Ainda antes de abrir o mercado de contratações de inverno, Cristiano Ronaldo, em "falência" competitiva, assinou o contrato mais valioso da história do desporto mundial, na ordem dos 200 milhões de euros por ano, num total de 500 milhões em dois anos e meio.
Antes, dizia que não procurava recordes, que eram eles que o perseguiam. Agora, que já não dá para procurar recordes, e que prestígio lhe vai fugindo das mãos, mas que também não precisa de dinheiro, melhor pode dizer que não o procura. Que é o dinheiro que não larga!
Ao contrário do adágio popular, "vão-se os dedos, ficam os anéis"!
Dário Essugo, um miúdo de 16 ou 17 anos, que já joga na equipa principal do Sporting, e promete - não é ele, o próprio, que promete, porque, isso sim, não seria "bom senso" - ser grande no futebol, entusiasmado com a final do mundial de futebol, e com Messi, "postou" no seu Instagram "Messi goat".
Foi trucidado por um arrastão de energúmenos, e obrigado a apagar o que escrevera. Sabe-se como estes arrastões são o "pão nosso de cada dia" das redes sociais. Trate-se do que se tratar. Sabe-se como a clubite tomou conta do assunto. E como nem quem tem responsabilidades na comunicação lhe escapa. Não se imaginaria era que chegasse ao ponto de se colocarem ao lado da estupidez e da intolerância da turba das redes sociais. Que, perante a brutalidade, escolhessem acusar a vítima de falta de "bom senso"!
Cristiano Ronaldo e Lionel Messi têm pouco em comum. Só que é muito, o pouco que têm em comum - o génio que os colocou no topo do futebol mundial durante década e meia, somando 12 bolas de ouro nesse período, com vantagem (7-5) para o génio argentino. Entre 2008 e a actualidade, só por três vezes um deles não foi "o melhor do mundo": em 2018 (Modric, em ano de mundial), em 2020 (Lewandowsky, no tributo ao golo) e neste ano (Benzema, no tributo à persistência). Durante 11 anos consecutivos ninguém se intrometeu entre eles!
Tinham, até ontem, também o insucesso comum de, ambos com o recorde de cinco presenças em fases finais, nunca terem sido campeões do mundo. O título que faz a diferença entre os melhores de sempre. Faltando o título de campeão do mundo falta sempre qualquer coisa a uma grande carreira. Faltando uma presença marcante numa fase final de um mundial, fica ainda mais a faltar. Messi já tinha sido o melhor do mundial do Brasil, em 2014. Mas não era suficiente. A Cristiano Ronaldo até isso faltava. Ambos contavam apenas com um título continental de selecções.
Este Campeonato do Mundo do Catar era a última oportunidade para ambos.O argentino já tinha avisado que seria o seu último. Ronaldo, sem tal pronúncio, terá 41 anos no próximo...
Nada mais têm em comum. São personagens e personalidades completamente diferentes, fisicamente diametralmente opostos, e jogadores totalmente distintos na sua relação com a bola e com o jogo. Messi levita no campo, Ronaldo é tracção total. Ronaldo é um atleta que ataca o espaço e a bola, Messi é um artista no espaço que pisa com uma bola colada aos pés. Ronaldo é explosão a atacar o espaço, e rapidez e potência a atacar a bola. E isso exige condições físicas e atléticas no máximo. Messi, inventa espaço onde ele não existe através do drible e do passe. Para isso Messi não precisa, nem nunca precisou, até porque nunca teve, condição atlética de topo.
Os anos pesam de forma completamente diferente nos atributos de um, e de outro. E, depois, na confiança. Como se viu. Messi continua a fazer o que sempre fez. E a marcar golos que só ele consegue. Ronaldo já não marca os golos que só ele conseguia. E, sem confiança, nem os que qualquer um marca. Para Messi, o parágrafo anterior continua a conjugar-se no presente do indicativo. Para Ronaldo tem que utilizar o pretérito perfeito.
Só por isso, dificilmente Cristiano Ronaldo poderia chegar a este Mundial em condições para fazer o que não fez nos anteriores, no apogeu do seu ciclo bio-desportivo. Não é por acaso que já passaram cinco anos sobre a sua última bola de ouro, a quinta. Então, tantas quanto Messi, que depois disso venceu mais duas e, pelo que se viu, poderá ainda voltar a ganhar a próxima.
Ao natural ciclo da vida. e às características do desempenho desportivo acrescem, depois, os traços de personalidade de cada um. Ambos terão à sua volta uma estrutura de gestão das suas carreiras pessoais e desportivas. Pouco se sabe da do discreto Messi - apenas mais um distinto traço de personalidade. Da de Ronaldo sabe-se que funcionou na perfeição durante anos, mas que não funciona mais. Tudo o que constitui a desastrosa gestão de carreira dos últimos meses, que liquidou qualquer possibilidade de sucesso na participação neste mundial, mostra que não já não funciona.
Não é nada de inédito. É da dinâmica das organizações que equipas de sucesso acabem esgotadas. Mas, e mais uma vez por traços de personalidade, não será de excluir que o "ego" de Ronaldo tenha transformado a sua estrutura, na sua corte. Que, em vez de aconselhamento lúcido e sensato, passar a dizer ao soberano apenas o que ele quer ouvir. E garantir as mordomias cortesãs.
Daqui sai a última peça do puzzle que fecha a história de dois génios da bola que chegaram ao Catar à procura do título que lhes faltava. Messi com toda a equipa ao seu lado, e com 46 milhões de argentinos atrás de si. E a encher estádios. Da Argentina saíram 45 mil. De outros pontos do mundo terão chegado mais de uma dezena de milhar. E Ronaldo a dividir a equipa, dentro e fora de campo. E a dividir o país!
Entre quem acha que Ronaldo está a arruinar uma carreira brilhante, e quem acha que quem acha isso é ingrato. E invejoso. Entre quem gostaria que Ronaldo soubesse sair dignamente de cena, e quem quer reduzi-lo à simples expressão da clubite. Entre quem lamenta que um grande jogador de futebol de expressão mundial se recuse a aceitar a lei da vida, e quem lhe exalta o ego à dimensão do fanatismo religioso.
Esta é a fotografia, dos fotógrafos. A fotografia é outra.
Com as equipas perfiladas no centro do terreno, na hora dos hinos, meia dúzia de fotógrafos, uma pequena minoria, aponta as objectivas para captar essas imagens. Dezenas de outros, a imensa maioria, viraram as costas e apontaram na direcção do banco da selecção portuguesa. Lá, estava Cristiano Ronaldo.
O centro de tudo não era o relvado, onde se iria disputar um jogo decisivo, de onde sairia a última das oito selecções apuradas para os quartos de final do Campeonato do Mundo de futebol. O centro de tudo era, indiscutivelmente, Cristiano Ronaldo no banco de suplentes.
Se aquela imensa maioria de fotógrafos apontou as câmaras fotográficas para o mais emblemático jogador de futebol, e uma das mais mediáticas figuras mundiais, ou se para uma presa abatida, ali atrás, é a dúvida.
Ou talvez uma questão de fama.
Da má fama que cobre grande parte da classe. E da fama de Ronaldo. Que faz romper os limites da crueldade!
Cristiano Ronaldo não é a fonte de onde brotam todos os problemas da selecção. Mas que de lá sai a maior parte deles, ficou hoje mais que demonstrado.
Os que não têm essa origem, têm-no, como tem sido dito e redito, por aqui e não só, no seleccionador. Na sua ideia de jogo que mata à nascença o talento e a alegria de jogar destes jogadores, mas também naquilo que tem sido a notória subserviência a Ronaldo.
Hoje Fernando Santos libertou-se dessa subserviência e, com isso, libertou os jogadores para uma exibição e um resultado que, agora sim, dá sentido às palavras que antes eram proferidas em vão. A proclamada aspiração de ser campeão do mundo, que antes era ridícula, é hoje ambição legítima.
Acredito, e creio que a maioria das pessoas que acompanham estas coisas também, que na origem de tudo o que hoje mudou na selecção portuguesa esteja o episódio do minuto 67 do jogo com a Coreia.
As palavras de Ronaldo no momento da sua substituição, foram uma óbvia traição a Fernando Santos. Traição de Ronaldo, porque o tem defendido, acima de tudo e de todos. E traição da estrutura da Federação porque, para defender o jogador do indefensável, o projectou, mais que para o ridículo, para a indignidade e o descrédito.
Ao fabricar aquela patética "concertação" de comunicação, escondendo-lhe o que tinha sido testemunhado por dezenas de câmaras de televisão, e impingindo-lhe um insulto de lana caprina a um coreano qualquer, a Federação atingiu-o na própria dignidade.
Traído, Fernando Santos, percebeu finalmente que, para sobreviver, teria de se libertar da teia de cumplicidades que o envolvia. E de mudar de paradigma.
E ganhou respeito. Dos adeptos, mas acima de tudo dos jogadores.
Ronaldo ficou no banco, como não poderia deixar de ser. Não ficavam resolvidos todos os problemas da selecção, como os primeiros 10 minutos do jogo demonstraram. Mas ficaram resolvidos quase todos.
Foi o tempo que os jogadores demoraram a soltar-se e a habituarem-se ao novo paradigma de liberdade, que lhes permite jogar o que sabem. A partir daí foi jogar à bola.
E isso todos sabem fazer. João Félix, Bernardo Silva, e Bruno Fernandes como poucos. E como jogaram ... E como jogou, e o que trouxe Gonçalo Ramos para o futebol da selecção. Com três golos - o primeiro hat-trik deste Mundial - e ainda uma assistência para Rafael Guerreiro, no quarto golo.
Foi "só" isso o rendimento do substituto de Ronaldo. Saiu a 20 minutos do fim, com o resultado em 5-1, para entrar Ronaldo, numa substituição que se entende perfeitamente. Que reforça a autoridade do seleccionador, protege a equipa e ... protege Ronaldo. Que continua a não saber proteger-se. Foi o primeiro a sair para o balneário, deixando os colegas no relvado a festejar o apuramento. Por ele, só festeja os seus êxitos pessoais!
A fechar uma grande exibição, e um resultado histórico, sem paralelo nestes oitavos de final, um grande golo de Rafael Leão, um dos últimos a entrar, mas ainda a tempo de deixar a sua marca num jogo onde a Suíça foi completamente atropelada, e vergada a - certamente - uma das derrotas mais pesadas da sua História.
Agora, nos quartos, segue-se a sensacional selecção de Marrocos. Com os novos horizontes abertos por este dia histórico para a selecção nacional é legítimo, agora sim, aspirar às meias finais. E, para já, repetir 1966 e 2006.
Com Marcelo a ver - e a cumprir a promessa de "partir a loiça toda", em privado, num encontro com o Presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, sobre educação, numa iniciativa da fundação Education For All, em conjunto com as Nações Unidas, transmitida na Internet - a selecção portuguesa estreou-se neste último dia da primeira jornada do Mundial, num estádio feito de contentores e com nome de indicativo de número de telefone (974 - o indicativo internacional do Catar, o 351 deles).
Nos contentores da selecção não havia carga, apenas emoção, percebeu-se logo pela humidade nos olhos de Cristiano Ronaldo quando se iniciou o hino. O indicativo também facilitou a comunicação. A equipa não comunicou, e não foi só para Rúben Dias, no primeiro golo do Gana. Nem para Cancelo, no segundo. Nem ainda para Diogo Costa, no último segundo do jogo, no que esteve perto de ser o hara-kiri final desta selecção.
Na verdade pouco ou nada funcionou na selecção. Funcionou sim - isso nunca falha - o futebol pobrezinho de Fernando Santos. Sempre pobrezinho, e sempre mais pobrezinho ainda com Cristiano Ronaldo na equipa, como está mais que demonstrado. Como demonstrado está que Fernando Santos é mesmo capaz de transformar jogadores de classe mundial em meros jogadores banais.
Já não há paciência para o que dizem ser o futebol de paciência da selecção. Nem para o resto!
Por exemplo, Fernando Santos escolheu jogar com a Nigéria para preparar este jogo. O argumento é que seria a equipa mais parecida com a do Gana, para quem perdera a qualificação. Se era para isso, quem é que compreende que a equipa que hoje subiu ao relvado, quase nada tivesse a ver com a que passou, com distinção, no teste. E, sim, na boa exibição com a Nigéria não jogou Cristiano Ronaldo.
A sofrida vitória sobre a 61ª selecção do ranking da FIFA - sim é equipa menos qualificada que está no Catar - acabou por ser a única coisa positiva da estreia da selecção. E, se não caiu do céu, não faltou muito.
Na primeira parte foi o tal jogo de paciência, para que já não há paciência. A equipa portuguesa nunca mandou no jogo a sue bel-prazer. Nunca sufocou o adversário, nem nada de perto. Mas, na verdade, também nunca deixou que o Gana mostrasse qualquer tipo de ameaça.
Na segunda foi pior. Não dominou o adversário, nem sequer nunca controlou o jogo. E permitiu que o adversário ameaçasse.
Ameaçava já quando, já mais de metade da segunda parte se tinha esgotado, do céu, caiu um penálti. Que Cristiano Ronaldo converteu em golo, estabelecendo mais um recorde - o primeiro jogador a marcar em cinco campeonatos do mundo. E sabe-se como isso é o que mais importa.
Nem com um golo caído do céu a equipa serenou, e permitiu o empate poucos minutos depois, na primeira falha da defesa portuguesa. Falhou Rúben Dias, e falhou, em acto contínuo, Danilo.
A equipa do Gana mandou-se para cima da selecção portuguesa, com todos estes nomes. E foi isso, essa desenfreada busca pelo golo da vitória, que permitiu, em contra-ataque, que a equipa de Fernando Santos chegasse ao 3-1, com dois golos em dois minutos.
Mas, nem ainda assim, e a 10 minutos do fim do jogo, tivemos equipa. João Cancelo, transformado num jogador banal, foi isso mesmo. E o Gana voltou a marcar, transformado os inacreditáveis 9 minutos de compensação num pesadelo. Que só não tenebroso porque, no último minuto, o IñaKi Wiliams, saído de dentro da baliza portuguesa, e nas costas de Digo Costa, escorregou quando lhe roubou a bola que ele tinha no chão, à sua frente, para fazer passar os últimos segundos.
Fechada a primeira jornada, com os jogos dos grupos G e H, estão apresentadas as equipas. E deixadas as primeiras impressões daquilo que podem ser as suas ambições.
O empate a zero - mais um - no Coreia do Sul - Uruguai, num jogo muito dividido, em que o futebol da selecção orientada por Paulo Bento foi mais interessante, acabou por ser um resultado interessante para a selecção portuguesa. O pior é o resto...
O grupo G, onde a Suíça ganhou aos Camarões (1-0), teve no Brasil - Sérvia (2-0) um dos melhores jogos desta primeira jornada. Começou por ser um grande jogo, e acabou num enorme jogo do Brasil, com aquele fabuloso golo - segundo dos dois do Richarlison - a ser, desde já, muito provavelmente o melhor deste Mundial. E um dos melhores de sempre. Melhor, será difícil!
Não se sabe o que aí virá, mas que os candidatos já estão apresentados, lá isso estão. O que esta primeira jornada disse é que, na primeira linha, estão o Brasil, a França e a Espanha. Por esta ordem, mesmo.
Depois, a Inglaterra e a Alemanha. Falar de Portugal, só por graça!
Cristiano Ronaldo tornou-se refém do seu ego. Um ego assim só poderia acabar refém de si próprio. No desespero, como sempre acontece com os desesperados, não quis ficar refém sozinho, e arrastou consigo mais uns tantos. Pelo menos mais 25. Os outros já há muito que eram reféns vestidos de fiéis escudeiros.
Já não tem outro caminho para o fim de uma carreira, que não merecia este fim, que não seja o do Mundial que se vai iniciar.
Não lhe resta outra oportunidade para a despedida que não seja o momento em que se despedir do Catar. Sem se aperceber que lhe trancou todas as portas da glória, o seu ego apenas aceitará esse caminho impondo-lhe a última missão de uma saída em grande.
A missão impossível que tanta gente crê - ou quer fazer crer - possível!
A selecção ganhou, e goleou (4-0) a da Chéquia, em Praga. O resultado é excelente, a que acresceu a surpreendente derrota da Espanha, em Saragoça, com a Suíça.
Cristiano Ronaldo foi titular, "arrastou-se pelo campo" o jogo todo e ... foi penoso de ver. Falhou remates, e até cometeu um penálti, daqueles sem ponta para se lhe pegar. Para Fernando Santos foi uma boa exibição. Falhar, acontece - é futebol. Mas esforçou-se e serviu a equipa. E se não fossem os espaços por ele criados, os outros não teriam marcado.
Claro que fui um dos milhões de humanos que não quis perder a (re)estreia (18 anos depois) de CR7 no Teatro dos Sonhos., transmitida em directo pelas televisões para todo o mundo (excepto três ou quatro países, entre eles o Afeganistão e ... o Reino Unido, por razões de concorrência com outros jogos à mesma hora). O acontecimento mundial do dia, ainda mais notável por ser precisamente neste dia 11 de Setembro, dos 20 anos do dia em que o mundo mudou.
É absolutamente extraordinário como a marca Cristiano Ronaldo, hoje bem mais que o jogador, consegue fazer desta (re)estreia um acontecimento mundial. E foi de sonho!
Dois golos, de ambas as vezes a desbloquear o resultado. O primeiro, em cima do intervalo, quando o nulo resistia, numa oferta irrecusável do guarda-redes do Newcastle (largou a bola para a frente, a sua, mas também a de Cristiano); e o segundo, a meio da segunda parte, quando o resultado já estava de novo empatado; com o keeper deixar passar a bola entre as pernas.
Depois aconteceu o grande golo de Bruno Fernandes. Tudo correu bem. Marcou, também, e não houve livres, nem penaltis para cobrar. O terceiro de Ronaldo foi esperado até ao fim, mas não surgiu. Nem sequer oportunidade para isso. Apareceu o quarto golo do United, mas foi marcado por Lingard. Bem bonito, e muito bem construído.
Tudo perfeito em Old Traford, agora o teatro da lenda.
Este jogo de hoje no Algarve, na quarta jornada do torneio de apuramento para o mundial do Qatar, no próximo ano, com a fraquinha selecção irlandesa, disse muito do que é a actual selecção nacional de futebol. A equipa das quinas salvou-se de um desaire comprometedor quase por milagre, numa reviravolta já inesperada, com os dois golos de Cristiano Ronaldo que ditaram a vitória a chegarem quando já ninguém os esperava.
Na realidade os irlandeses só não mereceram ganhar porque quem faz o anti-jogo que eles fizeram na segunda parte, não pode nunca merecer ganhar um jogo. Mas quem joga como a equipa nacional o fez, também não!
Na primeira parte a selecção nacional foi uma corte que, em vez de nobres, era constituída por burgueses. A corte de Cristiano Ronaldo, que a equipa voltou a ser, foi ocupada por jogadores aburguesados, de uma nobreza falida. Parece que só havia um objectivo, o tal que tomou conta da equipa de Fernando Santos de há uns tempos a esta parte - levar Cristiano Ronaldo a bater o já igualado recorde de melhor marcador de selecções!
A coisa até começou bem, nesse aspecto. Logo aos 8 minutos o árbitro assinalou, e confirmou, depois de convidado pelo VAR, um penalti, oportunidade que "o melhor do mundo" recebeu com visível ansiedade. E perturbação, fosse pela demora na sua confirmação, fosse pelas provocações a que foi sujeito e a que reagiu mal. Permitiu a defesa ao miúdo de 19 anos que estava na baliza da Irlanda - e que acabaria a fazer uma enorme exibição - e nunca mais em toda a primeira parte se libertou dessa perturbação. Foi sempre um jogador a menos na equipa, que apenas pôde contar com Diogo Jota. E Palhinha, mais ninguém!
Tudo o resto eram burgueses à espera que alguma coisa lhes caísse do céu. E ao minuto 45, em cima do intervalo, num canto, os irlandeses marcaram. Sem surpresa, de resto. A produção da equipa nacional tinha-se ficado por um remate de Diogo Jota, ao poste. No período de compensação, Jota ainda rematou para o único deslise do jovem guarda-redes Gavin Bazuru, que emendou de imediato e evitou o frango.
Para a segunda parte a equipa entrou com André Silva no lugar de Rafa, e isso fez bem … a Ronaldo. Ocupou um espaço na superpovoada área irlandesa, e isso libertou mais o capitão da selecção nacional, mais libertado também da frustração do penalti falhado, e porventura mais convencido que era mais importante ganhar este jogo que marcar, ele, o tal golo.
Paralelamente, os burgueses começaram a perceber que do céu não cairia nada, e a fazer alguma coisa pela vida. Ainda assim muito menos do que faziam os da Irlanda, todos dentro da sua área. Ou no chão, sempre que podiam. E como nunca víramos uma equipa britânica fazer.
Jogar bem, é que não. A bola circulava mais pelos jogadores portugueses, é certo. Com João Mário (na vez de Bruno Fernandes) e Moutinho (na do esgotado Palhinha) passou a circular melhor. Mas sempre para o lado e para trás, como gosta Fernando Santos. E cruzamentos e mais cruzamentos, invariavelmente anulados pelos dez ou onze irlandeses dentro da área, sempre de frente para a bola. Apenas por duas vezes a bola foi cruzada da linha de fundo. Na segunda, aos 90 minutos, levada pelo Gonçalo Guedes (que substituíra João Cancelo) deu no golo do empate.
Um golo naturalmente muito festejado. Por tudo, também por ser o do empate. Depois dos festejos a bola foi ao centro, mas foram os irlandeses a reagir. Só não marcaram de imediato … por milagre. E ensaiaram até passar a defender muito alto, mesmo em cima da área de Rui Patrício. Tudo ao contrário do que teria de acontecer. Mas havia outro milagre para acontecer, ao sexto dos 5 minutos de compensação, na última jogada da partida, quando Ronaldo voltou a cabecear - como só ele consegue - aquela bola centrada por João Mário.
Claro que foi Cristiano Ronaldo que resolveu este jogo. Esse é um facto. Mais ninguém poderia marcar aqueles dois golos. Poderá dizer-se que resolveu os problemas que criou, e que, sem ele, talvez fossem criadas outras oportunidades, e marcados outros golos. Mas isso já não é factual.
Facto é também que cada vez ganha mais forma a ideia que a selecção nacional tem no seu seleccionador o principal problema. E com ele, fazendo dois em um, o de Cristiano Ronaldo. Por muito injusto que isso seja, e por muito difícil que seja hoje de dizer!
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