De tempos a tempos o PCP tropeça nos conceitos da liberdade e da democracia, e lá cai com grande atrapalhação nas suas dificuldades de identidade. Não é surpresa para ninguém, e parece que toda a gente sabe lidar com isto: o PCP vai tentando que os intervalos entre esses tempos sejam cada vez maiores, tentando fintar a comunicação social para que não aproveite exactamente todas as oportunidades para o fustigar com a matéria.
Ontem voltou a ser dia de o PCP, mais que simplesmente tropeçar, chocar de frente com o tema e estatelar-se ao comprido.
Primeiro foi Jerónimo de Sousa, em entrevista ao Observador (pois... devia saber que cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém), atrapalhadíssimo com a democracia da Coreia do Norte (é verdade, é um clássico, mas o PCP não consegue resolver a questão!). Se não era uma democracia, era porque isso não passava de uma opinião. Ou não, o que era mesmo preciso discutir era o que é isso de democracia...
Depois, à noite, foi a vez de António Filipe ser completamente trucidado na RTP, no Prós & Contras, a insistir, mais uma vez atrapalhadíssimo, na defesa da indefensável legitimidade democrática do regime de Maduro na Venezuela.
Uma coisa é a fidelidade a princípios e valores que sustentam uma matriz ideológica. Outra, completamente diferente, é cristalizar na sua projecção, deixando de ver tudo à volta. Que é o que o PCP, indiferente ao tempo que passa e às gerações que mudam, continua a fazer.
Trump volta hoje a encontrar-se com Kom Jong-un, desta feita em Hanói. É o segundo encontro desta súbita e estranha amizade, numa cimeira que serve apenas para alimentar a bizarra obsessão de Trump pelo prémio Nobel da Paz.
Depois de entregar ao primeiro-ministro japonês a responsabilidade de lançar tão absurda candidatura, Trump aposta as fichas todas na Coreia do Norte para lhe dar corpo. Daí que tenha começado por dizer, ainda na América, que, se os americanos o não tivessem elegido, os Estado Unidos estariam neste momento envolvidos numa guerra devastadora com os norte-coreanos. Ou que a Coreia do Norte tem neste momento um futuro brilhante à sua frente. E que, no fim desta cimeira vietnamita venha, como não poderá deixar de ser, declarar o seu tremendo sucesso.
Poderia dizer-se que destas brincadeiras não vem grande mal ao mundo - fosse isto o que de pior Trump tem para dar ao mundo - não tivéssemos todos já percebido que nesta relação de amor é Trump o enfeitiçado. E se Trump é perigoso, enfeitiçado pode ser mais perigoso. E mais imprevisível!
E os outros também. Atrasaram-se um bocado, porque ainda estavam sob encomenda quando nasceram os dois primeiros. E o extremoso e babado pai não fazia ideia que aqueles brinquedos pudessem ter prazos de entrega tão grandes...
Não sei se hoje é o dia em que a política externa de Trump, se é que existia, mudou. Sei que o ataque americano desta madrugada na Síria é, mais que um enfrentamento, um afrontamento a Putin. Tido por aliado de Trump. Que, por sua vez, só apontava para a China quando lhe falavam de inimigos geo-estratégicos. E que acontece poucas horas antes de receber o líder chinês, com os olhos postos em Pyongyang...
A terra tremeu esta madrugada, ali por voltas do paralelo 38: um terramoto de magnitude de 5,1, com epicentro a norte de Kilyou, onde se localizam as principais instalações nucleares da Coreia do Norte.
Nem sequer foi preciso entrar pelas portas da especulação. Duas horas depois, o regime norte coreano confirmava aquilo que já tinha anunciado há menos de um mês, e em que então ninguém quis acreditar: a Coreia do Norte desenvolveu, e já testou, a bomba de hidrogénio.
A bomba H tem um potencial destruidor superior em 4 mil vezes ao da bomba de Hiroshima. A Coreia do Norte dispõe de um míssil balístico capaz de a colocar a a 6700 quilómetros de distância e parece que já só falta - um pequeno, muito pequeno pormenor - a ogiva que a acomode ao míssil.
Tudo isto como se fossem as velas para o pequeno e ridículo Kim Jong-Un soprar no seu aniversário, dentro de dois dias. O mundo é cada vez mais um sítio muito perigoso para se viver!
Morreu, aos 69 anos, Kim Jong-il, o filho do grande líder Kim Il Sung, que lhe sucedera. O regime faz questão de mostrar como a Coreia do Norte chora a morte do líder. Começou pela televisão - com a apresentadora a dar a notícia em choro convulsivo - e depressa alastrou indiscriminadamente pela nomenklatura fora, ninguém quis mostrar menos lágrimas derramadas que a senhora da televisão!
Falta saber se foi para prestar honras militares que, em vez de uma salva de morteiro, lançaram um míssil.
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