Ao lado da guerra
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Depois de meses a falar-se - e alguns a reclamá-lo - do plano B, fala-se agora de orçamento rectificativo. As previsões de tudo e de todos, dos que contam para tudo e dos que não contam para nada, afastam-se cada vez mais das que o governo deixou plasmadas no Orçamento. "São previsões, senhor...não passam de previsões" - diz ainda o primeiro ministro, qual Raínha Santa. O presidente Marcelo é que não se ficou pela contemplação do regaço de Costa, e tratou logo de chamar o orçamento rectificativo a terreiro. E já não se fala de outra coisa...
A diferença é que orçamento rectificativo não é nehum drama, como todos dizem, a começar no Presidente da República. Que também poderá já amanhã dizer que é, o que também não é drama nenhum. Já estamos habituados... Já estamos habituados a dramas, a orçamentos rectificativos, todos os anos ... e a tudo e ao seu contrário na boca do irrequieto presidente Marcelo.
Drama - mesmo - é que não basta rectificar a taxa de crescimento. Drama é que isso rectifica a receita. Drama é que para a manter só aumentando mais ainda os impostos. Drama é que, cortar na despesa, não é por agora menos drama...
Convidada: Clarisse Louro *
Uns nem estudam nem trabalham. São os nem nem!
Outros, estudam mas nem sabem para quê.
Outros estudaram e fazem parte da chamada geração mais qualificada de sempre.
A maioria não tem trabalho e conta para pouco mais que um número - 40%, taxa do desemprego jovem. Correm atrás de um estágio não remunerado que nada lhes acrescenta, de um biscate sazonal no restaurante que já fechou, de uma caixa de supermercado ou de um call center onde ninguém lhes veja a cara…
Boa parte deles já deixou o país, pela porta da emigração indicada pelos que (n)os (des)governam. São muitos dos melhores, que vão entregar a outros o talento e o capital de conhecimento que, num esforço de décadas, em vão o país neles investiu.
Sobrou lugar no mercado de trabalho para alguns. Para uma certa e conhecida rapaziada - uma inexpressiva parte mas nem por isso negligenciável - há sempre um lugar reservado na máquina dos aparelhos partidários. Ou a partir dela. Há muita juventude até nos gabinetes do governo, muitos jovens a entrar todos os dias, como a pouco e pouco vamos percebendo…
E, claro, para alguns jovens muito capazes, os melhores dos melhores, que chegam ao mercado de trabalho com uma enorme vontade de dar o melhor de si, de contribuir para a renovação do país, de ser parte activa na criação de uma sociedade que não lhes corte os sonhos e a vontade de mudar o mundo.
Cedo chocam com a realidade imobilista dos interesses instalados, com o status quo inamovível que não tolera a afronta. Cedo percebem que não são afinal capazes de mudar o mundo, e que, ou se adaptam e se deixam absorver pelo sistema, na certeza de que se virão também a instalar e a perpetuar o inamovível status quo, ou desistem e, desiludidos, desencantados, frustrados e vencidos procuram também eles lá fora o que o país também a eles lhes nega, de uma forma ainda mais violenta e brutal. Não é um país que se adia, é um país que, impedindo a circulação de sangue novo, nega a renovação, negando-se a si próprio.
São estas as linhas que traçam o cenário de drama que hoje marca o país. Um país que desperdiça o maior e mais importante investimento feito nos últimos 40 anos, entregando ao desbarato os cérebros em que tanto investiu, hipoteca irremediavelmente o futuro que durante décadas se julgava estar a construir. Um país que ou empurra para fora, ou castra cá dentro, aqueles que são a alma, a base de sustentação e a mola de desenvolvimento das nações, descarta o futuro.
Um país onde o presente de uns poucos nega futuro de todos, é um país que não faz sentido!
* Publicado hoje no Jornal de Leiria
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