenes (foi quem mais acusou a saída de Florentino) para Di Maria (o homem do jogo, para a UEFA e para toda a gente) voltar a repetir génio e arte para, num golpe de cabeça perfeito, Amdouni marcar o terceiro.

Da vitória. Justa e justificada. O Benfica foi melhor. Teve mais bola que a equipa com mais bola da Champions até aqui. Atacou o dobro. Rematou o dobro. E teve mais do dobro das oportunidades de golo.

Noite negra em Munique

O Benfica perdeu (0-1) em Munique, com o Bayern. Dito - ou visto - assim, nada de anormal. Afinal nunca, na longa história de confrontos entre ambos os emblemas, o Benfica tinha ganhado ao Bayern. Mesmo que este, como a própria classificação demonstra, e o jogo tenha confirmado, não seja neste momento o papão que por hábito é. Dito - ou visto - assim, este era um jogo de que se não esperaria muito para uma trajectória aceitável nesta "Champions". Mau mesmo tinha sido perder, na Luz, com o Feyenoord.

Só que o Benfica não perdeu apenas um jogo, por um só golo, na casa de um dos convencionados mais poderosos adversários. Perdeu um treinador, perdeu certamente alguns jogadores. E perdeu a crença em tudo o que tinha acreditado ter sido até aqui construído por Bruno Lage.

O onze anunciado denunciava que Bruno Lage ia abdicar dos conceitos básicos da equipa. Não se percebia como é que teria tido tempo para trabalhar aquele 5x4x1, independentemente de também se não compreender os jogadores escalados. Cedo se percebeu que aquilo não era mais que um exercício experimental de falta de ambição, de falta de capacidade e de falta de personalidade de Bruno Lage.

Com uma estratégia miserável, que depois do jogo o treinador não conseguiu explicar a ninguém,  como, antes, também não conseguira explicar aos jogadores, o Benfica foi apenas a imagem de uma exibição humilhante. Dificilmente deixaria de perder o jogo, como sempre acontece a quem apenas tem medo de perder. Mesmo que o golo de Musiala não tivesse acontecido, e no fim se tivesse salvado o empate, esta exibição nunca deixaria de envergonhar o nome do Benfica.

Há coisas que não voltam atrás, nem se limpam. Não sei se hoje Bruno Lage perdeu os adeptos. Não tenho dúvidas que perdeu os jogadores!

O que se passou com os adeptos do Benfica, que provocaram a paralisação do metro, e a evacuação de uma estação, por uso de material pirotécnico, e levou a atrasar num quarto de hora o início do jogo, só torna mais negra esta noite de Munique.

Desilusão na Luz

A Luz engalanou-se para receber este terceiro jogo da Champions, na expectativa do pleno de vitórias, dos nove pontos no fim da terceira jornada. Não havia motivos para outra coisa!

Os 60 mil benfiquistas nas bancadas - cheias que nem um ovo (eram 62 mil, mas os restantes seriam adeptos do Feyenoord) - só pensavam nisso. E depois havia aqueles 5-0 da pré-época, no final de Julho, ali mesmo...

Cedo se começou a ver a festa por um canudo, pouco depois dos 10 minutos quando, na primeira chegada á baliza de Trubin, o Feyenoord marcou. E na verdade, durante mais de uma hora, as únicas ocasiões que houve festejar foram as anulações dos golos da equipa de Roterdão. Primeiro, do que teria sido o segundo; depois, do que teria sido o terceiro. Que nem por isso deixaram de aparecer, dando uma expressão pesada ao primeiro desaire da era Bruno Lage.

Cedo se percebeu que o Benfica não se entendia com aquele jogo do Feyenoord que, pressionando alto, dificultava-lhe a saída de bola, e provocava-lhe erros com demasiada frequência. E que, ao invés, saía com bola limpa, contornando com facilidade a inconsistente pressão que lhe era colocada. Mostrava ao Benfica como se sai com bola, e como se faz pressão. E mostrava como isso só se faz com intensidade, concentração, e coordenação.

O Feyenoord saía com toda a facilidade da pressão, encontrando sempre o central ou o lateral do lado contrário para deixar para trás a primeira linha de oposição benfiquista. A defesa do Benfica, desde cedo desconfiada, não subia e deixava o campo "grande" de mais para jogadores rápidos que por lá abundavam. Acrescia que os jogadores do Feyenoord ganhavam todos os duelos. Todos os ressaltos. Todas as segundas bolas. 

O jogo foi quase sempre assim. Mais ainda assim na primeira parte, que acabou com o Benfica já a perder por 2-0. Com mais bola, mas com uma única ocasião de golo, no remate de cabeça, de Bah, ao poste.

Na segunda parte foi menos assim. Mas nem quando o Benfica marcou (Aktürkoğlu), a meio desse período, e as bancadas empurravam a equipa para a reviravolta, deixou de ser assim. Sempre que o Benfica conseguia um ligeiro período de domínio mais continuado no jogo, o Feyenoord encontrava formas e manhas de se libertar, e de voltar ao seu plano de jogo.

O terceiro golo, no segundo dos 6 minutos de compensação, é o espelho dessa realidade do jogo. Quando era o Benfica que tinha de estar obrigado a não largar a baliza de Wellenreuther, acaba por ser o Feyenoord a dispor de cantos e livres sucessivos. De um deles, num pleno de desconcentração e passividade (comum aos três golos), Milambo (o homem do jogo, com dois golos), deixado sozinho à entrada da área, marcou perante o espanto de toda a gente. Incluindo o mal batido Trubin.

Poderá também dizer-se que a sorte não ajudou. É verdade. Mas também o é que o Benfica não fez muito para a procurar!

Pareceu que foi o próprio Benfica a pagar a factura que passara ao Atlético de Madrid, há três semanas. Houve muita semelhança entre o que fizera aos espanhóis, e o que hoje lhe fizeram os holandeses. Até num lateral esquerdo espanhol a fazer um grande jogo. Se nesse jogo memorável foi Carreras, no de hoje chama-se Hugo Bueno.

Resta, agora que o ciclo virtuoso de Lage foi quebrado, esperar que não fiquem marcas. Porque a desilusão foi grande. Muito grande!

À Benfica!

Noite de gala na estreia da Luz na Champions, à Benfica. A lembrar as grandes noites europeias do passado glorioso, com mais de 62 mil nas bancadas, sempre em festa, e a empurrar a equipa sempre para mais. E mais!

Com uma exibição perfeita, das mais completas de que temos memória, o Benfica - este novo Benfica de Bruno Lage - reduziu esta equipa de estrelas do Atlético de Madrid (desconfio que, desta vez, ninguém terá a lata de dizer que é a mais fraca de há quantos anos quiserem) a um conjunto de jogadores vulgares que custaram muito, mas mesmo muito dinheiro.

O Benfica não foi apenas sempre melhor. Foi esmagador. Esmagador na exibição, e esmagador dos números. Sem precisar de ter muito mais bola (52% "apenas"), o Benfica fez 19 remates, contra apenas três da equipa de Simenone. Desses três, nenhum foi à baliza. Um deles não foi sequer remate, foi um cruzamento falhado que acabou com a bola na barra da baliza de Trubin, que não teve uma única defesa para fazer. Dos seus 19 o Benfica enquadrou 10 com a baliza de Oblack - do nosso velho Oblack, que  - dois com os ferros, três a rasar os postes e fez quatro golos. Oblack, que regressou à Luz - como o nosso velho Witsel - fez 6 defesas. Dessas, metade eram bolas de golo.

A equipa - com Bah, regressado de lesão, a ser o nome novo no onze inicial, que não a única novidade (Bruno Lage preferiu transferir Tomás Araújo para o lado de Otamendi, deixando António Silva no banco) - entrou confiante, personalizada e, percebeu-se desde cedo, com a lição bem estudada. Os jogadores todos no máximo da concentração mental na execução das tarefas que lhe estavam destinadas. Aursenes descaía para a direita (na verdade estava em todo o lado!), para dar o apoio a Bah que Di Maria não podia dar numa faixa onde subiam Reinildo, que jogou na equipa B do Benfica, e Samuel Lino (o jogador em maior evidência, que há dois anos Simeone veio buscar ao Gil Vicente, a provar, com ambos, que também sabe viver sem contratações milionárias) e para onde descaía Alvarez, a contratação (ao Manchester City) mais cara do último mercado.

Na esquerda, uma ala menos explorada pelos colchoneros, era Akturkoglu quem dava o equilíbrio com Carreras (que grande jogo!). 

Florentino fazia o que sempre faz, e bem. Kokçu (o homem do jogo para a UEFA) deu-lhe apoio e ainda teve tempo para ser maestro, dividindo a batuta com Di Maria. E Pavlidis, entre linhas, assegurava as ligações. Na frente de ataque fazia as diagonais curtas que abriam espaços na defesa contrária.

Bem cedo, numa dessas diagonais, Witsel interceptou-lhe o remate, para canto. No canto - dantes não davam em nada, agora dão em tudo - Oblack negou o golo ao grego, na primeira oportunidade de golo criada. Pouco depois, aos 13 minutos, Akturkoglu marcou o primeiro golo. Para o Benfica foi como se nada mudasse. A equipa espanhola reagiu ao golo, e terá então vivido alguns dos poucos momentos em que não esteve subjugada à arte e ao engenho da equipa de Bruno Lage.

Em cima do intervalo mais uma oportunidade de ouro para o Benfica marcar, numa grande jogada de ataque em que Di Maria isolou Pavlidis, que rematou cruzado à base do poste de Oblak. Batido.

Ao intervalo Simeone quase esgotava as substituições - ficou apenas com uma para fazer - para promover uma revolução no jogo. Só que era noite de Benfica, e não de revoluções. O segundo golo, num penálti (duplo, dois jogadores pisaram os dois pés de Pavlidis) que o árbitro não quis ver, mas que o VAR não podia deixar passar, convertido por Di Maria, acabou com a revolução intentada pelo Simeone.

A partir daí o Benfica refinou a exibição, e o Atlético ficou a ser sucessivamente atropelado. Um amigo meu, lagarto, enviou-me uma mensagem dizendo que "os espanhóis já não tinham tamanha humilhação desde Aljubarrota". Achei-a simpática, mas parecida com uns "olés" que se começavam a ouvir nas bancadas, que Bruno Lage mandou calar!

À entrada para o último quarto de hora, num canto - pois claro, agora é assim - Bah marcou o terceiro. Não matou o jogo porque há muito que estava morto. Mas foi o golpe de misericórdia na equipa de Simeone, então perdida em campo, sem crença, sem força e já sem vontade.

A Luz queria mais. E, empurrado pelos adeptos, o Benfica continuou na procura de mais golos. Alcançou apenas mais um, novamente de grande penalidade, por derrube de Giménez a Amdouni, aos 84 minutos, convertida por Kokçu. A noite de sonho acabava em goleada. Foram quatro, mas bem poderiam ter sido uns escandalosos sete ou oito!

Foi bom. Muito bom, mesmo. Mas foi só isso. Já ficou para trás. Ganhou-se apenas um jogo que vale três pontos nesta estranha Champions. Mas ver estes jogadores felizes a jogar à bola, libertos de medos e fantasmas, leva-nos a acreditar que é possível voltar a ter noites destas!

 

 

Entrar a ganhar

O Benfica entrou a ganhar na Champions. Ganhar é sempre bom; entrar a ganhar na maior competição de futebol do mundo é ainda melhor.

Falou-se do ambiente em Belgrado, no Maracanã das Balcãs. No Estrela Vermelha campeão europeu. Que não perdia em casa há não sei quanto tempo. Que o heptacampeão sérvio. Depois de o Benfica ganhar já não se falava de nada disso. Falava-se apenas que, nos últimos onze jogos da Champions, perdera dez. E empatara o outro. E que a segunda parte foi má.

É verdade que o Benfica da segunda parte não foi o mesmo da primeira, quando dominou o jogo praticamente como quis, e construiu um resultado (golos de Aktürkoğlu, logo aos nove e minutos, e de Kokçu, ainda antes da meia hora) relativamente confortável. Não sei se, com a lesão de Bah (por falta para vermelho que nem o velho conhecido Michael Oliver, nem o VAR, quiseram ver) poderia ter sido, mesmo que não se tenha visto necessidade de baixar as linhas tanto quanto o fez. A saída do lateral direito dinamarquês teve muita influência no jogo, pelas próprias dificuldades do Kaboré - que entrou a substituí-lo - que obrigaram Bruno Lage a transferir Aktürkoğlu para a direita, e a abdicar de tudo o que ela fazia na frente, incluindo pressionar alto.

Mas também é verdade que o golo da equipa sérvia, a 4 minutos do fim, foi meramente acidental. E que o melhor que se viu, ainda que pouco, tenha sido apresentado pelo Benfica. Como aquele lance concluído com o remate de Amdouni ao poste. Quando o internacional suíço -  que entrou com Beste, Barreiros e Aursenes, num regresso que se saúda - deixar de acertar nos ferros vai ser bonito de ver... 

 

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