A esta hora ainda nada está exactamente fechado relativamente aos resultados para o Senado, e pode até acontecer que os lugares acabem distribuídos irmãmente entre Republicanos e Democratas.
A única coisa que está garantida é que a anunciada estrondosa vitória dos Republicanos não vai acontecer. E que Trump não vai sair das eleições de ontem em passo acelerado para as presidenciais de daqui a dois anos. Até porque Ron De Santis, o governador da Florida, aproveitou a vitória para quer ser presidente, mesmo que ainda o não tenha dito.
Não é uma boa notícia para Trump. Ron De Santis tem tudo o que Trump tem, e é tudo o que Trump é, mas polido. E letrado.
Poderá não ser melhor - dificilmente o será - para a América. Mas vende muito melhor, e é bem capaz de se antecipar à grande notícia que Trump anunciara para o próximo dia 15. Ou, mesmo que não se antecipe, de a vir a estragar!
Hoje é dia de eleições na América. As intercalares, midterm, como eles dizem.
Sempre foram eleições importantes, tanto quanto todas são. São a meio do mandato presidencial - daí midterm - e servem tradicionalmente de aviso à navegação da administração na Casa Branca. E, na lógica bi-partidária americana, são frequentemente ganhas pelos que antes tinham perdido.
Até aqui, não havia grande drama nisso. A administração que ocupava a Casa Branca ficava com a vida menos facilitada, mas não muito mais que isso.
Com Trump, tudo mudou. E, hoje, não é isso que está em causa na América, mas sim a própria democracia!
Trump perdeu as eleições há dois anos. Mas entende que as ganhou, e convenceu disso todos os seus seguidores. Trump perdeu, mas o trumpismo continuou vivo. Como Bolsonaro perdeu, agora, no Brasil, com o bolsonarismo bem vivo.
Já vi por aí uns senhores, tidos por democratas insuspeitos, a garantir que é um exagero dizer que Trump, ou Bolsonaro, não representam qualquer perigo para a democracia. Que isso ficou provado no momento em que ambos foram eleitoralmente derrotados. Que, só isso, já demonstra que a democracia continuou a funcionar. Que, se não fossem democratas, não se teriam sujeitado a eleições. Ou que não se teriam permitido a perdê-las.
Ou são ignorantes, o que, para gente tão ilustre e influente, que até já foram directores de jornais de referência, é altamente duvidoso; ou são eles próprios altamente duvidosos.
Um democrata não é quem se sujeita a eleições. É, para além disso e no mínimo, preciso que aceite os seus resultados. Não é o caso de Trump (nem de Bolsonaro), como toda a gente sabe. Que se recusou, e continua a recusar, os resultados das eleições, e que fez tudo, incluindo a tentativa de tomada de assalto do Capitólio, para impedir a tomada de posse de quem havia sido eleito.
Mesmo reduzindo a democracia a simplesmente eleições, Trump não é democrata, nem nada de lá próximo. É um pantomineiro que vende pantominice ao desbarato. Que convence milhões de americanos que os imigrantes vêm destruir a América. Que chegam à América por razões políticas, ao serviço do Partido Democrata, com o fim de substituir os americanos e diminuir a influência dos brancos no destino da América. Omitindo que foram imigrantes que fizeram a América. E que os que agora para lá imigram servem para fazer o que os americanos que agora lá vivem não querem fazer. De todo, e menos ainda pelo que lhes pagam!
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