Da espuma do dia fica muita agitação. Da Conferência Episcopal, do desautorizado secretário geral da UGT, e das televisões em geral, que não se cansam de procurar fantasmas. Como não os encontraram nos juros foram procrá-los no PSI 20...
A gente olha e vê que a festa é feita pelo Pedro, pelo Paulo, pela Cristas e pela Maria Luís. Eles lançam os foguetes e apanham as canas, fazem números atrás de números e, cada um à sua maneira, mas sempre em grande estilo, garantem que a festa é animada. A moldura à sua volta não é só feita de figurantes, é também de figurões que tratam de velar para que tudo corra bem. Para que senhoras de cor de rosa não incomodem com perguntas ou desabafos embaraçantes.
Nada pode estragar a festa. E a festa poderá ficar estragada se alguém aparecer a falar de programas ou de promessas antigas. Mas fica completamente estragada é se alguém falar do governo e destes seus quatro anos. Isso é que é tabu. Aí é que está a única linha vermelha que Portas e Passos conhecem...
Querem que ninguém se lembre que houve um governo nestes mais de quatro anos que fez o que fez, que deixou o país como deixou, e os portugueses como estão. Não é por isso de estranhar que na festa não apareçam ministros que eles nem querem que se saiba que existem. Não é de estranhar que ninguém veja o ministro Crato. Nem aquele senhor de idade - Rui Machete, ou lá como se chama - que é ministro dos negócios estrangeiros. Nem aquela senhora de ar estranho, que parece ter chegado de Marte - que agora está na moda, até há lá água salgada e tudo - para substituir aquele senhor que deixou de ser ministro da administração interna para passar a arguído, naquela cena dos vistos gold, que eram o orgulho de Portas. De Paula Teixeira da Cruz, nem sombra...
Se alguém perguntar por esses ministros Passos, como sempre, desvalorizará e não hesitará em responder qualquer coisa como: "não podem andar todos aqui, alguém tem de ficar a governar"...
Mas falar de ausências é falar do Marco António, de Gaia. É a mais notada de todas: por onde andará o Marco António Costa?
Não aparece, ninguém o vê... Não é ministro. É mais que isso, e mais que aos ministros, ninguém quer que seja visto por aí. Por que será?
Não vi o debate de que se fala, que de resto era mais para ser ouvido. Dizem por aí que desta vez Passos saiu por cima. Um bocadinho por cima, dizem uns. Suficientemente por cima para ganhar novo ânimo, dizem outros.
Passos continou a sua saga de mentira, dizem alguns. Os entrevistadores facilitaram-lhe a vida, dizem de outro lado. Parece que, sem programa da coligação para discutir, Costa se viu obrigado a responder sobre o seu programa, ficando Passos sempre livre para apenas atacar o seu adversário.
E parece que arranjaram um novo tema para os próximos tempos, provavelmente até ao fim da campanha. Se do último debate saiu para a ribalta a treta de quem é que chamou a troika - a que aqui se voltará em breve, porque vale a pena falar mais um bocadinho disso - desta, vai sair o tema dos sistemas não contributivos da segurança social, onde - dizem - Costa se engasgou.
Mas é o que dizem. Não ouvi, nem vi nada. Mas sei bem o que é que se diz... E sei bem quem diz o quê... E sei que alguns não têm vergonha nenhuma para dizer o que dizem!
Um fim de semana em cheio. Depois de fugir e de se esconder, em Braga, Portas descobriu a mulher, em Vagos.
Calma, não se apressem. Portas não descobriu uma mulher, não encontrou a cara metade para lhe "organizar a casa, pagar as contas a dias certos, pensar nos mais velhos e cuidar dos mais novos". Portas não descobriu mulher nenhuma, aproveitou apenas terreno fértil para recriar a mulher do doutor Salazar, como ele gosta de respeitosamente pronunciar!
Olhe, doutor Portas, caso não tenha reparado, isso já não se usa. Quero dizer-lhe, agora eu muito respeitosamente, que o doutor Salazar pensava assim, mas já foi há muito tempo...
A estratégia que os marketeers (brasileiros, como sempre) desenharam para a coligação é simples: esconder Passos Coelho, mantê-lo afastado do debate - mas sempre com ar muito atarefado, num corrupio de funções de Estado - para que nem preste contas sobre os quatro anos de governo que ficaram para trás, nem apresente as contas para os quatro anos de governo que quer pela frente.
O resto é com as televisões, mandando todos os debates – de que Passos se dispensa – para o cabo, e batendo recordes de shares em canal aberto com as suas telenovelas. E com dois ou três sound bytes, sempre com a Grécia como o papão. E com as redes sociais minadas de perfis falsos a fazer o trabalho mais sujo...
Nem mesmo com as costas quentes (de Bruxelas) - é cada escaldão! - nem com os favores das sondagens, o governo de Passos e Portas, e Paula Teixeira da Cruz e Pires de Lima, está com grande fezada. Eles sabem bem o que fizeram... Por isso o melhor é mandar abrir as embaixadas que fechou, para lá começar a colocar boa parte dos boys que chamou para a tachada destes quatro anos de biqueira larga.
E como cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, nada como deitar mão à máquina do Estado para fazer o trabalhinho que compete à máquina do(s) partido(s). Até porque a mão de obra é a mesma...
A coligação já tem nome. Demorou, não era fácil a tarefa dos markteers, usada e abusada que estava a sigla AD,da velha Aliança Democrática de Sá Carneiro e Freitas do Amaral (ou de Adelino Amaro da Costa?).
Mas chegou, mesmo que atrasada: "Portugal à frente", mesmo que atrás do tempo. Do ponto de vista do puro marketing até poderá nem ser mal escolhido. Estar à frente é sempre mobilizador, estar à frente é sempre meio caminho para chegar à frente. Lá diz o povo:"candeia que vai à frente alumia duas vezes"!
O problema é quando se tem que contextualizar. O problema é quando se sai do marketing puro e abstrato para um marketing de contexto. Aí, "Portugal à frente" deixa sempre Portugal atrás. Cada vez mais atrás em tudo. Cada vez mais atrás em todos os índices de desenvolvimento, cada vez mais atrás nas estatísticas internacionais. Cada vez mais atrás, cada vez mais pobre, cada vez mais velho, cada vez mais isolado, cada vez mais longe ...
Os markteers que se chegaram à frente poderão até ter pensado noutro contexto. Terão talvez pretendido deixar a ideia que a coligação resultava de um imperativo de colocar "Portugal à frente" dos interesses das partes. À frente dos interesses do PSD e do CDS, de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.
Seria bonito. Talvez até comovente, mas não cola. A única coisa que nesta coligação não deixa dúvida nenhuma é o particular interesse que nela têm ambos os líderes. Não só pela forma como potencia em mandatos os resultados eleitorais de ambos, mas porque é o cimento que nesta altura pode segurar alguma coisa. O que os segura ao poder, que é a única coisa que mantém Passos e Portas agarrados. Pouco interessados em colocar "Portugal à frente" mas muito interessados em manter Portugal atrás deles!
O cenário estava bem montado e o acontecimento tinha sido bem promovido. A motivação era óbvia: não seria tapar a de tapar o sol com uma peneira, mas a de tapar com uma peneira o tiro no pé da ministra das finanças.
Mas não passou disso, de um cenário bem montado para um acontecimento bem promovido. Durante mais de uma hora, Portas e Passos Coelho encarregaram-se de explicar, como só eles sabem, a roçar o penoso, que não tinham nada para dizer. Que tinham percebido que teriam de fazer alguma coisa, mas que não faziam ideia do que haveriam de fazer...
Chegaram sem nada, sem o trabalho de casa feito. Como os cábulas. Como os incompetentes... Tanto que nem nome ainda conseguiram dar à coligação. Era o mínimo!
Como sempre, têm sorte. A espectacular travessia que Jorge Jesus fez na segunda circular abafou-lhe por completo o flop.