Terminou a Vuelta, em Madrid, num contra-relógio de cerca de 25 quilómetros, onde o suíço Stefan Kung foi o mais rápido com 26´e 28´´, menos 31 segundos que Roglic, que foi segundo, mas ganhou pela quarta vez esta grande competição.
Foi uma competição aberta, com muitas fugas, e a grande maioria delas bem sucedidas, mas nem por isso foi de grande espectáculo. Verdadeiramente espectacular foi Wout van Aert, até que uma queda o obrigou a desistir, na 16.ª etapa, quando seguia na frente da corrida a caminho dos Lagos de Covadonga, era virtualmente vencedor da classificação por pontos, e liderava ainda a classificação da montanha. Mas também Pablo Castrillo, que ninguém conhecia e brilhou na alta montanha.
Roglic ganhou, igualou as quatro "Vueltas" de Roberto Heras - ultrapassando Alberto Contador e Tony Rominger -, foi o indiscutivelmente o melhor, mas nunca foi absolutamente dominador e autoritário. Aqueles 5 minutos para Ben O'Connor, cavados naquela sexta etapa que o australiano da AG2 R ganhou com 7 minutos de vantagem, levaram 13 dias a superar. Apenas na antepenúltima etapa, na chegada a Moncalvillo, na sua terceira vitória, e na única verdadeira prestação colectiva da Red Bull, Primoz Roglic recuperou a liderança depois de sucessivos pequenos ganhos. Pelo meio teve ainda de recuperar de uma penalização de 20 segundos, na etapa da subida ao Cuitu Negru quando, tendo optado por mudar de bicicleta (para uma mais apropriada à escalada, que de nada lhe valeu), aproveitou depois descaradamente o cone de ar do carro da equipa para recuperar o terreno perdido na operação.
Aconteceram anormalidades que deixaram de fora João Almeida, Lennert van Eetvelt e Daniel Martinez (como a maioria da equipa da Red Bull, por intoxicação alimentar no penúltimo dia). Sobram sete. Desses, Roglic foi primeiro, Ben O´Connor, segundo, Carapaz quarto, Mikel Landa oitavo, e Carlos Rodriguez décimo. E apenas dois falharam essa expectativa: Sepp Kuss, o vencedor do ano passado e a grande decepção desta Vuelta (fazer as três grandes voltas a competir, como fez em 2023, traz factura a pagar no ano seguinte) na 14ª posição; e Adam Yates, também com uma prestação decepcionante, mesmo ganhando uma etapa, na 12ª.
De fora vieram Enric Mas, de que já aqui falara, que fechou o pódio, fora das minhas expectativas, mas dentro das anormalidades. Mattias Skjelmose (LIDL - Trek) foi quinto, e primeiro da juventude. David Gaudu (Groupama - FDJ) foi sexto, e a surpresa positiva, pelo protagonismo que teve na corrida. Florian Lipowitz (Red Bull - Bora - Hansgrohe) foi sétimo, e segundo da juventude. E Pavel Sivakov o 9º, e melhor da UAE Team Emirates, que ficou literalmente aos papéis depois de perder o João Almeida.
Os australianos J Vine, da UAE - 1º classificado da montanha -, e Kaden Groves - 1º da classificação da montanha - limitaram-se a herdar as respectivas camisolas com o abandono do sensacional Wout van Aert.
Com o abandono de João Almeida, por Covid, à oitava etapa, no final da semana passada, mesmo sem ter deixado de acompanhar a Vuelta, deixei de a trazer aqui e falhar assim a regularidade habitual destas narrações.
Também Rui Costa havia desistido na véspera, em situação de manifesto infortúnio, por queda, depois de embater num colega de equipa, que caíra à sua frente. E Lennert Van Eetvelt (que só não ganhou na primeira etapa de montanha, logo que a Vuelta entrou em Espanha, porque festejou antes de cortar a meta, sem se aperceber que Roglic estava mesmo ali atrás) abandonou na 12ª etapa, com problemas de saúde (dificuldades respiratórias, não tendo sido referido Covid).
É assim, o ciclismo está cheio de imponderáveis, e as condições normais nunca são mais que um cenário.
Logo na primeira semana a representação portuguesa ficou reduzida a Nelson Oliveira, que tem desempenhado um papel importante na sua equipa (Movistar), no apoio a Enric Mas. Que é, nesta altura, concluída a segunda semana - hoje cumpre-se o segundo e último dia de descanso -, do meu ponto de vista, a maior sensação da Vuelta. Se durante a sua já longa carreira não conseguira cumprir o que prometera no seu início - mesmo sendo sempre um corredor de referência mundial - não me parecia que fosse, agora, já no ocaso do seu percurso profissional, que estivesse em condições de integrar na lista dos candidatos. Mas tem tido um belíssimo desempenho, confirmado ainda ontem, no Cuitu Negru, a mais difícil subida da Vuelta, chegando em quarto lugar, a par, mas à frente, de Roglic, a 1´e 4´´ do espanhol Pablo Castrillo (Kern Pharma, uma equipa convidada, que não pertence ao World Tour), que repetiu a vitória de há três dias, na Estación de Montaña de Manzaneda. Então fora o primeiro espanhol a ganhar nesta Vuelta. Ontem, depois da vitória épica lá no alto, no meio do nevoeiro (na foto), alcançou a segunda vitória, igualando Roglic. Apenas Van Aert (outro corredor a realizar uma Vuelta notável, tendo praticamente assegurada a vitória por pontos, e sendo ainda líder da classificação da montanha), com três, ganhou mais.
Na classificação geral Ben O`Connor continua na frente, depois daquela sexta etapa entre Jerez de la Frontera e Yunque, que lhe rendeu 7 minutos de vantagem (inadmissível como os adversários lhe permitiram uma fuga daquelas), mas já à mercê de Roglic, a 1 minuto. Enric Mas, Carapaz e Landa estão entre 1 e 2 minutos atrás de Roglic, e poderão disputar o pódio com o australiano.
A UAE, ainda assim a equipa mais forte e líder na classificação colectiva, depois de perder João Almeida - estas duas semanas demonstraram que era mesmo a sua melhor oportunidade de ganhar uma grande Volta - passou a correr para ganhar etapas, sem que tenha sido exactamente bem sucedida. Apesar de, a partir daí, ter entrado em praticamente todas as fugas, apenas acrescentou uma vitória à inicial, no prólogo em Lisboa. Foi na nona, ganha por Adam Yates, quando chegou a ser líder virtual e, depois, perdeu 3 minutos na descida final, acabando por ganhar apenas 1´e 39´´ a Carapaz, e 3´e 45´´ aos restantes candidatos. A partir dessa etapa Yates foi sempre em perda, e está já fora do "top ten". Ontem foi o francês - antes russo - Sivakov (fecha agora a lista dos dez primeiros), que fez todas as despesas da subida ao Cuitu Negru, para depois se ficar pelo terceiro lugar, não resistindo ao ataque dos companheiros de fuga, Vlasov e Castrillo, que trouxe "à boleia" durante toda a fuga.
À entrada para a última semana Roglic, apesar de não confirmar o poder que revelou na fase inicial, como ontem Enric Mas deixou claro é, em condições normais - o que, como atrás se referiu, é apenas um cenário -, o principal candidato à vitória em Madrid, no próximo domingo. Que será a quarta!
Aí está a 79ª edição da Vuelta. Aqui está, porque este ano começou em Lisboa, e andou por aqui. Tão por aqui que me passou, ontem, à porta.
Foram três etapas em Portugal, e foi o melhor ciclismo do mundo a passar por cá, em festa. Por todo o lado. Começou no sábado em Lisboa, no prólogo, num contra-relógio de 12 quilómetros, até Oeiras. Passou ontem por aqui, na segunda etapa, de Cascais a Ourém, e acabou hoje em Castelo Branco, na terceira, com partida da Lousã. Ambas com mais de 190 quilómetros.
A caravana parte hoje de Portugal para amanhã prosseguir com a quarta etapa, na Estremadura, com partida de Plasencia (província de Cáceres) e chegada ao Pico de las Villuercas, o pico mais alto da Serra de Guadalupe. Já uma etapa de alta montanha, onde certamente começarão construir-se as primeiras definições do que será esta Vuelta.
Van Aert sai de Portugal de vermelho, depois do terceiro lugar no contra-relógio, e do segundo em Ourém (que lhe valeram o primeiro lugar da geral, e da vitória de hoje em Castelo Branco, a primeira numa grande competição em dois anos, um longo e estranho jejum para o ciclista belga.
O norte-americano Brandon McNulty, colega de João Almeida (10º no prólogo onde, para os favoritos, apenas perdeu para Roglic, por dois segundos) na UAE Team Emirates venceu o contra-relógio. O australiano Kaden Groves (Alpecin-Deceuninck) ganhou em Ourém.
A Vuelta é, das três maiores Voltas do ciclismo mundial, sempre a mais aberta à competição. Este ano, sem qualquer dos três monstros do ciclismo actual - Pogacar, Vingegard e Evenepoel - sê-lo-á mais ainda. Candidatos há muitos, apostas há para todos os gostos, mas ninguém poderá apontar, neste momento, o principal favorito.
Seria um uma surpresa enorme que o vencedor em Madrid não saísse deste grupo de principais candidatos: Sepp Kuss, o americano da Visma, e vencedor no ano passado; João Almeida, o melhor do ano a seguir aos três monstros; Adam Yates, o britânico e seu colega da UAE; Roglic, o esloveno da Red Bull, à procura da sua quarta vitória na Vuelta (três vitórias consecutivas 2019, 2020 e 2021, os seus anos de ouro); o seu colega de equipa, o colombiano Daniel Martinez; Ben O’Connor, o australiano da AG2R; Richard Carapaz, o equatoriano colega de Rui Costa na Education First; Carlos Rodriguez, o espanhol da Ineos; Mikel Landa, também espanhol da Soudal Quick-Step; ou Lennert van Eetvelt, o jovem belga que é apontado como uma estrela em rápida ascensão.
Se nada de anormal acontecer ao longo destas três semanas a nenhum destes 10 ciclistas apostaria que este será o top ten. Claro que nem todos têm a mesma probabilidade de ganhar, uns têm bem mais que outros.
João Almeida estará certamente entre os que têm as maiores. Tem uma boa equipa, e a vantagem de nela não estar Ayuso. Adam Yates também tem aspirações, mas não só não tem o comportamento do jovem espanhol, como deve a João Almeida a vitória na Volta à Suíça. Mas não se sabe o que o brilhante Tour que fez lhe pesa nas pernas nesta altura.
Sep Kuss é entre os candidatos o que tem obrigação de estar mais fresco. Não esteve no Tour, e isso poderá contar. E conta também com uma boa equipa.
Roglic é uma incógnita. Praticamente não participou no Tour, que cedo abandonou por queda. Depois, também, da queda no País Basco. Se as primeiras montanhas lhe não saírem bem poderá ficar obrigado a trabalhar para Daniel Martinez, que agradecerá.
Carapaz terminou o Tour em grande estilo, e as montanhas desta Vuelta são ao seu jeito.
Mikel Landa e Carlos Rodriguez são espanhóis. E em Espanha isso conta.
Depois destes dias de festa do ciclismo, esta Vuelta seria mesmo a "fiesta" de Portugal se fosse a da primeira vitória do João Almeida. Que isto não lhe pese sobre os ombros. Nas pernas e na cabeça sabemos que não!
A - Almeida. Como A, de Agostinho. J. de João, como J, de Joaquim. Mais de 40 anos depois, numa realidade completamente diferente. Com a idade actual de João Almeida, Agostinho ainda não tinha montado uma bicicleta de corrida. Ainda assim não lhe será fácil igualar os dois pódios do malogrado campeão no Tour. Se Agostinho encontrou o inatingível Merckx, Almeida vai ter de conviver com estratosférico Remco Evenepoel, e com os inalcançáveis Vingegaard e Pogačar, todos praticamente com a mesma idade, e ainda com quase uma década de carreira pela frente. Certo é que, com o seu quarto lugar na estreia no Tour, João Almeida escreve uma das mais brilhantes páginas da História do ciclismo nacional.
B - Bardet. Romain Bardet chegou a ser a esperança francesa para quebrar o longo jejum que já vai em 39 anos, depois daquela que foi a quinta vitória de Bernard Hinault, em 1985. O melhor que conseguiu foi o segundo lugar em 2016, e o terceiro no ano seguinte. Despediu-se, aos 33 anos, mas deixou a sua marca neste seu último Tour: ganhou a primeira etapa, foi o primeiro camisola amarela, mesmo que por um único dia, e foi um fenómeno de carinho e popularidade durante toda a competição. Acabou na 30ª posição, a mais de 2 horas do primeiro.
C - Cavendish. Aos 39 anos - logo na quinta etapa, de Saint-Jean-de-Maurienne a Saint-Vulbas, e batendo então Philipsen, o mais poderoso sprinter dos últimos dois anos - chegou à 35ª vitória em etapas no Tour, ultrapassando as 34 do record de Merckx, com quase meio século. Correu toda a prova sob a ameaça de chegar fora do tempo de controlo, e ser desqualificado. Chegou ao fim, ontem em Nice, no último lugar da classificação geral (141º, a quase 6,5 horas de Pogacar). Mas o último é o primeiro dos que não desistem!
Mas no "C" terá de caber também o equatoriano Carapaz, o super-combativo do Tour, vencedor da montanha e, mesmo que também por um só dia, um dos apenas três que vestiram a amarela. Mas também por ser o dorsal 111 do Tour 111!
D - David Gaudu. Aos 27 anos é outra das esperanças francesas que se foi gorando. Entrou em diversas fugas mas sempre sem resultados, acabando na 65ª posição, já a perto das 4 horas do primeiro.
E - Evenepoel. Aguardava-se com grande expectativa o primeiro Tour de Remco Evenepoel, e o embate com aquele duo estratosférico. E o belga, campeão mundial de contra-relógio, confirmou que integra o trio dos melhores ciclistas do planeta. É o mais novo deles, e foi com naturalidade que ganhou o Prémio da Juventude. A mesma com que fechou o pódio. Tentou disputar o segundo lugar mas, na hora da verdade, Vingegaard nunca lhe deixou grandes esperanças. Venceu o primeiro contra-relógio mas, no final, apenas pôde confirmar que foi mesmo o terceiro melhor. Ou o menos bom desta fabulosa tríade.
F - Formolo é o espelho da realidade actual do ciclismo italiano. Discreto. O corredor da Movistar passou pelo Tour sem que se tenha dado por ele, como os seus compatriotas. Nem Ciccone se aguentou no top ten. Longe vão os tempos das armadas italianas.
G - Girmay foi a sensação do Tour. Ganhou três etapas e a classificação por pontos, afinal a segunda mais importante. O eritreu surpreendeu o mundo do ciclismo ao tornar-se no primeiro africano negro a ganhar etapas, mas também um título no Tour. E a concorrência não era pouca. Phlipsen, que ganhou outras tantas, ganhara quatro no ano passado. E Pogacar ganhou seis. Girmay ganhou porque foi o mais regular, e só não esteve na discussão do sprint final quando foi atingido por uma queda, na 16ª etapa. Que até o poderia ter atirado para fora da competição.
H - Hindley Jai é nome grande do ciclismo e, depois do abandono de Roglic, passou a ser a figura principal da Bora, agora também Red Bull. Mas o australiano não brilhou. Ficou-se pelo 18º lugar, curiosamente entre Carapaz e Mas.
I - Ineos - resta apenas o nome. A equipa que dominou o Tour durante décadas desapareceu.
J - Jorgensen foi um dos grandes corredores deste Tour. O americano da Visma não terá sido o grande suporte de Vingegaard, mas foi-o na medida do necessário. No resto fez a sua corrida. E bem feita. No contra-relógio final consegui ainda quebrar a lógica da classificação, ao fazer quarto, o lugar que estaria reservado ao quarto - João Almeida. Fez melhor, por 10 segundos, mesmo apesar da queda que sofreu. E no fim garantiu o oitavo lugar!
K - Kwiatowski é outro dos grandes nomes do passado. Antigo campeão do mundo de estrada hoje, aos 34 anos, o polaco da Ineos é a imagem da equipa. Foi 54ª no final, a mais de três horas e meia.
L - Landa foi quem mais se aproximou do João Almeida. Bom trepador, o espanhol chegou a parecer poder ameaçar o quarto lugar. Pela qualidade que tem a subir, mas também porque nunca se viu forçado a desgastar-se em prole de Evenepoel, o seu chefe de fila. Quando na última etapa o teve que fazer, e ainda assim por pouco tempo, João Almeida tirou algum proveito. Pouco, apenas 11 segundos. Não se dava muito por ele para o contra-relógio, mas a verdade é que a grande parte em crono-escalada era-lhe favorável. Por isso acabou por fazer um excelente 7º lugar, apenas com mais 23 segundos que João Almeida.
M - Mas - Enric Mas - surgiu há uma década como a grande promessa do ciclismo espanhol. A esperança não seria tanto de um novo Indurain, mas não seria menos que um novo Contador. Nunca se confirmou, mas na verdade também nunca foi um corredor afortunado. Aos 29 anos já não transporta mais essa esperança, mas certamente que transportou sempre esse peso. Neste Tour começou a atrasar-se desde muito cedo, e só na última semana, investindo em praticamente todas as fugas na montanha, deu nas vistas. Ao contrário de Carapaz, quase sempre seu companheiro de aventura, não ganhou muito com isso. Lutou até à última gota de suor, como prometera. Foi 19º, a quase uma hora e um quarto.
N - Nils Pollit foi o verdadeiro gregário da UAE, e nessa medida fez uma corrida notável. O alemão foi um mouro de trabalho, a quem toda a equipa, mas especialmente Pogaçar, João Almeida e Adam Yates têm muito a agradecer. Foi 75º, a mais de 4 horas, mas não é isso que conta.
O - Oliveira. O português Nelson Oliveira fez a corrida possível, numa equipa - a Movistar - que também já não é o que foi. Fez um bom primeiro contra-relógio, a sua especialidade, entrou numa fuga, e pouco mais. O último já não era para ele, fez 65º, a mais de 6 minutos de Pogacar. No fim foi 51º, a mais de três horas.
P - Pogacar, claro. Não há adjectivos para qualificar o que fez nesta sua terceira vitória no Tour. Ganhou seis etapas, como fizera no Giro. Juntou o Tour ao Giro, como já não acontecia desde 1998, com o malogrado (já desapareceu há vinte anos) Marco Pantani. Ganhou a todos, em todo o lado, como e quando quis. Deu espectáculo, há quem diga que até de mais. Que não havia necessidade de tanto. Deu mais de 1 minuto no contra-relógio - que terminou a festejar e a brincar - aos dois galácticos adversários.
Q - Quinn. Tem nome irlandês - Sean Quinn - mas é americano e é um jovem (24 anos) da Education First. De Carapaz e de Rui Costa. Que, para além de ter uma designação interessante para uma equipa de ciclismo do World Tour, foi também uma equipa que nunca se escondeu. Esteve sempre activa, sempre com corredores em fuga.
R - Rui Costa foi o terceiro português na prova. Aos 37 anos, já com os 38 à porta, o campeão nacional já não é a figura de primeiro plano do ciclismo mundial que praticamente foi durante uma década. Fez a sua corrida, entrou numa ou outra fuga, e somou mais um Tour ao seu vasto e notável currículo. Foi 68º, a 3 horas e 54 minutos.
S - Santiago Buitrago fechou o top ten. A pouco mais de 29 minutos de Pogacar, e o foi o melhor colombiano, e também o melhor da Bahrain. Trepador, como todos os compatriotas que vingam no ciclismo mundial é, aos 24 anos, mais um jovem desta fornada de grandes corredores de bicicleta. Foi, com o compatriota Tejada, uma das sensações do contra-relógio, separados por 3 segundos, no oitavo e nono lugares.
T - Thomas - Geraint Thomas - apesar dos seus 38 anos, terá sido uma das maiores desilusões do Tour, tal como a a sua equipa, a outrora super-poderosa Ineos. É um dos últimos vencedores, em 2018, (Bernal, da mesma equipa, vencedor no ano seguinte, é o último) da era pré Pogacar/Vingegaard e foi 42º, já a bem perto de 3 horas.
U - UAE, a grande equipa do ciclismo mundial actual. A melhor, a larga distância de todas as outras. Ganhou colectiva e individualmente, e dominou em absoluto a prova, com três corredores nos primeiros seis lugares da classificação final.
V - Vingegaard, claro. É, com Pogacar, de outro planeta. Nunca se saberá como teria sido este Tour sem aquilo que lhe aconteceu no País Basco, em Maio, quando fracturou clavícula e costelas, com uma a perfurar-lhe o pulmão. Sabe-se apenas que resistiu heroicamente a Pogacar. Mas só isso. Só pôde resistir. Ganhou-lhe uma vez, ao sprint, na meta. Na 11ª etapa, lá no alto de Le Lioran. Na altura deu para admitir que estaria à altura do rival, embora também tivesse parecido que Pogacar teria ficado enfraquecido por problemas de gestão alimentar. E de esforço. Depois ficou claro que este Pogacar era imbatível.
W - Wout van Aert não conseguiu atingir, nem de longe, o desempenho que lhe é habitual. Poderia vir marcado por uma queda, no final de Março, na Volta a Flandres, onde fracturou a clavícula, mas é certamente uma das principais decepções do Tour. Mais ainda pelo que fez na edição do ano passado, em que não foi só decisivo na vitória de Vingegaard, como teve ainda tempo de ganhar.
X - Não é uma letra, é mesmo uma cruz. O X que Roglic marcou no Tour. Também vítima da tal queda no País Basco, Roglic vinha à procura da vitória que lhe falta. Que há quatro anos parecia garantida quando, sem perceber como, Pogacar lha tirou. Abandonou no fim da 12ª etapa, envolvido numa queda já próxima da meta, depois de já ter sofrido outra na véspera. E provavelmente este X corta-lhe definitivamente o Tour do currículo.
Y - Yates, claro. Os manos gémeos, que correm em equipas diferentes. Simon, na pobre Jaiko. Adam, na rica UAE. São ambos excelentes corredores, e muito semelhantes. Mas em contextos diferentes. Simon foi 12º. Adam, sexto, a fechar o trio de emirates nos seis primeiros. Simon correu sem restrições e foi o primeiro da equipa. Adam trabalhou - e como trabalhou, também - para a equipa, e ainda foi sexto.
Z - Zimmermann. Não é conhecido, mas o alemão da equipa Intermarché teve um papel fundamental na fantástica vitória de Girmay. Mesmo que o eritreu deva mais ao seu "feeling" de roda certa que propriamente aos lançadores da sua equipa, Zimmermann esteve sempre lá nas primeiras ajudas.
Terminou o Tour, que Pogacar dominou de princípio ao fim, como poucas vezes na História desta fantástica competição, a maior do ciclismo.
Ontem, na despedida dos Alpes, nos 133 quilómetros entre Nice (onde hoje a corrida voltaria, para terminar em contra-relógio) e Col de la Couillole, no fim aconteceu apenas o que sempre sucedeu nas outras etapas de alta montanha, nos Alpes ou nos Pirenéus. Com uma pequena diferença apenas.
E essa foi a tentativa da Soudal levar Remco Evenepoel ao segundo lugar de Vingegaard. O que estava em aberto já era apenas a discussão pelo segundo e pelo quarto lugar.
Pela primeira vez se viu a Soudal na frente da corrida, a fazer o que a Emirates sempre fizera. Desta vez na perseguição a um grupo de 10 ciclistas na frente, onde Carapaz ia fazendo por garantir a camisola das bolinhas vermelhas, nas sucessivas subidas dos Alpes marítimos. Marítimos, mas Alpes.
A 15 quilómetros da meta, no início da subida (a última) ao Col de la Couillole, o grupo da frente levava uma vantagem de quase 3 minutos, e começava a desfazer-se, com os ataques de Mas e Carapaz com a ilusão de poderem ganhar lá em cima. Na perseguição a Soudal já tinha de lançar mão do trabalho de Mikel Landa, o que era uma boa notícia para João Almeida, com vista ao seu quarto lugar da geral.
A 7 quilómetros do alto Evenepoel teve de rematar o trabalho da equipa, e de atacar. Se não o fizesse todo o trabalho da equipa teria sido em vão. Teve resposta imediata de Vingegaard, e acabou por ser João Almeida a ficar na cabeça da corrida, a acelerá-la para arrumar com Landa. E arrumou.
Pouco mais de dois quilómetros à frente, já depois da passagem da meta dos 5 quilómetros finais, Evenepoel voltou a tentar Vingegaard. Respondeu de novo, mas desta vez também com resposta de Pogacar. Remco ficou nas covas - a estratégia da Soudal falhava em toda a linha - e os dois primeiros da geral foram embora, apanhando rapidamente Carapaz e Mas, para lhes tirarem o pão da boca. O espanhol ficou logo ali. O equatoriano ainda tentou acompanhá-los, mas só isso. Nas últimas dezenas de metros Pogacar atacou para ganhar pela quinta vez, e fazer o pleno de vitórias nos Alpes e nos Pirenéus. Vingegaard nem respondeu.
João Almeida foi sexto. Ganhou apenas 13 segundos a Landa, mas o suficiente para partir com confortáveis 40 segundos de vantagem para o contra-relógio final de hoje. De 34 quilómetos, do Mónaco a Nice, mais de metade dos quais em crono-escalada, onde os melhores voltaram a ser muito melhores.
Pogacar, o melhor dos melhores, foi o único com o tempo na casa do minuto 45. Ganhou, pela sexta vez, repetindo o que acabara de fazer no Giro. Por mais de 1 minuto a Vingegaard, que ganhou 11 segundos a Evenepoel. Que ganhou mais de 1 minuto a João Almeida. Quinto - o americano Jorgensen fez 10 segundos melhor - mas o suficiente para, na estreia, consolidar o brilhante quarto lugar final.
Mais notável ainda que a classificação final, apenas atrás daqueles três que parecem de outra galáxia, é a regularidade do seu desempenho. Esteve sempre entre os primeiros seis ou sete nas grandes etapas, nas que tudo decidem. Esteve sempre em todos os momentos de decisão da prova. Não teve uma quebra em qualquer dos 23 dias da competição.
Quanto a Pogacar, o que se pode dizer é que ganhou o seu terceiro Tour como Merckx ganhava. Como há cinquenta anos ninguém ganhava!
Ao segundo dia da segunda visita aos Alpes - se bem que, nesta semana, à excepção de terça-feira, a seguir ao dia de descanso, na 16ª etapa, quando Philipsen ganhou pela terceira vez, igualando Girmay, impedido de disputar o sprint por via de uma queda já próximo da meta, todos os dias foram corridos em montanha - mas na realidade o verdadeiro primeiro dia na alta montanha alpina, se é que já o não estava, o Tour ficou decidido. Em aberto estão a disputa do segundo lugar (entre Vingegaard e Evenepoel) e a do quarto (entre João Almeida e Mikel Landa).
Pogacar tinha dito que esta 19ª etapa - 145 quilómetros entre Embrum e Isola 2000, com duas subidas de categoria especial e uma de primeira categoria, na meta - é que era a etapa rainha deste Tour, e não aquela 15ª, nos Pirenéus, que vencera categoricamente.
Estão bem uma para a outra, ambas duríssimas. Esta de hoje tinha a particularidade de passar no ponto mais alto deste Tour, passando dos 2800 metros de altitude em La Bonette, na última das duas contagens de montanha de categoria especial, e penúltima da etapa. Para não deixar dúvidas, Pogacar ganhou-as ambas, e esta ainda de forma mais clara e espectacular.
Era dia de trepadores e foi um bom naipe deles a tomar a iniciativa da fuga do dia: Jorgenson e Kelderman (da Visma, de Vingegaard),Simon Yates(da Jayco),Hindley(Red Bull – BORA ), Cristián Rodriguez (Arkéa), e Carapaz (EF Education), bastante activo nesta fase final do Tour, que ganhara (pela primeira vez no Tour) a penúltima etapa (17ª), e que estava já em condições para discutir a classificação da montanha.
Andaram sempre na frente, e Carapaz, acabou mesmo por assegurar virtualmente a camisola das bolinhas vermelhas quando foi o primeiro em La Bonette, em que a pontuação duplicava. E juntos chegaram aos últimos 16 quilómetros da subida ao alto de Isola 2000, com uma vantagem de 4,5 minutos sobre o grupo que, lá atrás, a Emirates comandava. Controlando a distância para a frente, e endurecendo a corrida para deixar para trás muita gente.
O grupo da frente começou a desfazer-se logo nos primeiros metros da subida, e apenas Jorgenson, Simon Yates e Carapaz, cada um por si, resistiam. Jorgenson foi quem teve mais pernas, e atacou para ganhar a etapa, lá em cima.
Na perseguição, a Emirates ia gastando os seus cartuchos. Depois do grande trabalho de Nils Politt e, depois, de Adam Yates, Marc Soler, depois de uma fugaz passagem pela frente, encostou. Era a vez de João Almeida. E foi. Faltavam oito quilómetros para a meta.
Só que Pogacar, que não consegue deixar de atacar, quis ganhar a etapa, e foi embora, sem esperar pelo trabalho do João. E sem resposta. Vingegaard e Evenepoel reagiram. Fizeram o que puderam, e não foi pouco, mesmo que o dinamarquês não tenha podido mais que seguir na roda do belga.
Pogacar ia comendo - engolindo - tempo aos da frente, e deixando-os um a um para trás. Em seis quilómetros despachou toda a gente. Na meta, levantou os braços e fez uma vénia!
Vingegaard, sexto na etapa, agradeceu e cumprimentou Evenepoel. E depois chorou. João Almeida chegou logo atrás deles, 18 segundos depois. Mas com Mikel Landa, de quem não se conseguiu livrar, na roda. Carlos Rodriguez chegaria 2 minutos depois de ambos, e deverá ter ficado afastado da luta pelo quarto lugar que João Almeida conserva nos 27 segundos de vantagem sobre Landa.
Ao segundo - e último - dia Pirenéus surgiu a etapa rainha do Tour. Quase 200 quilómetros, entre Loudenvielle e Plateau de Beille, e quatro contagens de montanha de primeira categoria, para tudo acabar lá em cima, na meta de chegada e de categoria especial.
Na realidade as metas de contagem para o prémio da montanha eram apenas isso, metas. Sinais. Porque tudo aquilo era sempre a subir. As "hostilidades" foram abertas por um grupo de 17 ciclistas onde sobressaiam os nomes de Enric Mas - o espanhol que passou toda uma carreira a prometer o que nunca atingiria - e de Carapaz, o equatoriano a quem viria a ser atribuído o prémio da cambatividade. E que já ganhou um Giro, já foi campeão do mundo e até já vestiu a camisola amarela neste Tour.
Na subida do Col de Portet-d’Aspet o grupo começou a destazer-se, e ficava reduzido a quatro (Mas, Carapaz, De Plus e Jai Hindley) no início da subida do Col d’Agnes, a penúltima do dia. Atingiu, então e aí, vantagem máxima da fuga, com 3 minutos e 45 segundos para o pelotão principal. Ou dos principais. Comandado pela Visma, de Vingegaard, fazendo o que fora sempre feito pela Emirates.
O investimento da Visma na etapa indicava que seria o dia de Vingegaard. Teria de ser!
Os 2,5 minutos com que o grupo da frente entrou nos 16 quilómetros do Col do Plateau de Beille rapidamente foram desaparecendo, ainda em resultado do trabalho da equipa de Vingegaard. Apenas dois quilómetros depois, a 14 lá do alto, João Almeida começou a ceder, não aguentando o ritmo com que Matteo Jorgenson pretendia desfazer a concorrência ao seu líder. Mais 3 quilómetros à frente seria a vez de ser eliminado Carlos Rodriguez, o rival de João Almeida para o quarto lugar, que o espanhol virtualmente já ocupava.
A 10,5 quilómetros da meta era chegada a hora de Vingegaard responder ao enorme trabalho da sua equipa. Atacou, e só Pogacar respondeu. Ambos seguiram por ali acima mas desta vez com papeis invertidos - era o dinamarquês a ter que dar a cara, e o esloveno a seguir-lhe a roda. Assim foi durante 5 quilómetros de subida!
Até Pogacar atacar, a 5,4 quilómetros da meta, para continuar o seu festival nos Pirenéus. Vingegaard fez o que pôde, e só foi pouco se comparado com o muito de Pogacar. No fim, na meta, a diferença era de 1´e 8´´. Na geral ficava a passar dos três minutos.
"Ir à lã e sair tosqueado", foi o que aconteceu a Vingegaard. Mas tinha de o fazer. Sem tentar nunca saberia se este ano poderia ganhar a Pogacar.
Remco Evenepoel foi terceiro, já a 3 minutos. Depois Mikel Landa, o seu companheiro de euipa que bem útil lhe fora na parte final da subida, em quarto. E logo a seguir João Almeida, com mais uma fantástica prestação, subindo no seu ritmo para, no fim, estar sempre entre os melhores.
Se Pogacar e Vingegaard são os melhores. Se Remco confirma dia após dia que é o terceiro melhor, João Almeida é hoje o quarto melhor. Está lá em cima, entre os melhores!
Glória aos vencedores e honra aos vencidos. Glória para Pogacar e honra para Vingegaard. E para Evenepoel. Disse-nos a primeira das duas visitas do Tour aos Pirenéus, na 14ª etapa, de 151,9 quilómetros, entre Pau-Saint-Lary-Soulan Pla d'Adet. A etapa do mítico Tourmalet ainda nos Pirenéus franceses. Desta vez ficou a duas montanhas da meta, e nada deixou decidido na etapa. Nem no Tour, que ainda tem muito mais para dar.
A novidade que, surpreendentemente não é tanto assim nos dias que correm, é que o Covid voltou a fazer vítimas. Depois de Michael Morkov, hoje foi a vez de Pidcock, da Ineos. Outra, ainda ontem, foi Ayuso que desfalcou a poderosa equipa da Emirates. Mesmo que dificilmente se lhe possa chamar um corredor de equipa.
No alto do Tourmalet, Laskano, da Movistar, foi o primeiro,à frente do grupo onde seguia Rui Costa, com o grupo do camisola amarela a quase 4 minutos. Seguiu-se uma descida, em que os corredores chegaram a ultrapassar os 100 Km/hora e, depois, uma montanha de 2ª categoria, mas sempre dura. No grupo de Pogacar, sempre com a Emirates a fazer as despesas da corrida, pelo pedal do alemão Nils Politt.
A 8,5 quilómetros da meta, na derradeia subida, foi a vez de João Almeida endurecer a corrida. Viu-se depois Pogacar, que parecia querer resguardar-se, falar com Adam Yates. Que, poucos segundos depois, atacou.
Era a jogada decisiva da Emirates. Não poderia ser outro a fazê-lo. O inglês estava suficientemente atrasado para provocar resposta dos rivais de Pogacar, e atacou a 7 quilómetros da meta, fazendo de imediato a diferença, e chegando-se a Ben Healy, da Education First (belo nome para uma equipa profissional), o único que restava na frente da corrida.
A 4,5 quilómetros da meta - nada a ver com o ataque aos 42 quilómetros da antevéspera - Pogcar atacou. Vingegaard tentou responder, mas não pôde. Tal como Remco Evenepoel. Rapidamente se chegou a Yates, e ambos deixaram de imediato Healy nas covas. Vingegaard respondeu, no seu passo mas, desta vez, não conseguiu recuperar. Na meta foi segundo, 39 segundos atrás de Pogacar, mas o suficiente para "roubar" o segundo lugar da geral a Evenepoel, ficando os três mais firmes nos lugares do pódio.
João Almeida, com mais uma etapa notável, foi 12º, perdendo 12 dos vinte segundos de vantagem sobre Carlos Rodriguez, mas segurando, por 8 segundos, o quarto lugar na geral.
Amanhã há mais. O último dia de Pirenéus será ainda mais difícil e poderá, ou não, dar mais do mesmo. João Almeida dependerá muito do trabalho que for destinado no apoio a Pogacar. Se nada de anormal acontecer, um lugar no pódio estará cada vez mais difícil. Se aquilo a que for obrigado no suporte a Pogacar não o condenar a pior, o quarto lugar da geral, que segura por 8 segundos na disputa com Carlos Rodriguez, o líder da Ineos, poderá ser seu. Até porque tem a seu favor o contra-relógio final, no Mónaco e em Nice.
Mas ainda faltam os Alpes. Para ele e para todos os outros!
Ia o Tour na quarta etapa na última vez que aqui o trouxe, não imaginando então que, feita História na anterior, com a primeira vitória do africano Girmay, se voltaria a fazer logo na seguinte, com a vitória de Cavendish em Saint Voulbas.
A 35ª no Tour, com que bateu o record de Merckx, que havia igualado, que há muito perseguia e que era o seu único objectivo para esta última participação na prova, projectada para o ano passado, mas reconsiderada depois do abandono a que então fora forçado.
Foi depois tempo dos sprinters - que não mais do velho corredor britânico - e especialmente de Girmay, o africano da Eritreia que corre pela equipa do Intermarché, que ganhou mais duas etapas (na oitava), e hoje mesmo (na 12ª), que lhe dá já uma grande vantagem, porventura decisiva, na liderança da classificação por pontos. Na camisola verde, que não mais despiu desde essa quarta etapa.
Mas também do primeiro dos dois contra-relógios da prova, na quinta etapa, que Remco Evenepoel venceu, com 12 segundos de vantagem sobre Pogacar, ainda e sempre de amarelo. Onde João Almeida foi oitavo, com mais 57 segundos, subindo então para sexto na geral.
Foi tempo, no domingo, de uma etapa - a nona - de grande grau de dificulade, com 14 troços em gravilha, a modernidade que substitui as velhas etapas nos pavés. E do primeiro dia de descanso, na segunda-feira.
Ontem, no maciço central, correu-se a 11ª etapa, entre Évaux-les-Bains-Le Lioran (211.0 km) toda ela de montanha... e louca. Onde a formação da Emirates fez forte investimento, quiçá com o objectivo de arrumar com o Tour logo ali, ainda antes dos Pirenéus. E dos Alpes. E do contra-relógio final, na chegada a Nice.
Fruto desse investimento ou - talvez melhor - para o justificar, Pogacar atacou na antepenúltima subida, ainda a 32 quilómetros da meta. Ninguém lhe conseguiu responder, e foi amealhando segundos de vantagem. Chegaram a ser mais de quarenta. Mas de repente fraquejou - provavelmente, pelo que se viu no final da etapa, a comer desenfreadamente, e também porque fora possível perceber o desespero com a pedira apoio ao carro que nunca chegou - por, novamente, falha na alimentação. E a perseguição de Vingegaard, a princípio feita com Roglic, que caiu na descida e ficou para trás, acabou por resultar na penúltima subida. Pogacar ainda foi primeiro nessa meta de montanha - o que lhe valeria a liderança também na classificação da montanha - mas foi já ao sprint, com o vencedor dos dois últimos Tours a parecer desinteressado de o disputar.
A partir daí fizeram as descidas, e as duas últimas subidas, a par. E em evidente colaboração para cavar a diferença para os restantes, em especial para Evenepoel e Roglic, até próximo da meta. Diferença que, com a meta à vista e a vitória na etapa para decidir, acabaram por queimar e deixar cair para meros 25 segundos.
Não foi só aí que se percebeu que a estratégia da equipa ruíra à falta de condição física de Pogacar. Foi na própria discussão da vitória, quando Vingegaard, que normalmente perderia sempre no sprint para o rival, mesmo que sempre na frente, e em condição desvantajosa para o sprint final, arrancou para a meta e ganhou (na foto).
Fora assim - com um erro no capítulo alimentar, e com erros na estratégia de ataque - que, no ano passado, Pogacar fora derrotado. Ontem, porventura pela sua condição decorrente da grave queda no País Basco, Vingegaard apenas ganhou a etapa. Não ganhou tempo, mas ganhou força mental. E está ainda por saber o o que isso possa vir a valer lá mais para a frente.
Evenepoel e Roglic perderam apenas os referidos 25 segundos, mantendo-os segundo e quarto na geral. João Almeida voltou a fazer uma etapa ao seu (alto) nível. Foi sexto, subiu ao quinto lugar, por troca com o Carlos Rodriguez, e com o bónus de ver o colega Ayuso afundar-se, e cair para o nono lugar da classificação.
Hoje subiu a quarto. Porque, a 10 quilómetros da meta, o infeliz (já ontem caíra, sozinho, naquela última descida) Roglic viu-se envolvido numa queda das grandes, e cortou a meta com cerca de 2,5 minutos de atraso, e um ombro esfacelado. Se estiver em condições de amanhã se apresentar à partida, dificilmente Roglic terá agora possibilidades de disputar um lugar no pódio.
Os Pirenéus vêm aí, já depois de amanhã. E desconfio que terão muito para contar.
Depois da etapa de ontem, a terceira e a primeira propícia aos sprinters, com chegada a Turim, com um vencedor improvável e histórico - o eritreu Girmay - e com a amarela a passar de Pogacar para Carapaz (os quatro primeiros mantiveram-se com o mesmo tempo) por ter terminado uns lugares mais à frente (uma queda perto da meta, já com os tempos protegidos, cortou o pelotão), o Tour entrou hoje em território francês, logo com o primeiro dia de alta montanha.
Uma etapa de apenas 140 quilómetros, mas dos duros, com o lendário Col Galibier, o monstro dos Alpes, subido já depois dos de Sestriéres e Montgenévre. Tudo se decidiu no Galibier, e mais ainda nos dois últimos quilómetros da subida, a cerca de 20 da meta, em Valloire. E tudo passou por João Almeida, com uma corrida notável.
As despesas da subida foram à conta da UAE - naturalmente - e foi João Almeida que teve de se chegar à frente para a pagar. Bem cedo foi chamado a isso, ainda antes Adam Yates. Que lhe sucedeu, mas por muito pouco tempo. Não estava em dia sim, percebeu-se. E o ciclista português teve de voltar a rebocar a corrida, e a endurecê-la, deixando para trás muita gente, incluindo o próprio camisola amarela, que no fim perderia mais de 5 minutos, com um trambolhão pela tabela abaixo.
No grupo rebocado por João Almeida, para além dos principais favoritos, e de Pogacar, para quem tinha de trabalhar, estava ainda Ayuso, o colega de equipa que nunca é. Depois de chamado - uma, duas, três vezes -a colaborar pelo ciclista português, a lembrar-lhe que também ele recebia ordenado no fim do mês, o talentoso jovem espanhol lá deu a sua ajuda. E nos momentos finais foram-se revesando na frente, reduzindo o grupo a meia dúzia de ciclistas, até Pogacar desferir o esperado ataque.
Apenas Vingegaard respondeu. Mas não resistiu e Pogacar cruzou a meta da montanha de classificação especial do Galibier com um dúzia de segundos de vantagem. Que, depois de uma descida louca, na meta, acabou em 37.
Porque Vingegaard - provavelmente ainda com os acontecimentos do País Basco na cabeça - foi ainda apanhado por Evenepoel, Ayuso, Roglic e Rodriguez. João Almeida também terá sido mais prudente na descida, acabando a etapa em oitavo, a 50 segundos do seu "chefe". E é também oitavo na geral!
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