Claro que foi "cada tiro cada melro", neste clássico do Dragão. Claro que, nas circunstâncias do jogo, em cada uma delas, os astros estiveram sempre todos alinhados para o Porto. Mas nada disso relativiza aquilo que foi a absoluta nulidade da exibição do Benfica, e a estrondosa goleada (0-5) com que saiu esta noite do Dragão.
Não sei se foi o "adeus" definitivo ao campeonato. Mas sei que, a jogar assim - nunca caiu tão baixo como hoje, mas há muito que a equipa não dá garantias - o bi-campeonato nunca passará de sonho. E, francamente, cada vez mais me convenço que, se um treinador, com os melhores jogadores não for capaz de construir a melhor equipa, alguma coisa está errada.
É que a derrota dói. E a goleada dói ainda mais. Mas a recorrente incapcidade do Benfica em se superiorizar aos principais rivais em algum dia haveria de acabar desta forma. Que tudo isto aconteça em cima do 120º aniversário do Glorioso apenas dá mais cor à dor.
Luz cheia - mais de 62 mil - como é já habitual. A transbordar. De festa, fervor e paixão!
Sem medos, nem tremideiras. Roger Schemidt deu o mote, como que a anunciar que isso é passado. "Neres e Di Maria são compatíveis" - tinha anunciado. Se são compatíveis, é para já. Sem medo!
A Luz gostou. Gostou dos dois desequilibradores nas duas alas, e gostou da mensagem de coragem que se lia na constituição da equipa. Com Neres e Di Maria no onze, Schemidt dizia que não tinha medo. E a mensagem parecia passar para o relvado, transportada pelos jogadores.
Mas esgotou-se rapidamente. Em poucos minutos. Foi "sol de pouca dura". Nem cinco minutos durou. Devia ser muito pesada, os jogadores não a conseguiram carregar mais tempo. E o Porto começou a parecer que queria mandar naquilo tudo. E como quando uns mandam os outros baixam as orelhas, os jogadores do Benfica começaram a baixá-las. Não deu bem para perceber se chegaram a ficar assustados, mas lá que deu para perceber que "baixaram as orelhas", deu.
Aproximava-se a primeira parte do meio quando o Fábio Cardoso, aspirante a Pepe, mas ainda sem a sua impunidade, foi (bem, indiscutivelmente!) expulso por, sem pernas para Neres, a caminho da baliza do Diogo Costa, o mandar abaixo, sem dó nem piedade.
Só por isso, por passarem a jogar contra 10, se não chegou a perceber se os jogadores do Benfica estavam mesmo a ficar assustados. Mas percebeu-se que não estavam inspirados. A equipa poderia não ter medo, o problema é que não tinha mais nada. Não tinha velocidade. Não tinha intensidade. Não tinha coragem. E parecia até não ter lá grande vontade. A expulsão galvanizou mais (ainda mais!) as bancadas que os jogadores. A inspiração, essa, sobrou apenas para Trubin.
E que bem-vinda que é!
Não é que o guarda-redes do Benfica - a quem impuseram a necessidade de ter de provar tudo - estivesse a ser sujeito a muito trabalho. Mas fez - e bem - o que teve para fazer. Com duas intervenções - uma arrojada e corajosa saída aos pés do Taremi; e uma grande defesa a desviar o remate de Pepê, já perto do intervalo, quando o Porto já deveria estar reduzido a nove jogadores - impediu que corresse mal o que realmente poderia ter corrido mal.
Do lado do Benfica apenas uma oportunidade e meia de golo. A meia de Di Maria, quando o chapéu ao guarda-redes do Porto saiu ligeiramente por cima, logo no primeiro minuto, quando os jogadores ainda carregavam a coragem que Roger Shemidt lhe tinha posto às costas; e aquele lance pouco depois da meia hora, quando Neres fugiu pela esquerda, e o Diogo Costa defendeu o remate prensado, na mancha, para se levantar e afastar, com uma vistosa palmada, a bola que, no ressalto, ia a pingar para dentro da baliza. E, logo a seguir, uma escapada de Rafa pela direita, depois de ganhar em velocidade a David Carmo, acabando travado em falta quando se isolava. Num lance muito idêntico ao que acabara na expulsão do Fábio Cardoso. Tanto que o Soares Dias, desta vez no VAR, não teve dúvidas em dizê-lo ao árbitro João Pinheiro, que apenas sancionara com livre e amarelo. Que confirmaria, contrariando a opinião do insuspeito Soares Dias, depois de consultar as imagens.
O Porto poderia, e deveria - pareceu-me - ficar reduzido a nove jogadores a um pouco mais de 10 minutos do intervalo. Aí, ao intervalo, só havia uma certeza - não era esperança, era mesmo certeza: a segunda parte tinha de ser completamente diferente!
E foi. Roger Schemidt não mexeu no onze, mas foi outra equipa que regressou dos balneários. Foi o Benfica, a jogar à Benfica, sem permitir ao Porto disfarçar que estava a jogar com menos um. Foi para cima deles e não os largou. Empurrou o Porto lá para trás, e sufocou.
As oportunidades de golo iam-se sucedendo. Claras, umas atrás das outras. O Porto não conseguia sair daqueles 20 metros à frente da baliza do Diogo Costa, que ia adiando o golo. Só nos primeiros 12 minutos da segunda parte, Musa falhou um golo feito, Kokçu atirou ao poste, Diogo Costa "roubou" o golo a Neres, isolado depois de passar pelo João Mário (o defesa portista) e de deixar o Zé Pedro (o central que entrou com a expulsão, substituindo o Romário Baró (a surpresa do Sérgio Conceição) sentado na relva, e o remate de Otamendi à malha lateral.
Em pouco mais de 10 minutos, três grandes oportunidades de golo. O golo tardaria ainda mais 10 minutos. Obra de Neres e Di Maria, os dois. Juntos. E compatíveis. Já com Cabral em campo, acabadinho de entrar para substituir Musa.
A Luz explodiu em festa. E o Benfica não levantou o pé. Logo a seguir o (excelente) remate de Otamendi, com o guarda-redes batido, saiu a rasar o poste.
O Porto, que na segunda parte fez um único remate, fraco e ao lado, tentou sair do sufoco e o Sérgio Conceição decidiu apostar nos últimos 10 minutos, lançando Ivan Jaime, o filho, Francisco e o Gonçalo Borges. Mas a circulação de bola do Benfica não lhes permitiu outra coisa que não fosse aumentar-lhes a frustração.
E sabe-se como aquela gente lida mal com a frustração ...
É uma vitória importante. É sempre importante ganhar. Mais ainda ganhar ao Porto. Mas é uma vitória que sabe a pouco. Um só golo, em seis ou sete oportunidades, é pouco!
O Benfica ganhou a Supertaça. Dizem que é o primeiro título da época, e metem-no na contabilidade de "alhos e bugalhos" ao lado dos campeonatos nacionais. Se é assim, que assim seja.
Mais importante que o título é, e continuará a ser a vitória sobre o Porto. Todas são importantes mas, estas, no arranque da época, são marcantes. Marcam muito do que aí há-de vir como, de resto, está demonstrado. Esta, neste início de época, depois de uma pré-época que não foi igual à última. E que na realidade, em particular pelos dois jogos perdidos, com o Burnley e com o Feyonoord, antagonistas com muitos pontos em comum com o que é o estilo do Porto, não augurava nada de bom para o confronto de hoje.
O onze escalado por Roger Schemidt para subir ao relvado do "elefante branco" de Aveiro, não ajudava muito a suplantar aquele estado de espírito meio depressivo que se apossara dos benfiquistas. Sem Gonçalo Ramos, o treinador do Benfica optou por entrar a jogar sem ponta de lança, e associou-se essa decisão ao "clássico" medo de defrontar o Porto. O medo que os portistas fazem gala de propagandear.
Depois do jogo, e depois daquela segunda parte em que o Benfica "engoliu" o Porto, a ideia de "medo" caiu por terra. Em boa verdade, já na primeira parte, houve razões para desfazer essa ideia. É certo que o Benfica abdicou então do seu futebol de circulação, de primeiro toque e velocidade. Mas os jogadores foram à luta, foram bravos e nunca revelaram medo. Não foram menos intensos, não fugiram aos duelos e nunca se esconderam do jogo. E só faz isso quem não tem medo!
A primeira foi um "clássico", dentro do clássico. O Porto entrou com tudo para meter medo, no seu registo habitual nestes jogos do clássico. Intensidade, pressão em todas as zonas do campo, e sobre o árbitro, às vezes um pouco de bom futebol e, sempre, a manha. E os truques batoteiros.
O árbitro, Luís Godinho, foi o costume destes jogos. Também um clássico. Cedo começou a distribuir amarelos sobre os jogadores do Benfica, por dá cá aquela palha. Três seguidinhos. Para o outro lado ... nada. Zaidu entrava como queria às pernas de Bah (foi assistido pela equipa médica, e quase que teve ser substituído) e de Di Maria. E nem falta era assinalada. Curiosamente, só quando o árbitro começou também a brindar os jogadores do Porto com o cartão amarelo, o comentador da RTP passou a achar que ele estava a usar de critério muito apertado, e que poderia vir a estragar o jogo. Um "clássico", também!
Mais escandaloso ainda seria aquele fora de jogo assinalado a Rafa quando já seguia isolado para a baliza de Diogo Costa. Mandam as regras que o árbitro deixe seguir a jogada, assinalando-o - bem ou mal - apenas quando ela for concluída. Se a conclusão resultar em golo, então a decisão caberá ao VAR. O árbitro assistente levantou logo a bandeira, e Luís Godinho apitou de imediato, matando ali a jogada. Rafa, viu-se pela repetição, estava em posição legal. Ou, já perto do intervalo, quando o Eustáquio domina a bola com a mão, mesmo de frente para o árbitro assistente do lado direito do ataque portista, e ... nada. Deu canto para o Porto.
O "clássico" nos seus clássicos. O que fugia ao "clássico" era a forma como o Benfica, mesmo fora do seu registo, ia revertendo o clássico. E, muito à custa da rotação e abnegação de João Neves, e da categoria extra de Di Maria, equilibrando um jogo que os portistas só verdadeiramente conseguiram desequilibrar nos primeiros quinze a vinte minutos.
Ao intervalo Roger Schmidt mudou tudo, mudando apenas dois jogadores amarelados. Tirou João Mário, amarelado e atropelado pelo jogo, para entrar Musa. E Ristic por Jurasék, mudando Aursenes para a ala esquerda. E o Benfica passou a apresentar o seu modelo de futebol, e tomou conta do jogo. Pressão alta, circulação de bola em poucos toques, dinâmica e velocidade. E o Porto afundou-se naquela torrente de futebol, com largos minutos sem sequer conseguir sair do seu meio campo.
Os golos, de Di Maria, primeiro, ao esgotar o primeiro quarto de hora, e de Musa, sete minutos depois, resultaram desse futebol. E foram colheita parca para tamanha superioridade, e para tantas oportunidades criadas.
Roger Schemidt foi mexendo na equipa, dando prioridade aos amarelados mais expostos - Kokçu e João Neves (por Florentino e Chiquinho) - mantendo-a no alto nível de qualidade atingido, que ia fazendo vibrar os adeptos nas bancadas, entoando os dispensáveis, mas compreensíveis, olés.
Os restantes "clássicos" do jogo continuavam lá. Mas impotentes para travar a avalanche benfiquista. Luís Godinho continuou com a sua dualidade de critérios - então já nada apertados - poupando o segundo amarelo a Pepe, a Zaidu, a Grujich, a Marcano... E fazendo-se de morto quando Pepe - outro "clássico" - descarregou a raiva pelo joelho nas costas de Jurasék, ao minuto 90. Foi acordado pelo VAR, e lá teve de lhe mostrar o vermelho que há tanto tempo tardava.
Logo a seguir, mais um "clássico". Gonçalo Borges domina a bola com a mão e deixa-a para Galeno rematar para dentro da baliza (seria um grande golo!). Os quatro árbitros em campo, estavam todos a dormir, exactamente como no idêntico movimento de Eustáquio. O VAR teve de os acordar, e o Sérgio Conceição não gostou. Estava a gostar de os ver a dormir, e tomou para si o sobressalto.
Foi expulso pela enésima vez. Mais um "clássico". Mas desta refinou a arruaça. Recusou sair. Que não saía dali de maneira nenhuma. Nunca visto! Como nunca visto acabar a obrigar Luís Godinho a ir falar com ele, ordem que enviou por Marcano. No fim, não falou. Nem deixou ninguém falar. O último "clássico"?
Não. Pepe e Sérgio Conceição fizeram questão de não sair do campo sem o fazerem a provocar os adeptos benfiquistas!
Casa cheia na Luz para o clássico, à 27ª jornada. E cheia de crença, com mais de 60 mil a vibrar nas bancadas, convencidos que o 38 estava já ali, ao virar da esquina.
O jogo da passada semana em Vila do Conde não deixara de mostrar que a forma da equipa não era a mesma de há semanas atrás, antes da paragem para as selecções. Sempre de má memória nesta época de exibições empolgantes. Mas, na Luz, a memória que contava era a das últimas exibições que lá se tinham visto. E essas justificavam todo aquele entusiasmo, que desde bem cedo se sentia ao redor do Estádio. É que, antes de o encherem, os benfiquistas encheram tudo ali à volta.
Frente a frente estavam um Benfica demolidor, e um Porto titubeante, separados por 10 pontos na classificação. Um Benfica convincente, afirmativo e exuberante, e um Porto que vinha de exibições fraquinhas e resultados apertados, frequentemente melhores que as prestações dentro de campo. Mas um Porto que à custa da crença e do querer, mas também de estratégia competitiva, consegue quase sempre atingir níveis de extras de competitividade nos clássicos, e em especial nos jogos com o Benfica.
E, no apito, o inevitável Artur Soares Dias. Invariavelmente habilidoso, cedo incendiou a Luz. Começou logo aos 2 minutos, quando António Silva, depois de ser assistido após um "chapadão" de Taremi, teve de sair do campo e de esperar "uma eternidade" pela autorização para reentrar, enquanto o Porto ia construindo sucessivas jogadas de ataque. Depois foi o amarelo a Florentino, logo a seguir, condicionando-o logo de início.
O Porto entrou pressionante. Ao contrário, o Benfica abdicou da pressão e da decisão de mandar no jogo, para se deixar ficar a ver. E marcou na primeira vez que chegou à baliza de Diogo Costa,logo aos 9 minutos. Mas nem o golo - de Gonçalo Ramos, que acabou até creditado como auto-golo, porque a bola acabou de seguir da barra para dentro da baliza depois de bater na nuca do guarda-redes portista - disfarçou as primeiras indicações que o jogo ia dando. Na Luz, o golo era de Gonçalo Ramos, e catapultava-o para liderança dos marcadores. E era a confirmação de todo aquele ambiente de festa. O resto não interessava para nada.
Mas interessava. A jogar daquela forma, falhando nas decisões e falhando passes ia entregando o jogo ao Porto. Ao jogar daquela forma, com a desinspiração generalizada, mas mais acentuada ainda em Rafa e Grimaldo, e com Gonçalo Ramos muitas vezes atrás da linha da defesa adversária, a impedir melhores decisões ao portador da bola, a equipa não tinha dinâmica, empastava o jogo e permitia que facilmente os jogadores do Porto cortassem as linhas de passe. Como se tudo isso não fosse suficientemente mau, os jogadores faltavam aos duelos, e deixavam o Porto ganhar as todas as segundas bolas.
E foi assim ... Foi assim que o Porto chegou ao empate no golo de Uribe, em cima do minuto 45. E que só não passou para a frente ainda antes do intervalo porque, nos últimos dos seis minutos de compensação da primeira parte, o golo foi anulado a Galeno por fora de jogo. De 6 centímetros.
Não podia ser assim a segunda parte. Mas foi. E quando o Porto fez o que o Benfica havia feito na primeira parte, marcando no mesmo minuto 9 - numa jogada em que toda a defesa falhou, incluindo Odysseas que, apesar do remate de Taremi ter saído muito chegado ao seu poste direito, pareceu que poderia ter feito melhor - percebeu-se que o Benfica de hoje não dava para ganhar ao Porto.
Poderia não haver muito a fazer para alterar esse cenário. Quem ainda não tinha percebido percebeu que o plantel não tem profundidade para alterações desse tipo. Mas na verdade Roger Schemidt também não fez nada para o alterar, e afundou-se com a equipa.
Logo a seguir ao golo, trocou Florentino por Neres. Que começou por trazer alguma coisa ao jogo, mas pouco. Depressa foi engolido pela espiral de desacerto de toda a equipa. E só voltou a mexer muito tarde, aos 87 minutos, para trocar Rafa por Musa, para uns minutos finais de, finalmente, alguma agressividade. Que não deram para nada, a não ser para deixar a ideia que, se pelo menos essa intensidade final tivesse chegado bem mais cedo, o jogo poderia ser bem diferente.
Quando as coisas não correm bem há que querer. Que lutar. Hoje, sem a qualidade e os automatismos de há poucas semanas, o Benfica - jogadores e treinador - conformou-se e abdicou de outras as armas para lutar pelo resultado.
Não é fácil que esta derrota - e esta paupérrima exibição, ao nível, se não mesmo pior, da de Braga - não deixem marcas. Para já, para o jogo com o Inter. Se este eclipse não se der por "extinto" na próxima terça-feira, para que a equipa retome os padrões da época, tudo se pode complicar.
É que a margem de 7 pontos esgota-se numa derrota e dois empates. Bastam dois ou três jogos a este nível para se repetir a história que já conhecemos por duas vezes nos últimos anos.
O clássico de hoje. uma quinta-feira, às seis e meia da tarde - sem público e no actual contexto, todos os dias e todos os horários servem, desde que sirvam à televisão - arrancou com o Benfica já irremediavelmente afastado da luta pelo título pela soberana Matemática, a três jornadas do fim.
Começou bem antes, como quase sempre, por cá. Ainda o Sporting não tinha jogado em Vila do Conde, e ainda a Matemática não era definitiva.
Sérgio Conceição, o treinador do Porto, estava castigado - suspenso por 21 dias. Mas cedo se percebeu que isso era coisa de fazer de conta, e que estaria hoje no banco, na Luz. Ontem, claro, chegou a confirmação oficial, e hoje lá esteve. No banco, na flash e na sala de imprensa, é que não. Para compor o ramalhete, o árbitro escolhido foi Artur Soares Dias, o tal.
Um clássico!
Depois veio o jogo. E Soares Dias não quis deixar de justificar por que é sempre o escolhido para estes jogos. Manhoso e cínico, como sempre. E como ninguém. A ponto de até ter marcado dois penaltis a favor do Benfica, como que a dizer: "vejam bem que até marquei dois, quando ninguém assinala penaltis para o Benfica".
O jogo arrancou nos moldes habituais destes jogos. Sérgio Oliveira e Octávio distribuíam fruta a torto e a direito. O primeiro cedo foi amarelado, e … remédio santo. A partir daí ganhou carta branca - para lhe não voltar a mostrar o amarelo, o árbitro deixou de lhe assinalar faltas. O Octávio, não. Como nunca viu amarelo pôde ir acumulando faltas, umas atrás das outras. Quando começaram a ser de mais, Soares Dias começou também a deixar de as assinalar.
Mas havia umas que assinalava sempre, não falhava uma. Sempre que, depois da falta, a bola sobrava para jogadores do Benfica, com possibilidade de saírem rapidamente para o ataque, lá saía o apito. Fosse a meio campo, fosse à saída da área portista. Chama-se a isso beneficiar o infractor, mas que importa? O que lhe importa é levar o barco a bom porto!
O Pepe, o Sérgio Oliveira, o Octávio lá continuaram, sempre na impunidade. Aos 80 minutos, com aquela entrada do Pepe sobre o Seferovic, e ao anular a marcação rápida do livre, que até acabou em golo, a coisa passou todas as marcas. E então não foi de meias medidas - de rajada, amarelou tudo o que mexia no Benfica. E até saiu vermelho para o Rui Costa.
E é esta a estória do jogo. Um clássico, também.
O resto é um jogo com pouca história, pouco bem jogado na sua maior parte. Um jogo levado para os despiques individuais, como é característico nestes jogos, onde os jogadores do Porto se sentem como peixe na água, e ganham normalmente a maior parte dos duelos, das bolas divididas e das segundas bolas. Enfadonho, que só se soltou, e ganhou verdadeira emoção nos últimos dez minutos, depois do Porto ter chegado ao empate. Até porque, naquelas circunstâncias, o futebol do Benfica dependia muito da explosão de Rafa que, depois de tanta pancada, teve de abandonar por KO de Pepe, naquela entrada à Pepe. Um clássico.
O Benfica tinha-se adiantado no marcador, pelo Everton, a meio da primeira parte, mesmo sem ter conseguido contrariar aquele jogo do Porto, e sem se ter conseguido superiorizar. Já no fim da primeira parte surgiu o primeiro penalti, sobre o Rafa. Que não foi, dizem as tais linhas que o Rafa estava em fora de jogo, no início da jogada. Como não foi o segundo, sobre o Diogo Gonçalves, a meio da segunda parte.
Nos últimos minutos o Porto quis partir o jogo, e o Benfica, mesmo já sem Rafa, teve então oportunidade de se superiorizar e ganhar o jogo. A festa do golo chegou já no tempo de compensação, numa bela jogada de ataque excepcionalmente concluída por Pizzi, pouco depois de uma bola na barra, rematada pelo Taarabt. Mais uma vez as tais linhas descobriram que, no inico da jogada, o Darwin estava por não sei quantos centímetros em fora de jogo, e anularam a festa, e o golo.
E lá fica mais um empate, num jogo que, porque teve mais e as melhores oportunidades de golo, o Benfica merecia ter ganhado. Mas em que, mais uma vez, ficou muito aquém do exigível. Também um clássico desta desastrada época, talhada exclusivamente à medida da reeleição de Vieira. Que não é para esquecer. É para nunca mais esquecer!
Este foi um clássico diferente dos anteriores, e especialmente muito diferente do último, há menos de um mês. O Benfica está a melhorar, está a melhorar a sua qualidade de jogo, como se vinha tenuemente percebendo nos últimos dois jogos, melhorou a sua consistência e melhorou muito a atitude.
O Benfica hoje surgiu no Dragão sem medo, com vontade de lutar pelo jogo, com a agressividade que ainda se não tinha visto e, a espaços, com bom futebol. Igualando o Porto na competitividade e e na capacidade de disputar a bola e os espaços. E quando assim acontece, porque globalmente, em grande parte das posições tem melhores jogadores, é melhor que o Porto. E em grande parte do jogo foi muito melhor.
O Porto entrouà Porto, mas rapidamente o Benfica mostrou que é melhor. Logo aos 8 minutos, na primeira vez que contrariou a entrada à Porto do adversário, e chegou à baliza adversária, criou a primeira e clara oportunidade de golo, desperdiçada por Seferovic.
Perceberam-se então as surpresas de Jorge Jesus na constituição da equipa. A entrada de Nuno Tavares, para o lado esquerdo em simultâneo com Grimaldo, e a própria inclusão de Seferovic. Ambos tinham sido titulares, e jogado praticamente o tempo todo, no jogo da Taça, com o Estrela. E, diziam os entendidos, quem tinha feito esse jogo, não seria hoje titular.
Percebeu-se que o poder físico de Nuno Tavares era importante para enfrentar Marega. Que a capacidade técnica de Grimaldo era importante para jogar em zonas mais interiores, como se viu no golo. E que a profundidade que Seferovic pode dar ao jogo era também importante para esta partida.
Desta vez Jesus não inventou. Acertou.
A partir desse minuto 8 a superioridade do Benfica foi sempre clara, e poderia ter-lhe permitido chegar ao intervalo claramente na frente do marcador. Para além do golo de Grimaldo, muito bem construído, e logo aos 17 minutos, o Benfica dispôs ainda de mais três claras ocasiões de golo. Uma delas numa jogada extraordinária, com a bola a sair de Vlachodimos, a passar por vários jogadores e pelo campo todo, sem que os jogadores do Porto a cheirassem, e a acabar, rematada pelo Darwin, no poste da baliza de Marchesin, já depois do golo do empate do Porto.
Que tardou apenas 8 minutos relativamente ao golo do Benfica. Um daqueles golos que não se podem sofrer, numa das raras oportunidades do Porto, num erro colectivo, de total desconcentração - resultou de um lançamento da linha lateral - mas também individual. De Gilberto que, primeiro, é passarinho dentro da área face a Corona e, depois, fica deitado no chão, colocando Marega em jogo, o que lhe permitiu desviar para o poste, e daí para a baliza, o remate de Taremi que ia para fora.
Nem se percebe como é que o golo foi atribuído ao iraniano.
O Porto atrasou o regresso para a segunda parte, deixando a equipa do Benfica à espera no relvado. E percebeu-se que, face ao que se tinha passado na primeira parte, trazia ideias de empurrar o jogo para a quezília, variante em que se sente como peixe na água. O primeiro quarto de hora foi passado assim, no meio do lamaçal da quezília. E da fita, tão cara aos seus jogadores.
Começou a poder-se jogar futebol, e mesmo assim a espaços, aos 60 minutos. E o Benfica jogou-o sempre que pôde, sempre melhor. O jogo pedia então Waldshmidt, mas Jorge Jesus achou melhor fazer entrar Chiquinho, deixando o avançado alemão apenas para os últimos minutos. Talvez o seu maior erro neste jogo.
Pouco mais de dez minutos depois, o árbitro Luís Godinho, que assinalava faltas e faltinhas aos jgadores do Benfica, mas sempre mais condescendente com os do Porto, não viu (o que toda gente viu) que Taremi teve uma entrada sobre Otamendi para vermelho directo. Era tão evidente que não podia passar despercebida ao VAR, e o jogador do Porto lá foi para a rua. E o domínio do Benfica acentuou-se ainda mais, com Sérgio Conceição a reforçar a defesa e, acantonado lá atrás, a refinar o seu futebol de pontapé para a frente e a estratégia de queimar tempo.
O árbitro deu 8 minutos de compensação, que não compensou nem com um segundo, nem com as substituições que o treinador do Porto efectuou nesse período. E assim acabou num empate um jogo que o Benfica poderia ter ganho por larga margem.
O mesmo resultado que o Sporting alcançou com o Rio Ave, em Alvalade. Pelo que, para os três primeiros, ficou tudo na mesma. Mesmo que a exibição personalizada e competitiva do Benfica deixe entender que nada está na mesma.
A expectativa dos benfiquistas em alargar a extraordinária série de vitórias no campeonato, e a ainda mais extraordinária sequência de vitórias fora de casa, e consequentemente a vantagem pontual na tabela classificativa, que praticamente garantiria o título, esbatia-se na degradação do nível exibicional da equipa que se vinha constatando desde o início deste ano, depois da paragem de Dezembro. Mas esbatia-se, acima de tudo, na sequência de golos sofridos nos úlltimos jogos. E esfumou-se na constituição da equipa, sem Cervi, hoje por hoje indispensável no equilíbrio defensivo da ala esquerda.
Por isso o Benfica nunca esteve perto de responder afirmativamente a essa expectativa. Mas poderia não ter perdido este clássico, e pelo menos ter saído hoje do Dragão com a mesma confortável vantagem dos sete pontos com que entrara.
Mas não aconteceu assim e o Benfica perdeu o jogo. Perdeu porque está longe do seu melhor. Porque quase todos os jogadores estão muito abaixo da forma técnica que evidenciavam há mês e meio. Porque, mantendo-se os problemas de organização defensiva, em particular no lado esquerdo, Bruno Lage prescindira de Cervi, que é uma espécie de paracetamol para esse problema. E porque não conseguiu igualar a agressividade competitiva do adversário, perdendo praticamente todas as bolas divididas, quase todos os ressaltos e quase sempre as segundas bolas.
Mas o jogo não se pode resumir nestas justificações. Tudo isso se passou e influenciou o resultado final, mas o jogo teve mais que contar.
Até pareceu que o Benfica entrou bem no jogo, trocando a bola e fazendo-a circular com rigor e competência. Só que isso durou três ou quatro minutos, e depois a equipa permitiu que o Porto agarrasse o jogo, e chegasse ao golo logo aos 10 minutos. Um golo feliz, já que o remate de Sérgio Oliveira saiu nas orelhas da bola e tornou-se indefensável para Vlachodimos.
O Benfica reagiu bem ao golo, voltou para cima do jogo e oito minutos depois chegou ao empate, por Vinícius, depois de uma excelente jogada de futebol, que teve pelo meio um grande remate de cabeça de Chiquinho e uma grande defesa de Marchesin. Antes, o mesmo Chiquinho já tinha desperdiçado outra oportunidade, que fizera lembrar as circunstâncias do golo do Porto. A diferença foi que a bola espirrou em Pepe, e desviou para as mãos do guarda-redes.
Chegado tão rapidamente ao empate, o Benfica voltou a entregar o jogo ao Porto. Que voltou a ser feliz, fazendo dois golos em cinco minutos, mesmo no final da primeira parte. Primeiro, o segundo, num penalti de "bola na mão" de Ferro, quando o penalti é para penalizar a "mão na bola". E logo a seguir, o terceiro, num auto-golo de Rúben Dias, em que a bola até nem iria para a baliza se não fosse a infeliz intervenção de Vlachodimos.
Sim, faltou sorte ao Benfica nos três golos sofridos. Mesmo que se possa admitir que o Porto tenha feito por merecer a que lhe calhou.
O Benfica voltou a entrar bem na segunda parte, e a mandar no jogo. Cinco minutos bastaram para Vinícius marcar o segundo, e relançar a discussão do resultado, com mais de 40 minutos para jogar. Mas, mesmo que sempre melhor que na maioria da segunda parte, a equipa não conseguiu prolongar a qualidade desses cinco minutos iniciais.
Provavelmente porque Bruno Lage não terá tomado as melhores decisões nas substituições que foi obrigado a efectuar. E aqui terá que se falar de Soares Dias - um clássico dentro do clássico - o mais habilidoso dos árbitros habilidosos. Tão habilidoso que deixa sempre a ideia que arbitra bem quando, no fundo, influencia o jogo como quer. Hoje, para além do penalti - que não é pouco - foi com faltas e amarelos: um incrível amarelo a Taarabt (que, pela mão de Marega, sem falta nem amarelo, já tinha deixado uns dentes no relvado), a meio da primeira parte, repartido com Octávio, numa daquelas confusões em que o portista é especialista; outro logo a seguir a Weigl, com livre perigoso, numa circunstância em que nem sequer tocou no adversário (Corona mandou-se para o chão), outro para o Ferro, na "bola na mão" do penalti, e ainda outro a Vlachodimos sem que ninguém pecebesse por quê.
A partir daí, para além do condicionamento desses jogadores, centrais na cobertura defensiva, a pressão dos jogadores portistas e do público sobre qualquer falta, ou esboço disso, daqueles jogadores do Benfica foi em crescendo. Quando, por exemplo, Soares, já com amarelo, "mata" um slalom do Rafa, a sair para o ataque, com uma entrada às pernas do 27 sem dó nem piedade. E sem amarelo, o segundo.
Por isso as primeiras duas substituições de Bruno teriam obrigatoriamente que passar pelas saídas precisamente do marroquino e do alemão. Se a de Weigl, por Samaris, não mexeu na estrutura, a de Taarabt, por Seferovic, obrigou Chiquinho a baixar e desiquilibrou claramente a equipa.
Por último, com a lesão de André Almeida, num lace duvidoso dentro da área portista com Alex Telles, Bruno Lage decidiu trocá-lo pelo estreante Diego Souza, deixando a equipa com três pontas de lança ... e totalmente perdida em campo para o ataque final ao empate.
Assim, não!
E agora a liderança está presa por quatro pontos. Apenas dois empates. De que ninguém está livre nos catorze jogos que agora faltam. E o próximo é já com o Braga, de Rúben Amorim, com um futebol que parece geminado com o do Benfica. O do melhor. Escassos dias depois do de Famalicão, onde a equipa vai ter que dar tudo se quiser chegar à final do Jamor. Não é a mesma coisa que receber em casa o Académico de Viseu, até porque os famalicenses pouparam hoje todos os seus titulares, não se importando nada de ser goleados (7-0) em casa pelo Vitória de Guimarães.
Como se esperava - esta equipa é como o algodão, não engana - o Benfica foi ao Dragão confirmar que está, e que é, melhor que o Porto.
Num grande jogo, intenso, muito disputado e na maior parte do tempo muito bem jogado, o Benfica foi enorme. A grande a expectativa para este jogo era a de saber como o Porto iria entrar. Se, aproveitando o ambiente do Dragão, iria entrar pressionante, a roubar todos os espaços ao Benfica e a disputar todas as bolas, e isso quereria dizer que acreditava que era melhor e que não temia o adversário. Não entrou assim, tentou apenas dividir o jogo, parecendo entender que isso seria correr riscos. E com isso mostrou receio do Benfica!
O Benfica entrou como tem entrado em todos os jogos, instalando logo no relvado do Dragão o seu futebol. E com isso apropriou-se do melhor futebol que o jogo tinha para dar, e foi sempre superior.
Nem o golo do Porto, logo aos 18 minutos e irregular - o Pepe, em fora de jogo, baixou-se para a bola seguir para dentro da baliza - , alterou os dados em que o jogo estava lançado. O Benfica já era superior, Casillas já tinha negado dois golos, e o árbitro Jorge de Sousa já tinha perdoado um penalti ao Porto, por falta clara sobre Pizzi, na área.
O empate, por João Félix, surgiu com toda a naturalidade apenas oito minutos depois do golo mentiroso do Porto. E os vinte minutos que tardaram até ao intervalo continuaram a ser de clara superioridade técnica e táctica da equipa de Bruno Lage. Do Porto pouco mais se viu que pequenos detalhes, entre os quais o de Pepe fazer de Felipe um santinho...
A segunda parte não abriu em moldes muito diferentes, mesmo que o Porto começasse a mostrar que pretendia equilibrar a contenda. Aconteceu que a primeira oportunidade da segunda parte pertenceu ao Benfica, numa jogada de grande qualidade concluída por Rafa, já a imagem de marca desta equipa. Estavam jogados apenas sete minutos neste período complementar.
O Porto reagiu à desvantagem, é certo, mas sem nunca assegurar o domínio do jogo. Só verdadeiramente incomodou, e criou uma ou duas oportunidades, nos últimos 15 dos 94 minutos do jogo, quando Jorge de Sousa expulsou o melhor jogador em campo. Gabriel nunca tinha jogado com o Porto, e provavelmente não sabia que neste jogos a mínima distracção é a morte do artista. Reagiu à provocação do Octávio - quem havia de ser? - e foi para a rua. Coisa que não aconteceu, nme nunca aconteceria, a Alex Telles, a Pepe ou a Brahimi...
Bruno Lage ("agradeço aos jogadores que estão a fazer de mim treinador" - é a frase que vai marcar este campeonato) tratou bem do assunto: trocou Pizzi por Gedson, Rafa por Corchia, para dispôr de André Almeida no meio, e João Félix por Cervi para ajudar a fechar nas alas Em inferiorodade numérica nos de 15 minutos, o Benfica mostrou que, com 10 ou com 11, é sempre uma verdadeira equipa.
Em nove jogos, o Benfica de Bruno Lage e dos seus miúdos, ganhou 9 pontos ao súper Porto do súper Sérgio Conceição. De 7 de atraso, a 2 de vantagem. À média de 1 ponto por jogo. Notável e fora de todas as cogitações há dois meses atrás!
Foi um grande jgo de futebol, este clássico em versão meias finais da Taça da Liga. E, se não foi uma grande exibição do Benfica, também não andou lá muito longe.
Não lhe valeu de muito, porque não evitou a derrota, a primeira de Bruno Lage. Injusta, e tão mais injusta por ter sido ditada pela inaceitável anulação do segundo golo do Benfica, por um fora de jogo inexistente que o árbitro assistente assinalou sem qualquer motivo, e que o VAR não quis contrariar. Vá lá saber-se por quê.
Estava então a primeira parte no fim, e o jogo teria ido para intervalo empatado a dois golos. Que seria o resultado justo para uma primeira parte jogada a alto nível, com uma intensidade rara no futebol que se joga em Portugal, se outras anormalidades não tivessem acontecido.
Não foi assim, e a segunda parte iniciou-se mesmo com o Porto a ganhar. Nada que levasse os jogadores do Benfica a desistir de ganhar o jogo. Logo no arranque Seferovic, isolado e com o guarda-redes do Porto batido, podia ter refeito o empate, mas a bola acabou por sair a milímetros do poste direito. Pouco depois seria João Félix a fazer o mesmo, ainda dentro dos primeiros cinco minutos da segunda parte.
Não foi por falta de oportunidades de golo que o Benfica não ganhou o jogo. Na segunda parte esteve sempre por cima do Porto, que passou largos períodos em cima da sua área, onde aglomerou todos os seus jogadores. Depois, nos minutos finais, quando o Bruno Lage apostou tudo, porque não tinha outra coisa a fazer, uma perda de bola resultou num lançamento, ainda no meio campo do Porto, que permitiria ao recem entrado Fernando correr sozinho até à baliza de Svilar e fechar o resultado num mentiroso 1-3.
Mentiroso pelo jogo jogado e mentiroso porque a arbitragem lhe roubou a verdade. Carlos Xistra é já um clássico. E o VAR, que se estreou nesta competição com muito ar da sua graça fez o resto: tentou levar Carlos Xistra a anular o primeiro o golo do Benfica, vendo o que se não via, e não o contrariou na anulação do segundo, sem ter visto qualquer razão para o fora de jogo (porque ningué vê), nem conseguiu ver as faltas (no primeiro, falta clara de Oliver sobre Gabriel e, no segundo, de Marega sobre Grimaldo) que precederam os dois golos do Porto.
Foi pena que alguns benfiquistas tenham abandonado a Pedreira antes do fim do jogo, porque os jogadores mereciam os aplausos de todos, e não apenas dos que ficaram. Porque este jogo não deixou razão nenhuma para abalar o trajecto que está a ser feito. Este resultado, e as suas circunstâncias, não podem pôr nada em causa!
Com esta alma e com este coração, reconquista é muito mais que um mero slogan motivacional. É um estado de alma, uma crença inquebrável. É a chama imensa que nos guia!
Comecei pelo fim, por onde podia terminar, mas é isto, este sentimento, o que mais se tira deste clássico, com a Catedral esgotada, ao rubro.
Pela intensidade, pelas incidências, e até, aqui e ali pelo bom futebol, este foi um jogo que não defraudou as expectativas de um grande clássico. No entanto começou morno, e mais morno ainda pela parte do Benfica. Que nos primeiros dez minutos não se conseguiu superiorizar ao Porto, permitindo-lhe adquirir alguma confiança. Depois sim, aos poucos o Benfica foi-se superiorizando, mas sem daí tirar grandes dividendos.
Foi assim a primeira parte, com um bocadinho mais de Benfica. Mas a nota mais saliente deste período foi a epidemia de impunidade que tomou conta da equipa do Porto. Depois dos clássicos Felipe e Maxi Pereira, chegou a vez de Octávio. Fez tudo, sempre com impunidade absoluta. De tal forma que, quando no início da segunda parte viu finalmente o cartão amarelo, o Sérgio Conceição teve de o tirar do jogo.
O árbitro - desta vez, finalmente, não veio do Porto, mas o penichense Fábio Veríssimo não fez diferente - foi lesto a mostrar o amarelo a Grimaldo, na primeira oportunidade fez o mesmo a Lema, mas nunca usou do mesmo critério com os jogadores do Porto. Limitou-se a Casillas, que desde muito cedo mostrou que, para além de defender a sua baliza, como lhe competia, estava ali para queimar todo o tempo que o árbitro lhe permitisse. Teve, por isso, muita influência no jogo, mais ainda quando expulsou o central Lema (grande estreia, a mostrar que é bem melhor que o seu compatriota que tem sido a opção de Rui Vitória, e que nem falta cometeu) e quando, pouco depois, nem sequer assinalou falta numa entrada do Herrera, de sola, sobre o Rafa. Só porque - e não ser outra a conclusão - se o fizesse, teria de lhe mostrar o amarelo, que seria o segundo. Nunca usou de critério igual, fosse na punição técnica das faltas fosse na desciplinar. Nos últimos minutos do jogo sucederam-se as faltas atacantes na grande área do Benfica, sem que uma sequer fosse assinalada.
Nenhuma novidade, portanto, quando, no fim, Sérgio Conceição elogiou o trabalho do árbitro. Nenhuma novidade também na omissão do VAR. Tão comum como a expulsão de centrais do Benfica - três, em três jogos consecutivos - é os lances que prejudicam o Benfica estarem fora do protocolo do VAR. Aí está: o Lema foi expulso, mas ... por amarelo.
Arbitragem à parte, na segunda parte o jogo tornou-se mais vivo, mais intenso e bem melhor. Muito por acção do Benfica, que melhorou bastante e partiu à procura do golo e que, mesmo sem ter conseguido muitas oportunidades para isso, fez o suficiente para lá chegar. Por Seferovic, que desta vez não falhou. Aos 62 minutos o Estádio da Luz veio abaixo!
Ao contrário do que se poderia esperar, o Benfica não tirou o pé de cima do jogo. O segredo foi continuar a disputar cada lance como têm de ser discutidos, nunca ficando nada a dever àquilo que, nesse aspecto, são dados como atributos do Porto. Com o mesmo querer, e com o mesmo crer, os jogadores do Benfica foram, depois, sempre melhores.
Quando, com menos um, nos últimos 12 minutos, foi preciso, o Benfica uniu-se à volta de Rúben Dias, um grande campeão, e o grande capitão. A partir de hoje a braçadeira tem dono, entreguem-na quando quiserem. É ele o sucessor de Luisão!
E pronto, o Rui Vitória matou o borrego. Já não tem razão para acreditar em bruxas, e tem agora tudo para partir de peito feito para a reconquista!
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