TEORIA DA RELATIVIDADE
Por Eduardo Louro
Sou daqueles que olham para o mundo, para as grandes e as pequenas coisas que nos envolvem, cercam e acontecem, à luz de uma certa concepção de relatividade.
Já perceberam que, ao contrário do que o título sugere, não me estou a referir à teoria que elevou Einstein ao topo dos topos reservados aos seres humanos. Refiro-me à dimensão da relatividade das coisas, afinal a mesma noção de relatividade que Einstein enunciava a propósito da sua própria Teoria. Da outra, da famosa Teoria da Relatividade!
Dizia ele, pouco antes da sua morte e projectando-se para além dela, que se a sua Teoria da Relatividade viesse a confirmar-se certa, a Alemanha diria que ele era alemão e a França declará-lo-ia cidadão do mundo. Mas que, se estivesse incorrecta, a França diria que ele era alemão e a Alemanha que ele era judeu!
Penso que encontramos aqui uma outra teoria da relatividade. Que não tendo a relevância científica da outra – que, felizmente para ele, para os alemães, para os franceses e para todos os outros, estava certa – tem a dimensão das coisas simples que se tornam lições de vida.
Olhar o mundo e olharmos para os outros desprendidos do definitivo e do absoluto e presos ao relativismo não nos abre apenas a imaginação. Abre-nos ainda as perspectivas do campo de acção mas, acima de tudo, abre-nos à tolerância.
Nada nos desenvolve mais o espírito de tolerância que a capacidade de relativizar. Nada mais nos aperta, condiciona e limita que a incapacidade de fugirmos ao lado decisivo, incondicional e absoluto de qualquer perspectiva da realidade. A incapacidade de reagir à ditadura do determinismo!
Tudo isto me foi sugerido pelo “O Discurso do Rei”, o filme de Tom Hooper recentemente estreado em Portugal e apontado como a grande estrela da próxima noite dos Óscares. O maior hino à capacidade de relativizar que já testemunhei!
Enquanto o Rei Jorge VI discursava anunciando ao povo a segunda grande guerra, quando as bombas já se ouviam, nos bastidores do discurso, ele próprio e a multidão do seu staf travavam uma batalha muito mais importante.
Quando chegar ao fim de um discurso é mais importante que o seu conteúdo, e quando esse é a segunda guerra mundial, encontramos o melhor exemplo da relatividade das coisas!
A mãe da tolerância, acho eu!