Depois de uma entrada a raiar o escândalo, coma derrota perante a Arábia Saudita, a selecção da Argentina é a primeira a garantir lugar na final deste mundial do Catar.
Da decepção à partida, ao sucesso à chegada, foi um curto caminho de cinco jogos com uma história em três etapas. E quatro nomes. Primeiro o do treinador, Lionel Scaloni, que soube fazer fácil - emendar a mão - o que para grande parte dos treinadores é difícil. Depois os de dois jovens - Enzo Fernandez, primeiro; e Julien Alvarez, logo a seguir. O quarto é incontornavelmente o de Lionel Messi.
Ao estrear o benfiquista Enzo a titular logo no segundo jogo, Sacaloni mudou o rumo do futebol da equipa. Quando, ao terceiro, lhe acrescentou Alvarez, consolidou-o. O resto está em Messi, o génio que se solta da lâmpada para iluminar aquele futebol, e emprestar-lhe o brilho que sem essa luz se não consegue ver.
Foi este futebol consolidado, iluminado pelo brilho de Messi, que hoje foi suficiente para afastar a Croácia da sua segunda final consecutiva. Numa vitória clara, mas ainda mais expressiva!
Não há golos de primeira e de segunda. Mas a verdade é que, num jogo que seguia sem balizas, o resultado se decidiu já perto do intervalo, em apenas cinco minutos, em dois lances atípicos, estranhos mesmo. No primeiro, dois toques verticais, o primeiro de Otamendi e o segundo de Enzo, deixaram Alvarez sozinho na cara - e no corpo todo - do guarda redes Livakovic (uma das maiores revelações da competição) donde seria difícil sair sem penálti.
Que Messi converteu de forma a não poder ser defendido.
No segundo, não foi muito diferente o comportamento defensivo dos croatas, apanhados em contra-pé num canto a favor. Diferente foi que, em vez dos passes, foi com ressaltos sucessivos que o jovem do City chegou, e passou, pelo guarda-redes adversário.
Foram dois lances de KO para os croatas. Depois chegou Messi, e aquele espectáculo da criação do terceiro golo, que entregou em bandeja para Alvarez bisar. E acabar, com a segunda parte ainda a meio, por trazer ao jogo, e à própria exibição, a luz que os golos "sujos" não deixava brilhar.
Vai ser a segunda final de Messi. E a última - já anunciou ser este o seu último mundial - oportunidade para se juntar a Maradona.
À entrada para a segunda metade dos oitavos de final, o primeiro empate, o primeiro prolongamento ... e a primeira decisão através dos pontapés da marca de penálti.
Foi assim, com o guarda-redes Livakovic a defender três dos quatro "penáltis" (mal) cobrados pelos jogadores japoneses, que a Croácia seguiu para os quartos de final, deixando o Japão de fora.
Depois de ganhar à Alemanha e à Espanha, deixando desde logo um os germânicos de fora, o Japão era a sensação do momento. A Croácia estava longe do desempenho que há quatro anos a levara à final, em Moscovo. A conjugação destas duas circunstâncias acabava até por, pasme-se, fazer pender o favoritismo para a selecção asiática.
Que confirmou durante primeira parte, onde jogou mais e melhor que os croatas, justificando claramente a vantagem com que chegou ao intervalo. Enquanto "teve pilhas" o Japão jogou o seu futebol rigoroso, que quer a bola apenas para chegar depressa à baliza adversária. A maioria das ideias de posse de bola parte do princípio - verdadeiro e indiscutível - que quando se tem a bola não se poder sofrer golo, e esgota-se muitas vezes no objectivo de evitar que o adversário a tenha. A ideia do Japão é diferente, quer apenas ter a bola para atingir a baliza adversária. Depois, é reconquistá-la depressa, para voltar, igualmente depressa, à outra baliza.
Mas ... lá está. Isto precisa de pilhas. Muitas pilhas, bem carregadas. E, à segunda parte do quarto jogo, elas começaram a faltar.
E como a Croácia empatou - e pareceu que era tudo o que queria -, num golo de Perisic, mais ou menos caído do céu, logo no início da segunda parte, o jogo acabou. E passou a simplesmente ser uma coisa qualquer entre uma equipa que não queria mais e outra que não podia mais.
E foi mais de uma hora - o que faltava da segunda parte, mais a meia hora do prolongamento - do mais enfadonho que viu deste o Catar. De sonolência absoluta!
Valha que logo a seguir deu para acordar com o Brasil. Que, já com Neymar recuperado e no onze, despachou "a nossa" Coreia em dez minutos. Depois ... foi show de bola, com quatro golos - sublimes, daqueles que já não imaginávamos possíveis, a que nem o penálti de Neymar escapa - em pouco mais de meia hora. Um regalo para a vista, na homenagem a Pelé.
Em matéria de golos o Brasil ficou por aí, fechou a loja aos 35 minutos. Porque o grau de eficácia baixou e porque à medida que o tempo ia passando levantou o pé. Golos - e apenas um - só para a Coreia. E dos bons. E bem merecido, até porque o Alisson evitou mais com quatro grandes defesas.
E um jogo que à meia hora parecia ir acabar num massacre acabou numa goleada, é certo, mas um resultado que não humilha ninguém. E com a selecção coreana a sair inteira. Como inteiro saiu Paulo Bento, a anunciar que deu por concluída a sua missão na Coreia do Sul.
O terceiro dia dos oitavos foi memorável, com dois grandes jogos. Com tudo o que de melhor há a esperar de um espectáculo de futebol. Com muitos golos, que é aquilo que sempre mais se espera de um grande jogo, com reviravoltas no marcador, e muitas surpresas. A maior, claro, a eliminação do campeão do mundo, a super-favorita França..
A jornada começou em Copenhaga, no Parken Stadium, com um emocionante Croácia - Espanha com oito golos. A história deste jogo começa aos 20 minutos, quando o miúdo Pedri, aos 18 anos um craque da cabeça aos pés, atrasou a bola para o seu guarda-redes que ... deixou-a passar por baixo do pé para dentro da baliza.
Foi o primeiro grão de areia na engrenagem da máquina do futebol espanhol, uma máquina muito nova, pela primeira vez sem uma peça do Real Madrid, mas que não engana. É fiável, como já são as máquinas espanholas. Talvez pela juventude, a equipa ressentiu-se, e andou um bocadinho por ali atrapalhada. Demorou 20 minutos a chegar ao empate, por Sarabia, com que terminou a primeira parte.
Cedo, ainda antes de se esgotar o primeiro quarto de hora da segunda parte, passou para a frente, com um belo golo de Azpilicueta. Em desvantagem, os croatas vestiram de espanhóis e, armados da fúria espanhola, passaram a discutir o jogo e o resultado palmo a palmo. Estavam por cima do jogo quando, já dentro do último quarto de hora, Ferran Torres fez o terceiro da Espanha.
Um rude golpe, uma machadada, nas aspirações croatas? Qual quê. Nem pensar!
Menos de dez minutos depois reduziram, num golo de Orisic em que a bola se fartou de ser pontapeada até entrar. E entrou mesmo, disse a tecnologia de baliza, porque a olho nu não ficava fácil de ver. Faltavam 5 minutos para os 90, e o seleccionador croata meteu o que tinha e o que não tinha dentro da área dos espanhóis, impedindo-os de se espraiarem pelo campo, e de "matarem" as suas jogadas à nascença. E ao segundo minuto dos 4 ou 5 da compensação, empataram o jogo com um golo de Pasalic (só nomes desconhecidos), e mandaram-no para prolongamento.
Era já uma surpresa, e não apenas uma meia surpresa. O prolongamento permitiu à maquina espanhola retomar, se não o seu normal funcionamento, pelo menos a sua matriz operacional. E ainda na primeira parte do prolongamento, em três minutos fizeram dois golos - aos 100, Morata (finalmente; e que execução!) e aos 103, Oyarzabal, fecharam o resultado de um jogo louco.
E lá está a Espanha, à espera da ... Suíça!
Que noutro jogo fantástico, em Bucareste, com o mesmo resultado - e até com a mesma evolução do marcador - no final dos 90 minutos, e certamente na surpresa maior deste Europeu, eliminou a França.
A Suíça começou bem cedo a surpreender, ao impor-se à super-favorita selecção francesa. Chegou ao golo, por Sefevorivic, numa excelente execução de cabeça, aos 15 minutos, e nunca se deixou inferiorizar no jogo. Ao intervalo vencia, justamente.
Nos 10 minutos iniciais da segunda parte o jogo manteve as mesmas características, não obstante as alterações que Deschamps introduziu na equipa. Sem lateais esquerdos, com Hernandez e Digne lesionados, tinha optado, sem sucesso, pela moda dos três centrais, e na segunda parte achou por bem regressar à defesa a quatro, recuando Rabiot e fazendo entrar Coman.
A melhor oportunidade de golo tinha já pertencido aos helvéticos quando, precisamente aos 10 minutos, Pavard faz penalti. Rodriguez marcou fraco e permitiu a defesa a Lloris, e o que poderia ter sido o 2-0 da machadada final nos campeões do mundo, acabou por virar o jogo. Empolgou os franceses e destruiu a moral e a organização dos suíços. Nos 3 minutos seguintes a França criou a sua melhor oportunidade de golo (Mbappé) e marcoiu dois golos por Benzema.
Estava dada a volta ao marcador, a equipa suíça estava destroçada, e pensava-se que só poderia acontecer o que era inevitável. Mais ainda quando precisamente à entrada do último quarto de hora Pogba fez um dos melhores golos deste Europeu.
Nada disso. A Suíça renasceu das cinzas e, a menos de 10 minutos dos 90, Seferovic voltou a marcar mais um belo golo, de cabeça. Para aos 90, Gavranovic empatar o jogo.
Para que a emoção fosse ainda maior, na compensação Coman atirou à trave, o prolongamento não deu em nada e vieram os penaltis. Ninguém falhou até ao último penalti. O décimo, que Mbappé - veja-se bem - não concretizou, permitindo a defesa de Sommer.
A selecção nacional despediu-se hoje da Liga das Nações, em Split, com uma vitória dobre a Croácia. Uma vitória que é a única coisa positiva que sai deste jogo, disputado num péssimo relvado, impróprio para um jogo deste nível, entre os campeões europeus e os vice-campeões do mundo.
A exibição esteve ao nível do estado relvado, imprópria para uma selecção como esta. Poderíamos pensar que uma coisa teve algo a ver com a outra, só que temos ainda bem fresca a exibição de sábado, com a França. E aí o relvado era de excelência!
O seleccionador hoje não poupou na crítica aos jogadores. Teve razão para isso, mas também com isso quis dizer que não tinha nada a ver com o que se passou no sábado passado. E se calhar teve...
Para a História fica a vitória. Fica 3-2 no resultado final. E ninguém se vai lembrar que a equipa sofreu tantos golos quantos tinha sofrido em todos os cinco jogos anteriores. Nem que dos três golos marcados, dois foram oferecidos: um pelo árbitro, o segundo, e outro pelo guarda-redes adversário, o da vitória, mesmo no fim do jogo. Nem ainda que a selecção jogou contra dez quase toda a segunda parte.
Dos jogadores utilizados salvou-se Rúben Dias, sólido a defender e goleador, a marcar dois golos, os seus primeiros na selecção nacional. E também Trincão, que entrou ao intervalo, a substituir Rúben Fernandes, uma das maiores desilusões. Já que Rui Patrício, sem qualquer tipo de trabalho, mas também muitas vezes mal a repor a bola em jogo, não é para aqui chamado. Todos os restantes, incluindo, para não dizer sobretudo, Cristiano Ronaldo, estiveram simplesmente deploráveis.
Não é um jogo para esquecer. É para lembrar como jogadores desta craveira podem facilmente constituir uma equipa confrangedora.
A selecção nacional de futebol iniciou hoje a participação na Liga das Nações, no Dragão, precisamente onde, há pouco mais de um ano conquistou o troféu da última edição da competição. Que até foi a primeira.
Num grupo que junta só o campeão e o vice-campeão do mundo, e o campeão da Europa e da própria Liga das Nações - justamente Portugal -, e ainda a Suécia, o apuramento para a fase final será bem discutido, e o cartaz de jogos rico e apetecível.
Começou a Croácia, a vice-campeã do mundo, e senhora de um futebol atractivo de bom nível técnico. Desfalcada de três dos seus nomes mais sonantes - Modric e Rakitic fora da convocatória, e Perisic no banco - a selecção das Balcãs entrou bem no jogo, e pertenceu-lhe até o primeiro remate do jogo. E logo um remate a sério.
Depois a selecção nacional, sem Cristiano Ronaldo, começou por equilibrar o jogo - não durou mais que um quarto de hora essa sensação de equilíbrio - e passou depois a dominá-lo por completo. E até ao fim!
Quando João Cancelo marcou o primeiro golo, aos 41 minutos -e que golo! - já a bola tinha ido por três vezes aos ferros da baliza croata, e para trás já estavam cinco ou seis oportunidades de golo. O jogo correu sempre a um ritmo relativamente baixo, e com baixos níveis de agressividade - na primeira parte as duas equipas não cometeram mais que cinco ou seis faltas - o que favoreceu claramente o jogo da equipa nacional, com os jogadores portugueses a terem tempo e espaço para exibir o talento que reconhecidamente lhes não falta.
Foi por isso um jogo agradável de ver, com jogadas de bom recorte técnico, e com a equipa das quinas - a estrear o novo equipamento alternativo que, de gosto discutível, mas não feio de todo - a praticar um futebol compatível com a qualidade dos jogadores. O que, com Fernando Santos, como se sabe, nem sempre acontece. Diria mesmo que raramente acontece.
O jogo acabou para dar para tudo. E até para matar saudades do futebol de João Félix. E para João Félix matar saudades de si próprio, finalmente numa equipa que lhe permite expressar o seu futebol.
O resultado poderia ter atingido números vexatórios, e a expressão da goleada (4-1, com estreias a marcar de João Félix e Diogo J, e com o golo de André Silva no último lance do jogo a atenuar o golo sofrido, na única oportunidade dos croatas) acaba por ser lisonjeira para o vice-campeão do mundo.
Não é politicamente correcto mas, mais uma vez, fica a ideia que a selecção joga muito melhor futebol sem Cristiano Ronaldo. Não retira nada a Cristiano Ronaldo, nem apaga nada do muito que ele fez pela selecção, mas acontece demasiadas vezes para ser apenas coincidência.
Mas sabe-se que é pecado questionar se nesta altura Cristiano Ronaldo tira mais à selecção do que lhe dá. E ninguém está para pecar. Muito menos Fernando Santos, como se sabe!
A França é campeã mundial de futebol, vinte anos depois. Os franceses vieram à Rússia para ganhar e... ganharam!
O jogo da final de Moscovo confirmou isso mesmo, o pragmatismo do futebol da selecção francesa, cheia de grandes jogadores, dos melhores para cada posição, simplesmente programados para ganhar. Foi isso que mais se notou nesta final, num jogo disputado entre uma equipa preparada para jogar futebol, do bom, e outra para ganhar. Entre o futebol cínico e o futebol sexy,
Ganhou o futebol cínico. Ganha muitas vezes, ganha mais vezes ainda quando é servido por grandes jogadores. Pelos melhores!
Ao intervalo a França ganhava por 2-1. Com um remate à baliza. Um único, e mesmo esse num pontapé de penalti. E com 31% de posse de bola. Na segunda parte não melhorou a posse de bola, mas rematou um pouco mais: fez quatro remates. Que lhe renderam mais dois golos.
Poderia dizer-se que foi esta a história do jogo, uma história de eficácia. E que, dito isto, fica a estória contada. Fica tudo dito sobre o jogo. Mas não, há mais qualquer coisa a dizer.
A Croácia surgia mais desgastada que a França. Porque se desgasta mais - o seu futebol de construção é mais desgastante - e porque, obrigada a jogar o prolongamento de 30 minutos em todos os jogos a eliminar, jogou mais 90 minutos, mais um jogo completo. E porque teve menos um dia de descanso. Mas isso não se notou, e os jogadores croatas depressa tomaram conta do jogo, com o seu futebol envolvente, de circulação pelos flancos e de cruzamentos a pedir conclusão na zona de golo.
Não lhe valeu de muito. Na primeira invasão francesa aos terrenos defensivos da Croácia, Griezmann fez uma das suas fitas e sacou um falta já próximo da área adversária, sobre a esquerda. Encarregou-se ele próprio da cobrança, e Mandzukic voltou a marcar. Só que desta vez na própria baliza, no décimo segundo auto-golo deste mundial - recordista na especialidade - mas o primeiro numa final do campeonato do mundo.
Sem rematar à baliza, pouco depois de esgotado o primeiro quarto de hora, a França já ganhava. E sabe-se no que isso costuma dar...
Mas não deu. A Croácia, qual formiguinha, não se deixou impressionar e voltou ao trabalhinho, como se nada se tivesse passado. Estava bem habituada a isso - em todos os jogos tinha começado a perder, e no entanto estava ali, na final a discutir o título mundial. Continuou a dominar o jogo, a jogar melhor, a mandar no ritmo e a ter a bola só para si. E apenas 10 minutos depois repunha o empate, num excelente golo de Perisic. A bola veio de um canto, é certo, mas não é justo dizer que foi mais um golo de bola parada...
Só que, mais 10 minutos, e um penalti do VAR voltaria a colocar a França na frente do marcador. Penalti de Perisic, na sequência de um canto, mas tão falso como o livre do primeiro golo. O VAR... tem destas coisas.
E lá voltou de novo a Croácia ao trabalhinho... Até ao intervalo, a deixar incólume um resultado cheio de mentiras...
No início da segunda parte LLoris negou o golo do empate, e percebeu-se a importância do momento. Até porque a equipa francesa subia as linhas e o desgaste croata começava a vir ao de cima. Até chegarem aqueles cinco minutos fatais, depois de fechado o primeiro quarto de hora. Primeiro foi Pogba, aos 60 minutos, num contra ataque que acabaria no aproveitamento de um ressalto, em que Modric acabou ainda por perder a noção do espaço e da bola, a desferir um golpe decisivo no melhor futebol desta final. E aí acabou a resistência da Croácia, já sem capacidade física e mental para voltar mais uma vez ao trabalhinho.
Cinco minutos depois Mbappé, já em compelto aproveitamento das circunstâncias, desferia o golpe de misericórdia numa Croácia finalmente derrotada. O caricato golo de Mandzukic, 4 minutos depois (três golos em 14 minutos numa final de um mundial, é obra!) teve apenas o condão de pôr algum gelo na arrogância francesa.
A França sempre foi uma das favoritas, e não surpreende que tenha sido campeã. Mas, com os jogadores que tem, francamente... Tem que jogar muito mais.
É a Croácia quem vai discutir com a França o título mundial de futebol. E com toda a justiça, mesmo que lá chegue quase em modo "Portugal Europeu de França", ao fim de três prolongamentos consecutivos.
Foi assim, mas ainda nos penaltis, que afastou a Dinamarca, nos oitavos de final, e a Rússia, nos quartos. Foi assim, mas com vitória no prolongamento, que hoje garantiu pela primeira vez presença na final da maior competição de futebol, afastando a surpreendente jovem selecção inglesa. Foi assim, mas também com muito futebol.
A Croácia é uma das quatro melhores selecções (com o Brasil, a Bélgica e a França, todas diferentes mas todas iguais no mais alto patamar deste mundial) da competição, com um futebol atractivo, feito de ataque, sempre virado para a frente. Também ela a viver de uma grande geração de jogadores em plena maturidade...
À excepção da primeira parte, onde a Inglaterra esteve quase sempre por cima do jogo, a Croácia foi sempre melhor em todos os capítulos do jogo, sob a batuta do extraordinário Modric. Um jogador fabuloso, que encontra na selecção croata o espaço de luz para o brilho que o Real Madrid lhe esconde.
A selecção inglesa ultrapassou todas as expectativas, e deixou bem claro que, com a margem de crescimento que a sua juventude lhe garante, será no Qatar um fortíssimo candidato. Se aquilo vier a conseguir ser uma competição de futebol...
Fez-se o reset sobre tudo o que foi a fase de qualificação. Os jogos a eliminar são outra coisa e os adversários são também outros. De outro campeonato. Este jogo dos oitavos de final, com a Croácia, não teve nada a ver com o que foi a história dos três jogos anteriores, que a selecção não ganhou. Mas que também não perdeu.
Nesses jogos, nessa fase, a selecção nacional foi a equipa que mais rematou - perto de 30 remates por jogo. Que mais bola sempre teve e, como sempre aqui foi reconhecido, sem sentir o bafo da sorte. Por ligeiro que fosse.
Hoje, com aquela que foi unanimemente a melhor equipa da fase anterior, cheia de estrelas - a Croácia tem mais jogadores de puro talento que a selecção portuguesa - , com mais tempo de recuperação em relação ao último jogo (não há igualdade de condições quando uma equipa - a da casa, por exemplo - tem oito dias de intervalo para o jogo dos oitavos de final, e outra - a portuguesa - tem apenas três), fez apenas cinco remates, teve muito menos bola que o adversário, teve sorte - teve a sorte do jogo - e ganhou. Na única verdadeira oportunidade de golo que criou, já no mesmo no fim do prolongamento. Mas também terá de se dizer que poderia ter sido mais cedo, se o árbitro tivesse assinalado um penalti do tamanho da Torre Eiffel sobre o Nani.
Mas não foi só a sorte, a mesma que nos trouxera para este quadro da competição que, ultrapassada a Croácia, abre uma avenida para a final, que hoje se mudou para dentro do relvado. Nunca explica tudo, nem nada que se pareça. Mas houve sorte quando por três ou quatro vezes a bola não entrou na baliza de Rui Patrício, e uma delas acabou até no golo de Quaresma. Houve sorte quando Fernando Santos, com os penaltis à vista, retira do campo o melhor especialista que lá tinha. E depois escapa, mesmo por um fio, a essa forma de desempate.
Não. A selecção ganhou à Croácia porque foi concentrada e rigorosa. Porque foi humilde. Porque, no fim e como sempre, quando não olha para o adversário de cima, quando o respeita, encara os jogos com mais probabilidade de sucesso.
Claro que pôr a jogar os melhores - os que estão melhor - também ajuda. E hoje Fernando Santos esteve mais perto disso. Na defesa, do último jogo só ficou Pepe. Um dos piores no último jogo, e o melhor em campo hoje. Mas o que ajudava mesmo, e continua arredado da equipa, era umas ideias para o futebol da selecção.
Mas essas já não vêm. E mesmo que se ponham a caminho já não chegam a tempo. Se não vamos lá com um futebol que se recomende, que ao menos não larguemos o rigor e a concentração. Talvez dê para arrumar com a Polónia, na quinta-feira, e seguir para as meias... Mesmo que nunca tivesse sido legítimo exigir mais a esta selecção que justamente estes quartos de final!
Ah... E o Renato Sanches foi o man of the match. Não precisa de ser titular...
Aí está o Mundial, já com a bola a rolar … Brasil e Croácia deram em S. Paulo o pontapé de saída e foram os primeiros a apresentar credencias.
Os olhos estavam postos no Brasil, na canarinha, a equipa da casa e super favorita. Percebeu-se que confirmou esse favoritismo, mas as credenciais que apresentou não trazem muitas recomendações.
Quer isto dizer que faz pena que uma equipa com tantos tão bons jogadores não jogue mais à bola. E nem sequer se pode dizer que é normal em Scolari, até porque não é de agora que o Brasil tem bons jogadores sem jogar nada por aí além. Já vem sendo costume, há muitos, muitos anos, que o escrete não entusiasma. Desde Espanha 82, não?
Mas quer também dizer que não é por isso que é menos candidata à vitória final, que a acontecer lhe dará o hexa. Porque se revela uma equipa competitiva e porque tem muito peso no sistema da FIFA. Hoje notou-se esse peso. Mais, notou-se que foi esse peso a desequilibrar!
Na realidade a selecção brasileira não foi superior à croata. Foi mais feliz, mesmo que a Croácia se tenha adiantado no marcador através de um autogolo do Marcelo. Chegou ao empate na jogada saída de uma grande oportunidade para o segundo da Croácia, através de um remate feliz de Neymar. Virou para o 2-1 através de um penalti oferecido pelo árbitro japonês, com o guarda-redes croata a defender o remate de Neymar … mas para dentro da baliza. E chegou ao terceiro repetindo as condições do primeiro, depois dos croatas poderem ter feito o 2-2, agora num bico do Óscar, já na compensação.
Será este o mundial do Neymar?
Pode bem ser que sim. Hoje fez dois golos, e amanhã já só isso contará. Ninguém mais se vai lembrar da sorte... Nem do árbitro...
- Faça favor de entrar. Não repare, está tudo desarrumado. Nota-se a confusão, não é?
- Pois, se calhar a altura não é a melhor…
- Que não seja por isso, ponha-se à vontade…
- Sim, não se incomodem, eu sei o que são estas coisas. Tive algum tempo – e cuidado, por que não dizê-lo – para não ser surpreendida. E trago até uma carta de recomendação, com uma taxa de desemprego superior a 18%, ao nível de Portugal, e só atrás da Grécia e da Espanha. E com uma taxa de desemprego jovem de vos fazer inveja, já nos 52%. E também já vimos habituados à pobreza: o nosso poder de compra está 40% abaixo da média cá da casa!
- Com certeza, por quem sois…
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.