O governo está muito preocupado com a saúde da televisão pública. Com a das privadas não. Está-se nas tintas. Que engordem à vontade. Se não se cuidam, o problema é delas.
Com a saúde, e com a imagem. Quer uma RTP esquelética, mas com músculos para a vista. Já para as privadas, gordura é formosura!
Já o ministro dos Negócios Estrangeiros foi à WebbSummit - ontem aberta com o espalhafato do costume, mesmo que dos espalhafatosos do costume só tenha restado Carlos Moedas - para falar de equilíbrios entre tecnologia, confiança e os valores democráticos. Era mesmo isso que constava do título da sessão - “Equilibrar tecnologia, confiança e os valores democráticos”.
Pois... mas Paulo Rangel achou que tinha mais graça falar de regulação. E alertar aquela gente para "a desvantagem europeia de regular em demasia". Pois é ... não é assim, com regulações que a gente lá vai.
Isto só lá vai é com cada um fazer o que lhe der na gana. E com televisões privadas feias de gordas!
E estes são os ministros que sabem comunicar. Dos outros - pronto! - das outras, nem é bom falar!
"Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários Mas não me importei com isso Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho meu emprego Também não me importei
Agora estão me levando Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém Ninguém se importa comigo."
Bertolt Brecht (1898-1956)
Tudo o que está a acontecer na Global Notícias - ou lá como lhe chamam agora -, nos centenários Diário de Notícias e Jornal de Notícias, no mais novo e "arregimentado" O Jogo, e na TSF, que há perto de 40 anos revolucionou a rádio para dela se tornar referência, cabe, inteirinho, neste poema de Brecht.
O Gonçalo Ramos já partiu, com destino a um PSG a arder, como o país que acabou de deixar. Vai ganhar muito dinheiro, e provavelmente muitos títulos nacionais. Mas não terá certamente escolhido o melhor destino para a sua carreira desportiva.
Era uma partida anunciada. Com contrato até 2025, sabia-se que teria de sair neste início de época. O Benfica não está, nem provavelmente nunca virá a estar, em condições de segurar os seus melhores jogadores. Resta-lhe aproveitar o prestígio da marca "made in Seixal", e a partir dela procurar fazer os melhores negócios.
E foi o que fez!
Por mais ruído que se instale à sua volta, e por mais que os adversários lhe tentem injectar veneno, este foi um bom negócio. A oportunidade não foi a ideal. Com a pré-época concluída, e em cima de um jogo importante - não é a Supertaça que é importante, o jogo é que é importante pelo impacto que tem no arranque do campeonato, quase sempre decisivo para as contas finais -, esta não era a melhor altura para comunicar a saída de um jogador com o peso que Gonçalo Ramos já tinha no Benfica. Mas terá sido a possível, como curiosamente o próprio jogador fez notar na entrevista de despedida, na BTV.
O comunicado emitido pelo Benfica ontem ao final da tarde a confirmar a operação agitou o panorama da comunicação social desportiva, sempre no seu melhor. Entre a ignorância e a iliteracia que a caracteriza, e o veneno que a alimenta, foi um festival de incompetência. Inversamente proporcional à da estrutura do Benfica. No negócio, e no comunicado.
Não importa se o modelo do negócio foi aquele para ir de encontro aos interesses do PSG, apertado no "fair play" financeiro da UEFA. Importa o negócio, e os interesses do Benfica. E esses demonstram-se em poucas linhas:
- O contrato terminava em 2025 e o jogador ficaria livre no fim do próximo ano;
- A venda do passe nesta altura implicava comissões (de 10%) a dois intermediários: o inevitável Jorge Mendes, envolvido no negócio, e o anterior empresário do jogador, à sombra da bananeira;
- O negócio é um empréstimo por um ano, até 2024, como curiosamente documenta a própria camisola na apresentação de Gonçalo Ramos; a venda do passe ocorrerá depois, curiosamente já no ano em que o jogador passaria a ficar livre do contrato com o Benfica; curiosamente quando o anterior empresário já não tem nada a reclamar;
- O montante total do negócio pode atingir 80 milhões de euros: 65 milhões, mais 15, por objectivos.
O comunicado (imagem abaixo) é perfeito. Basta saber ler para o perceber. Só que isso parece que não é requisito nem para escrever nos jornais desportivos, nem para ganhar dinheiro a debitar patetices nas CMTV´s e CNN´s deste mundo.
Para que tudo seja mesmo perfeito é preciso que o Musa recomece já a marcar já depois de amanhã. E que o Arthur Cabral - não faço ideia se será a melhor das opções para substituir o Gonçalo, mas foi bonito de ver toda a comunicação social desportiva apanhada em fora de jogo - tenha que dar tudo para lhe ocupar o lugar no onze.
Ontem, na primeira edição do CNN Portugal Summit, questionado sobre a viabilidade do aumento geral dos salários em 20% nos próximos quatro anos, lançado há uns dias pelo primeiro-ministro, com o objectivo de Portugal atingir, nesse período, a média europeia dos salários no PIB, Mário Centeno, o governador do Banco de Portugal, respondeu com a História. Que esse tinha sido já o crescimento dos salários nos últimos quatro anos. Na primeira fila da plateia, António Costa acenava que sim com a cabeça.
Ainda ninguém percebeu, nem António Costa esclareceu, se esse aumento de 20% que lançou como desafio seria medido em salários reais ou nominais. O que já toda a gente percebeu é que, se for em salários nominais, é neste momento altamente provável que nem chegue para cobrir a inflação. Circunstância em que, em vez de aumentarem, os salários continuarão a cair. Mas aquela tirada de Centeno, que pelo abanar da cabeça, soou a música ao primeiro-ministro, embalou-o para, logo a seguir, proclamar que não compreendia a polémica levantada por aquele desafio, já que era público que isso apenas correspondia ao que já tinha sido conseguido, sem reparar que, sendo assim, a sua proposta não tinha nada de desafiante. Que o desafio que lançara ao país não era desafio nenhum, mas simples bazófia.
A edição de 2022 do “Estado da Nação”, o relatório da anual da Fundação José Neves sobre o estado da educação, do emprego e das competências em Portugal, acabada de sair, conclui que “numa década, o salário médio dos portugueses apenas aumentou para os menos qualificados”. Que o salário real dos portugueses entre 2011 e 2019 caiu 11% nos licenciados e 3% para os que têm o ensino secundário. E apenas aumentou, na ordem dos 5%, para os trabalhadores com o ensino básico, "muito por força do aumento do salário mínimo".
Estes dados tratados cientificamente transmitem a realidade do país, e não só não conferem, como contrariam a revelação de Mário Centeno, que embalou o primeiro-ministro para a contradição do penúltimo parágrafo.
No mesmo palco do CNN Portugal Summit, e com a mesma embalagem, António Costa anunciou um "aumento histórico" das pensões para o próximo ano. E explicou que é o que resulta da lei, e que "a lei é para se cumprir".
A lei faz depender o aumento das pensões do crescimento do PIB e da inflação. O PIB cresceu 4,9% em 2021, o mesmo que se prevê para este ano. E a inflação é o que se vê ... Daí que, sendo "a lei é para se cumprir" - mesmo que o ministro das finanças entenda que não deva ser - António Costa anunciou um "aumento histórico".
o "ECO" faz hoje as contas e conclui que o aumento máximo, nas melhores das hipóteses, para as pensões mais baixas - abaixo dos 947 euros - atinge os 6,9%. Ou seja, o "aumento histórico" será, no máximo - nas pensões de 947 euros - de 65 euros.
Os factos são factos, não são opiniões. No entanto, ao serem susceptíveis de interpretação, ou mesmo ao carecerem dela, os factos acabam por surgir no espaço mediático colados à opinião, e muitas vezes indistinguíveis para o consumidor de informação.
Dificilmente há factos brutos, ou em bruto. Os factos chegam-nos interpretados, e só vêm rotulados de factuais para robustecer essa interpretação. Interpretações há muitas, como os chapéus. E como as opiniões ... o que torna fatalmente curta a distância que separa os factos das opiniões. Quanto mais curta for essa distância mais fácil é manipular os factos. E quanto mais manipulados forem menos factos restam, por mais que sejam dados por factuais.
O que se vai dizendo e se escrevendo sobre a actual crise política está a encher-se de factualidades que estão a afastar em anos luz dos factos. Quando chegarmos às eleições, seja lá quando for, no discurso main stream não subsistirá um único dos factos que lhe deram origem. Muito menos o primeiro e principal. Que esta crise só surgiu, assim e nesta altura porque, frenético a empurrá-la para a frente, o Presidente Marcelo a deixou cair na bandeja que serviu a António Costa.
Ontem, foi dia de apagão no Facebook, Instagram e Whatsapp. Há muita gente surpreendida com a divulgação da notícia pela comunicação social, mas não há razão para tanto. Limitaram-se a fazer o que sempre fazem: procurar lá a notícia. E lá a encontraram: "esta página não está disponível no momento". Como toda agente... E como sempre...
Diz-se que aquela meia dúzia de horas custou a Mark Zuckerberg mais de 5 mil milhões de euros. Nada que não recupere na próxima meia dúzia.
A pandemia está, em Portugal, na Europa e no mundo, a atingir os seus números mais impressionantes, em níveis incomparavelmente superiores aos da primeira vaga. Esta dinâmica, e as circunstâncias do Natal e do fim de ano que aí estão, fazem prever números ainda mais devastadores para o início do ano.
É assim por toda a Europa, onde cada vez mais países se fecham em confinamento total, e por todo o mundo. É assim também por cá, onde acaba de ser renovado estado de emergência. Pela sétima vez, e agora para o período de 24 de Dezembro a 7 de Janeiro.
Sabemos que a carta-branca dada para o Natal se mantém no baralho. Que o governo só puxou do travão de mão para a passagem de ano.
Sabemos que Macron, o presidente francês, está infectado. E que estaria já infectado quando manteve encontros com outros líderes europeus, incluindo o nosso primeiro-ministro.
É este o cenário com que nos confrontamos. Só não percebe a gravidade quem não consegue perceber nada. Só não vê, quem não quer ver.
Entretanto a vacina está aí. A vacinação já se iniciou no Reino Unido, na semana passada. E, nesta que hoje acaba, nos Estados Unidos. A Agência Europeia do Medicamento prepara-se para autorizar, já na semana que se vai iniciar, a aplicação de uma das vacinas, a da Pfizer. Também em Portugal, e na Europa, a vacinação vai arrancar ainda neste ano, mais cedo do que as melhores previsões de há poucos dias.
Um estudo de opinião publicado esta semana nos jornais indicava que apenas 61% dos portugueses estão dispostos a tomar a vacina, uma percentagem que não abre as melhores expectativas para a criação da imunidade. Outras partes do mundo haverá onde a resistência à vacinação será bem superior, especialmente entre os mais vulneráveis à desinformação e às teorias negacionistas.
Quer isto dizer que, depois da extraordinária rapidez com que a Ciência nos garantiu a vacina, e depois do heroísmo dos milhares de homens e mulheres que se disponibilizaram a testá-la, há na humanidade gente que, recusando vacinar-se, põe em causa todo esse esforço.
Claro que nenhum Estado deve ter o poder de obrigar os seus cidadãos a vacinarem-se. Num Estado de Direito Democrático isso não tem cabimento. Mas compete a cada Estado, é sua obrigação, promover o sentido cívico da vacinação, e desenvolver nas populações a consciência que a vacinação é uma responsabilidade de cidadania.
A duas semanas do início da vacinação, e com 40% da população sem interesse em vacinar-se, era importante que estivesse em preparação uma sólida, e para isso bem segmentada, campanha de mobilização para esta responsabilidade cívica que nos obriga a todos nós. Talvez fosse a melhor prenda para este Natal…
Voltaram ontem as famosas reuniões do Infarmed, concluídas com o desfile de todos os representantes dos partidos políticos e dos parceiros sociais na passadeira das televisões, com tradução gestual e tudo.
No fim de tudo isso passar, ficamos a saber que, em contradição com as medidas que o governo tem tomado e continua a prolongar, os restaurantes e centros comerciais não são uma fonte grave de contágio. Que essas, no dizer do estudo apresentado por Henrique de Barros, presidente do Conselho Nacional de Saúde, estão nos ginásios e nos locais de trabalho. Nos locais de trabalho que não sejam em restaurantes e centros comerciais, teremos nós de concluir...
Quando se fala em problemas de comunicação não se está apenas a referir ao governo e à Directora Geral da Saúde. Nem ao primeiro-ministro que, talvez por comer as palavras e pelo abuso da moleta do "vamos lá a ver", assumiu a culpa toda para si.
Treze anos depois, o desaparecimento da pequena Maddie voltou a abrir telejornais e regressou às primeiras páginas dos jornais.
Poderá dizer-se que é normal. Que os casos que as polícias não conseguem resolver, volta não volta... voltam. Na verdade não volta com dados novos, volta com mais uma pista. E é essa a maior novidade: tantos anos depois, não são novos dados que surgem - é uma nova pista!
Outra novidade é a entrada em cena das polícias alemãs. Por força da nacionalidade da nova pista, mas acima de tudo da sua condição de preso nas cadeias alemãs, em cumprimento de pena por crimes de natureza sexual.
Em tudo o resto nada de novo. Não se percebe bem o papel da Polícia Judiciária portuguesa nesta ressureição, e menos ainda o da comunicação social nacional mais dada ao tratamento destas matérias. Enquanto alguns especialistas desta comunicação social especializada colocam a PJ no centro da investigação que levou a esta nova pista, outros dão-na por completamente marginalizada, e citam até antigos inspectores que continuam agarrados à tese da acusação dos pais da criança. E como se isto, que não se percebe, não fosse suficiente, atribuem à polícia britânica exactamente o papel inverso: absolutamente passiva e simplesmente informada, para os primeiros, mas activa e determinante, para os segundos.
A verdade é que, depois de tanto dinheiro gasto na investigação do caso, a polícia britânica se atirou logo para a frente da fotografia, e veio até dizer que já seguia esta nova pista há três anos, desde o décimo aniversário do desaparecimento. Também não é novidade. Novidade é que, ao contrário das outras - a polícia alemã sustenta que a menina tenha sido morta num assalto que correu mal, enquanto a portuguesa a deu sempre por morta por volta da altura dos acontecimentos - alimenta a expectativa que a menina, agora uma jovem de 17 anos, esteja viva!
A doença do Covid-19 foi oficialmente declarada “pandemia” pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a segunda deste século. Quer isto dizer que o vírus alastra pelo mundo fora, mesmo que em algumas partes dele esteja já sob controlo, o que reforça a necessidade de mobilização das sociedades e dos cidadãos para a batalha da sua contenção.
A declaração da OMS é acima de tudo um alerta para a gravidade de uma doença que se combate pelo ataque à sua transmissão. E esse é um combate de comportamento cívico, de pequenos gestos, de consciência do bem comum, de respeito pelo outro.
É para esse combate que urge mobilizar os portugueses, chamando as coisas pelos nomes e acabando com os paninhos quentes com que pretende evitar o alarme social. Quando as Universidades fecham para se encherem as esplanadas, e ao primeiro dia de sol as pessoas correm a encher as praias depois de esvaziarem os supermercados, percebe-se a maturidade cívica de uma sociedade.
E isso terá também a ver com a comunicação que tem sido utilizada. Que, de tanto fugir com medo do alarme social, validou a irresponsabilidade inata dos portugueses.
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.