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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

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Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

COISAS QUE NÃO BATEM CERTO

Por Eduardo Louro

 

Os ricos querem pagar impostos para ajudar os seus países nesta crise que não tem fim. Os ricos querem pagar a crise, respondendo a um célebre repto dos tempos do PREC em Portugal. O movimento começou na Alemanha, há perto de dois anos, como aqui então dei nota. Passou para os Estados Unidos e por Warren Buffett e para a França, já com uma longa lista de personalidades – algumas, mas apenas algumas, mesmo muito ricas – a assumirem o dever patriótico de pagar impostos.

Há aqui qualquer coisa que não bate certo!

O normal seria que os ricos, tal como todos nós, protestassem contra os impostos que têm de pagar. E normal ainda seria que o Estado lhes cobrasse os impostos que a sua condição ditaria!

Nada disto é normal, e sugere que afinal o Estado, como todos nós já desconfiávamos, não tem tido a preocupação de ir procurar dinheiro onde ele está. Tem preferido ir tirá-lo a quem o não tem, ou a quem tem pouco. O que, como é bom de ver, não bate certo!

Mesmo sem que nada disto bata certo a moda também chegou a Portugal. Onde logo o primeiro da lista dos mais ricos se apressou a dizer que não. Que não é rico, mas um simples trabalhador! Faltou-lhe dizer que, na sua qualidade de trabalhador, já paga impostos de mais. Como todos nós! E aí começaríamos a descortinar alguma normalidade no país sobre a matéria…

Mas não tardou que começassem a surgir mais sinais da normalidade portuguesa. Começou logo pelo governo anunciar que iria estudar o assunto, como vem sendo normal. Uma certeza: o que aí vier surgirá em sede de IRS. Com muito cuidado, para evitar que os ricos – que são já tão poucos em Portugal – fujam todos!

E logo surgiu um exército de fazedores de opinião a explicar que não vale a pena ir por aí: são tão poucos os ricos em Portugal que, tribute-se o que se tributar, a receita nunca passará de peanuts. Nem vale a pena incomodar essa gente, deixem-nos em paz – era esta, ao fim e ao cabo, a mensagem que teria de passar!

E logo houve quem surgisse a simplificar as coisas: tributem-se os rendimentos sujeitos a IRS a partir de 100 mil euros anuais – Miguel Beleza dixit! Está resolvido o problema: rico, mesmo rico em Portugal, é quem ganha 7 mil euros brutos por mês, que hoje leva para casa perto de 3 mil! Não se preocupem com os outros!

Não bate certo: mas esses não são os mesmos? Mas esses não são a classe média? Os que têm estado a pagar tudo?

Afinal a importação do tema, para consumo interno, serviu apenas para nos levar a concluir que não há ricos em Portugal e que, ao contrário do que parece possível noutras paragens, terão de ser sempre os mesmos a pagar a crise.

Estavam bem enganados aqueles que há trinta e tal anos escreveram por essas paredes fora: os ricos que paguem a crise!

 

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