Sócrates não tem um pingo de vergonha na cara, nem o mínimo respeito por ninguém. Nem mesmo por si próprio, se o tivesse procuraria recato e não exposição pública, onde simplesmente cada vez se enterra mais. Quanto mais se expõe mais se mostra e, definitivamente, Sócrates só tem lado lunar para mostrar.
Quem tivesse aterrado ontem pela primeira vez, chegado da Lua sem nunca ter pisado a Terra, e assistindo descuidadamente à entrevista a José Alberto Carvalho, na TVI, poderia eventualmente ficar com alguma dúvida se aquele homem não estaria a ser vítima de tudo, e de todos. Só que ninguém que assistiu à entrevista acabou de chegar da Lua. Sócrates é que, mitómano e vivendo sempre na Lua, acabou por se convencer que nós por lá andamos todos.
Com a entrevista, chamemos-lhe assim, que a SIC ontem transmitiu, José Sócrates já vai na sexta. Negada autorização para a primeira, ao Expresso, Sócrates – e os respectivos órgãos de comunicação social – deixou de a solicitar e passou ao facto consumado. E o(s) seu(s) advogado(s) também não pára(m). Não há semana em que não apareça(m) nas televisões e nos jornais!
O tom é sempre o mesmo e o objectivo é um e único: pôr em causa a Justiça e fragilizar a investigação. E se tem a vantagem de ir servindo de contraponto às notícias que vão saindo, todas – de forma manipulada, porque muitas não têm nada a ver com isso – dadas como fugas de informação em violação do segredo de justiça, tem a desvantagem de justificar um dos fundamentos – perturbação da investigação – da prisão preventiva, que legitimamente contesta. Se isto acontece com ele preso facilmente se imagina o que aconteceria com toda a liberdade de movimentos!
Porque nunca nada é esclarecido, há apenas a preocupação de lançar a confusão para esconder o que realmente são fortíssimas anormalidades. Sócrates nunca se preocupa em explicar como é que uma pessoa pede emprestado a outra, que empresta, volumes anormalmente elevados de dinheiro para manter padrões de vida – entre outros indicadores com motorista pessoal – para que não tem rendimentos. Nem em explicar como é que tenciona reembolsar montantes como os que estão em causa. Limita-se a dizer que isso não é crime.
De facto não é. Mas é inquestionável indício que esconde crimes que têm de ser investigados e provados!
Muito e diversificado foi o que se escreveu sobre a entrevista de José Sócrates ao Expresso. Escreveu-se, como sempre, contra e a favor de Sócrates. Escreveu-se em função dos pontos de partida (e de chegada) de cada um perante uma das mais controversas figuras da vida política nacional.
Escreveu-se sobre a hipocrisia política, em que é mestre. Sobre a habilidade para contornar o que incomoda, e até para mentir, no que não fica atrás. Mas, mais que tudo, sobre uma imprevisível e irreconhecível linguagem, bem mais que informal, a sugerir a descolagem de uma imagem pública desgastada por uma figura política odiada, para abrir espaço a uma personagem distendida, que lhe abra umas frestas por onde entrem alguns raios de popularidade, indispensáveis mesmo a quem diz não pretender voltar aos favores do povo.
Mas pouco ou nada se escreveu sobre o trabalho jornalístico de excelência da Clara Ferreira Alves, um incontornável trabalho de referência na especialidade. Quando em qualquer escola de jornalismo se ensinar entrevista na variante de peça escrita, mesmo que muitos possam achar que contrarie e fira princípios de isenção e de imparcialidade jornalística, este trabalho terá que lá estar.
É verdade - não é neutro, nem sequer isento. É mesmo empenhado, é envolvido, e às vezes quase militante, sem nunca o chegar a ser…
Mas, para apesar de tudo isso ser um grande trabalho, tem mesmo que ser um enorme trabalho!
Também vi, claro. Era o grande happening televisivo. Quem é que não viu?
Também assisti, no me toca sem ponta de saudades, a este regresso de Sócrates. E achei-o na mesma, igual a si próprio, sem qualquer cedência à sua narrativa. Ele, que disse estar ali para combater uma narrativa, a que chamou de narrativa …única.
É isso, não há factos. Apenas narrativas. É este também um dos nossos grandes problemas: tudo se resume à narrativa! A uma, a outra ou a outra ainda…
Fora disso, da narrativa e da manipulação de factos e números – arte em que sem dúvida é mestre – apenas uma tareia, diria mesmo um enorme tareão, no Presidente da República. E aí, a sério, acho que só se perderam as que caíram no chão…
De resto, narrativas e manipulação à parte, o mesmo Sócrates de sempre, com a mesma crispação de sempre, e a mesma arrogância de quem nunca erra. Que diz assumir as suas responsabilidades mas que é incapaz de admitir uma única. Um único erro: ter constituído um governo minoritário! Que, evidentemente, põe ao serviço de outra das suas especialidades: a vitimização!
Um Sócrates em forma, mesmo que por duas vezes lhe tenha saído um “é pá” a deixar perceber ainda alguma falta de lubrificação.
No que me parece que esta entrevista falhou foi na sua vertente de marketing. É que, se tinha também por objectivo funcionar como instrumento promocional – e eu acho que tinha - do seu novo espaço de comentário semanal, a estrear já na próxima semana, parece-me que falhou. No fim da entrevista acho que já estávamos todos fartos de Sócrates, e sem grande vontade de o passar a seguir todas as semanas!
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