Joe Berardo continua notícia. Na primeira página do Público é dada conta de mais uma habilidade do senhor comendador. Desta vez em pleno parque da Arrábida, onde transformou uma estação rodoviária num palácio (na imagem). Sem licença de construção. Naquela ... "não tenho medo de ninguém".
Já terá recebido um auto de contra-ordenação do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), mas ... que lhe interessa isso... Aquilo nem é dele. O homem até só é proprietário de uma garagem no Funchal...
Os senhores comendadores são danados prá brincadeira.
Não diga mais nada, Senhor Presidente. É que se não disser mais nada até que as doze badaladas soem no Corvo, fecha com chave de ouro este último ano da década. Não estrague (mais)!
Faz hoje precisamente uma semana que o país se escandalizou com o descaramento - para me ficar pelos mínimos – de Joe Berardo perante os deputados na Nação, na Assembleia da República.
A indignação tomou rapidamente conta do país, tão rapidamente como o tema das comendas tomou conta da semana mediática. E o país passou a exigir que lhe fossem retiradas as condecorações atribuídas pelos presidentes Ramalho Eanes, em 1985, e Jorge Sampaio, em 2004. Boa parte da vasta comunidade de comendadores correu para os baús a confirmar se a medalha e a ordem honorífica conferiam com as do "babe" e, enquanto uns respiravam de alívio, outros ameaçavam publicamente devolvê-las. E hoje até reúne extraordinariamente o Conselho das Ordens Nacionais, presidido por Manuela Ferreira Leite, justamente para encontrar uma resposta (que) conforme a opinião pública.
Perante tanta indignação inclino-me mais para me indignar com o país indignado.
Berardo não foi na Assembleia da República nada diferente do que sempre foi. A mesma impreparação, a mesma desarticulação de ideias e palavras, os mesmos valores, a mesma ética. Em suma, a mesma respeitabilidade nula e a mesma seriedade zero.
Não é agora que as comendas lhe assentam mal, como dizem agora as elites que lhas atribuíram. Nem é agora que mancha o tecido empresarial português, como a elite da CIP sugere sem rodeios. Não é agora que se revela um simples especulador financeiro, arredado da ética e avesso às boas práticas empresariais. Foi sempre assim. E, tendo sido sempre assim, temos que nos indignar é contra o país pacóvio e bacoco que se deixou deslumbrar por um chico-esperto sem escrúpulos, assessorado por bons, e certamente caros, advogados do mesmo quilate, que lhe gizavam os golpes perfeitos.
Não, no Parlamento o Sr Berardo não gozou com todos nós. Gozou com os deputados! Quem gozou connosco foram as elites - essa "elite medíocre e parasitária" retratada no riso de Berardo, na certeira expressão da Marisa Matias, algures nesta semana - a quem entregamos este país, que tudo lhe permitiram nestes 40 anos … E a tantos outros, sempre no mesmo caldo.
Resta-nos agora seguir o exemplo daquela garrafeira do Bairro Alto, e deixá-lo sozinho a beber o seu próprio vinho. Que nem dele é, afinal…
É hoje notícia, no dia em que será aprovado o orçamento rectificativo que vai acomodar a factura, que o Ministério Público está a analisar a situação do Banif. Que não recebeu qualquer participação, mas que está a analisar "os elementos que têm vindo a público relacionados com a situação do Banif".
Gostaríamos que sim. E que chegasse a conclusões. E que tivesse mão pesada...
Mas sabemos que, mesmo com pessoas como Horta Osório chocadas a clamar por responsabilização, não será assim. E que nem sequer nunca saberemos quem ficou com o dinheiro, quem da gestão aprovou o quê, quem da supervisão negligenciou... Nunca saberemos quem, um a um, aproveitou daquilo que nos é agora exigido que paguemos.
Sabemos é que aquele senhor que se está a despedir de Belém, e a distribuir comendas à pressa, aproveitou justamente esta altura para, depois de Rocha Vieira, condecorar Alberto João Jardim.
Cavaco estará a esta hora a condecorar Durão Barroso. Nada de especial, Cavaco é pródigo a distribuir comendas pelos seus, e só lamentará que muitos tenham borrado a pintura antes de ter tido oportunidade de lhes pôr o colar ao peito. Se calhar é mesmo por isso que Cavaco se apressou. É que ainda na sexta-feira Barroso estava em Bruxelas, a despedir-se da Comissão...
O que se torna difícil de perceber são os serviços de especial relevância para Portugal e para a Euopa com que Cavaco justifica a condecoração. Como é que o rosto que inundará a memória dos portugueses e dos europeus sempre que fale da maior crise do projecto europeu, pode ser condecorado por serviços de especial relevância aos portugueses e aos europeus?
É a segunda condecoração com o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique, normalmente destinada a Chefes de Estado extrangeiros. A primeira fora concedida há uma dúzia de anos a Rocha Veira, o último governador de Macau. Hoje, sem surpresa, ligado aos interesses chineses no nosso país, e que ainda há pouco condenava as reivindicações de democracia em Hong Kong...
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.