Um país ingovernado à beira da ingovernabilidade
Que Portugal é um país sem governo - ingovernado - não vai parecendo carecer de prova.
A maioria absoluta é o maior axioma da governabilidade. As agências internacionais, que procuram encontrar sinais de estabilidade nos países para garantir a sua viabilidade, que é como quem diz, estabilidade para os investimentos, e que muitas vezes se baralham, e precipitam nas suas conclusões, vêm sempre com os melhores dos olhos as maiorias absolutas de governação.
António Costa, acabado de receber no colo a tão inesperada quanto desejada maioria absoluta, ainda a beliscar-se para confirmar que não estava a sonhar, apressou-se a declarar que “a maioria absoluta não significa poder absoluto. Pelo contrário, a maioria absoluta corresponde a uma responsabilidade absoluta para quem governa”. Só que rapidamente trocou a ordem dos pressupostos, com o "poder absoluto" a passar a perna à "responsabilidade absoluta", a ponto de asfixiar por completo a responsabilidade. Absoluta ou relativa!
E caiu na irresponsabilidade. É certo que nem tudo é culpa exclusiva da maioria absoluta. Esta, conjugada com ausência de oposição - com o maior partido mergulhado na sua própria incapacidade, e o segundo, que apenas espera que a receita do populismo levede, a servir-lhe de fermento - acabou por convencer António Costa que "o poder absoluto" tornava a responsabilidade dispensável. Daí, ao absoluto descontrolo da governação dos últimos meses, foi um pequeno passo para António Costa, mas um grande salto para o "desgoverno".
Basta então encontrar sinais de ingovernabilidade.
É evidente que o "desgoverno" acabará, mais dia menos dia, com este governo. Tão evidente como a incapacidade e a pulverização da oposição se revela incapaz de gerar alternativas fiáveis. A erosão a que este governo fatalmente condenará o PS torna a "geringonça" irrepetível. E o populismo, levedo, acabará por tomar conta da alternância que tínhamos por adquirida, sem que se torne alternativa.
Se isto se não tornar evidente para António Costa, e se, mesmo que se torne, não tiver já condições para assumir as responsabilidades que lhe cabem, esta maioria absoluta acabará com a governabilidade e, definitivamente, com o regime.
Se é que não acabou já!