Enquanto no Parlamento se vai debatendo - debate-se pouco e "bate-se" muito, mas é assim que chama - o programa do governo, o "país político" não pára. Continuam a acontecer coisas...
A Polícia Judiciária fez buscas na C.M. Cascais por suspeitas de utilização de recursos públicos na campanha do agora ministro Miguel Pinto Luz à liderança do PSD. O presidente da Câmara, Carlos Carreiras, veio de imediato dizer que nada tinha a ver com o agora ministro, que era dele, e exclusivamente dele, toda a responsabilidade pelos contratos assinados. Tanto que, naquela altura - da pandemia - estava toda a gente em confinamento, excepto ele próprio. Porque alguém tinha de trabalhar... E assinar contratos... No caso, com uma agência de comunicação que precisamente assessorou Pinto Luz nessa campanha. Não é a assinatura do contrato que está em causa, em causa está a utilização de recursos públicos para campanhas partidárias.
Pode parecer estranho que o primeiro a levantar a voz, e a agitar a bandeira da corrupção, quando coisas destas vêm a público, esteja desta vez caladinho. Mas não é. Porque "sim, a aliança é possível".
Também poderia parecer estranho que o Presidente Marcelo se tivesse esquecido de tornar pública uma condecoração. Até porque se uma condecoração não for tornada pública de pouco serve. Mesmo aos mortos. A não ser que haja condecorações que só possam ser feitas em segredo.
Não é caso para menos: "então ando eu aqui há anos a assinar acordos com o governo e com os patrões, ando eu aqui a segurar a concertação social que o governo tanto aprecia, e à primeira oportunidade, só porque se vai embora e sai de cena, vão condecorar este tipo que esteve sempre do contra, e nunca nem um jeitinho lhes fez"?
Moral da história: há papéis que não servem para mais nada que descartar; os fantoches nunca passam de bonecos de teatro, e "Roma não paga a traidores"... . Ou não gosta de pagar!
Em Portugal também ganhou títulos, mas nunca foi condecorado pelo Estado português. Não compreende por que foi preciso ir para o Brasil para ser condecorado, mas aí parece que nem está sozinho. Está até muito bem acompanhado. Para o efeito, melhor era mesmo impossível.
Evidentemente que a conquista da Libertadores pelo Flamengo é um feito relevante para o nosso país. Só por má formação se não percebe isso!
O presidente Marcelo tem sido praticamente unânime. Tenta agradar a toda a gente, e a verdade é que o tem conseguido. Mas a verdade é, também que, consegui-lo, vai contra a sua natureza irrequieta: "agradar a todos é bom; mas é uma grande chatice"!
Por isso de vez em quando resolve fazer uns disparates, para que isto não seja uma grande chatice. Esta semana tivemos notícia de dois, e ambos têm a ver com concedorações : um ocorreu há já três meses, e só agora teve destaque com o estrondo de um vídeo dos terroristas do daesh; o outro é do início da semana, e a sua notícia chegou de mansinho, quase sem se dar por ela.
A condecoração do rei de Marrocos, Mohamed VI, com o Grande-Colar da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada é um disparate, é uma autêntica gafe. Condecorar um chefe de estado islâmico com símbolos de uma religião adversa contraria as mais elementares regras de bom senso. Tanto pior que, como se sabe, a figura de Santiago foi sempre a mais invocada nas campanhas de expulsão dos mouros da península. a ponto de ter até ficado conhecido por mata-mouros. Que Mário Soares tenha feito exactamente o mesmo, em 1993, com Hassan II, o pai do actual monarca, não serve de atenuante. Pelo contrário!
Marcelo teria muitas razões para condecorar Cavaco Silva. A mais forte de todas seria certamente por Cavaco ter sido tão mau que lhe permite a ele próprio, agora, parecer tão bom. Mas... condecorá-lo pela sensiblidade social? "Agradecer-lhe ter sabido compreender o que se passava na sociedade portuguesa"?
As novidades dos Panama Papers deste sábado continuam à volta do GES/BES, passam por Sócrates e pela Operação Marquês, pelo também falido BPP de João Rendeiro e por mansões na Quinta do Patino, e revelam mais três nomes: Helder Bataglia - está em todas: BES/GES, Vale do Lobo, Operação Marquês - Manuel Tarré Fernandes e José António Silva e Sousa. Todos feitos comendadores por Cavaco Silva que, como bem se sabe, tem verdadeiro olho para a coisa. Já aqui se falou de amostra não ser significativa.
Condecorações era com ele. Um mãos largas para gente acima de toda a suspeita. Como se veio vendo, e como não podia deixar de se ver neste escândalo das offshores... Já aqui se falou de amostra não ser significativa. Continua, à segunda vaga de divulgação, a não o ser. Se o fosse, poderia dizer-se que 85% dos condecorados por Cavaco não é gente muito recomendável. Cá estaremos para ver se à medida que a amostra ganha signnificado não ganham mais significado (ainda) os resultados.