Sem mais comentários remeto-vos para estes dois textos. Mais coisas intragáveis deste regime - no caso a mesma – vistas por duas pessoas que normalmente vêm as coisas por prismas bem distintos: Daniel Oliveira, no Arrastão e Rui Rocha, no Delito de Opinião!
Vale a pena ler e continuar a seguir esta lista de coisas intragáveis…
Pedro Passos Coelho veio defender as nomeações para a Águas de Portugal (AdP), com justificações muito difíceis de engolir. Afinal, diz ele, a empresa tem um problema muito sério para resolver com as autarquias, que só autarcas poderão resolver. Autarcas devedores, acrescentaria eu! E em fim de mandato!
Ficar-lhe-ia melhor completar o perfil do administrador modelo para a Águas de Portugal: autarca, do PSD ou do CDS - por facilidade de ligação ao governo, imprescindível em razão da privatização que aí vem – com experiência em calotes à empresa, condição determinante para resolver o problema muito sério da empresa e, face á lei, impossibilitado de qualquer candidatura a novo mandato autárquico. Para combater o desemprego!
Fica muito difícil engolir tanta coisa. Faz-se um esforço, mas isto fica atravessado na glote, e daí para baixo não passa …
Mas o que dá mesmo vómitos são as declarações de Paulo Portas, para quem as críticas à quota do seu partido na administração da AdP têm a ver com xenofobia contra o Norte. Nem o pior de Pinto da Costa!
Um nojo: estão a ficar todos cada vez mais parecidos com o abominável Sócrates...
Os filhos do regime recusam-se a abandonar a casa dos pais e acham que têm direito – sendo que direitos é aquilo que recusam a todos os outros, a quem apelidam de parasitas – a manter intactas as suas mesadas. Sejam elas em vencimentos, em pensões ou em subvenções. Ou em todas elas juntas! Para eles nada muda nem nada os faz mudar!
São muitos os filhos do regime e encontramo-los confortavelmente instalados no Banco de Portugal – que se colocou de fora dos cortes dos subsídios de natal e férias - , na Caixa Geral de Depósitos e mesmo na banca privada, na EDP, na PT, etc. E têm nome, têm muitos nomes!
Chamam-se Eduardo Catroga, que aos 72 anos passa a acrescentar às muitas pensões, subvenções e outros que tões, um vencimento anual de 639 mil euros na EDP. Que justifica pelo seu valor de mercado, que tem um valor de mercado como os outros gestores ou como os futebolistas, como o Cristiano Ronaldo. Até pode ser que tenha um valor de mercado, e até pode ser que seja alto, mas não é o caso: aquele é o valor que recebia o seu antecessor – António Almeida, certamente outro dos filhos do regime – que não seria também o seu valor de mercado, mas o que tinha recebido, com as devidas e merecidas actualizações, o seu antecessor e o antecessor do seu antecessor. Isto não é valor de mercado, isto é simplesmente a mesada que o regime atribui aos seus piquenos!
E chamam-se Paulo Teixeira Pinto, que depois de dois anos de presidência do BCP foi despedido com uma indemnização – sim, aquilo de que querem isentar os despedimentos – de cerca de 10 milhões de euros, e com uma pensão vitalícia de 30 mil euros mensais. O seu valor de mercado, certamente!
E chamam-se… bem, seriam mais umas dezenas de nomes. Todos bem conhecidos, mais que os Frexes e outros que tais que o PSD e o CDS não têm vergonha de colocar na administração da Águas de Portugal… Para além do mais em evidente conflitualidade de interesses!
Este governo tem vindo em passo acelerado a construir o seu descrédito e, com ele, a descrença final do país.
A imagem cordial, de sinceridade e de verdade do primeiro-ministro, sobrepunha-se à de um governante sem rasgo e sem entusiasmo. E uma campanha mediática bem orquestrada pela intelligentsia liberal, aliada à completa ausência de oposição, ia permitindo ao governo resistir à degradação de uma prática política sempre em contramão com os compromissos eleitorais. O entusiasmo inicial de um governo constituído por gente nova, maioritariamente vinda de fora de uma classe política gasta e desacreditada, foi desaparecendo à medida que insuficiências, incapacidades e contradições foram revelando a impreparação de quase toda essa gente.
Ontem, com as nomeações para a EDP – as mais descaradas de que há memória, a confirmar o pagamento de favores que já se percebera com a Caixa Geral de Depósitos, no final do Verão – o governo não mostrou apenas que nada o distingue de todos os que o antecederam. Mostrou que não também não tem vergonha nem qualquer respeito pelo país que deveria servir. Pagando favores – pessoais e partidários, velhos e novos -, aprofundando a promiscuidade entre a política e a economia, o governo, com estas nomeações, conseguiu a proeza de gozar com todo o país distribuindo chorudas avenças por gente que acusa os portugueses de serem uma corja de improdutivos gastadores e de calões incompetentes que vive acima das suas possibilidades. O governo gozou com os portugueses ao distribuir tachos por golden poli-reformados que se acham acima de tudo e de todos, legítimos detentores de direitos que negam a todos os outros e que lhes permitem levitar acima dos problemas do país, a maioria dos quais criados por eles próprios.
Ontem, ao nono dia do ano, o governo diz que não é possível atingir o défice do orçamento aprovado há um mês e determinado pela troika. Que os 4,5% previstos subirão para 5,4 (já vi estes números referidos – e comentados - em vários órgãos de comunicação social - até na Antena 1, com comentário a propósito de Nicolau Santos - como respeitantes a 2011, mas não: referem-se ao orçamento para 2012), impondo-se novas e mais medidas de austeridade conforme, pelo que veio hoje a público, já consta de um documento do ministro das finanças distribuído no conselho de ministros de 19 de Dezembro.
As explicações são as mais disparatadas, e vão do pagamento de pensões do fundo adquirido à banca para maquilhar o défice do ano passado ao do de dívidas dos hospitais. Sem nexo, como facilmente se percebe, e a queimar o crédito do único ministro que, por mérito e pelo estilo, se ia salvando!
A verdade é que, como o Relatório de Inverno do Banco de Portugal hoje publicado revela, está aí uma “contracção sem precedentes” na economia portuguesa. Prevê uma recessão de 3,1%, contra os 2,2 do orçamento! E a verdade é que esta é a esperada confirmação da falência da receita, a confirmação do ciclo vicioso da austeridade que gera recessão que gera austeridade…
É o descrédito da política, o descrédito do governo, o descrédito do seu responsável máximo, e o do seu ministro mais credível: o descrédito total!
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