Esta foi a semana da Web Summit, que ontem chegou ao fim. Assim é há quatro anos, e assim será por mais nove. Pelo menos!
Não tenho dúvidas sobre a importância deste mega-acontecimento para o país. Acredito que o seu impacto económico directo cubra o investimento público que representa, sem sequer haver necessidade de fazer contas aos ganhos indirectos de imagem e de reputação para o país.
Nada do que diga a seguir colocará em causa o que acabei de dizer.
Dito isto, parece-me inegável que o maior certame mundial de tecnologia e empreendedorismo é, antes de mais, um negócio fabuloso do Sr Paddy Cosgrave e a redenção máxima do empreendedorismo moderno, na sua receita de visão de negócio e inovação, temperadas a preceito – qb - com um fiozinho de pantominice, preparada à parte.
O Estado português entrega-lhe as melhores instalações. Paga-lhe 11 milhões de euros por espectáculo, e oferece-lhe ainda milhares de voluntários, tantos quantos os necessários, ou mais ainda para, de borla, o servir uma plateia de 70 mil almas de todo o mundo, que pagaram pelo bilhete entre 8.500 e 25 mil euros. Acrescente-se-lhe o merchandising, com uma simples camisola fabricada na Irlanda a ser vendida por 850 euros. E uma promoção assegurada pelas caras que contam de todos os cantos do mundo e garantida, de borla, pela cobertura ao minuto de toda a comunicação social, ávida também ela de ser parte daquele todo que a deslumbra.
E tudo isto garantido por 10 anos!
Alguém consegue imaginar melhor negócio?
E o produto? O espectáculo, é de qualidade?
É verdade que tem aqui e ali alguma qualidade, como a abordagem à inteligência artificial e à humanização dos robots, ou aos riscos do desigual poder dos gigantes digitais. Mas na sua maioria é vulgar como a banha da cobra, com pouco mais que tentativas dar rótulo e embalagem de negócio às mais comuns das mais comuns ideias, em encenações a meio caminho entre um festival de Verão, com muita ganza, e uma assembleia evangélica em êxtase.
É assim, o negócio dos negócios… Parabéns Mr Cosgrave!
Esperei pela primeira intervenção portuguesa no Mundial da África do Sul para trazer aqui ao Quinta Emenda uma primeira espreitadela sobre o acontecimento que está a dominar a atenção mundial e, se não a fazer esquecer a crise, a passá-la para segundo plano.
Ao contrário do que alguns possam estar a pensar Portugal estreou-se hoje. Quando amanhã a selecção nacional se estrear em Port Elizabeth – um porto inventado logo ao virar da esquina do Cabo das Tormentas, já da Boa Esperança, por Bartolomeu Dias, o Navegador, não um daqueles navegadores que amanhã carregarão com o peso de toda uma nação que continua, como sempre, à espera que sejam onze rapazes a correr atrás de uma bola a expiar-lhe os pecados e a alimentar-lhe a ilusão – já o fará depois de outra equipa portuguesa: a equipa de arbitragem de Olegário Benquerença.
A prova já vai no seu quarto dia, o que já dá para algumas notas.
A primeira para provar como o destino é muitas das vezes cruel. Um acidente roubaria a vida à bisneta de Nelson Mandela, roubando-lhe, assim e também, a oportunidade de, apesar do seu estado de saúde, presidir à inauguração oficial do Campeonato do Mundo de Futebol, a prova máxima do futebol mundial que ele, de forma decisiva, ajudara a trazer pela primeira vez para a sua África e para a sua África do Sul. E roubando ao futebol a oportunidade de ser abençoado por um dos maiores vultos da humanidade do século XX!
A segunda nota vai, como não podia deixar de ser, para as vuvuzelas. Essa praga que se assemelha a um enorme enxame em incansável, laboriosa e frenética actividade. Um ruído insuportável que a tudo se sobrepõe, alterando por completo o habitat dos estádios de futebol: não há mais cânticos, palmas ou bruás! Todos os dias se diz que a FIFA irá proibir a sua utilização mas a verdade é que, dia após dia, ali está aquele ruído monocórdico, entediante … e que faz sono!
Como os jogos, e entraria na terceira nota, não têm sido nada de por aí além, também eles suficientemente entediantes – o que leva a questionar a forma como se disputam as fases iniciais deste tipo de provas (a “poule” torna os jogos demasiado fechados, onde o medo de perder se sobrepõe à vontade de ganhar, dando em espectáculos de qualidade nada condizente com a grandeza da competição) – aquilo dá mesmo sono.
O que é mau porque, adormecendo-se, perdem-se o que têm sido as excelentes realizações televisivas – a quarta nota. As transmissões televisivas têm sido realmente de grande qualidade e, essas sim, de grande espectáculo, mesmo quando o espectáculo não ajuda…
A quinta e última nota vai para as selecções africanas. O factor continentalidade não tem funcionado e os seus resultados não têm sido famosos, quando apenas falta entrar uma em acção: precisamente a Costa do Marfim, que amanhã defronta Portugal. Esperemos que se confirme a tendência e que se mantenha solteira a vitória do Gana, a quem já ouvi chamar a Itália africana.
Mas voltemos à estreia portuguesa (e leiriense) para assinalar o excelente desempenho da equipa de Olegário Benquerença no Camarões 0 – Japão 1. O jogo, talvez o que melhor ilustre todas as anteriores notas – espectáculo fraco e sub rendimento da equipa africana, recheada de estrelas – não foi complicado e Olegário teve o enorme mérito de não o complicar ele próprio. Belo desempenho a abrir boas perspectivas para o resto da prova: mais duas ou três nomeações, de preferência para jogos de grande impacto…
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