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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

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Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

INVERSÃO DE PRIORIDADES E OUTRAS INCÚRIAS

Por Eduardo Louro

 

A estória que vou contar ouvi-a na passada quinta-feira numa sessão da SEDES, em Leiria, e tem a ver com a directiva que a Comissão Europeia pariu (ou pôs?) sobre o bem-estar animal, na circunstância as galinhas poedeiras.

A directiva é bem conhecida, foi já suficientemente divulgada, e entrou em vigor em Janeiro, impondo, entre outros factores de qualidade de vida (?) para as pobres aves, uma maior área (o triplo) por cabeça, um poleiro, areia e até um dispositivo para afiar as unhas. Condições que obrigam a uma completa reestruturação dos aviários e significativos investimentos.

Os principais produtores europeus de ovos são países do sul: Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia. Os mais prejudicados (sempre os mesmos) e os que passam por maiores dificuldades, como é sabido.

Muitos produtores não estavam em condições de fazer esses investimentos e fecharam as suas unidades. Resultado: diminuição da produção e necessidade de importar – fala-se de 500 mil toneladas – ovos. Da América: Estados Unidos, Brasil e Argentina, principalmente!

Ovos que são produzidos nas mesmas, se não em piores condições. Mas, como diz a outra, isso agora não importa nada. Como não importou nada que a Europa tivesse escancarado as portas a produtos doutras paragens do globo, fabricados a baixo custo à conta dos mais elementares direitos dos trabalhadores.

O governo português, que acaba de aumentar em 10 mil as vagas para idosos em lares, não à custa de novos equipamentos, nem do alargamento da capacidade dos existentes, mas simplesmente da alteração do respectivo licenciamento, reduzindo as áreas per capita dos quartos e demais instalações, foi lesto na transposição desta directiva. Dando a ideia que as galinhas são mais importantes que as pessoas, quando afinal se trata da simples confirmação do bom aluno, bem comportado! Nem que para isso o que pareça é!

A Derovo, uma empresa de Pombal que nasceu da associação de produtores de ovos da região de Leiria – região que, á data, concentrava cerca de 30% da capacidade produtiva nacional – com o objectivo de responder às vicissitudes e oscilações do mercado, e de encontrar uma resposta industrial para os subprodutos derivados transformou-se, em apenas uma dúzia de anos, no líder mundial na transformação de ovos. É um caso de sucesso, estudado internacionalmente e um dos expoentes da inovação nacional.

Desenvolveu novos produtos, adaptando o ovo a cada utilização final. Tem produtos específicos para a restauração ou para a pastelaria. Internacionalizou-se e estabeleceu parcerias para segmentos especializados, como as sobremesas e as bebidas. Desenvolveu produtos, aproveitando as inesgotáveis capacidades alimentares do ovo, para dar resposta a necessidades prementes de doentes com problemas de ingestão e ou digestão de alimentos.

Fez tudo e bem, como poucos fazem em Portugal. Fez o que se exige ser feito para que a economia portuguesa abandone o seu marasmo congénito. Inovou, desenvolveu, internacionalizou-se e exporta. E está agora com grandes dificuldades em matéria-prima para dar resposta à dinâmica que criou!

Porque não acautelou os efeitos desta directiva? Não. Essa é a segunda parte da estória.

A Derovo antecipou esta realidade e, fazendo o percurso inverso ao da sua criação, chamou os produtores e desafiou-os a participar num investimento para um milhão de galinhas nas novas condições exigidas, em Proença-a-Nova. Para que, chegada esta altura, tivesse asseguradas as suas necessidades de matéria-prima. 

 Só que esperou dois anos pela aprovação do projecto de impacto ambiental. Isso mesmo, uma empresa de referência, um projecto PIN, esteve dois anos à espera de um despacho governamental. E não se pense que o líder da empresa, Amândio Santos, esteve durante esses dois anos sentado na sua secretária à espera que o ovo saísse. Não, andou a bater à porta de tudo o que era secretário de estado. E teve todo o apoio do incansável Presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova. Imagine-se se não fosse assim!

Espera agora que, quando em Outubro a unidade abrir as portas para receber as sortudas galinhas, não seja tarde de mais…

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