A malta liberal que enche os espaço mediático não se cansa de dizer que o que se passa nos preços dos bens alimentares não tem nada a ver com as margens das empresas de distribuição. Dizem até que os lucros dessas empresas caíram.
Elas, essas empresas, pela voz dos respectivos CEO´s ou pela do Presidente da respectiva associação, juram a pé juntos que não. Que até baixaram margens.
A Jerónimo Martins apresentou ontem publicamente as contas do ano passado. "Dizem" elas que as vendas cresceram 21,5%. Bate certo com tudo o que se tem sabido. Sabe-se que os portugueses têm cortado na alimentação. E sabe-se que a inflação nesses produtos não anda abaixo dos 23%. Isto é, o Pingo Doce vendeu menos - os portugueses têm cortado na alimentação - mas, com a inflação, vendeu mais 21,5%. E "dizem" que os lucros cresceram 27,5%. Isto é, cresceram mais que as vendas.
Portanto, os lucros não caíram, como apregoa aquela malta nas televisões. Subiram. E, subindo mais que as vendas, é difícil, para não dizer impossível, admitir que as margens não tenham subido. E muito. Ao contrário do que dizem as figuras do sector, que garantiam tê-las baixado.
Lembram-se do anúncio do teste do algodão?
O algodão realmente não engana. Já esta gente, não faz outra coisa. E toma-nos por parvos!
José Sócrates, de volta às lides públicas, manifestou-se com a veemência de sempre contra a intenção - ao que se prevê frustrada - de o governo pôr o fisco a bisbolhetar as contas bancárias do pessoal. Ninguém tem mais autoridade na matéria: não é por ele, que nada tem a esconder. Nem a mostrar... É pelos amigos!
Percebo que para o negócio, nuns casos, jogo ou entretenimento, noutros, do comentário e da análise política dê muito jeito extrapolar e especular à volta do voto expresso por cada um dos portugueses. Nestas como em quaisquer outras eleições.
O espectáculo precisa disso, e o showbiz montado à sua volta mais, ainda. Por isso está praticamente institucionalizada a ideia de uma entidade colectiva chamada eleitorado, dotada de personalidade e vontade própria. Que, parece-me, mais não faz que procurar legitimar um imenso cardápio de especulações ilegítimas.
Tenho por indiscutível que cada voto tem uma motivação própria, e que os resultados eleitorais resultam de uma única conta: a soma de todos esses votos individuais. Ao expressar o seu voto cada eleitor espera com ele contribuir para o sucesso da sua própria motivação.
Dizer-se, por exemplo, que os portugueses quiseram que o governo se mantivesse em funções mas sob controlo, sem rédea solta, parece-me tão ilegítimo quanto disparatado. Os portugueses que se manifestaram pela continuação do governo foram os que votaram na coligação, não foram os outros. Disso não pode haver dúvidas. Como dúvidas não pode haver que esses, os que votaram na coligação, não pretendiam introduzir nenhum tipo de limitação à sua acção governativa. Pelo contrário, com o seu voto não pretendiam outra coisa se não a maioria absoluta!
Quem votou no PS não o fez para que o governo se mantivesse, mas agora sem maioria. Fê-lo para que o PS fosse governo. Como quem votou na CDU ou no Bloco de Esquerda não o fez por vontade em manter a governação do PSD e CDS.
Parece-me claro! Como é claro e fica por evidente que, mais que ilegítimo, é abusivo e intelectualmente desonesto, pretender que a vontade do todo seja exactamente o contrário da vontade de cada uma das partes.
A leitura séria e legítima dos resultados eleitorais – sejam eles quais forem – não se faz de interpretações subjectivas e de especulações oportunistas. Faz-se, em primeira análise, do xadrez de representação que produziram. E, depois, da concertação política que dessa representação resulte.
Tudo o resto, que diariamente vamos vendo, ouvindo e lendo, é democraticamente inaceitável, e deixa bem à vista um regime a apodrecer numa democracia de faz de conta: faz de conta que conta, mas não conta com todos, nem conta para todos. E nem todos contam…
Pelas contas de quem acredita que a democracia é a única forma de legitimar o poder, 40 anos teriam de ser tempo suficiente para amadurecer e apurar o regime democrático. Não foram!
O INE teve que levar às contas do país aquilo que lá faltava. Como já aqui havia dito, o Eurostat não levara a sério o défice de 2101 que o governo propagandeou. O tão festejado cumprimento do défice de 7,3% passou para 8,6%. E o de 2009 – que chegou a ser de 5% - passou para 10%!
Porque o BPN, que o já chamado ministro da banca rota dizia nada custar aos contribuintes, custa mesmo. Porque o BPP tinha prestado as garantias suficientes para o apoio que recebera do Estado – um apoio que ainda hoje estamos para perceber para que serviu. E porque as empresas públicas não são para dar prejuízos – porque isso é mentira, é desorçamentação, como aqui expliquei há uns tempos – a financiar externamente!
Porque contas são contas, coisa que, por incrível que pareça, Teixeira dos Santos esqueceu!
O ministro da banca rota teve a lata de dizer que isto não é novidade para ninguém. Que nada estava escondido, que eram todas situações conhecidas. É preciso ter lata! Então se não era para esconder era para quê? Estava à espera de meter estes milhões onde?
E a Grécia é que aldrabou as contas!
Será que teremos finalmente as contas em dia? Ou será que ainda são contas em dia ... das mentiras?
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