Os especialistas em demografia vinham apontando o ano de 2025 como o momento de viragem, o ano em que a população em idade activa (entre os 20 e os 64 anos) deixaria de aumentar, para se entrar numa trajectória de redução. Seria assim na generalidade dos países desenvolvidos, diziam há muito.
O Relatório anual do mercado de trabalho (Employment outlook 2025) da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), hoje conhecido, confirma essa viragem, e aponta para diminuição generalizada da população activa de 8%, num horizonte de 35 anos.
Porém, para Portugal, o Relatório aponta uma perda três vezes superior. A população activa em Portugal cairá 23%!
Estamos a falar de economia. E de um dos mais graves problemas da economia portuguesa. É, por isso, bom que se continue a falar de imigração. Convinha era que passasse a ser entre gente que saiba o que diz!
E que se lembre de James Carville, o estratega de Bil Clinton, nos idos de 1992: "é a economia, estúpido"!
A população mundial atinge hoje os 8 mil milhões de seres humanos, num crescimento que tem sido exponencial.
No ano 1000 a população mundial era de 330 milhões de pessoas. Há 11 anos tinha-se atingido os sete mil milhões de humanos no planeta. Os seis mil milhões tinham sido atingidos doze anos antes.
No ano 1 da nossa era, a população do planeta era de 170 milhões de pessoas. Mil anos depois, era de 330 milhões. Não duplicou sequer. Só no ano 1800, já a Humanidade contava com 200 mil anos de existência, atingiu os mil milhões. Os primeiros mil milhões de população mundial demoraram 200 mil anos a atingir. Para os segundos, atingidos em 1927, foram precisos 127 anos. Os terceiros foram alcançados em apenas 33 anos, em1960. Os quartos, em 14 anos, em 1974. Os quintos, em 13 anos, em 1987. Os sextos, em 12 anos, em 1999, como os sétimos em 2011. E, os agora 8.000 milhões, em 11 anos apenas.
Se a este ritmo de crescimento da população mundial acrescermos um ritmo idêntico, se não superior, do crescimento das suas necessidades de consumo, ficaremos com a ideia do que foi exigido ao planeta para responder a tamanha evolução. E da exaustão a que chegou até à emergência climática, há tantos anos no topo da agenda mundial. Mas sempre sem resposta, como se viu agora na COP 27. E em todas as anteriores 26!
Acresce, no entanto, que é um crescimento profundamente desequilibrado, paradoxal mesmo. Cresce nas regiões mais pobres do planeta, e minga drasticamente nas mais ricas.
Para resolver este desequilíbrio, e garantir a sobrevivência do mundo mais rico, não há outra alternativa que a imigração. E, no entanto, a moda por esse mundo rico fora é exactamente impedi-la. Um paradoxo, de que parece muita gente não dar conta.
Sobraria outra via - promover o desenvolvimento dos territórios mais pobres e, através dele, a desaceleração do crescimento da sua população. Mas nisso também não há quem esteja muito interessado!
Foi conhecido por estes dias o mais recente Relatório de Envelhecimento da Comissão Europeia, que é publicado de três em três anos, segundo o qual Portugal será dos países europeus com maior redução de população nos próximos 50 anos, altura em que aqui no rectângulo seremos oito milhões de portugueses, praticamente ¾ da população actual. Pior, isto é, com maiores perdas de população, apenas dois países de leste - Roménia e Bulgária – e a Grécia, essa velha conhecida e companheira de rota das últimas décadas.
Claro, com esta panorâmica, o potencial de crescimento da economia portuguesa será o mais baixo da Europa. Porque, evidentemente, a economia é feita de pessoas, e são as pessoas que fazem a economia. Com menos pessoas, menos economia.
Mas nem é aí, no lado da economia, que está o lado mais dramático da realidade que está à vista de todos. Dramático é mesmo a percepção que, se o rumo não for invertido, no limite, o país tende a desaparecer. Dramática é essa ideia de falência colectiva para que fomos arrastados nas últimas décadas por elites míopes e sem estratégia.
Basta lembrarmo-nos que ainda há dois ou três anos tínhamos um primeiro-ministro que mandava os jovens emigrar, e um país rendido à irresponsável ideia da zona de conforto. Instalou-se na sociedade portuguesa uma espécie de convicção que, insistir em viver em Portugal, era recusar sair da zona de conforto. Que emigrar, sair da famigerada zona de conforto, era sinal de espírito empreendedor, na linha dos portugueses de quinhentos.
Não era. Não é. É a linha dos portugueses de 50 e de 60 que, a salto, fugiam do país para sobreviver.
É também por isso que estas notícias doem mais...
* A minha crónica de hoje na Cister FM
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