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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Tour de France 2025 (II)

João Almeida e a vitória de Pogacar: «Tínhamos o plano de acelerar na subida inclinada»

Tinha aqui dito que a vitória de Philipsen (Alpacin) na etapa inicial do Tour, teria sido "provavelmente a primeira de mais algumas". Faltou acrescentar "em condições normais", que faz parte das "cautelas e caldos de galinha que nunca fazem mal" no ciclismo. Era essa a expectativa, mas uma queda logo na segunda etapa quando, a 60 quilómetros da meta, se disputava um sprint especial, mandou para fora da corrida, e em mau estado, o mais forte candidato a chegar a Paris com a camisola verde, dos pontos.

As quedas, de resto, repetiram-se. Nessa segunda etapa - a última foi já na recta da meta, na preparação do sprint final - mas também logo na seguinte.

Essa segunda etapa, de mais de 209 quilómetros, com meta em Boulogne-sur-Mer, era de elevado grau de dificuldade. Uma etapa de média montanha, com uma ponta final bastante exigente, como a de hoje, a quarta. Ganhou Van der Poel, o neto de Poulidor que hoje já é mais que isso, da mesma Alpacin de Philipsen. Atacou muito cedo, chegou a estar à mercê de Pogaçar mas, num último esforço, resistiu ao esloveno, que se superiorizou facilmente a Vingegaard, terceiro na etapa, e vestiu a amarela. Que o seu colega Philipsen já não pôde defender.

A etapa de ontem, a terceira, entre Valenciennes e Dunkerque, uma etapa plana com pouco mais de 178 quilómetros, não teve grande história. Teve a das quedas, muitas, de novo. Teve a história de Tim Wellens, o colega de Pogaçar, que saiu do pelotão com o compromisso de não fazer mal a ninguém (parecia daquelas saídas para passar à frente na terra, ou ir dar um beijinho à mãe), ganhou de imediato mais de 2 minutos de vantagem, e cortou uma meta de montanha para tirar a "camisola das bolinhas" do tronco de Pagaçar, que prefere vestir a de campeão do mundo. Realmente bem mais bonita. Logo a seguir regressou ao pelotão. E teve a vitória do belga Merlier (Soudal Quick Step), em photo finish, por 2 ou 3 centímetros, sobre o italiano Milan, da Lidl Treck.

A quarta etapa, hoje corrida entre Amiens e Rouen, em pouco mais de 174 quilómetros, de média montanha, foi tão semelhante à de anteontem que até acabou praticamente na mesma. Com a diferença que, desta, João Almeida deixou Pogaçar em condições de se sobrepor a Van der Poel, com Vingegaard a repetir o terceiro lugar.

Foi uma grande etapa de João Almeida, que fez a diferença na subida final, quando dinamitou o grupo da frente, permitindo a Pogaçar lançar um ataque que chegou a deixar Vingegaard apeado. Acabou por desistir e permitir a recolagem do rival. Nessa altura João Almeida percebeu que o líder  voltava a precisar de ajuda. E voltou à frente, de onde apenas saiu para deixar Pogaçar na cara da meta. E da vitória, que o deixou com o mesmo tempo de Van der Poel.

Que mantém a amarela. Mas só até amanhã, dia de contra-relógio!

 

Giro de Itália 2025

Giro d'Italia 2025, scossone alla classifica dopo la sedicesima tappa ...

Termina amanhã, mas ficou decidido hoje, o Giro de Itália.

Sem João Almeida, este ano reservado para ajudar Pogacar a vencer o quarto Tour, Roglic e Ayuso partiram como grandes favoritos à vitória.

Roglic cedo começou a distanciar-se desse favoritismo e, de novo com quedas a atrapalhar-lhe a vida, acabou por desistir já na terceira e última semana. 

Ayuso, o jovem espanhol de mau feitio, companheiro de João Almeida na UAE, que a imprensa espanhola traz em andor para o altar do seu ciclismo, também não demorou muito a demonstrar que não estava à altura do favoritismo que trazia. Acabou também por abandonar, logo a seguir a Roglic, imediatamente a seguir a ter perdido mais de 10 minutos para os primeiros, e caiu para bem fora do top ten. Disse-se que fora mordido por uma abelha. Ou por uma vespa. 

A diferença não tem importância nenhuma. A polémica - vespa ou abelha - só serve à desculpa, que foi a que tudo aquilo soou.

O mexicano Del Toro (UAE), e o equatoriano Carapaz (Education First), não puseram Roglic e Ayuso fora de combate. Tomaram conta da corrida, e dominaram-na até hoje, ao penúltimo dia, no Cole de Finestre, nos Alpes. No Piemonte.

Tudo indicava que seria no alto do Finestre, lá nos  2178 metros de altitude, que os dois latino-americanos decidiriam o Giro. Mas não foi assim, e o ciclismo voltou a assistir a um golpe de teatro, que tantas vezes o visita. Nem pareceu que a Jumbo Visma tivesse preparado uma grande jogada para o cheque-mate à corrida, como  não parecia que Simon Yates estivesse em grandes condições para se bater com Del Toro e Carapaz. Ainda ontem perdera tempo para ambos, e mantinha o seu terceiro lugar na geral à custa de uma prestação discreta. Bastante discreta, mesmo.

Golpe de teatro é isso mesmo. Cedo se formou uma fuga, onde a Visma fez integrar Wout Van Aert que, sem ser Pogacar, Vingegaard ou Roglic, é um galáctico do ciclismo. Um dos mais decisivos corredores do ciclismo actual. A fuga foi acumulando tempo de vantagem, até chegar aos 10 minutos. Lá atrás, 10 minutos atrás, Carapaz e Del Toro marcavam-se. Simon Yates decidiu ver no que dava aquela marcação, e aproveitou para dar um esticão, meio a medo.

Os dois ibero-americanos olharam um para o outro, à espera de ver quem respondia. Nenhum respondeu, acharam - ou fizeram-nos achar - que aquele Yates não metia medo a ninguém. E o britânico lá foi montanha cima. Lá no alto do Finestre tinha o companheiro Wout Van Aert, levado pela fuga, à espera. 

Foi a vez do belga fazer a diferença. Pegou no colega e foi por ali abaixo, como só ele sabe ir. E a diferença para Carapaz e Del Toro nunca mais parou de crescer. Já Yates tinha a maglia rosa bem segura ao corpo quando, a cerca de 5 quilómetros da meta, e com Carapaz e Del Toro derrotados sem apelo nem agravo, Wout Van Aert encostou, exausto. Coube ao britânico fazer o resto.

E como o fez. Com a vitória no Giro ali à vista, a segunda, depois da Vuelta há meia dúzia de anos, Yates voou para a meta, sem parar de aumentar a vantagem, que chegou aos 6 minutos. O suficiente para cavar uma diferença (na casa dos 4 minutos) para o segundo e terceiro que nunca existira ao longo de toda a competição.

No fim, mais uma vez, a super-poderosa UAE deixou a ideia que não sabe gerir a fartura. Se calhar, no ciclismo como em tantas outras circunstâncias, gerir a fartura até é mais difícil que gerir a escassez.

João Almeida a brilhar

João Almeida brilha na última etapa e vence a Volta ao País Basco

João Almeida acaba de fazer mais uma demonstração da sua condição de grande ciclista mundial, ao ganhar a Volta ao País Basco, uma das maiores competições do World Tour, logo a seguir às três grandes Voltas. 

Andou sempre pelos primeiros lugares, antes de vestir a camisola amarela na passada quinta-feira, ao ganhar a quarta etapa, entre Beasain e Markina-Xemein, uma das mais decisivas, com sete contagens de montanha. Não mais a largou, e confirmou-a hoje vencendo, com autoridade e classe - atacando a quase 40 quilómetros da meta -, a última etapa, em Eibar.

É a maior vitória de João Almeida num competição por etapas, e a terceira, depois de ganhar a Volta ao Luxemburgo, e a Volta à Polónia, em 2001. E a confirmação do corredor das Caldas da Rainha no topo do ciclismo mundial.

Volta ao Algarve - uma clássica do ciclismo internacional

51.ª Volta ao Algarve com percurso renovado para aumentar o espetáculo  desportivo

Terminou a Volta ao Algarve em bicicleta, já uma clássica da abertura da época do ciclismo internacional.

Cá esteve a nata do ciclismo mundial. Dos melhores dos melhores apenas Pogaçar faltou. Todos os outros cá estiveram.

Começou mal, com problemas no final da primeira etapa, quando na bifurcação da chegada a Lagos, parte do pelotão seguiu por um lado, e a outra por outro. A maior parte seguiu pelo trajecto errado, e a organização anulou a etapa. Não foi bonito, manchou a corrida, mas ficaram ainda quatro etapas para todos os gostos - chegada ao sprint, chegada em montanha e contra-relógio.

Na chegada a Tavira, na antepenúltima etapa, na sexta-feira, uma queda mandou Iuri Leitão, o nosso campeão olímpico e europeu (de pista), para fora da corrida.

Na montanha, no Alto da Fóia, brilharam os ciclistas da UAE, os portugueses João Almeida (2º) e António Morgado (4º), e o dinamarquês Jan Christen (1º). No contra-relógio final de hoje, com chegada no Alto do Malhão, brilharam os da Visma, com Vingegaard (1º) e Wout Van Aert (2º).

João Almeida partiu para o contra-relógio com 20 segundos de vantagem sobre Vingegaard, que não foram suficientes. O português foi quinto na etapa, gastou mais 32 segundos - com uma grande recuperação na subida final ao Alto do Malhão - e acabou na segunda posição da geral, atrás do galáctico Vingegaard.

António Morgado,campeão nacional de contra-relógio, afundou-se e saiu do top ten, fechado precisamente pelo dinamarquês Jan Christen, o camisola amarela à partida. E onde também Roglic não coube.

A UAE ganhou por equipas.

Vuelta 2024 - a quarta de Roglic

Classificação final da Volta a Espanha 2024: Roglic vence pela 4ª vez,  O'Connor e Mas completam o pódio final | Ciclismoatual.com

Terminou a Vuelta, em Madrid, num contra-relógio de cerca de 25 quilómetros, onde o suíço Stefan Kung foi o mais rápido com 26´e 28´´, menos 31 segundos que Roglic, que foi segundo, mas ganhou pela quarta vez esta grande competição.

Foi uma competição aberta, com muitas fugas, e a grande maioria delas bem sucedidas, mas nem por isso foi de grande espectáculo. Verdadeiramente espectacular foi  Wout van Aert, até que uma queda o obrigou a desistir, na 16.ª etapa, quando seguia na frente da corrida a caminho dos Lagos de Covadonga, era virtualmente vencedor da classificação por pontos, e liderava ainda a classificação da montanha. Mas também Pablo Castrillo, que ninguém conhecia e brilhou na alta montanha. 

Roglic ganhou, igualou as quatro "Vueltas" de Roberto Heras - ultrapassando Alberto Contador e Tony Rominger -, foi o indiscutivelmente o melhor, mas nunca foi absolutamente dominador e autoritário. Aqueles 5 minutos para Ben O'Connor, cavados naquela sexta etapa que o australiano da AG2 R ganhou com 7 minutos de vantagem, levaram 13 dias a superar. Apenas na antepenúltima etapa, na chegada a Moncalvillo, na sua terceira vitória, e na única verdadeira prestação colectiva da Red Bull, Primoz Roglic recuperou a liderança depois de sucessivos pequenos ganhos. Pelo meio teve ainda de recuperar de  uma penalização de 20 segundos, na etapa da subida ao Cuitu Negru quando, tendo optado por mudar de bicicleta (para uma mais apropriada à escalada, que de nada lhe valeu), aproveitou depois descaradamente o cone de ar do carro da equipa para recuperar o terreno perdido na operação.

No início da Vuelta tinha apontado dez candidatos à vitória. Uns mais que outros mas, dizia então. E que, se nada de anormal acontecesse ao longo destas três semanas a nenhum destes 10 ciclistas ali estaria o top ten.

Aconteceram anormalidades que deixaram de fora João Almeida, Lennert van Eetvelt e Daniel Martinez (como a maioria da equipa da Red Bull, por intoxicação alimentar no penúltimo dia). Sobram sete. Desses, Roglic foi primeiro, Ben O´Connor, segundo, Carapaz quarto, Mikel Landa oitavo, e Carlos Rodriguez décimo. E apenas dois falharam essa expectativa: Sepp Kuss, o vencedor do ano passado e a grande decepção desta Vuelta (fazer as três grandes voltas a competir, como fez em 2023, traz factura a pagar no ano seguinte) na 14ª posição; e Adam Yates, também com uma prestação decepcionante, mesmo ganhando uma etapa, na 12ª.

De fora vieram Enric Mas, de que já aqui falara, que fechou o pódio, fora das minhas expectativas, mas dentro das anormalidades. Mattias Skjelmose (LIDL - Trek) foi quinto, e primeiro da juventude. David Gaudu (Groupama - FDJ) foi sexto, e a surpresa positiva, pelo protagonismo que teve na corrida. Florian Lipowitz (Red Bull - Bora - Hansgrohe) foi sétimo, e segundo da juventude. E Pavel Sivakov o 9º, e melhor da UAE Team Emirates, que ficou literalmente aos papéis depois de perder o João Almeida.

Os australianos J Vine, da UAE - 1º classificado da montanha -, e Kaden Groves - 1º da classificação da montanha - limitaram-se a herdar as respectivas camisolas com o abandono do sensacional Wout van Aert.

Vuelta 2024 - Roglic a caminho da quarta

Pablo Castrillo vence no Cuitu Negru e Ben O'Connor resiste de vermelho na  Vuelta - Ciclismo - SAPO Desporto

Com o abandono de João Almeida, por Covid, à oitava etapa, no final da semana passada, mesmo sem ter deixado de acompanhar a Vuelta, deixei de a trazer aqui e falhar assim a regularidade habitual destas narrações. 

Também Rui Costa havia desistido na véspera, em situação de manifesto infortúnio, por queda, depois de embater num colega de equipa, que caíra à sua frente. E Lennert Van Eetvelt (que só não ganhou na primeira etapa de montanha, logo que a Vuelta entrou em Espanha, porque festejou antes de cortar a meta, sem se aperceber que Roglic estava mesmo ali atrás) abandonou na 12ª etapa, com problemas de saúde (dificuldades respiratórias, não tendo sido referido Covid).

É assim, o ciclismo está cheio de imponderáveis, e as condições normais nunca são mais que um cenário.

Logo na primeira semana a representação portuguesa ficou reduzida a Nelson Oliveira, que tem desempenhado um papel importante na sua equipa (Movistar), no apoio a Enric Mas. Que é, nesta altura, concluída a segunda semana - hoje cumpre-se o segundo e último dia de descanso -, do meu ponto de vista, a maior sensação da Vuelta. Se durante a sua já longa carreira não conseguira cumprir o que prometera no seu início - mesmo sendo sempre um corredor de referência mundial -  não me parecia que fosse, agora, já no ocaso do seu percurso profissional, que estivesse em condições de integrar na lista dos candidatos. Mas tem tido um belíssimo desempenho, confirmado ainda ontem, no Cuitu Negru, a mais difícil subida da Vuelta, chegando em quarto lugar, a par, mas à frente, de Roglic, a 1´e 4´´ do espanhol Pablo Castrillo (Kern Pharma, uma equipa convidada, que não pertence ao World Tour), que repetiu a vitória de há três dias, na Estación de Montaña de Manzaneda. Então fora o primeiro espanhol a ganhar nesta Vuelta. Ontem, depois da vitória épica lá no alto, no meio do nevoeiro (na foto), alcançou a segunda vitória, igualando Roglic. Apenas Van Aert (outro corredor a realizar uma Vuelta notável, tendo praticamente assegurada a vitória por pontos, e sendo ainda líder da classificação da montanha), com três, ganhou mais. 

Na classificação geral Ben O`Connor continua na frente, depois daquela sexta etapa entre Jerez de la Frontera e Yunque, que lhe rendeu 7 minutos de vantagem (inadmissível como os adversários lhe permitiram uma fuga daquelas), mas já à mercê de Roglic, a 1 minuto. Enric Mas, Carapaz e Landa estão entre 1 e 2 minutos atrás de Roglic, e poderão disputar o pódio com o australiano.

A UAE, ainda assim a equipa mais forte e líder na classificação colectiva, depois de perder João Almeida - estas duas semanas demonstraram que era mesmo a sua melhor oportunidade de ganhar uma grande Volta - passou a correr para ganhar etapas, sem que tenha sido exactamente bem sucedida. Apesar de, a partir daí, ter entrado em praticamente todas as fugas, apenas acrescentou uma vitória à inicial, no prólogo em Lisboa. Foi na nona, ganha por Adam Yates, quando chegou a ser líder virtual e, depois, perdeu 3 minutos na descida final, acabando por ganhar apenas 1´e 39´´ a Carapaz, e 3´e 45´´ aos restantes candidatos. A partir dessa etapa Yates foi sempre em perda, e está já fora do "top ten". Ontem foi o francês - antes russo - Sivakov (fecha agora a lista dos dez primeiros), que fez todas as despesas da subida ao Cuitu Negru, para depois se ficar pelo terceiro lugar, não resistindo ao ataque dos companheiros de fuga, Vlasov e Castrillo, que trouxe "à boleia" durante toda a fuga.

À entrada para a última semana Roglic, apesar de não confirmar o poder que revelou na fase inicial, como ontem Enric Mas deixou claro é, em condições normais - o que, como atrás se referiu, é apenas um cenário -, o principal candidato à vitória em Madrid, no próximo domingo. Que será a quarta!

Vuelta 2024 - "Fiesta em Portugal"

Créditos: Luis Angel Gomez/SprintCyclingAgency

Aí está a 79ª edição da Vuelta. Aqui está, porque este ano começou em Lisboa, e andou por aqui. Tão por aqui que me passou, ontem, à porta.

Foram três etapas em Portugal, e foi o melhor ciclismo do mundo a passar por cá, em festa. Por todo o lado. Começou no sábado em Lisboa, no prólogo, num contra-relógio de 12 quilómetros, até Oeiras. Passou ontem por aqui, na segunda etapa, de Cascais a Ourém, e acabou hoje em Castelo Branco, na terceira, com partida da Lousã. Ambas com mais de 190 quilómetros.

A caravana parte hoje de Portugal para amanhã prosseguir com a quarta etapa, na Estremadura, com partida de Plasencia (província de Cáceres) e chegada ao Pico de las Villuercas, o pico mais alto da Serra de Guadalupe. Já uma etapa de alta montanha, onde certamente começarão construir-se as primeiras definições do que será esta Vuelta.

Van Aert sai de Portugal de vermelho, depois do terceiro lugar no contra-relógio, e do segundo em Ourém (que lhe valeram o primeiro lugar da geral, e da vitória de hoje em Castelo Branco, a primeira numa grande competição em dois anos, um longo e estranho jejum para o ciclista belga.

O norte-americano Brandon McNulty, colega de João Almeida (10º no prólogo onde, para os favoritos, apenas perdeu para Roglic, por dois segundos) na UAE Team Emirates venceu o contra-relógio. O australiano Kaden Groves (Alpecin-Deceuninck) ganhou em Ourém.

A Vuelta é, das três maiores Voltas do ciclismo mundial, sempre a mais aberta à competição. Este ano, sem qualquer dos três monstros do ciclismo actual - Pogacar, Vingegard e Evenepoel - sê-lo-á mais ainda. Candidatos há muitos, apostas há para todos os gostos, mas ninguém poderá apontar, neste momento, o principal favorito.

Seria um uma surpresa enorme que o vencedor em Madrid não saísse deste grupo de principais candidatos: Sepp Kuss, o americano da Visma, e vencedor no ano passado; João Almeida, o melhor do ano a seguir aos três monstros; Adam Yates, o britânico e seu colega da UAE; Roglic, o esloveno da Red Bull, à procura da sua quarta vitória na Vuelta (três vitórias consecutivas 2019, 2020 e 2021, os seus anos de ouro); o seu colega de equipa, o colombiano Daniel Martinez; Ben O’Connor, o australiano da AG2R; Richard Carapaz, o equatoriano colega de Rui Costa na Education First; Carlos Rodriguez, o espanhol da Ineos; Mikel Landa, também espanhol da Soudal Quick-Step; ou Lennert van Eetvelt, o jovem belga que é apontado como uma estrela em rápida ascensão.

Se nada de anormal acontecer ao longo destas três semanas a nenhum destes 10 ciclistas apostaria que este será o top ten. Claro que nem todos têm a mesma probabilidade de ganhar, uns têm bem mais que outros.

João Almeida estará certamente entre os que têm as maiores. Tem uma boa equipa, e a vantagem de nela não estar Ayuso. Adam Yates também tem aspirações, mas não só não tem o comportamento do jovem espanhol, como deve a João Almeida a vitória na Volta à Suíça. Mas não se sabe o que o brilhante Tour que fez lhe pesa nas pernas nesta altura.

Sep Kuss é entre os candidatos o que tem obrigação de estar mais fresco. Não esteve no Tour, e isso poderá contar. E conta também com uma boa equipa.

Roglic é uma incógnita. Praticamente não participou no Tour, que cedo abandonou por queda. Depois, também, da queda no País Basco. Se as primeiras montanhas lhe não saírem bem poderá ficar obrigado a trabalhar para Daniel Martinez, que agradecerá.

Carapaz terminou o Tour em grande estilo, e as montanhas desta Vuelta são ao seu jeito.

Mikel Landa e Carlos Rodriguez são espanhóis. E em Espanha isso conta.

Depois destes dias de festa do ciclismo, esta Vuelta seria mesmo a "fiesta" de Portugal se fosse a da primeira vitória do João Almeida. Que isto não lhe pese sobre os ombros. Nas pernas e na cabeça sabemos que não!

Tour 2024 de A a Z

Tour: Pogacar acredita que esta é a melhor era do ciclismo | Flashscore.pt

A - Almeida. Como A, de Agostinho. J. de João, como J, de Joaquim. Mais de 40 anos depois, numa realidade completamente diferente.  Com a idade actual de João Almeida, Agostinho ainda não tinha montado uma bicicleta de corrida. Ainda assim não lhe será fácil igualar os dois pódios do malogrado campeão no Tour. Se Agostinho encontrou o inatingível Merckx, Almeida vai ter de conviver com estratosférico Remco Evenepoel, e com os inalcançáveis Vingegaard e Pogačar, todos praticamente com a mesma idade, e ainda com quase uma década de carreira pela frente. Certo é que, com o seu quarto lugar na estreia no Tour, João Almeida escreve uma das mais brilhantes páginas da História do ciclismo nacional. 

B - Bardet. Romain Bardet chegou a ser a esperança francesa para quebrar o longo jejum que já vai em 39 anos, depois daquela que foi a quinta vitória de Bernard Hinault, em 1985. O melhor que conseguiu foi o segundo lugar em 2016, e o terceiro no ano seguinte. Despediu-se, aos 33 anos, mas deixou a sua marca neste seu último Tour: ganhou a primeira etapa, foi o primeiro camisola amarela, mesmo que por um único dia, e foi um fenómeno de carinho e popularidade durante toda a competição. Acabou na 30ª posição, a mais de 2 horas do primeiro.

C - Cavendish. Aos 39 anos - logo na quinta etapa, de Saint-Jean-de-Maurienne a Saint-Vulbas, e batendo então  Philipsen, o mais poderoso sprinter dos últimos dois anos - chegou à 35ª vitória em etapas no Tour, ultrapassando as 34 do record de Merckx, com quase meio século. Correu toda a prova sob a ameaça de chegar fora do tempo de controlo, e ser desqualificado. Chegou ao fim, ontem em Nice, no último lugar da classificação geral (141º, a quase 6,5 horas de Pogacar). Mas o último é o primeiro dos que não desistem!

Mas no "C" terá de caber também o equatoriano Carapaz, o super-combativo do Tour, vencedor da montanha e, mesmo que também por um só dia, um dos apenas três que vestiram a amarela. Mas também por ser o dorsal 111 do Tour 111!

D - David Gaudu. Aos 27 anos é outra das esperanças francesas que se foi gorando. Entrou em diversas fugas mas sempre sem resultados, acabando na 65ª posição, já a perto das 4 horas do primeiro.

E - Evenepoel. Aguardava-se com grande expectativa o primeiro Tour de Remco Evenepoel, e o embate com aquele duo estratosférico. E o belga, campeão mundial de contra-relógio, confirmou que integra o trio dos melhores ciclistas do planeta. É o mais novo deles, e foi com naturalidade que ganhou o Prémio da Juventude. A mesma com que fechou o pódio. Tentou disputar o segundo lugar mas, na hora da verdade, Vingegaard nunca lhe deixou grandes esperanças. Venceu o primeiro contra-relógio mas, no final, apenas pôde confirmar que foi mesmo o terceiro melhor. Ou o menos bom desta fabulosa tríade.

F - Formolo é o espelho da realidade actual do ciclismo italiano. Discreto. O corredor da Movistar passou pelo Tour sem que se tenha dado por ele, como os seus compatriotas. Nem Ciccone se aguentou no top ten. Longe vão os tempos das armadas italianas.

G - Girmay foi a sensação do Tour. Ganhou três etapas e a classificação por pontos, afinal a segunda mais importante. O eritreu surpreendeu o mundo do ciclismo ao tornar-se no primeiro africano negro a ganhar etapas, mas também um título no Tour. E a concorrência não era pouca. Phlipsen, que ganhou outras tantas, ganhara quatro no ano passado. E Pogacar ganhou seis. Girmay ganhou porque foi o mais regular, e só não esteve na discussão do sprint final quando foi atingido por uma queda, na 16ª etapa. Que até o poderia ter atirado para fora da competição.

H - Hindley Jai é nome grande do ciclismo e, depois do abandono de Roglic, passou a ser a figura principal da Bora, agora também Red Bull. Mas o australiano não brilhou. Ficou-se pelo 18º lugar, curiosamente entre Carapaz e Mas.

I - Ineos - resta apenas o nome. A equipa que dominou o Tour durante décadas desapareceu.

J - Jorgensen foi um dos grandes corredores deste Tour. O americano da Visma não terá sido o grande suporte de Vingegaard, mas foi-o na medida do necessário. No resto fez a sua corrida. E bem feita. No contra-relógio final consegui ainda quebrar a lógica da classificação, ao fazer quarto, o lugar que estaria reservado ao quarto - João Almeida. Fez melhor, por 10 segundos, mesmo apesar da queda que sofreu. E no fim garantiu o oitavo lugar!

K - Kwiatowski é outro dos grandes nomes do passado. Antigo campeão do mundo de estrada hoje, aos 34 anos, o polaco da Ineos é a imagem da equipa. Foi 54ª no final, a mais de três horas e meia.

L - Landa foi quem mais se aproximou do João Almeida. Bom trepador, o espanhol chegou a parecer poder ameaçar o quarto lugar. Pela qualidade que tem a subir, mas também porque nunca se viu forçado a desgastar-se em prole de Evenepoel, o seu chefe de fila. Quando na última etapa o teve que fazer, e ainda assim por pouco tempo, João Almeida tirou algum proveito. Pouco, apenas 11 segundos. Não se dava muito por ele para o contra-relógio, mas a verdade é que a grande parte em crono-escalada era-lhe favorável. Por isso acabou por fazer um excelente 7º lugar, apenas com mais 23 segundos que João Almeida.

M - Mas - Enric Mas - surgiu há uma década como a grande promessa do ciclismo espanhol. A esperança não seria tanto de um novo Indurain, mas não seria menos que um novo Contador. Nunca se confirmou, mas na verdade também nunca foi um corredor afortunado. Aos 29 anos já não transporta mais essa esperança, mas certamente que transportou sempre esse peso. Neste Tour começou a atrasar-se desde muito cedo, e só na última semana, investindo em praticamente todas as fugas na montanha, deu nas vistas. Ao contrário de Carapaz, quase sempre seu companheiro de aventura, não ganhou muito com isso. Lutou até à última gota de suor, como prometera. Foi 19º, a quase uma hora e um quarto.

N - Nils Pollit foi o verdadeiro gregário da UAE, e nessa medida fez uma corrida notável. O alemão foi um mouro de trabalho, a quem toda a equipa, mas especialmente Pogaçar, João Almeida e Adam Yates têm muito a agradecer. Foi 75º, a mais de 4 horas, mas não é isso que conta.

O - Oliveira. O português Nelson Oliveira fez a corrida possível, numa equipa - a Movistar - que também já não é o que foi. Fez um bom primeiro contra-relógio, a sua especialidade, entrou numa fuga, e pouco mais. O último já não era para ele, fez 65º, a mais de 6 minutos de Pogacar. No fim foi 51º, a mais de três horas.

P - Pogacar, claro. Não há adjectivos para qualificar o que fez nesta sua terceira vitória no Tour. Ganhou seis etapas, como fizera no Giro. Juntou o Tour ao Giro, como já não acontecia desde 1998, com o malogrado (já desapareceu há vinte anos) Marco Pantani. Ganhou a todos, em todo o lado, como e quando quis. Deu espectáculo, há quem diga que até de mais. Que não havia necessidade de tanto. Deu mais de 1 minuto no contra-relógio - que terminou a festejar e a brincar - aos dois galácticos adversários. 

Q - Quinn. Tem nome irlandês - Sean Quinn - mas é americano e é um jovem (24 anos) da Education First. De Carapaz e de Rui Costa. Que, para além de ter uma designação interessante para uma equipa de ciclismo do World Tour, foi também uma equipa que nunca se escondeu. Esteve sempre activa, sempre com corredores em fuga.

R - Rui Costa foi o terceiro português na prova. Aos 37 anos, já com os 38 à porta, o campeão nacional já não é a figura de primeiro plano do ciclismo mundial que praticamente foi durante uma década. Fez a sua corrida, entrou numa ou outra fuga, e somou mais um Tour ao seu vasto e notável currículo. Foi 68º, a 3 horas e 54 minutos.

S - Santiago Buitrago fechou o top ten. A pouco mais de 29 minutos de Pogacar, e o foi o melhor colombiano, e também o melhor da Bahrain. Trepador, como todos os compatriotas que vingam no ciclismo mundial é, aos 24 anos, mais um jovem desta fornada de grandes corredores de bicicleta. Foi, com o compatriota Tejada, uma das sensações do contra-relógio, separados por 3 segundos, no oitavo e nono lugares.

T -  Thomas - Geraint Thomas -  apesar dos seus 38 anos, terá sido uma das maiores desilusões do Tour, tal como a a sua equipa, a outrora super-poderosa Ineos. É um dos últimos vencedores, em 2018, (Bernal, da mesma equipa, vencedor no ano seguinte, é o último) da era pré Pogacar/Vingegaard e foi 42º, já a bem perto de 3 horas.

U - UAE, a grande equipa do ciclismo mundial actual. A melhor, a larga distância de todas as outras. Ganhou colectiva e individualmente, e dominou em absoluto a prova, com três corredores nos primeiros seis lugares da classificação final.

V - Vingegaard, claro. É, com Pogacar, de outro planeta. Nunca se saberá como teria sido este Tour sem aquilo que lhe aconteceu no País Basco, em Maio, quando fracturou clavícula e costelas, com uma a perfurar-lhe o pulmão. Sabe-se apenas que resistiu heroicamente a Pogacar. Mas só isso. Só pôde resistir. Ganhou-lhe uma vez, ao sprint, na meta. Na 11ª etapa, lá no alto de Le Lioran. Na altura deu para admitir que estaria à altura do rival, embora também tivesse parecido que Pogacar teria ficado enfraquecido por problemas de gestão alimentar. E de esforço. Depois ficou claro que este Pogacar era imbatível.

W -  Wout van Aert não conseguiu atingir, nem de longe, o desempenho que lhe é habitual. Poderia vir marcado por uma queda, no final de Março, na  Volta a Flandres, onde fracturou a clavícula, mas é certamente uma das principais decepções do Tour. Mais ainda pelo que fez na edição do ano passado, em que não foi só decisivo na vitória de Vingegaard, como teve ainda tempo de ganhar.

X - Não é uma letra, é mesmo uma cruz. O X que Roglic marcou no Tour. Também vítima da tal queda no País Basco, Roglic vinha à procura da vitória que lhe falta. Que há quatro anos parecia garantida quando, sem perceber como, Pogacar lha tirou. Abandonou no fim da 12ª etapa, envolvido numa queda já próxima da meta, depois de já ter sofrido outra na véspera. E provavelmente este X corta-lhe definitivamente o Tour do currículo.

Y - Yates, claro. Os manos gémeos, que correm em equipas diferentes. Simon, na pobre Jaiko. Adam, na rica UAE. São ambos excelentes corredores, e muito semelhantes. Mas em contextos diferentes. Simon foi 12º. Adam, sexto, a fechar o trio de emirates nos seis primeiros. Simon correu sem restrições e foi o primeiro da equipa. Adam trabalhou - e como trabalhou, também - para a equipa, e ainda foi sexto.

Z - Zimmermann. Não é conhecido, mas o alemão da equipa Intermarché teve um papel fundamental na fantástica vitória de Girmay. Mesmo que o eritreu deva mais ao seu "feeling" de roda certa que propriamente aos lançadores da sua equipa, Zimmermann esteve sempre lá nas primeiras ajudas. 

Tour 2024 - VII

João Almeida à porta do pódio da Volta a França - Modalidades - Correio da  Manhã

Terminou o Tour, que Pogacar dominou de princípio ao fim, como poucas vezes na História desta fantástica competição, a maior do ciclismo.

Ontem, na despedida dos Alpes, nos 133 quilómetros entre Nice (onde hoje a corrida voltaria, para terminar em contra-relógio) e Col de la Couillole, no fim aconteceu apenas o que sempre sucedeu nas outras etapas de alta montanha, nos Alpes ou nos Pirenéus. Com uma pequena diferença apenas.

E essa foi a tentativa da Soudal levar Remco Evenepoel ao segundo lugar de Vingegaard. O que estava em aberto já era apenas a discussão pelo segundo e pelo quarto lugar. 

Pela primeira vez se viu a Soudal na frente da corrida, a fazer o que a Emirates sempre fizera. Desta vez na perseguição a um grupo de 10 ciclistas na frente, onde Carapaz ia fazendo por garantir a camisola das bolinhas vermelhas, nas sucessivas subidas dos Alpes marítimos. Marítimos, mas Alpes. 

A 15 quilómetros da meta, no início da subida (a última) ao Col de la Couillole, o grupo da frente levava uma vantagem de quase 3 minutos, e começava a desfazer-se, com os ataques de Mas e Carapaz com a ilusão de poderem ganhar lá em cima. Na perseguição a Soudal já tinha de lançar mão do trabalho de Mikel Landa, o que era uma boa notícia para João Almeida, com vista ao seu quarto lugar da geral.

A 7 quilómetros do alto Evenepoel teve de rematar o trabalho da equipa, e de atacar. Se não o fizesse todo o trabalho da equipa teria sido em vão. Teve resposta imediata de Vingegaard, e acabou por ser João Almeida a ficar na cabeça da corrida, a acelerá-la para arrumar com Landa. E arrumou

Pouco mais de dois quilómetros à frente, já depois da passagem da meta dos 5 quilómetros finais, Evenepoel voltou a tentar Vingegaard. Respondeu de novo, mas desta vez também com resposta de Pogacar. Remco ficou nas covas - a estratégia da Soudal falhava em toda a linha - e os dois primeiros da geral foram embora, apanhando rapidamente Carapaz e Mas, para lhes tirarem o pão da boca. O espanhol ficou logo ali. O equatoriano ainda tentou acompanhá-los, mas só isso. Nas últimas dezenas de metros Pogacar atacou para ganhar pela quinta vez, e fazer o pleno de vitórias nos Alpes e nos Pirenéus. Vingegaard nem respondeu.

João Almeida foi sexto. Ganhou apenas 13 segundos a Landa, mas o suficiente para partir com confortáveis 40 segundos de vantagem para o contra-relógio final de hoje. De 34 quilómetos, do Mónaco a Nice, mais de metade dos quais em crono-escalada, onde os melhores voltaram a ser muito melhores. 

Pogacar, o melhor dos melhores, foi o único com o tempo na casa do minuto 45. Ganhou, pela sexta vez, repetindo o que acabara de fazer no Giro. Por mais de 1 minuto a Vingegaard, que ganhou 11 segundos a Evenepoel. Que ganhou mais de 1 minuto a João Almeida. Quinto -  o americano Jorgensen fez 10 segundos melhor - mas o suficiente para, na estreia, consolidar o brilhante quarto lugar final. 

Mais notável ainda que a classificação final, apenas atrás daqueles três que parecem de outra galáxia, é a regularidade do seu desempenho. Esteve sempre entre os primeiros seis ou sete nas grandes etapas, nas que tudo decidem. Esteve sempre em todos os momentos de decisão da prova. Não teve uma quebra em qualquer dos 23 dias da competição.

Quanto a Pogacar, o que se pode dizer é que ganhou o seu terceiro Tour como Merckx ganhava. Como há cinquenta anos ninguém ganhava!

 

 

 

 

Tour 2024 - VI

Tour de France: Pogacar vence a 19ª etapa; Carapaz lidera na montanha -  Bikemagazine

Ao segundo dia da segunda visita aos Alpes - se bem que, nesta semana, à excepção de terça-feira, a seguir ao dia de descanso, na 16ª etapa, quando Philipsen ganhou pela terceira vez, igualando Girmay, impedido de disputar o sprint por via de uma queda já próximo da meta, todos os dias foram corridos em montanha - mas na realidade o verdadeiro primeiro dia na alta montanha alpina, se é que já o não estava, o Tour ficou decidido. Em aberto estão a disputa do segundo lugar (entre Vingegaard e Evenepoel) e a do quarto (entre João Almeida e Mikel Landa).

Pogacar tinha dito que esta 19ª etapa - 145 quilómetros entre Embrum e Isola 2000, com duas subidas de categoria especial e uma de primeira categoria, na meta - é que era a etapa rainha deste Tour, e não aquela 15ª, nos Pirenéus, que vencera categoricamente.

Estão bem uma para a outra, ambas duríssimas. Esta de hoje tinha a particularidade de passar no ponto mais alto deste Tour, passando dos 2800 metros de altitude em La Bonette, na última das duas contagens de montanha de categoria especial, e penúltima da etapa. Para não deixar dúvidas, Pogacar ganhou-as ambas, e esta ainda de forma mais clara e espectacular.

Era dia de trepadores e foi um bom naipe deles a tomar a iniciativa da fuga do dia: Jorgenson e Kelderman (da Visma, de Vingegaard), Simon Yates (da Jayco), Hindley (Red Bull – BORA ), Cristián Rodriguez (Arkéa), e Carapaz (EF Education), bastante activo nesta fase final do Tour, que ganhara (pela primeira vez no Tour) a penúltima etapa (17ª), e que estava já em condições para discutir a classificação da montanha.

Andaram sempre na frente, e Carapaz, acabou mesmo por assegurar virtualmente a camisola das bolinhas vermelhas quando foi o primeiro em La Bonette, em que a pontuação duplicava. E juntos chegaram aos últimos 16 quilómetros da subida ao alto de Isola 2000, com uma vantagem de 4,5 minutos sobre o grupo que, lá atrás, a Emirates comandava. Controlando a distância para a frente, e endurecendo a corrida para deixar para trás muita gente.

O grupo da frente começou a desfazer-se logo nos primeiros metros da subida, e  apenas Jorgenson, Simon Yates e Carapaz, cada um por si, resistiam. Jorgenson foi quem teve mais pernas, e atacou para ganhar a etapa, lá em cima.

Na perseguição, a Emirates ia gastando os seus cartuchos. Depois do grande trabalho de Nils Politt e, depois, de Adam Yates, Marc Soler, depois de uma fugaz passagem pela frente, encostou. Era a vez de João Almeida. E foi. Faltavam oito quilómetros para a meta.

Só que Pogacar, que não consegue deixar de atacar, quis ganhar a etapa, e foi embora, sem esperar pelo trabalho do João. E sem resposta. Vingegaard e Evenepoel reagiram. Fizeram o que puderam, e não foi pouco, mesmo que o dinamarquês não tenha podido mais que seguir na roda do belga.

Pogacar ia comendo - engolindo - tempo aos da frente, e deixando-os um a um para trás. Em seis quilómetros despachou toda a gente. Na meta, levantou os braços e fez uma vénia!

Vingegaard, sexto na etapa, agradeceu e cumprimentou Evenepoel. E depois chorou. João Almeida chegou logo atrás deles, 18 segundos depois. Mas com Mikel Landa, de quem não se conseguiu livrar, na roda. Carlos Rodriguez chegaria 2 minutos depois de ambos, e deverá ter ficado afastado da luta pelo quarto lugar que João Almeida conserva nos 27 segundos de vantagem sobre Landa.

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