Foi ontem apresentado (por Marques Mendes) no (meu) ISEG um livro de Eduardo Catroga: "Gestão, Política e Economia - Vivências e Reflexões". É uma espécie de "Memórias" de um dos mais proeminentes exemplares da fauna giratória do centrão que tem dominado a vida política do país nas últimas décadas, que assumiu especial protagonismo no processo de instalação da troika, em 2011. Terá por isso os seus pontos de interesse, nem que seja por razões voyeuristas, se outras não houver. Mas eu fico-me pelo prefácio.
E...o prefácio é de quem?
Acertaram. De Cavaco Silva, quem mais poderia ser?
E, tendo sido escrito por Cavaco, quem é a estrela do prefácio?
Acertaram de novo: o próprio Cavaco, como não poderia deixar de ser...
Obcecado com a irrelevância a que se conduziu, Cavaco não perde a mínima oportunidade para se pôr em bicos de pés. Na improvável hipótese de Dias Loureiro vir a publicar as suas "memórias", o provável prefácio de Cavaco seria apenas mais uma oportunidade que não desperdiçaria.
Desconfio que Cavaco desconfia dos historiadores, e quer ele próprio deixar escrita a sua História. Ou pelo menos o prefácio...
Este é o país das maravilhas de PPC. Sem nada que ver com a propaganda que, ao melhor estilo do velho vendedor de banha da cobra, Passos, Portas & Companhia por aí andam a impingir!
Foi ministro das finanças de Cavaco, onde deixou obra. Pena que a marca da passagem de tão iminente figura pela mais mítica pasta da governação em Portugal se tenha ficado pela retrete. Por uma retrete!
É figura proeminente do centrão dos privilégios, não havendo conselho que lhe escape. De administração ou geral, tanto faz. Muitos, têm é de ser muitos e bem pagos!
Já disse tudo e o seu contrário. É costume dizer-se que é preciso lata... E lata, ao contrário de vergonha, é coisa que não falta a esta gente extraordinária. De que Eduardo Catroga é expoente máximo!
Os filhos do regime recusam-se a abandonar a casa dos pais e acham que têm direito – sendo que direitos é aquilo que recusam a todos os outros, a quem apelidam de parasitas – a manter intactas as suas mesadas. Sejam elas em vencimentos, em pensões ou em subvenções. Ou em todas elas juntas! Para eles nada muda nem nada os faz mudar!
São muitos os filhos do regime e encontramo-los confortavelmente instalados no Banco de Portugal – que se colocou de fora dos cortes dos subsídios de natal e férias - , na Caixa Geral de Depósitos e mesmo na banca privada, na EDP, na PT, etc. E têm nome, têm muitos nomes!
Chamam-se Eduardo Catroga, que aos 72 anos passa a acrescentar às muitas pensões, subvenções e outros que tões, um vencimento anual de 639 mil euros na EDP. Que justifica pelo seu valor de mercado, que tem um valor de mercado como os outros gestores ou como os futebolistas, como o Cristiano Ronaldo. Até pode ser que tenha um valor de mercado, e até pode ser que seja alto, mas não é o caso: aquele é o valor que recebia o seu antecessor – António Almeida, certamente outro dos filhos do regime – que não seria também o seu valor de mercado, mas o que tinha recebido, com as devidas e merecidas actualizações, o seu antecessor e o antecessor do seu antecessor. Isto não é valor de mercado, isto é simplesmente a mesada que o regime atribui aos seus piquenos!
E chamam-se Paulo Teixeira Pinto, que depois de dois anos de presidência do BCP foi despedido com uma indemnização – sim, aquilo de que querem isentar os despedimentos – de cerca de 10 milhões de euros, e com uma pensão vitalícia de 30 mil euros mensais. O seu valor de mercado, certamente!
E chamam-se… bem, seriam mais umas dezenas de nomes. Todos bem conhecidos, mais que os Frexes e outros que tais que o PSD e o CDS não têm vergonha de colocar na administração da Águas de Portugal… Para além do mais em evidente conflitualidade de interesses!