Será inevitavelmente pelas tarifas que se iniciará o princípio do fim de Trump. A todas as inevitáveis consequências económicas, políticas e sociais da escalada tarifária de Trump - a inflação, a perda de competitividade, e em última análise a recessão (económicas), vão provocar descontentamento social, com forte incidência nas classes mais desfavorecidas (sociais), e erosão política da sua base eleitoral de apoio (políticas) - juntam-se os choques de interesses, e os combates abertos no interior da própria equipa de Trump.
Para já, está aberto o combate entre Elon Musk, o até agora homem forte da máquina trumpista, uma espécie de sala de máquinas da Casa Branca, e Peter Navarro, o ideólogo e mentor da tarifação.
Depois de ter comprado o twitter, de o ter renomeado X - o fetiche alfabético do senhor - eliminado qualquer mecanismo de verificação de factos, para deixar a mentira à solta e ao sabor do algoritmo, ao que se diz, Elon Musk prepara-se para comprar o TikTok.
Depois de ter comprado a rede social dos cotas, vai comprar a dos putos. Curiosamente proibida por Trump no primeiro mandato, em 2020, por ser chinesa. Decisão que, curiosamente, se tornará efectiva no próximo dia 19, na véspera da tomada de posse de Trump. E - por que não dizê-lo - também de Elon Musk. Curiosamente, nos últimos dias, Trump pediu á Justiça americana para adiar essa data.
Não há curiosidades. Nem coincidências. Há apenas mais razões para termos mais medo!
Se isto não são apenas excessos de ano novo - também num bar da cidade de Cetinje, no Montenegro, um homem armado abriu fogo e causou pelo menos 10 mortos - lá mais para para perto do dia 20, é bem possível que seja o Twitter a despenhar-se de uma janela da Trump Tower.
A versão Trump 2.0 destingue-se da inicial na exacta medida em que Elon Musk se distingue de Steve Bannon. Enquanto este vendia banha da cobra nas redes sociais, Elon Musk é dono delas (e de tudo e mais umas botas) e escreve nos jornais.
Na sua primeira campanha eleitoral, que o haveria de levar à Casa Branca, Trump afirmou que "poderia parar na Quinta Avenida, disparar contra as pessoas e não perderia eleitores".
Com essa afirmação Trump queria dizer que, dissessem dele o que dissessem, acusassem-no do que quer que fosse, a sua base eleitoral era-lhe tão fiel que nada a demoveria. Entendemo-la no domínio do fanatismo: os seus apoiantes são tão fanáticos, tão desligados da realidade e da verdade, que não há racionalidade que resista.
Oito anos depois, com quatro de presidência, e quatro de oposição, pelo meio com a negação da derrota eleitoral que lhe impediu a reeleição, e a (consequente) insurreição com invasão do Capitólio, é inegável que não há racionalidade que resista nas eleições americanas. Acusem-no do que o acusarem, os seus apoiantes continuarão fanáticos a seu lado. Acresce-lhe, agora, o aparelho da Justiça, que montou enquanto no poder, a protegê-lo do que quer que seja acusado.
Diz a História que os maiores empresário americanos financiam as campanhas mas não se expõem nelas. A prudência, e mesmo os mínimos da racionalidade, e da decência aconselham uma certa reserva e descrição nos pleitos eleitorais.
O facto de o maior empresário americano, e o mais rico do mundo, irromper nesta disputa eleitoral a oferecer cheques milionários em favor do voto em Trump é o cúmulo da irracionalidade, mas também da indecência. Quando surge a sortear cheques de um milhão de dólares - à razão de um por semana, em cada um dos sete estados em que o voto oscila entre republicanos e democratas (os chamados "swings states") - Elon Musk está a dizer que pode fazer o que quiser, que está acima de tudo e de todos.
Que se permite estar acima da lei (o Código Eleitoral dos EUA refere que qualquer pessoa que "pague ou se ofereça para pagar ou aceite um pagamento para se registar para votar ou para votar pode ser punida com uma multa de 10.000 dólares, ou com uma pena de prisão de cinco anos"), mas também do mercado e dos valores da sociedade, em particular do da reputação.
A dúvida é se esta condição lhe advém do seu próprio poder se da impunidade de Trump.
Elon Musk, o mais rico do mundo e dono da rede social X, o antigo Twitter - que comprou, e que em tempos banira Trump - entrevistou, ele próprio, o próprio Trump. A coisa não começou lá muito bem - por problemas técnicos decorrentes de um cyberataque, na versão de Musk - mas acabou em missão cumprida: elogios recíprocos, Musk a "vender" Trump aos mais de 194 milhões de seguidores que tem na sua taberna mal frequentada, e Trump de novo em força de barriga encostada ao balcão.
Poucos negócios se terão feito em tão pouco tempo. E no entanto é um dos maiores de sempre, e certamente o mais importante.
Em 4 de Abril Elon Musk anunciou a compra de 9,2% do Twitter. Dez dias depois diz que afinal não chega, quer ficar com tudo só para ele. Oferece 43 mil milhões de dólares, e os accionistas dizem que se trota de uma OPA hostil. E onze dias depois, a 25 de Abril, o negócio é dado por fechado por 44 mil milhões.
O homem mais rico do mundo, de quem se diz que tem tudo o que quiser, quis ter o Twitter. Para ganhar dinheiro, talvez não. Diz-se que aquilo não dá... Não é a maior rede social, mas é a mais influente. É a que políticos e jornalistas de todo o mundo não dispensam.
O casamento do homem mais rico do mundo com a plataforma de comunicação mais influente do mundo, não é nada de espantar nos tempos que correm. Que o homem mais rico do mundo tenha as suas excentricidades, também não. Já se tem tanto de génio como de teórico da conspiração, as coisas podem correr mal. É mesmo muito provável que corra mal!
Quando é notícia um segundo acidente mortal com um dos seus carros autónomos; quando chama de volta à fábrica 123 mil carros com problemas mecânicos; e quando a empresa está a ser fortemente pressionada em bolsa, com perdas de 20% desde o início do ano, a que corresponde uma desvalorização de 10 mil milhões - ten billions, como por lá se diz - de dólares, Elon Musk, o presidente da Tesla, resolve brincar ao primeiro de Abril, anunciando a falência da sua empresa.
Se tivesse sido um qualquer quadro da empresa a fazê-lo teria sido despedido na hora. E certamente que muito bem... Não sei se a homens - e mulheres - como Musk tudo se perdoa. Sei é que eles (e elas) estão convencidos que sim!
E sei também que nós, simples comuns mortais desprovidos de rasgo visionário, gostamos de lhes achar graça. Como aqui há uns anos achávamos às brincadeiras de Michael O’Leary, o homem da Ryan Air... A que agora já não achamos piada nenhuma!
Quando, na semana passada, foi lançado para os ares o primeiro foguetão de uma agência espacial privada, não se percebeu bem se o que mais impressionava era o gigantismo da aventura – o mais poderoso foguetão de sempre, no primeiro mega empreendimento espacial privado – se a espectacular iniciativa de enviar para o espaço um fantástico automóvel eléctrico com um boneco ao volante.
Não errarei muito se disser que o Roadster (assim se chama o modelo) da Tesla (e assim se chama a marca do automóvel) conquistou a fatia maior da atenção dispensada ao acontecimento. E se assim for – se não tiver errado muito – também voltarei a não errar em demasia se disser que, muito mais que de uma gigantesca campanha espacial, se trata de uma gigantesca campanha especial.
A Tesla e Space X – a empresa espacial privada – têm de comum o dono, o multimilionário Elon Musk que, se não for o maior, é certamente o mais arrojado dos visionários que o mundo actualmente conhece. E não é muito difícil imaginar o que um Tesla no espaço pode fazer por uma Tesla na Terra, onde tem manifestado alguma dificuldade em colocar bem os pés. Ou as rodas…
Para tornar esta campanha ainda mais espacial – ou será especial? – acaba agora de saber-se, quando não se sabe muito bem o que é que já lhe aconteceu nem por onde anda, que o mais famoso dos famosos carros eléctricos não levava apenas um boneco ao volante. Levava ainda, secretamente – tão secretamente que já se conhece – preso no seu interior um minúsculo dispositivo de armazenamento de informações, com a gigantesca capacidade de perto de quatro centenas de terabytes de dados (nem faço ideia do que seja isso!). Desvendado o secretismo, diz-se que, do tamanho de uma moeda e com uma resistência à prova de tudo e mais alguma coisa, dura milhares de milhões de anos. Tudo isto para perpetuar e levar para outros planetas, ou até para outras galáxias, o conhecimento acumulado por estes seres que por cá se foram entretendo a dar cabo disto tudo.
Ontem foi dia de regresso ao espaço. À hora dos telejornais em Portugal, e mais de duas horas depois do previsto, por causa do vento - não é só no Estoril que o vento faz das suas -, o Falcon Heavy, assim se chama o foguetão da Space X, a empresa que o multi-milionário Elon Musk - mais conhecido por ser o homem da Tesla - criou para dar vida ao turismo espacial, disparou céu acima, a caminho da órbita de Marte, com um bonito Tesla vermelho cereja a bordo. Precisamente o do próprio Musk, um magnífico exempler do roadster da marca.
Diz-se - toda a gente diz, mesmo os entendidos da matéria, ou que por isso se fazem passar - que se trata de uma da maiores proezas ha história aero-espacial. Dizem tratar-se do mais poderoso foguetão de sempre - parece que não, que o Saturn V da NASA, usado na operação Apolo, que haveria de levar o homem à lua, estava uns furos (peso, altura e potência) acima - capaz de levar tudo e mais alguma coisa para o espaço, e dizem que é o início de uma nova era espacial, que nos levará de regresso à Lua e finalmente a Marte, onde dentro de pouco tempo muitos de nós estaremos a passar férias. Ou um fim-de-semana que seja.
A mim, que não percebo nada destas coisas do espaço, parece-me mais uma gigantesca campanha publicitária, ao som de Space Oddity, de David Bowie. Cara, muito cara, como todas as campanhas verdadeiramente gigantescas!
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