O ministro Manuel Castro Almeida declarou "que se o PS vier declarar que reconhece ao Governo condições para executar o seu programa, se declarar que se considera satisfeito com os esclarecimentos dados e que retira a comissão parlamentar de inquérito, acho que há condições para a moção de confiança poder ser retirada".
Logo no governo alguém percebeu o despudor do trade off. E como já tinham percebido o pânico que vai no PS (ele é Adão e Silva, ele é Medina, ele é até Seguro), veio o ministro Leitão Amaro dizer que não senhor, que a a moção de confiança é irreversível, e que única forma que o PS tem de evitar eleições é votá-la favoravelmente.
Entretanto, nas primeiras páginas dos jornais de hoje, "Montenegro omite obras no duplex à Câmara Municipal de Lisboa" (CM); Governo acelera PPP em cinco hospitais (Público); "Governo de Montenegro viola lei do registo de interesses" (DN), "Montenegro infringiu regras de declaração de rendimentos" (Visão).
Isto não é uma crise política. Essa dura há anos. É uma crise esquizofrénica!
O desemprego continua a subir. Vai já no terceiro mês consecutivo, sempre a subir... Dentro de dias teremos o primeiro-ministro a dizer daqui até às eleições vai ser assim: sempre a subir. Porque está tudo à espera dos resultados das eleições... E que o desemprego só voltará a cair se ele as ganhar!
O próprio presidente virá esclarecer que o "seu crescimento de 2%" tem como pressuposto, que dá como certo - nunca se engana e raramente tem dúvidas -, que a actual maioria continua no poder. Que cresce tudo no último trimestre... E que é normal que o desemprego esteja agora a crescer porque, explicará de cátedra, há uma décalage de 18 meses a dois anos para que o crescimento se faça sentir no emprego.
A ministra da Justiça virá garantir que o desemprego sobe porque a taxa de reincidência é de 90%. Sem fazer ideia do que seja isso, mas com a breve convicção que o que importa é ter um número. Não importa de onde venha, nem para onde vá. Nem mesmo que não exista!
O vice-primeiro-ministro virá virar os números ao contrário, baralhando emprego e desemprego numa confusão que já ninguém percebe do que se está a falar. O que importa é que está melhor, como dirá logo a seguir o ministro da economia... Se alguém contestar ainda há a banca rota!
E a ministra das finanças a dizer que não tem nada a ver com isso. Não é VIP. Tem os cofres os cheios e os jotinhas a procriar. O que é que querem mais?
Se calhar ainda queriam uma administração fiscal que penhorasse quatro bolos a um restaurante... Por 30 cêntimos... Que lá ficassem a apodrecer às mãos do fiel depositário...
Os preparativos para o novo ano estão em ritmo acelerado. É normal, já só faltam dois dias…
A nova taxa de IVA está prontinha… o novo Código Contributivo já espreita por trás da cortina... os cortes de salários estão mais que preparados! Os aumentos de portagens, transportes, água, electricidade, telefones e sei lá mais o quê … estão aí! Já ao virar de sábado para domingo!
Faltavam as novas taxas moderadoras do Serviço Nacional de Saúde. Porque já só faltam dois dias o governo acabou de publicar as respectivas portarias: uma vergonha, conforme nos conta o Rui Rocha no Delito de Opinião!
Pois bem, enquanto isso o big brother da SIBS – não sei se já tinham percebido que o cartão multibanco é uma espécie de câmara oculta que, mesmo sem nos mandar sorrir, nos expõe por completo borrifando-se para a nossa intimidade – diz que neste Natal se gastaram mais não sei quantos milhões. Os stands de automóveis estão em rotura de stocks, as agências de viagens não têm mãos a medir para pôr esta malta a passar o ano por esse mundo fora – com os mais exóticos destinos já esgotados –, o Algarve está cheio (de portugueses, porque os outros pensam em poupar uns cêntimos) para a passagem de ano e até os saldos são um êxito que espanta os próprios relações públicas das grandes marcas.
Quem é que pode entender este país?
Assim já se entende que Sócrates possa fazer tudo o que faz e continuar a ter lata para se dizer o grande defensor do estado social. E vamos percebendo que ele possa, rapidamente e com a maior desfaçatez, despir o fato de coveiro (do estado social) para vestir o camuflado de tropa de elite que defende o estado esquizofrénico do país.
Um fraco rei faz fraca a forte gente: dizia-nos Camões! Há muito que não somos forte gente, tantos têm sido os fracos reis, mas … caramba! Se isto não é esquizofrenia o que será?
O país vive há muito em autêntica esquizofrenia! Já todos o percebemos, mas esta esquizofrenia orçamental ultrapassa os limites da doença.
A esquizofrenia começa logo quando é o maior partido da oposição que é encurralado no beco da aprovação do orçamento. A oposição, por definição, opõe-se: da oposição só podemos esperar que se oponha.
Só num país esquizofrénico se pode esperar que a oposição não se oponha. Que viabilize a governação colocando-se ao lado do governo! Se isto já é esquizofrénico, empurrar tudo isto para o maior partido da oposição, a quem compete precisamente disputar o poder ao governo, o que será?
Uma esquizofrenia crónica e do mais alto grau!
Mas é ainda esquizofrenia achar que é o orçamento que nos resolve os problemas da gravíssima situação económica, financeira e social em que nos encontramos. Os mercados, esses papões, esperam ansiosamente pela aprovação do orçamento: dêem-lhe um orçamento, por muito mau que seja como é o caso, e tudo fica resolvido. Nada disso! Depois de lhe darem o orçamento tudo volta ao mesmo. Eles, os mercados – esses vilões – percebem que a seguir vem a recessão e, em recessão, aquele maldito défice é uma miragem. Bom, mas depois percebem ainda que não é num orçamento que se podem materializar as políticas que permitam eliminar os grandes estrangulamentos da nossa economia: capacidade de crescimento e competitividade.
Só num país esquizofrénico se acredita que é num orçamento que se resolvem problemas estruturantes desta natureza. Mas acreditar que os outros lá de fora acreditam nisso é doença ainda mais grave. Obviamente!
E o que será se não esquizofrenia, e da grave, ver o ministro das finanças, depois de assumidamente falhadas as negociações com o seu parceiro de desventura, e de todo o dia a produzir declarações concomitantes com esse falhanço, extremando posições ainda mais claramente vir, ao final da noite, lançar um novo desafio à negociação.
Bom, aqui concedo que, embora pareça, poderá não ser esquizofrenia. Poderá nem ser uma doença infantil, mas apenas um jogo infantil. Mais um jogo, logo que perceberam que o ónus da rotura lhes estava a bater à porta!
Mas o PSD também não andou muito longe: afinal nada está rompido, até ao dia da votação está tudo em aberto!
Afinal a rotura das negociações não rompeu coisa nenhuma. Há maior esquizofrenia?
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.