O Presidente Marcelo tinha dito que responderia hoje a todas as questões que têm marcado estes últimos dias. Reportava-se à entrevista que tinha agendada para esta noite à RTP e ao "Público".
Dado que na entrevista Marcelo foi igual a Marcelo, isto é, sem tirar nem pôr, um comentador político, e dado que, no âmbito da política geral, não disse nada que tenha vindo a dizer, nem que acrescentasse o que quer que seja ao que é conhecido, com bicadas ao governo, talvez agora um bocado mais severas, e com a inevitável menção específica a Fernando Medina, há muito na sua mira, como é sabido, não há novidades. Nem grandes nem pequenas.
Percebeu-se que não dá crédito a Luís Montenegro. Mais ainda por nem o seu nome ter referido. E passou como cão por vinha vindimada sobre o "laboratório" dos Açores, onde os tubos de ensaio estão a rebentar com tanto estrondo que mais parece mais um sismo na região.
Sobre a posição do Conferência Episcopal, já lá vai quase uma semana, sobre os abusos sexuais, manifestou-se preocupado, não deixou dúvidas na condenação: Foi uma “desilusão”; a Igreja ficou “aquém das suas responsabilidades”; é "incompreensível”. Mas continua a não deixar de ser estranho, tratando-se de Marcelo, que tenha precisado de uma entrevista formal, uma semana depois, para se referir a um assunto que, evidentemente, o preocupou.
Já quanto ao relatório da IGF, que levou à decapitação da administração da TAP, foi diferente. Disse que o Governo resolveu “à portuguesa”. Mas ele também: varreu para debaixo do tapete exactamente tudo do que pior "à portuguesa" aconteceu naquele processo.
O presidente Marcelo, que amanhã assinala o primeiro aniversário da sua eleição, deu ontem a sua primeira entrevista a um orgão de comunicação social - à SIC.
Não é por acaso que começo com esta frase. É que não tenho muitas dúvidas que a maioria dos meus caríssimos e estimados leitores vai pôr em dúvida esta afirmação: a primeira entrevista?
É esse o ponto. Estamos tão habituados a ver e ouvir o presidente sobre tudo e mais alguma coisa que nem nos passaria pela cabeça que tinha sido esta a sua primeira vez. Não fosse a excitação de toda a comunicação social e ninguém daria por ter sido esta a primeira entrevista do presidente Marcelo: antes, transformada no grande acontecimento do fim de semana, obrigando até à antecipação, para sábado, da homilia de Marques Mendes. Depois, ocupando todas as primeiras páginas e desafiando a capacidade criativa dos comentadores à procura de notícia.
Porque, na verdade, o presidente não disse nada que não tivesse já dito. Não disse nada que não soubessemos. Bom, disse que em Setembro de 2020 diria se se recanditaria, mas nem aí há nada de novo: tanto sabemos que naturalmente se recandidatará, como que só o anunciará no último dos momentos. Como, de resto, já fizera na candidatura inicial.
Nem os lapsus linguae foram novidade. Quando confrontado com o seu frenesim mediático, comparou-se com o Presidente Obama, a chanceler Merkel e com a primeira-ministra britânica, Theresa May, que também falam todos os dias... Nem esta irresistível tentação pelo poder executivo é nada que não conhecessemos!
Nada disto é necessariamente mau. Defendem os mais ortodoxos da comunicação política - ou da política de comunicação na política, que vai dar no mesmo - que se deve falar poucas vezes para que aquilo que é dito ganhe importância. Ou que só se deve falar quando há algo de novo e de importante para dizer.
Confesso que gosto mais assim. Que prefiro um presidente que diga todos os dias o que tem a dizer, que se torne previsível e que não seja muito dado a surpresas. Até porque, no fim de contas, a única revelação que fez não correu bem. Ficamos a saber que o primeiro-ministro pretendia tratar o aumento do salário mínimo exclusivamente por via legislativa e que foi ele, presidente, que o empurrou para a concertação social. Correu mal, como hoje sabemos: era uma medida prevista no programa eleitoral do PS, nos acordos de formação do governo e no seu próprio programa. Não havia necessidade, como dizia o outro...
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