Um congresso do PSD é sempre espectáculo garantido. Os do PS também têm muita televisão, mas não são bem a mesma coisa. Já não têm o suspense nem o calor (não digo glamour porque isso seria um bocado exagerado) dos antigos, que elegiam os líderes. Agora, com os líderes a serem escolhidos em eleições prévias, nesta parte do programa de festas, os congressos trocaram o espectáculo por um simples acto notarial.
Ainda assim as televisões esforçam-se por garantir o espectáculo. O resto cabe às estrelas que desfilam pelo palco, e ao público.
Marques Mendes era claramente uma das estrelas do Congresso deste fim de semana. As presidenciais estão aí. E ele há muito que, para elas, aí está. Ou por aí anda.
Não entusiasmou a plateia, apesar de, do ponto de vista dos seus interesses, ter resultado.
Apesar de muito envolvido no papel de mestre de cerimónias, Hugo Soares não abdicou do papel de bronco, que tão bem lhe assenta. Bem secundado por Carlos Moedas, também ele cada vez mais bronco. Nem assim aqueceram o ambiente.
A quem estava de fora parecia que a Produção precisava de um golpe de asa. E eis que surge um velho animador de congressos, porventura o maior de sempre. Há muito que saiu do Partido, já fundou outro, já se candidatou contra em diversas ocasiões, e é até Presidente de uma Câmara Municipal conquistada ao próprio partido. Era a dimensão "perdoa-me" do espectáculo, mas nem assim. Nem Santana Lopes em piruetas sucessivas conseguiu animar a plateia.
Chegou então Luís Montenegro, para o encerramento. Anunciou mudanças numa disciplina chamada Educação para a cidadania, incendiou o Congresso e, quando tudo tinha falhado, levou finalmente a plateia à êxtase.
Que as mudanças numa disciplina que pretende formar melhores cidadãos - nas linhas orientadoras da disciplina, ditadas pela Direcção-Geral de Educação, “a educação para a cidadania visa contribuir para a formação de pessoas responsáveis, autónomas, solidárias, que conhecem e exercem os seus direitos e deveres em diálogo e no respeito pelos outros, com espírito democrático, pluralista, crítico e criativo” - tenha sido o momento alto do Congresso diz muito sobre o PSD que ali esteve reunido.
Um PSD hipnotizado pelo mercado do Chega, disposto a tudo, até a alinhar com os mais chalupas dos chalupas, para recuperar aquele espaço perdido.
A pandemia está, em Portugal, na Europa e no mundo, a atingir os seus números mais impressionantes, em níveis incomparavelmente superiores aos da primeira vaga. Esta dinâmica, e as circunstâncias do Natal e do fim de ano que aí estão, fazem prever números ainda mais devastadores para o início do ano.
É assim por toda a Europa, onde cada vez mais países se fecham em confinamento total, e por todo o mundo. É assim também por cá, onde acaba de ser renovado estado de emergência. Pela sétima vez, e agora para o período de 24 de Dezembro a 7 de Janeiro.
Sabemos que a carta-branca dada para o Natal se mantém no baralho. Que o governo só puxou do travão de mão para a passagem de ano.
Sabemos que Macron, o presidente francês, está infectado. E que estaria já infectado quando manteve encontros com outros líderes europeus, incluindo o nosso primeiro-ministro.
É este o cenário com que nos confrontamos. Só não percebe a gravidade quem não consegue perceber nada. Só não vê, quem não quer ver.
Entretanto a vacina está aí. A vacinação já se iniciou no Reino Unido, na semana passada. E, nesta que hoje acaba, nos Estados Unidos. A Agência Europeia do Medicamento prepara-se para autorizar, já na semana que se vai iniciar, a aplicação de uma das vacinas, a da Pfizer. Também em Portugal, e na Europa, a vacinação vai arrancar ainda neste ano, mais cedo do que as melhores previsões de há poucos dias.
Um estudo de opinião publicado esta semana nos jornais indicava que apenas 61% dos portugueses estão dispostos a tomar a vacina, uma percentagem que não abre as melhores expectativas para a criação da imunidade. Outras partes do mundo haverá onde a resistência à vacinação será bem superior, especialmente entre os mais vulneráveis à desinformação e às teorias negacionistas.
Quer isto dizer que, depois da extraordinária rapidez com que a Ciência nos garantiu a vacina, e depois do heroísmo dos milhares de homens e mulheres que se disponibilizaram a testá-la, há na humanidade gente que, recusando vacinar-se, põe em causa todo esse esforço.
Claro que nenhum Estado deve ter o poder de obrigar os seus cidadãos a vacinarem-se. Num Estado de Direito Democrático isso não tem cabimento. Mas compete a cada Estado, é sua obrigação, promover o sentido cívico da vacinação, e desenvolver nas populações a consciência que a vacinação é uma responsabilidade de cidadania.
A duas semanas do início da vacinação, e com 40% da população sem interesse em vacinar-se, era importante que estivesse em preparação uma sólida, e para isso bem segmentada, campanha de mobilização para esta responsabilidade cívica que nos obriga a todos nós. Talvez fosse a melhor prenda para este Natal…
A doença do Covid-19 foi oficialmente declarada “pandemia” pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a segunda deste século. Quer isto dizer que o vírus alastra pelo mundo fora, mesmo que em algumas partes dele esteja já sob controlo, o que reforça a necessidade de mobilização das sociedades e dos cidadãos para a batalha da sua contenção.
A declaração da OMS é acima de tudo um alerta para a gravidade de uma doença que se combate pelo ataque à sua transmissão. E esse é um combate de comportamento cívico, de pequenos gestos, de consciência do bem comum, de respeito pelo outro.
É para esse combate que urge mobilizar os portugueses, chamando as coisas pelos nomes e acabando com os paninhos quentes com que pretende evitar o alarme social. Quando as Universidades fecham para se encherem as esplanadas, e ao primeiro dia de sol as pessoas correm a encher as praias depois de esvaziarem os supermercados, percebe-se a maturidade cívica de uma sociedade.
E isso terá também a ver com a comunicação que tem sido utilizada. Que, de tanto fugir com medo do alarme social, validou a irresponsabilidade inata dos portugueses.
Chama-se José António Pinto - Chalana para os amigos -, é assistente social numa das freguesias mais pobres do Porto, e é notícia porque rejeitou a medalha que lhe ofereceram. Mas não se limitou a rejeitá-la, explicou, sem papas na língua, porque não a queria. E o que queria em vez dela...