Futebolês #103 COLADO À LINHA
Por Eduardo Louro
Com esta expressão de hoje – colado à linha – o futebolês regressa ao non sense. Ao indecifrável e ininteligível noutra linguagem!
Para complicar avancemos com o sinónimo: encostado à linha! Pois é: colado à linha e encostado à linha é exactamente a mesma coisa!
Se a ideia de alguma coisa colada a uma linha ainda poderá fazer algum sentido, a de encostado à linha é que não tem ponta por onde se pegue. Ninguém se encosta a uma linha. É virtualmente impossível! Acresce que, colado ou encostado – que não são sequer coisas semelhantes, são a mesma – induzem uma ideia de estaticismo. De ausência completa de movimento: colado, está preso – incapaz de se movimentar – e, encostado, está parado – sem vontade nenhuma de se movimentar!
No entanto a expressão – uma ou outra, é indiferente porque são absolutamente sinónimas – aplica-se para identificar movimentos. Certamente a mais movimentada das movimentações dos jogadores. Há jogadores que desempenham as suas acções bem no meio do campo, mais atrás, mais à frente ou mesmo mais no meio, mas sempre na faixa central do terreno, como se diz em futebolês. Há outros que, como também se deve dizer, o fazem nas faixas laterais. São, na designação moderna, os alas - antigamente dizia-se que eram extremos, talvez menos apropriado ainda – ou os defesas laterais, cada vez menos defesas e cada vez mais laterais. Há alas que, jogando nas faixas laterais, flectem para o centro. Fazem as hoje tão faladas diagonais, saindo da linha para o centro, seja à procura de oportunidade de remate seja para desposicionar a defesa adversária. E há os que, nunca – bem, não exageremos, quase nunca – largam a linha lateral – à esquerda ou à direita - que assinala o comprimento (105 metros ) daquele rectângulo. Pois, são esses! São esses que correm que nem uns perdidos ao longo desses 105 metros de quem, no entanto, se diz estarem encostados ou colados à linha!
Classicamente - à maneira dos antigos extremos - os jogadores encostam-se à linha por estratégia de ataque. Para alargar mais o campo e correrem até à linha de fundo para, daí, colocarem a bola de frente para os seus colegas em movimento atacante. Eram jogadores que faziam poucos golos mas muitas assistências. Actualmente os treinadores colocam jogadores colados à linha mais por razões defensivas do que outras; mais com a ideia de impedir o avanço dos laterais contrários e de, assim, dificultar o alargamento circunstancial da capacidade ofensiva do adversário, do que por qualquer outra.
No derbi de logo à noite iremos certamente ver comportamentos distintos dos diferentes alas. No Benfica, os dois alas não jogam exactamente colados à linha. Gaitan e Bruno César – e o mesmo se passa com Nolito – nem se encostam nem se colam às linhas, partem da linha em diagonal para o centro, onde fazem o último passe ou mesmo o remate.
O Sporting joga apenas com um verdadeiro ala: Capel, à esquerda. Esse sim, sempre colado à linha. Como poucos e como já não se vê! É daqueles bem à antiga, que põem a cabeça em baixo, fecham os olhos e lá vão eles…a correr que nem doidos. Para nada, na grande maioria das vezes…Mas os adeptos do Sporting apreciam o estilo. Na direita não tem um ala puro, excepto quando coloca em jogo aquele miúdo peruano - Carrillo, se não estou em erro (não sou muito bom a fixar os nomes de alguns jogadores) – já naquela parte do jogo em que estão a jogar contra 10.
Espero bem que logo à noite na Luz não tenha sequer a oportunidade de ver o tal miúdo na ala direita. Sei bem que é difícil, porque dá-me a impressão que há um regulamento qualquer na Liga que impede o Sporting de jogar contra 11… Os árbitros apenas cumprem a lei. Nada mais!
E, claro, verei o Capel colado à linha… Mas sempre a correr atrás do Maxi Pereira!
Do outro lado Gaitan. Que não jogará colado à linha, mas que terá que se preocupar em escapar às pisadelas do outro Pereira. Pisadelas e não só, o rapaz tem um reportório inesgotável…