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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Euro 2024 - VII - Despedida à medida

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A selecção nacional, apontada como uma das principais favoritas, está fora do campeonato da Europa da Alemanha, eliminada nos quartos de final pela França, a maior das principais favoritas. No desempate por penáltis, onde os franceses fizeram o pleno, e Portugal falhou um, aquele que João Félix atirou ao poste direito da baliza de Maignan. A bola poderia ter entrado, mas escolheu espirrar para fora.

Foi o final perfeito para a narrativa oficial. A selecção fez o seu melhor jogo, numa participação medíocre. Teve 60% de posse de bola, e criou até mais e melhores oportunidades para marcar. Tudo perfeito para a narrativa da vitória moral, e para esconder o "rei que vai nu" nesta selecção de Martinez, escolhido a dedo para servir a realidade da FPF e do negócio.

Para esconder que esta selecção francesa, com o melhor lote de jogadores da competição, a par da portuguesa e da inglesa - todas as maiores decepções desta competição - tem sido, na realidade do jogo praticado, a mais fraca dos últimos anos. E, acima de tudo, para esconder o falhanço rotundo das decisões da super-estrutura da selecção, que condenaram ao fracasso a melhor geração de futebolistas alguma vez à disposição da causa do futebol nacional.

A imprensa portuguesa não o diz. Teremos de recorrer à estrangeira para perceber que a selecção portuguesa foi tornada numa corte com o fim único de servir a lenda Cristiano Ronaldo. 

“Cristiano arruinou a competição de Portugal. Entendo que seja uma lenda, mas desde há anos que corta a projecção de outros jogadores, não traz nada a esta equipa. Portugal jogou com dez jogadores. Impediu que Portugal avançasse na Europa e na competição”, disse ao “AS” o analista Daniel Riolo da RMC Sports.

O britânico “Guardian” dá a selecção portuguesa como uma equipa "reduzida a uma função do ego de um homem". E faz notar que Cristiano Ronaldo foi o único jogador da equipa portuguesa que não foi reconfortar João Félix: "Há um homem que não corre para Félix. Em vez disso segue na direcção contrária, na sua, perseguido apenas pelo olhar lascivo das câmaras. Era Cristiano Ronaldo”.

"Opta Sports"  diz que "o problema é que Ronaldo tem de ser o centro do universo de Portugal quando está a jogar". 

Fico por aqui, para não ser fastidioso. Em Portugal, qualquer destas observações seria passível de acusação de crime contra a pátria!

Cristiano Ronaldo não é, nem poderia ser, o extraordinário jogador de futebol que foi. Mas ainda é a maior estrela mediática do negócio do futebol. Continua a arrastar multidões e a movimentar paixões como nenhum outro. E por isso um filão que a FIFA, a UEFA e a FPF não querem deixar de explorar. Que aqueles organismos internacionais o façam, percebe-se. Que a FPF alinhe pelo mesmo diapasão é que não. Não, porque, com isso, está a destruir o seu próprio património, que é o talento de tantos outros dos seus jogadores e o prestígio do próprio Cristiano, que é património de prestígio do futebol português, que lhe compete preservar.

O ego de Cristiano fez o resto, deixando-se arrastar para um papel de atracção de circo. Quando Fernando Santos, já finalmente decidido a apresentar um futebol à medida do talento de que já dispunha, decidiu retirá-lo do trono inamovível, foi despedido. E substituído por um gerente de circo contratado a preceito, com a preocupação prioritária de recuperar a atracção principal. Por isso, o seu primeiro acto de gerência, foi aquela viagem à Arábia Saudita. Para que tudo ficasse bem claro!

Por isso Cristiano Ronaldo jogou todos os minutos. Todos os jogos, como se nem precisasse de poupança. Noventa, ou dois consecutivos de 120 em quatro dias. Como se fosse indispensável quando nem sequer era útil. Com medo que qualquer alternativa - como naqueles fantásticos 6-1 à Suíça no Mundial do Catar - pudesse correr bem.

Não faço ideia se Cristiano Ronaldo percebeu finalmente que o reduziram a mera atracção de circo. E que não aceita mais isso. O que ouço - o que ouvimos - é que já disse que este foi o seu último europeu. E todos os outros a dizerem que ele sairá quando quiser!

 

 

 

 

Nós por cá

Tuguices

(Foto daqui)

Na Madeira vamos tendo um governo sem programa, sem orçamento, mas com um chefe inamovível. Por cá, pelo continente, André Ventura não tem vergonha nenhuma da forma como "inquiriu" (na Comissão Parlamentar de Inquérito) a mãe das gémeas brasileiras. Marques Mendes diz que o "Dr Nuno", ao não dizer nada, continua a criar problemas ao pai, Marcelo. Que, nada mais dizendo disso, diz que as "poucas vergonhas" das escutas, e das violações do segredo de justiça, serão resolvidas com a reforma da Justiça, remetendo uma questão de "simples vergonha" para as calendas das reformas. Já não se adiam reformas, adiam-se os problemas de simples aplicação da lei para as sempre inexecuíveis reformas.

E Cristiano Ronaldo continua a dividir. E a extremar, com "haters" de um lado e, do outro, os "haters dos "haters". 

Nem sei quem é mais extremista. Para os "haters dos haters" já vale tudo: um passe - uma assistência, a quinta em seis participações, que iguala o record de Poborsky, numa única - uma carícia numa criança, ou a recepção a invasões de campo para a selfie a preceito. Para os "haters" o passe só aconteceu por ter pensado que estava fora de jogo, e tanta invasão de campo, num território de competência como o alemão, só pode ser manobra da toda poderosa "Nike", o patrocinador da selecção alemã, da portuguesa ... e de Cristiano Ronaldo.

É assim. E somos assim ...

A grandeza de CR 7

Vídeo: Veja o momento de classe e 'fair-play' de Cristiano Ronaldo

Não tenho dúvidas em afirmar que Cristiano Ronaldo protagonizou, ontem, um dos melhores momentos de desportivismo de sempre no futebol. Raro, e só ao alcance dos realmente grandes em carácter.

Não têm sido poucas as vezes em que lhe critiquei traços de carácter, porventura algumas delas equivocado entre carácter pessoal e espírito competitivo. Ou talvez incapaz de perceber que,  num "animal" de competição como ele, é muita curta a distância que separa o êxito da frustração. Por isso não poderia deixar de salientar esta atitude exemplar de dignidade de que só os maiores são capazes.

Certamente que já vimos Cristiano Ronaldo ser igual a tantos os outros, simulando e tentando tirar proveito da arte de enganar. Provavelmente já beneficiou de alguns penáltis mal assinalados. Mas provavelmente foram ainda mais os que ficaram indevidamente por assinalar. 

Ontem, logo no início do jogo para a Liga dos Campeões asiática, entre a sua equipa - o Al-Nassr - e a equipa iraniana do Persepolis, o árbitro chinês - Ma Ning, que provavelmente nunca sairia do anonimato - assinalou penálti, por suposta falta sobre a estrela portuguesa, que os narradores da televisão deram logo por indiscutível. Na repetição via-se que tinha havido toque na perna do craque do Al-Nassr. Só depois se percebeu que fora Cristiano a provocar o contacto mas, antes de tudo isso, já ele indicava ao árbitro que não. Que não era penálti!

O árbitro recorreu ao às imagens do VAR e reverteu a decisão. Mas nunca se saberá se, sem aquele sinal de "não", com o indicador, peremptório, de CR 7 o VAR teria sequer intervindo. Sabe-se é que este gesto de Cristiano vale mais que qualquer dos recordes que já bateu e dos que ainda quer bater.

 

Prova dos nove

Portugal verpulvert Luxemburg met grootste zege ooit | NU.nlRoberto Martinez confirms his plans for Cristiano Ronaldo after taking ...

Com Martinez, como com Fernando Santos, - e tão iguais que eles são! - a selecção joga bem, e joga mal, é de topo, ou simplesmente banal, conforme inclui, ou não, Cristiano Ronaldo. É assim, e vem sendo assim já há muito tempo.

Depois de um jogo miserável, e de um lisonjeiro 1-0, com a Eslováquia, três dias depois, uma exibição categórica, realmente ao nível dos jogadores de eleição de que dispõe, e a maior goleada da História da selecção portuguesa, com 9-0 ao Luxemburgo. Do 8 ao 80!

Os mais distraídos poderão pensar que o que mudou foi o adversário. Que a Eslováquia não é o Luxemburgo. A esses convém lembrar que o Luxemburgo era, no fim da quinta jornada, o segundo classificado do grupo. Atrás da selecção portuguesa, e à frente da eslovaca. E das restantes três. Que o Luxemburgo já não tem hoje uma selecção da quarta divisão europeia, como teve durante décadas. 

Não. O que mudou é que, com a Eslováquia, o "melhor do mundo" jogou os 90 minutos do jogo, e viu um cartão amarelo - que teria sido vermelho se fosse outro qualquer jogador a entrar daquela forma sobre o guarda-redes adversário - que o impediu de jogar ontem com o Luxemburgo, no Algarve.

O que mudou, e o que muda sempre que nos últimos dois anos Cristiano Ronaldo não joga, é tão evidente que já nem o próprio pode deixar de ver. 

A selecção portuguesa de futebol, e o país, devem, inegavelmente, muito a Cristiano Ronaldo. Já que a estrutura da Federação Portuguesa parece não se preocupar muito que isso seja esquecido, deveria ser o próprio Ronaldo, vendo o que não pode deixar de ver, a preservar o seu legado, e a defender a sua muito provavelmente inigualável História na selecção nacional. Para isso resta-lhe a oportunidade de anunciar a sua retirada, e acordar com a Federação uma despedida em grande, onde quer que seja (menos na Arábia Saudita, evidentemente!), num jogo entre a selecção nacional e um seleccionado internacional dos maiores jogadores das quase duas décadas que dividiu com Messi no trono do futebol mundial. E, já agora, que jogasse 10 minutos em cada uma das equipas para, por uma vez, jogar ao lado do rival e genial argentino.

Isso é que era bonito. Mas já se está a fazer tarde! 

Vão-se os dedos, ficam os anéis ...

Ainda antes de abrir o mercado de contratações de inverno, Cristiano Ronaldo, em "falência" competitiva, assinou o contrato mais valioso da história do desporto mundial, na ordem dos 200 milhões de euros por ano, num total de 500 milhões em dois anos e meio.

Antes, dizia que não procurava recordes, que eram eles que o perseguiam. Agora, que já não dá para procurar recordes, e que prestígio lhe vai fugindo das mãos, mas que também não precisa de dinheiro, melhor pode dizer que não o procura. Que é o dinheiro que não larga!

Ao contrário do adágio popular, "vão-se os dedos, ficam os anéis"!

É isto!

Rui Calafate aconselha Essugo e todos os jogadores: «É preciso bom senso  nas redes sociais» - Sporting - Jornal Record

Dário Essugo, um miúdo de 16 ou 17 anos, que já joga na equipa principal do Sporting, e promete - não é ele, o próprio, que promete, porque, isso sim, não seria "bom senso" - ser grande no futebol, entusiasmado com a final do mundial de futebol, e com Messi, "postou" no seu Instagram "Messi goat".

Foi trucidado por um arrastão de energúmenos, e obrigado a apagar o que escrevera. Sabe-se como estes arrastões são o "pão nosso de cada dia" das redes sociais. Trate-se do que se tratar. Sabe-se como a clubite tomou conta do assunto. E como nem quem tem responsabilidades na comunicação lhe escapa. Não se imaginaria era que chegasse ao ponto de se colocarem ao lado da estupidez e da intolerância da turba das redes sociais. Que, perante a brutalidade, escolhessem acusar a vítima de falta de "bom senso"!

É (ainda) isto! 

 

O mundial (da despedida) de Ronaldo & Messi

Cristiano Ronaldo e Lionel Messi juntos em campanha de marca de luxo

Cristiano Ronaldo e Lionel Messi têm pouco em comum. Só que é muito, o pouco que têm em comum - o génio que os colocou no topo do futebol mundial durante década e meia, somando 12 bolas de ouro nesse período, com vantagem (7-5) para o génio argentino. Entre 2008 e a actualidade, só por três vezes um deles não foi "o melhor do mundo": em 2018 (Modric, em ano de mundial), em 2020 (Lewandowsky, no tributo ao golo) e neste ano (Benzema, no tributo à persistência). Durante 11 anos consecutivos ninguém se intrometeu entre eles!

Tinham, até ontem, também o insucesso comum de, ambos com o recorde de cinco presenças em fases finais, nunca terem sido campeões do mundo. O título que faz a diferença entre os melhores de sempre. Faltando o título de campeão do mundo falta sempre qualquer coisa a uma grande carreira. Faltando uma presença marcante numa fase final de um mundial, fica ainda mais a faltar. Messi já tinha sido o melhor do mundial do Brasil, em 2014. Mas não era suficiente. A Cristiano Ronaldo até isso faltava. Ambos contavam apenas com um título continental de selecções.

  Este Campeonato do Mundo do Catar era a última oportunidade para ambos.O argentino já tinha avisado que seria o seu último. Ronaldo, sem tal pronúncio, terá 41 anos no próximo...

Nada mais têm em comum. São personagens e personalidades completamente diferentes, fisicamente diametralmente opostos, e jogadores totalmente distintos na sua relação com a bola e com o jogo. Messi levita no campo, Ronaldo é tracção total. Ronaldo é um atleta que ataca o espaço e a bola, Messi é um artista no espaço que pisa com uma bola colada aos pés. Ronaldo é explosão a atacar o espaço, e rapidez e potência a atacar a bola. E isso exige condições físicas e atléticas no máximo. Messi, inventa espaço onde ele não existe através do drible e do passe. Para isso Messi não precisa, nem nunca precisou, até porque nunca teve, condição atlética de topo.

Os anos pesam de forma completamente diferente nos atributos de um, e de outro. E, depois, na confiança. Como se viu. Messi continua a fazer o que sempre fez. E a marcar golos que só ele consegue. Ronaldo já não marca os golos que só ele conseguia. E, sem confiança, nem os que qualquer um marca. Para Messi, o parágrafo anterior continua a conjugar-se no presente do indicativo. Para Ronaldo tem que utilizar o pretérito perfeito.

Só por isso, dificilmente Cristiano Ronaldo poderia chegar a este Mundial em condições para fazer o que não fez nos anteriores, no apogeu do seu ciclo bio-desportivo. Não é por acaso que já passaram cinco anos sobre a sua última bola de ouro, a quinta. Então, tantas quanto Messi, que depois disso venceu mais duas e, pelo que se viu, poderá ainda voltar a ganhar a próxima.

Ao natural ciclo da vida. e às características do desempenho desportivo acrescem, depois, os traços de personalidade de cada um. Ambos terão à sua volta uma estrutura de gestão das suas carreiras pessoais e desportivas. Pouco se sabe da do discreto Messi - apenas mais um distinto traço de personalidade. Da de Ronaldo sabe-se que funcionou na perfeição durante anos, mas que não funciona mais. Tudo o que constitui a desastrosa gestão de carreira dos últimos meses, que liquidou qualquer possibilidade de sucesso na participação neste mundial,  mostra que não já não funciona.

Não é nada de inédito. É da dinâmica das organizações que equipas de sucesso acabem esgotadas. Mas, e mais uma vez por traços de personalidade, não será de excluir que o "ego" de Ronaldo tenha transformado a sua estrutura, na sua corte. Que, em vez de aconselhamento lúcido e sensato, passar a dizer ao soberano apenas o que ele quer ouvir. E garantir as mordomias cortesãs.

Daqui sai a última peça do puzzle que fecha a história de dois génios da bola que chegaram ao Catar à procura do título que lhes faltava. Messi com toda a equipa ao seu lado, e com 46 milhões de argentinos atrás de si. E a encher estádios. Da Argentina saíram 45 mil. De outros pontos do mundo terão chegado mais de uma dezena de milhar. E Ronaldo a dividir a equipa, dentro e fora de campo. E a dividir o país!

Entre quem acha que Ronaldo está a arruinar uma carreira brilhante, e quem acha que quem acha isso é ingrato. E invejoso. Entre quem gostaria que Ronaldo soubesse sair dignamente de cena, e quem quer reduzi-lo à simples expressão da clubite. Entre quem lamenta que um grande jogador de futebol de expressão mundial se recuse a aceitar a lei da vida, e quem lhe exalta o ego à dimensão do fanatismo religioso. 

Uma questão de fama

Fotógrafos se aglomeram para registrar Cristiano Ronaldo no banco de reservas

Esta é a fotografia, dos fotógrafos. A fotografia é outra.

Com as equipas perfiladas no centro do terreno, na hora dos hinos, meia dúzia de fotógrafos, uma pequena minoria, aponta as objectivas para captar essas imagens. Dezenas de outros, a imensa maioria, viraram as costas e apontaram na direcção do banco da selecção portuguesa. Lá, estava Cristiano Ronaldo.

O centro de tudo não era o relvado, onde se iria disputar um jogo decisivo, de onde sairia a última das oito selecções apuradas para os quartos de final do Campeonato do Mundo de futebol. O centro de tudo era, indiscutivelmente, Cristiano Ronaldo no banco de suplentes.

Se aquela imensa maioria de fotógrafos apontou as câmaras fotográficas para o mais emblemático jogador de futebol, e uma das mais mediáticas figuras mundiais, ou se para uma presa abatida, ali atrás, é a dúvida.

Ou talvez uma questão de fama. 

Da má fama que cobre grande parte da classe. E da fama de Ronaldo. Que faz romper os limites da crueldade!

Dia Histórico na selecção nacional

Cristiano Ronaldo não é a fonte de onde brotam todos os problemas da selecção. Mas que de lá sai a maior parte deles, ficou hoje mais que demonstrado. 

Os que não têm essa origem, têm-no, como tem sido dito e redito, por aqui e não só, no seleccionador. Na sua ideia de jogo que mata à nascença o talento e a alegria de jogar destes jogadores, mas também naquilo que tem sido a notória subserviência a Ronaldo. 

Hoje Fernando Santos libertou-se dessa subserviência e, com isso, libertou os jogadores para uma exibição e um resultado que, agora sim, dá sentido às palavras que antes eram proferidas em vão. A proclamada aspiração de ser campeão do mundo, que antes era ridícula, é hoje ambição legítima.

Acredito, e creio que a maioria das pessoas que acompanham estas coisas também, que na origem de tudo o que hoje mudou na selecção portuguesa esteja o episódio do minuto 67 do jogo com a Coreia.

As palavras de Ronaldo no momento da sua substituição, foram uma óbvia traição a Fernando Santos. Traição de Ronaldo, porque o tem defendido, acima de tudo e de todos. E traição da estrutura da Federação porque, para defender o jogador do indefensável, o projectou, mais que para o ridículo, para a indignidade e o descrédito.

Ao fabricar aquela patética "concertação" de comunicação, escondendo-lhe o que tinha sido testemunhado por dezenas de câmaras de televisão, e impingindo-lhe um  insulto de lana caprina a um coreano qualquer, a Federação atingiu-o na própria dignidade.

Traído, Fernando Santos, percebeu finalmente que, para sobreviver, teria de se libertar da teia de cumplicidades que o envolvia. E de mudar de paradigma.

E ganhou respeito. Dos adeptos, mas acima de tudo dos jogadores.

Ronaldo ficou no banco, como não poderia deixar de ser. Não ficavam resolvidos todos os problemas da selecção, como os primeiros 10 minutos do jogo demonstraram. Mas ficaram resolvidos quase todos.

Foi o tempo que os jogadores demoraram a soltar-se e a habituarem-se ao novo paradigma de liberdade, que lhes permite jogar o que sabem. A partir daí foi jogar à bola.

E isso todos sabem fazer. João Félix, Bernardo Silva, e Bruno Fernandes como poucos. E como jogaram ... E como jogou, e o que trouxe Gonçalo Ramos para o futebol da selecção. Com três golos - o primeiro hat-trik deste Mundial - e ainda uma assistência para Rafael Guerreiro, no quarto golo.

Foi "só" isso o rendimento do substituto de Ronaldo. Saiu a 20 minutos do fim, com o resultado em 5-1, para entrar Ronaldo, numa substituição que se entende perfeitamente. Que reforça a autoridade do seleccionador, protege a equipa e ... protege Ronaldo. Que continua a não saber proteger-se. Foi o primeiro a sair para o balneário, deixando os colegas no relvado a festejar o apuramento. Por ele, só festeja os seus êxitos pessoais!

A fechar uma grande exibição, e um resultado histórico, sem paralelo nestes oitavos de final, um grande golo de Rafael Leão, um dos últimos a entrar, mas ainda a tempo de deixar a sua marca num jogo onde a Suíça foi completamente atropelada, e vergada a - certamente - uma das derrotas mais pesadas da sua História. 

Agora, nos quartos, segue-se a sensacional selecção de Marrocos. Com os novos horizontes abertos por este dia histórico para a selecção nacional é legítimo, agora sim, aspirar às meias finais. E, para já, repetir 1966 e 2006.

 

 

 

Apresentações feitas

Mundial 2022: Ronaldo eleito o melhor em campo no Portugal-Gana |  MAISFUTEBOL

Com Marcelo a ver - e a cumprir a promessa de "partir a loiça toda", em privado, num encontro com o Presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, sobre educação, numa iniciativa da fundação Education For All, em conjunto com as Nações Unidas, transmitida na Internet - a selecção portuguesa estreou-se neste último dia da primeira jornada do Mundial, num estádio feito de contentores e com nome de indicativo de número de telefone (974 - o indicativo internacional do Catar, o 351 deles).

Nos contentores da selecção não havia carga, apenas emoção, percebeu-se logo pela humidade nos olhos de Cristiano Ronaldo quando se iniciou o hino. O indicativo também facilitou a comunicação. A equipa não comunicou, e não foi só para Rúben Dias, no primeiro golo do Gana. Nem para Cancelo, no segundo. Nem ainda para Diogo Costa, no último segundo do jogo, no que esteve perto de ser o hara-kiri final desta selecção.

Na verdade pouco ou nada funcionou na selecção. Funcionou sim - isso nunca falha - o futebol pobrezinho de Fernando Santos. Sempre pobrezinho, e sempre mais pobrezinho ainda com Cristiano Ronaldo na equipa, como está mais que demonstrado. Como demonstrado está que Fernando Santos é mesmo capaz de transformar jogadores de classe mundial em meros jogadores banais.

Já não há paciência para o que dizem ser o futebol de paciência da selecção. Nem para o resto!

Por exemplo, Fernando Santos escolheu jogar com a Nigéria para preparar este jogo. O argumento é que seria a equipa mais parecida com a do Gana, para quem perdera a qualificação. Se era para isso, quem é que compreende que a equipa que hoje subiu ao relvado, quase nada tivesse a ver com a que passou, com distinção, no teste. E, sim, na boa exibição com a Nigéria não jogou Cristiano Ronaldo.

A sofrida vitória sobre a 61ª selecção do ranking da FIFA - sim é equipa menos qualificada que está no Catar - acabou por ser a única coisa positiva da estreia da selecção. E, se não caiu do céu, não faltou muito.

Na primeira parte foi o tal jogo de paciência, para que já não há paciência. A equipa portuguesa nunca mandou no jogo a sue bel-prazer. Nunca sufocou o adversário, nem nada de perto. Mas, na verdade, também nunca deixou que o Gana mostrasse qualquer tipo de ameaça.

Na segunda foi pior. Não dominou o adversário, nem sequer nunca controlou o jogo. E permitiu que o adversário ameaçasse.

Ameaçava já quando, já mais de metade da segunda parte se tinha esgotado, do céu, caiu um penálti. Que Cristiano Ronaldo converteu em golo, estabelecendo mais um recorde - o primeiro jogador a marcar em cinco campeonatos do mundo. E sabe-se como isso é o que mais importa.

Nem com um golo caído do céu a equipa serenou, e permitiu o empate poucos minutos depois, na primeira falha da defesa portuguesa. Falhou Rúben Dias, e  falhou, em acto contínuo, Danilo. 

A equipa do Gana mandou-se para cima da selecção portuguesa, com todos estes nomes. E foi isso, essa desenfreada busca pelo golo da vitória, que permitiu, em contra-ataque, que a equipa de Fernando Santos chegasse ao 3-1, com dois golos em dois minutos. 

Mas, nem ainda assim, e a 10 minutos do fim do jogo, tivemos equipa. João Cancelo, transformado num jogador banal, foi isso mesmo. E o Gana voltou a marcar, transformado os inacreditáveis 9 minutos de compensação num pesadelo. Que só não tenebroso porque, no último minuto, o IñaKi Wiliams, saído de dentro da baliza portuguesa, e nas costas de Digo Costa, escorregou quando lhe roubou a bola que ele tinha no chão, à sua frente, para fazer passar os últimos segundos.

Fechada a primeira jornada, com os jogos dos grupos G e H, estão apresentadas as equipas. E deixadas as primeiras impressões daquilo que podem ser as suas ambições.

O empate a zero - mais um - no Coreia do Sul - Uruguai, num jogo muito dividido, em que o futebol da selecção orientada por Paulo Bento foi mais interessante, acabou por ser um resultado interessante para a selecção portuguesa. O pior é o resto...

O grupo G, onde a Suíça ganhou aos Camarões (1-0), teve no Brasil - Sérvia (2-0) um dos melhores jogos desta primeira jornada. Começou por ser um grande jogo, e acabou num enorme jogo do Brasil, com aquele fabuloso golo - segundo dos dois do Richarlison - a ser, desde já, muito provavelmente o melhor deste Mundial. E um dos melhores de sempre. Melhor, será difícil!

Não se sabe o que aí virá, mas que os candidatos já estão apresentados, lá isso estão. O que esta primeira jornada disse é que, na primeira linha, estão o Brasil, a França e a Espanha. Por esta ordem, mesmo.

Depois, a Inglaterra e a Alemanha. Falar de Portugal, só por graça!

 

 

 

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