A Turquia foi o primeiro país a chegar-se à frente nesta (nova) hora da diplomacia que começou a vislumbrar-se, e juntou hoje, no resort de Belek, na província de Antália, no sul do país, os ministros dos Negócios Estrangeiros russo e ucraniano, na primeira reunião de alto nível desde que a Rússia invadiu a Ucrânia.
As expectativas eram baixas - mais ainda por se seguir ao monstruoso ataque russo a um hospital infantil e maternidade em Mariupol - e não saíram infelizmente frustradas. Não deu em nada, e no fim apenas ficamos a conhecer o que Dmytro Kuleba, o chefe da diplomacia ucraniana, tinha para dizer. Do seu homólogo russo, Serguei Lavrov, nem uma palavra.
Dmytro Kuleba não disse muito - não confirmou a disponibilidade para as cedências que têm sido apresentadas como contrapartida para pôr fim à guerra - mas disse que não tinha sido possível avançar porque a delegação russa não estava mandatada para negociar. O que, para já, é suficiente para avaliar a boa-fé de Putin e Lavrov em negociações por esta altura.
Não é provável que seja na diplomacia turca que se encontre o engenho e a arte necessários para que esta seja mesmo a hora da diplomacia.
Não aprecio - antes pelo contrário, como por aqui tenho muitas vezes deixado claro - a figura de Santos Silva, o ministro dos negócios estrangeiros. Mas não consigo deixar de lhe atribuir mérito, e particularmente bom senso, na posição oficial do país nesta guerra diplomática contra a Rússia. Não é de resto a primeira vez que consigo acompanhá-lo, o que não muda nada da opinião pessoal que dele tenho.
Tudo leva a implicar os serviços secretos russos na entativa de envenamento de um antigo espião (Skripal, de seu nome) e da sua filha, em Salisbury, no sul de Inglaterra, naquilo que é, nas palavras do próprio ministro, “ a primeira vez que depois da guerra fria se utilizam armas químicas em solo europeu”. Mas a verdade é que no mundo da espionagem nem sempre o que parece é. E no actual clima de nova guerra fria, do outro lado está Donald Trump, uma "coisa" que nunca existiu, sem padrão de comportamento. Ou melhor, com comportamento cujo padrão é fugir aos padrões.
Neste quadro, e mesmo tendo o Estado português o poder e a influência que tem neste cenário - muito pouco ou nenhum -, faz todo o sentido este "wait and see" da nossa diplomacia. Que alinhe a sua posição nas instituições internacionais que integre, como na Nato, mas que, sabendo que a verdade dificilmente se virá a descobrir, que provavelmente nunca se encontrarão provas irrefutáveis da autoria do ataque, em vez de uma "Maria que vai com as outras", tenha a sua própria posição. E, nesse sentido, a chamada a Lisboa do embaixador em Moscovo não é uma posição nem dúbia, nem fraca.
Fraca - fraquíssima - é a de Paulo Rangel. Considerar a decisão do governo português "inexplicável" não é muito abonatório da sua competência política; considerá-la "jogo ideológico", para agradar aos seus parceiros, é ainda menos abonatório da sua lucidez e da sua seriedade intelectual. Mas ameaçar com o "Foreign Office" é francamente deplorável. Uma palermice, Paulo Rangel!
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