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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

O vírus*

O que aprendi sobre os Portugueses | Geral

 

Pôde ler-se ontem no Diário de Notícias que, com a pandemia, e os exames à distância, um número crescente de estudantes universitários está a abordar centros de explicações para contratar professores que os substituam nesse acto de avaliação. Surgem com ofertas irrecusáveis com um simples propósito: que um professor lhe faça o exame.

A reportagem não arrisca números. Mas os diversos entrevistados que dão testemunho do modus operandi dizem invariavelmente que, se tomarem por amostra estatística representativa o que é do seu conhecimento pessoal, este é um fenómeno de grande escala. E quer dizer aquilo que todos nós há muito conhecemos da sociedade portuguesa: uma sociedade que convive bem com a fraude, a corrupção, e o chico-espertismo. Onde viver do expediente fácil é sempre mais compensador que viver do trabalho.

Num país onde os dirigentes políticos falsificam habilitações e currículos, fazem exames ao domingo, pagam a quem lhe escreva livros, que depois compram até esgotar edições, não é de estranhar que a elite de amanhã procure comprar resultados de exames, para que mais facilmente lhes sejam franqueadas as portas para o lado de lá da impunidade.  

É este o grande vírus há muito instalado em Portugal e para o qual não parece haver antídoto, nem vacina, nem cura. Uma sociedade tão aberta à viciação só pode ser uma sociedade infectada, sem presente e sem futuro, e cada vez mais fechada ao desenvolvimento e à decência.

 

* A minha crónica de hoje na Cister FM

Os distraídos de sempre

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Sem surpresa, o Luanda Leaks volta a mostrar-nos a verdadeira face das nossas elites e das nossas instituições. De repente, percebemos que tudo o que todos nós, simples cidadãos comuns, há muito tínhamos percebido, é uma enorme surpresa para quem tem por responsabilidade tomar conta disto.

Portugal constituiu uma plataforma decisiva no processo de enriquecimento ilícito e despudorado de Isabel dos Santos. Lavando-lhe, por um lado, o dinheiro e dando-lhe, por outro, credibilidade internacional. Todos sabemos como o país se pôs de cócoras perante o dinheiro da elite corrupta angolana, é coisa tão recente que nem é preciso apelar à memória. O país precisava de dinheiro, e sabe-se como, em Portugal, a necessidade de dinheiro corre em sentido contrário ao da vergonha. Quanto maior é a necessidade de dinheiro menor é a vergonha!

Por isso, os  que ajudaram Isabel dos Santos a lavar o dinheiro e a imagem, e que foram os facilitadores da sua projecção internacional, vendendo uma história de sucesso em vez de mais uma história de corrupção num país africano pobre, são os mesmos que hoje suspiram ais de preocupação ou anunciam aos sete ventos o corte de relações comerciais. 

Curioso é que, por exemplo, o Banco de Portugal (sempre o Banco de Portugal!), para além de nunca se ter preocupado com a origem dos capitais que cá chegavam, nunca tenha encontrado qualquer problema no facto do banco de Isabel dos Santos ser presidido pelo ministro das finanças que lho entregou nas condições que todos nos lembramos. Ex-ministro que ontem foi dos primeiros a anunciar o corte de relações com a patroa, sem que ninguém saiba muito bem o que isso quer dizer...

 

Indignação*

Resultado de imagem para joe berardo e elites

 

 

Faz hoje precisamente uma semana que o país se escandalizou com o descaramento - para me ficar pelos mínimos – de Joe Berardo perante os deputados na Nação, na Assembleia da República.

A indignação tomou rapidamente conta do país, tão rapidamente como o tema das comendas tomou conta da semana mediática. E o país passou a exigir que lhe fossem retiradas as condecorações atribuídas pelos presidentes Ramalho Eanes, em 1985, e Jorge Sampaio, em 2004. Boa parte da vasta comunidade de comendadores correu para os baús a confirmar se a medalha e a ordem honorífica conferiam com as do "babe" e, enquanto uns respiravam de alívio, outros ameaçavam publicamente devolvê-las. E hoje até reúne extraordinariamente o Conselho das Ordens Nacionais, presidido por Manuela Ferreira Leite, justamente para encontrar uma resposta (que) conforme a opinião pública.

Perante tanta indignação inclino-me mais para me indignar com o país indignado.

Berardo não foi na Assembleia da República nada diferente do que sempre foi. A mesma impreparação, a mesma desarticulação de ideias e palavras, os mesmos valores, a mesma ética. Em suma, a mesma respeitabilidade nula e a mesma seriedade zero.

Não é agora que as comendas lhe assentam mal, como dizem agora as elites que lhas atribuíram. Nem é agora que mancha o tecido empresarial português, como a elite da CIP sugere sem rodeios. Não é agora que se revela um simples especulador financeiro, arredado da ética e avesso às boas práticas empresariais. Foi sempre assim. E, tendo sido sempre assim, temos que nos indignar é contra o país pacóvio e bacoco que se deixou deslumbrar por um chico-esperto sem escrúpulos, assessorado por bons, e certamente caros, advogados do mesmo quilate, que lhe gizavam os golpes perfeitos.   

Não, no Parlamento o Sr Berardo não gozou com todos nós. Gozou com os deputados! Quem gozou connosco foram as elites - essa "elite medíocre e parasitária" retratada no riso de Berardo, na certeira expressão da Marisa Matias, algures nesta semana - a quem entregamos este país, que tudo lhe permitiram nestes 40 anos … E a tantos outros, sempre no mesmo caldo. 

Resta-nos agora seguir o exemplo daquela garrafeira do Bairro Alto, e deixá-lo sozinho a beber o seu próprio vinho. Que nem dele é, afinal…

 

* Da minha crónica de hoje na Cister FM

 

 

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