PROVAR DO PRÓPRIO VENENO
Por Eduardo Louro
Acho que nunca consegui assistir integralmente a qualquer desses programas televisivos que juntam personagens afectas aos três principais clubes portugueses – os chamados três grandes – à volta de uma mesa, supostamente a falar de futebol. Coisa que, como é sabido, me não é indiferente: gosto muito de futebol e gosto de falar disso. Mas quando me disponho a seguir algum desses programas há sempre um momento, mais cedo ou mais tarde – geralmente mais cedo - em que decido mudar de canal!
Obedecem a um formato que começou já há anos, nos primórdios da SIC, que, a crer na reprodução viral em tudo o que é canal televisivo de cabo, onde mesmo quem acaba de chegar o replica de imediato, é de sucesso. Não admira, a clubite é o melhor dos terrenos para o fazer medrar.
A receita é simples: um lastro de cinismo e acaba-se de encher com muita agressividade, bem temperada com uns pozinhos de violência verbal e falta de educação à descrição. À vontade do freguês. Depois, é deixar levantar fervura, sem grandes preocupações: se o caldo entornar tanto melhor!
E o caldo entorna muitas vezes… Parece que, ontem, na SIC Notícias, voltou a entornar. Dias Ferreira – o advogado e conhecido adepto e dirigente sportinguista – que é conhecido por alguma falta de dedo para o tempero, exagerou no doseamento da falta de educação. O moderador também não foi o mais moderado, e o decano da coisa, conhecido também pelo mau feitio – feitio é, como se sabe, um eufemismo de educação -, saiu porta fora.
Não sei se esta foi a sua primeira vez – creio que já é reincidente, mas não estou absolutamente certo disso. Sei que não é a primeira vez que isso sucede nestes programas: ainda não há muito tempo um conhecido adepto portista fez o mesmo, num programa do género, no canal público. O que não o impediu de retomar o protagonismo num outro espaço televisivo dado a questões mais sérias, da mesma estação. Nem sequer de se candidatar à presidência da segunda mais importante câmara municipal do país, certamente com a promessa de voltar a abrir as portas e as varandas às comemorações das vitórias do seu clube.
Estes formatos dependem tanto do destempero – a sucessiva e interminável passagem de imagens dos chamados lances polémicos, inventando polémicas sempre que não as haja, quase não passa de um pormenor – que acabam vítimas dele próprio. Chama-se a isso provar do próprio veneno!