E de repente o PSD regressou em força ao equívoco dos resultados das últimas eleições, já lá vai ano e meio. Maria Luís Albuquerque disse ainda ontem, no Parlamento, que os portugueses escolheram outro primeiro-ministro. Luís Montenegro não fala de outra coisa, e completamente perdido num ressabiamento que empurra a realidade para bem longe, propõe mudanças no sistema eleitoral que premeiem o partido mais votado com um bónus suplementar de deputados. Não se sabe se os cinquenta da Grécia, mas admite-se que, com o relógio político parado desde Outubro de 2015, o bónus eleitoral de Montenegro se fique pelo número exacto de deputados que tivesse dado a Passos Coelho a legitimidade de continuar a usar a bandeira na lapela do casaco. Teriam bastado 9, o que daria para arredondar para 10!
E assim, enganando-se a eles próprios, acham que conseguem enganar a realidade... E até a "morte"...
Poderíamos facilmente achar normal que lhes interessasse apenas os grandes negócios. Com um bocadinho de mais esforço poderíamos até achar normal que lhes interessasse sardinhas, e que não se preocupem nada com negócios de aviação. O que não é nada normal é que o Sr David Neeleman não soubesse nada disso, dando-se ao trabalho de engendrar um negócio com o Sr Humberto Pedrosa para enganar quem não precisava de ser enganado.
É já público, e por isso não estou a cometer nenhuma inconfidência - nem sequer a trair a confidencialidade com que, em tempo útil, fui informado da marosca - que os 49% das acções do Sr Neeleman no consórcio Atlantic Gateway, a quem o governo entregou a TAP, valem 95% do investimento e 74,5% dos interesses, seja em dividendos, seja na liquidação. E que o Sr Humberto Pedrosa até não se fez pagar mal para fazer o papel que fez: afinal consegue quintuplicar em interesses o valor do investimento. Com 5% de investimento - que, mesmo assim, foi pedir ao Estado - adquire uma posição que lhe garante 24,5% da empresa de que detém 51% das acções.
Poderia perceber-se que o Sr David Neeleman tanto quis enganar que acabou ele próprio enganado. Poderia, mas é apenas mais uma coisa que é capaz de não ser normal .
Com tanta coisa pouco normal neste "quem engana quem" acabamos por desfiar o novelo. E não é com grande o risco de nos enganarmos que chegamos à conclusão que um "quem" é o governo e o outro somos todos nós. Que o Sr David Neeleman não foi nada enganado, foi simplesmente aconselhado pelo governo a fazer assim.
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