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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Jogo(s) armadilhado(s)

O jogo desta noite, na Amoreira, cheia de benfiquistas, não era apenas o jogo com o Estoril. Nem era apenas o jogo da jornada 32, o ante-penúltimo da época. Era o jogo que antecedia o dérbi, que tudo vai decidir.

Era um jogo com dois jogos lá dentro, sabia-se. E, desconfiava-se, também um jogo armadilhado.

Sem Carreras - com o quinto amarelo - no onze, e com Dahl no seu lugar, e sem Di Maria, já no banco, depois de ter saído lesionado em Guimarães, há duas semanas, e com Amdouni no seu lugar, o Benfica entrou forte no jogo. A ideia - e bem - seria resolver depressa o primeiro jogo para, depois, jogar tranquilamente (para) o segundo

A ideia era boa. Como boa era a ideia que o Benfica trazia para o jogo, com a equipa muito subida, a pressionar alto, bem em cima da área estorilista. Os jogadores do Estoril viram-se como que asfixiados, impossibilitados de praticar o futebol associativo que gostam, e sabem jogar. A estratégia rapidamente começou a dar resultados.

Aos quatro minutos já o Benfica estava a criar a primeira situação clara de golo, com Amdouni a desmarcar Aursenes que, isolado, acabou por permitir a defesa do guarda-redes, Robles. No canto, Florentino desperdiçou uma recarga fácil, não acertando na baliza. Logo a seguir, mais uma jogada rápida e bem desenhada, muito semelhante à anterior, desta vez com Kokçü a conduzir a bola e a servir Aursenes, que desta vez não falharia.

O golo não alterou nada do jogo, que continuou rijo, com muita luta pela bola, mas sempre com a mesma toada de domínio benfiquista. Praticamente absoluto, sucedendo-se as oportunidades de lances de golo, que não é bem a mesma coisa de claras oportunidades de golo. Essas não eram assim tantas, porque havia sempre qualquer coisa a não correr bem.

Eram os cruzamentos de Aktürkoglu, eram os remates a Kokçü, ou era a chegada de Pavlidis. E era ... o Sr João Gonçalves, o árbitro do Porto que desta foi encomendado para armadilhar o jogo.

Cedo esse Sr João Gonçalves começou a mexer os cordelinhos: logo no lance inicial, uma falta para amarelo sobre Aktürkoglu à entrada da área estorilista foi transformado num lançamento pela linha lateral a meio campo. Aos 27 minutos, uma falta para amarelo sobre Pavlidis, em cima da linha da área, foi transformado em falta e amarelo para o ponta de lança benfiquista.

À meia hora de jogo o Benfica tinha cinco faltas assinaladas. O Estoril, com jogadores a meter o pé sem dó nem piedade, zero!

A primeira falta assinalada contra o Estoril aconteceu aos 35 minutos, e da sua cobrança, por Dahl, sairia o segundo golo do Benfica, por Otamendi.

De novo nada se alterou com o golo. E o jogo chegou ao intervalo com o 2-0, quer era escasso para reflectir o que se tinha passado no relvado.

O Benfica entrou para a segunda parte no mesmo ritmo, e com vontade em alargar o resultado, para poder passar ao segundo jogo. Acabou por não conseguir voltar a marcar, e por não demorar mais que 10 minutos a fazer o transfer, o que coincidiu com a lesão de Amdouni, substituído por Schjelderup. E o Estoril começou a crescer!

Ainda se não tinha dado pelo crescimento do Estoril, embora já se tivesse dado pelo encolhimento do Benfica quando Otamendi - no melhor pano cai a nódoa - errou um passe e  acabou a tocar Begraoui, já dentro da área, com o árbitro a apitar de imediato para a marca de penálti. Com tanta pressa que já não pôde validar o golo, quando a bola acabou por entrar na baliza de Trubin. Que defendeu depois o penálti!

Na recarga, o brasileiro Zanocelo acertou na trave. Mérito, primeiro. Sorte, depois. Mas convinha não abusar... 

O treinador estorilista, Ian Cathro - um tipo que parece que sabe o que faz -, fez entrar o ponta de lança espanhol Marqués e o criativo argelino Guitane (um craque, que só aparece nos grandes jogos, e que estranhamente não pegou em Braga), que mexeram com o jogo. E o golo do Estoril acabou por não tardar mais que meia dúzia de minutos, na vingança de Zanocelo.

Que cinco minutos depois deveria ter sido expulso, com vermelho directo - que o tipo do Porto transformou em amarelo - por uma entrada que poderia ter partido a perna do Florentino. Os últimos minutos, incluindo os oito de compensação que o tipo do Porto inventou, não foram muito mais do que repetidas entradas às pernas dos jogadores do Benfica. Que na maior parte delas ainda levavam também com a falta.

Logo a seguir ao golo do Estoril entraram Barreiro, substituindo Aktürkoğlu, e Belotti (Pavlidis), que foram protagonistas de mais uma série de habilidades do tipo do Porto. Ambos participaram numa das últimas oportunidades de golo do Benfica, ao minuto 86, que acabou num penálti sobre o italiano, que o Sr Gonçalves ignorou. Logo a seguir Barreiro foi ceifado pelo Zanocelo, que ainda lá estava, impune a bater em tudo, com o Sr Gonçalves a assinalar falta ... contra o Benfica.

Não se pode calar o que se viu do Sr Nobre, no jogo com o Arouca, o que se viu há uma semana, do Sr Carlos Macedo, no jogo com o AVS, e o que se viu hoje. E não é com comunicados bacocos, quando se perde. Nem com Rui Costa, como se viu hoje, a limitar-se, na rua e meio envergonhado, a dizer "vocês viram" a quem lhe estendeu o microfone.

 

Natal na frente

Esta 15ª jornada, a do Natal, entrará para a História dos campeonatos nacionais. É comum, nos tempos que correm, jornadas espalhadas por três ou quatro dias; não é comum, é mesmo inédito, uma jornada com três lideres diferentes.

Anteontem, no sábado, ao ganhar em Moreira de Cónegos (3-0, num jogo que explica como o Porto, mesmo em crise, pontua como nenhum rival no campeonato dos outros), onde perdera, e fora eliminado da Taça há um mês, e onde o Benfica deixara dois pontos e o Sporting três, o Porto chegou ao primeiro lugar do campeonato, com 37 pontos. Ontem, domingo, com o empate (0-0) em Barcelos, que terá ditado o despedimento imediato do João Pereira, o Sporting igualou aquela pontuação, mas regressou ao primeiro lugar. Ao vencer (3-0) hoje o Estoril, na Luz novamente cheia, o Benfica passou a somar 38 pontos, e chegou pela primeira vez ao topo da classificação deste campeonato.

Deseja-se que de lá não saia. É Natal, tempo de desejos.

O jogo desta noite não nos permite grandes conclusões sobre esse desejo. Foi um jogo que o Benfica poderia ter ganhado de forma ainda mais expressiva, mas que também poderia não ter ganhado. Foi um jogo que em grande parte controlou, mas em que também teve largos momentos de subalternização. 

O Estoril entrou melhor no jogo - confesso que aprecio o treinador escocês Ian Cathro, e não é apenas por se expressar num português impecável - dominou praticamente o primeiro quarto de hora, e o Benfica teve que crescer no jogo para tentar equilibrar a primeira parte. Quando não tinha a bola o Estoril defendia com uma linha de cinco, mas de forma muito compacta, com as linhas muito juntas. Quando a recuperava subia da mesma forma compacta, e com os jogadores muito próximos uns dos outros, a facilitar a circulação. Mas também a pressão.

O Benfica começou por acusar a falta de meio campo. Sem Florentino (na equipa base Bruno Lage apenas trocou dois jogadores - Otamendi, que se deslocou à Argentina na passada quinta-feira, partindo logo da Madeira, por António Silva e Florentino por Beste - mas mudou muito no xadrez, com Kokçu ao lado de Aursenes e Akturkoglu atrás de Pvlidis, para Beste jogar na esquerda do ataque) o meio campo do Benfica esteve sempre muito desconfortável com a movimentação dos estorilistas.

Fechado o primeiro quarto de hora, ficou a ideia que o Benfica estaria a começar a resolver esses problemas. Durou apenas 4 ou 5 minutos, que acabaram com o remate de Pavlidis ao poste, e só a  partir do meio da primeira parte, e mais claramente depois do golo de Pavlidis (finalmente!) o Benfica passou para cima do jogo. 

O Benfica tinha antes tido oportunidades para marcar, a maior das quais na tal bola ao poste, aos 18 minutos, mas o primeiro golo chegou na altura e nas circunstâncias certas. E isso foi decisivo. Não é que, a partir daí e até ao intervalo, o jogo tivesse passado a ter como único sentido a baliza do espanhol Robles. Não foi assim, mas foi a partir daí que o Benfica conseguiu encontrar espaços para  jogar, e verdadeiramente impor respeito ao adversário. 

Não os aproveitou da melhor maneira, e esse é outro problema. É um problema de forma de alguns jogadores. Da forma perdida por Akturkoglu e Pavlidis, e da nunca adquirida de Beste.

A segunda parte começou a fazer lembrar os primeiros minutos. E logo o árbitro - António Nobre faz parte da elite do habilidoso sistema de arbitragem, e confirmou-o até ao limite - assinalou um penálti contra o Benfica. O VAR mostrou-lhe que não podia ser, que não havia por onde.

Em tempo de percepções, os jogadores do Benfica perceberam o aviso. E o penálti que António Nobre quis inventar funcionou como alerta. 

Novamente sem grandes alardes, e sem entusiasmar as bancadas por aí além, o Benfica voltou a tomar conta do jogo. Mas o golo da tranquilidade tardou. Como tardaram as substituições que entravam pelos olhos dentro...

Estava Amdoumi há 3 minutos em campo, substituindo (em simultâneo Leandro Barreiros substituiu Aursenes) Pavlidis, acabado de falhar mais um golo de forma inacreditável, quando marcou o segundo, que afastou das bancadas os fantasmas das Aves. E deu o golpe de misericórdia no Estoril. O marcador só atingira a sua expressão final já no quarto dos justificados 6 minutos de compensação, de novo por Amdoumi, num canto cobrado por Beste.

Um golo que deu ao marcador o colorido da liderança, e que foi o regresso aos golos de canto. Que também pareciam esquecidos. 

Acabou em festa a noite na Luz. Há razões para festejar, há muito que o Benfica não estava lá em cima, em primeiro. Mas nem tudo são rosas no momento actual da equipa!

 

Muitos problemas para resolver

Em noite eleitoral a Luz voltou a ficar abaixo dos 50 mil, no jogo com o Estoril. Ainda assim esteve lá gente a mais. Que não deveria ter entrado.

Com a sanção da UEFA suspensa por dois anos, os energúmenos das tochas quiseram a fazer uma demonstração de estupidez. O jogo esteve parado uns minutos, precisamente quando a equipa precisava de todos os segundos para desfazer o empate, já no fim da primeira parte. Mas nem é isto que mais choca, quem quer prejudicar o próprio clube está disposto a tudo, e nas tintas para o que prejudica a equipa. O que mais choca é que não haja no Benfica quem acabe com esta impunidade!

Rui Costa tem mais um problema para resolver. Seria bom que começasse a dar nota de que os começa a resolver.

Schmidt deu descanso a Rafa, Di Maria e João Neves. A acumulação de amarelos deu-o a Otamendi. Com quatro baixas, as novidades foram Tomás Araújo (no lugar de António Silva, que jogou no de Otamendi), Tiago Gouveia e Marcos Leonardo, o ponta de lança que desta vez saiu na rifa. E o sistema foi o 4X3X3 clássico, que com Rafa nunca se vê. 

Poderia mudar o sistema, mas não mudava o futebol tipo do Benfica. O primeiro golo - um grande golo de Kokçu, hoje liberto de fantasmas, no lugar certo, foi um verdadeiro distribuidor de jogo - chegou no segundo remate (o primeiro tinha sido do mesmo Kokçu, na cobrança de um livre) ao quarto de hora de jogo. Logo a seguir poderia chegado ao segundo, numa bela tabela entre Aursnes e Gouveia, concluída com um grande remate de João Mário e uma boa defesa de Dani Figueira. O Benfica não estabilizou à volta do golo e dessa boa jogada, e foi o Estoril a crescer, a chegar ao empate na primeira vez que chegou à baliza de Trubin e, depois, a quase fazer o que quis do jogo. 

Das bancadas começaram a chover assobios e, a seguir, as tochas. Valeu que, em cima do intervalo,  David Neres foi à linha de fundo e cruzou para o segundo poste, donde Tiago Gouveia assistiu, de cabeça, Marcos Leonardo, para o segundo. Foi quase como se não tivesse havido intervalo. Logo no arranque da segunda parte, Tiago Gouveia marcou o terceiro, e arrumou com o resultado.

Mas poderia não ter arrumado. Porque o Benfica continuou a oscilar ao longo do jogo, e o Estoril continuou a jogar à bola. Tanto que o Trubin acabou com mais defesas que o Dani Figueira. E porque o árbitro Manuel Oliveira é o "verdadeiro artista". Como agora têm de comunicar ao público as decisões tomadas através do recurso às imagens do VAR, este "artista" teve a distinta lata de não confirmar o penálti que todos tinham visto, declarando simplesmente "que o jogador 22 não cometeu falta".

E pronto... temos que continuar à espera... Que isto passe, ou que se resolvam os problemas para acabar com isto.

 

 

Faltou sorte. Mas também competência.

Esperava-se que Roger Schmidt fizesse alguma rotação neste jogo com o Estoril, o "outsider" destas meias finais da Taça da Liga, em Leiria. Mas não!

A única rotação que fez foi aquela que mais vezes faz: no ponta de lança. Desta vez com Petar Musa, que tem sido o descartado dos últimos jogos. A mostrar que não tem dúvidas no seu melhor "onze", mas que tem todas as dúvidas no ponta de lança. E, pelos vistos, tanto maiores quantos mais tem à disposição.

O Estoril, com todo o mérito nesta sua primeira presença nesta fase final, à custa do Porto, mesmo vindo de quatro derrotas consecutivas, sempre vergado à goleada, mostrou que Roger Schmidt teria razão em não "facilitar", se é que isso é insistir nos mesmos jogadores que sempre escolhe. 

Não "facilitou" na escolha da equipa inicial, mas ela facilitou. Falhou no que costuma falhar: no ataque organizado, mesmo que tenha criado nessa circunstância de jogo muito mais oportunidades que nos últimos jogos, e na concretização. E faltou-lhe o que não lhe costuma faltar: espaço e tempo para as transições rápidas, em boa verdade a circunstância de jogo que tem sustentado os êxitos da equipa durante toda esta época.  

O Estoril entrou bem no jogo, como que avisar ao que vinha. Teve aí, no primeiro quarto de hora, o seu melhor período, aquele em que realmente dividiu o jogo com o Benfica, disputando-o abertamente, em todo o campo. Fez então o seu único remate à baliza em todo o jogo e, nele, o golo. Obra de Rafik Guitane, um jogador que já por cá anda há uns anos, de que há muito aqui falo, e que provavelmente é demasiado barato para a política de contratações do Benfica. 

Se o "scouting" ainda não deu por ele, se não é suficientemente bom para despertar a atenção de Schmidt, é melhor pedirem a opinião a Mourato. Pode ser que ele os convença e - quem sabe? - até consiga explicar à Administração da SAD que, por poucos milhões, também se contratam bons jogadores. Que pagar quinze, vinte ou mais milhões não é condição necessária. E muito menos suficiente.

Apanhando-se a ganhar, o Estoril passou a alternar o "autocarro" com breves momentos de posse de bola. E começou logo a queimar tempo. A perder, o Benfica tomou definitivamente conta do jogo. Quatro minutos depois, a concluir um belo lance de  futebol - passe soberbo de Kokçu para Aursenes, e cruzamento milimétrico para a cara do guarda-redes  -  Rafa desperdiçava um golo cantado. Foi mais Rafa a acertar no Dani Figueira, que propriamente uma grande defesa. 

Entre esta primeira grandíssima oportunidade e a segunda, com Di Maria isolado, numa daquelas que nunca falha, a permitir a defesa do guarda-redes (novamente com mais demérito para o remate que mérito para a defesa) passaram 15 minutos, com três ocasiões de golo - António Silva e Musa, por duas vezes - pelo meio. Os restantes dez minutos, até ao intervalo, foram um misto de anti-jogo e daquelas pequenas coisas que os árbitros sabem fazer - cantos transformados em pontapés de baliza, faltas por assinalar, ou por punir disciplinarmente. Amarelos, só um para cada lado, "salomónico" quando a vítima tinha sido Kokçu.  E outro para Schmidt, por protestar os dois minutos - dois, depois da permanente "queima de tempo" nas reposições de bola nos pontapés de baliza, e das entradas em campo da equipa médica do Estoril - de compensação.

O Benfica entrou para a segunda parte com o mesmo onze, mas com mais velocidade e pressão. O jogo continuou com sentido único, com o Estoril a defender-se como podia e com a ajuda de todos os santos. Cantos e mais cantos, sempre depois de mais uma das vinte pernas do Estoril acabar com as sucessivas ondas de ataque benfiquista. Rafik Guitane é que, a cada vez que tocava na bola, continuava a dar cabo da cabeça a Morato. 

Depois do descrente Musa - ainda em campo - ter falhado mais uma oportunidade, logo a seguir abriu as pernas para que o cruzamento de João Mário chegasse a Otamendi (sim, em ataque continuado!) para, finalmente, rematar para o golo. Ainda se não tinha esgotado o primeiro quarto de hora, e o mais difícil estava feito - pensava-se. Aquele era só e apenas o primeiro golo.

Mas ... nada disso. O jogo continuou como se nada se tivesse passado. A mesma "queima de tempo" e as mesmas "pequenas coisas que os árbitros sabem fazer". João Mário protestou e viu o amarelo. Rafa voltou a falhar um golo cantado, e Schmidt começa finalmente a "mexer" na equipa.

Tirou Musa e Kokçu, para entrarem Marcos Leonardo e Tiago Gouveia. Que foram pouco depois intervenientes na melhor jogada do desafio, quando Tiago Gouveia avançou pela esquerda, deu na zona central para Rafa Silva, que combinou com Di María e assistiu Marcos Leonardo que, incrivelmente, e por muito pouco, não marcou. 

Tudo corria mal e, já certamente a pensar nos penáltis, Schmidt mantinha João Mário em campo ao lado de João Neves, depois da saída do médio turco. Ora, se João Mário não tem intensidade para aquela função, "amarelado", pior ainda. O Benfica sufocava o adversário, o coração ia mandando mais que a cabeça, e o golo não aparecia. Nem naquele remate espectacular de Di Maria, no último lance do jogo. Não foi sorte nem azar. Foi milagre. A defesa do Dani Figueira foi milagrosa. Sorte, ou azar, foi a bola sair a partir do poste.

E lá vieram os penáltis para desempatar o jogo. De um lado, um guarda-redes que tinha defendido (quase) tudo, e tinha até acabado de fazer um "milagre". Do outro, um guarda-redes que não tinha feito uma única defesa em todo o jogo. E que falhara na única oportunidade que teve para o fazer. Mas nem foi por aí, afinal cada um acabou por defender um. E sem grande mérito, apenas por demérito dos marcadores. Grande - enorme - de Marcos Leonardo, no segundo penálti. 

Bem maior do que o do Tomás Araújo - entrara nos últimos minutos, em simultâneo com a estreia de Álvaro Fernandez (Morato) a substituir Aursenes - que bateu bem, enganou o guarda-redes, e teve a infelicidade de a bola rasar o poste pelo lado de fora.

Tenho sempre alguma dificuldade em resumir o desfecho de um jogo de futebol a sorte e azar. Acho que há sempre mais qualquer coisa para explicar o resultado. E hoje, para além da sorte, faltou competência ao Benfica!

Aos trambolhões

António Silva salva Benfica na Amoreira e águias dormem no primeiro lugar

A inconsistência do futebol do Benfica nesta época é já indesmentível. Raros têm sido os jogos que domina ou controla de princípio a fim. Perde frequentemente o controlo dos jogos, e tem geralmente comportamentos distintos - muitas vezes até antagónicos - em cada parte do jogo. Se na primeira atinge um bom nível, ou mesmo apenas aceitável, na segunda cai. Quando a primeira parte fica aquém do aceitável, na segunda cresce, e chega lá.

Ao intervalo deste jogo da oitava jornada, no Estoril, a maior dúvida que se levantava era se aquilo que se vira era o melhor, ou o pior, que equipa tinha para apresentar hoje. 

Roger Schemidt abordou o jogo com o último classificado com seis alterações (mesmo que com apenas cinco jogadores novo, relativamente ao último jogo, em Milão. Quer dizer, mudou mais de metade da equipa. Para, de quem se diz que nunca muda a equipa, não é pouco. Saíram Bah e Di Maria, ambos lesionados. Morato, porque António Silva estava de volta. Bernat, porque mostrara em Turim que não está pronto. E Kokçu (nem estava entre os convocados) e João Neves, não se sabe por quê. Sabe-se apenas que o internacional turco esteve suficientemente mal em Milão, o que já não é pouco. E que, se calhar, o treinador do Benfica quis poupar o miúdo para a selecção, agora que foi convocado. 

Se todas as saídas tem explicação, o mesmo não acontece com as entradas. Percebem-se as entradas de António Silva e de Jurásek. O António por ser quem é, e o checo por não haver outro para substituir o lateral espanhol. Percebe-se que, não jogando Di Maria e com Aursenes de regresso a pau para toda a obra, João Mário tenha lugar no onze inicial. Não se percebe tão bem a de Chiquinho. Mas a verdade é que foi o melhor jogador do Benfica, esta noite (António Silva é que resolveu tudo, é claro, mas que jogou mais foi mesmo o patinho feio). E quando o Chiquinho é o melhor jogador, alguma coisa não bate certo. Que Tengstedt já tenha ultrapassado Cabral, custa a aceitar (são mais de 20 milhões, caramba!) mas já se percebe. Mas também Musa? 

Definitivamente: alguma coisa não bate certo!

Na primeira metade da primeira parte o Benfica jogou pouco. Muito pouco. Teve bola, muita bola, mais uma vez, mas não teve mais nada. Na segunda metade melhorou. O suficiente para criar então cinco - 5 - oportunidades de golo. Mesmo que apenas com um remate enquadrado - de Neres - com uma grande defesa do guarda-redes do Estoril, que no entanto deixou a bola à mercê de Jurásek, que transformou uma recarga fácil para golo num pontapé para fora do Estádio. 

A maioria dessas oportunidades foi sistematicamente desperdiçada pelo Tengstedt, sempre com um toque a mais, para acabar a rematar já de ângulo impossível. Invariavelmente para fora. Nesse que acabaria por ser o melhor período do Benfica, em boas condições para rematar de cabeça para a baliza, preferiu um passe para o Neres. Na altura ficara a ideia que não tinha tido possibilidade de rematar à baliza por ter sido carregado pelas costas. Que foi, e que em qualquer outro jogo de um dos rivais (tal qual como aquele corte com o braço de um defesa estorilista dentro da área), seria suficiente para assinalar penálti. Que foi. Percebeu-se, na repetição, que não foi pela carga, que existiu, que não rematou. Que foi mesmo opção de não rematar, e de assistir de cabeça o pequenino Neres no meio dos outros dois centrais adversários.

A dúvida ao intervalo era mesmo legítima. Se aquela primeira parte fosse a face boa da moeda, dificilmente o Benfica ganharia aquele jogo. Se fosse a má, com cinco oportunidades de golo criadas, na segunda criaria muitas mais e, por muito mal que ande a eficácia goleadora, o Benfica acabaria por resolver as coisas na segunda parte.

Como já deixei perceber aquela primeira parte era o melhor que o Benfica tinha para o jogo de hoje. A segunda foi bem pior, e chegou a ser assustadora. Guitane, o 10 do Estoril - na minha opinião o melhor em campo - foi um terror para o meio campo benfiquista, e as coisas só não tomaram outras proporções porque o poste esquerdo da baliza de Trubin evitou o golo da equipa da Linha, ainda os 10 minutos iniciais se não tinham esgotado.

À entrada do segundo quarto de hora o árbitro André Narciso assinalou penálti, que parecia indiscutível. Rui Costa, no VAR, não achou o mesmo. Teve razão, há uma imagem que mostra que o defesa do Estoril tocou na bola, e que foi o peito do pé do Chiquinho, no remate, a bater na sola do adversário. Noutros jogos, como se sabe, este tipo de imagens nunca aparecem.

O lance pareceu espevitar um bocadinho os jogadores do Benfica. Mas pouco. Era preciso pressionar, encostar o adversário lá atrás, e procurar o golo de toda a maneira e feitio. Mas não. Nada disso a equipa conseguia fazer. 

Faltavam 20 minutos para os 90 quando Roger Schemidt percebe finalmente o erro de casting de Tengstedt, e o troca por Musa. Em simultâneo com Florentino (pouco menos que desastrado no passe) por João Neves. Menos de 10 minutos depois trocou Jurásek, precisamente quando estava no seu melhor momento do jogo, por Bernat. Mas nada continuava a sair bem. E só já perto dos 90 minutos retirou João Mário, que nunca aparecera na segunda parte, para que entrasse Gonçalo Guedes. Que, se estava no banco, estaria evidentemente em condições de jogar.

Para trás ficava a única oportunidade de golo criada na segunda parte, desperdiçada por Musa. A segunda surgiria logo a seguir, com Otamendi a falhar o golo à frente da baliza.

No terceiro dos 8 minutos de compensação, depois de tantos cantos sempre marcados da mesma forma exasperante, Neres bateu finalmente a bola para a pequena área. Musa ganhou nas alturas e o António Silva mergulhou para o golo. Finalmente.

Faltavam ainda 5 minutos, que viriam a ser 6, pela compensação prevista por cada golo. E as últimas imagens - que são sempre as que ficam - não foram do mesmo tom dos anteriores cinco. Nessas, surge o Estoril à procura do golo, e o António a negá-lo no último lance. Surge o Estoril todo em cima da área do Benfica, e os jogadores a despacharem a bola para a frente, de toda a maneira e feitio. Submissos, quando tinham tudo para a aproveitar para sair a jogar. E para, com o meio campo do Estoril completamente deserto, voltarem a marcar.

Seria isso o que o Benfica do ano passado faria. Este está cada vez mais longe. Tanto que nos parangonas dos jornais surge Roger Schemidt a dizer que a época passada é irrepetível. 

Não era isso que seria suposto!

Um jogo com caderno de encargos

Os adeptos benfiquistas não desistem, nem abandonam a equipa, por piores que sejam os momentos por que passe. Hoje, neste fim de tarde, voltaram a encher a Luz, a apoiar a equipa, e a ajudá-la a levantar-se, depois de quatro jogos seguidos sem ganhar, com três derrotas consecutivas, que fizeram desaparecer 6 dos 10 pontos de vantagem com que o Benfica tinha chegado a esta ponta final do campeonato.

Os adeptos fizeram a sua parte, e a equipa confirmou a vontade de dar a volta a esta surpreendente quebra, de que já tinha dado mostra em Milão, na passada quarta-feira.

Roger Schemidt também fez a sua parte, mesmo que possa apenas ter feito parte da parte que lhe cabia. Mudou algumas peças na equipa, porventura menos do que devia, mas sabe-se quanto isso lhe custa. E fez as substituições em tempo útil, e acertadas.

Sem Bah, tirou Gilberto da equipa, repetindo a experiência da segunda parte de Milão, entregando a Aursenes o lado direito da defesa. E resultou. O internacional norueguês não sabe jogar mal, jogue onde jogar. Deu a titularidade a Neres, que há muito a justificava, e também resultou. Nesta altura a equipa não tem quem tenha maior capacidade para criar desequilíbrios nos adversários, e confirmou-o no jogo. E, pela primeira vez, a João Neves. Em vez de Florentino. E voltou a resultar. 

Nos poucos minutos que Schemidt lhe tinha dado, o miúdo tinha sempre aproveitado para mostrar que contava. Joga à bola como poucos. Não dá ao jogo o que dava Enzo, mas dá muita coisa boa à equipa. Na saída de bola, no transporte, e até na frente. Hoje confirmou tudo isso, e foi dos melhores. Ao seu nível apenas Neres.

A tarefa para hoje, frente ao Estoril, era mais que ganhar. Ganhar era imperativo, mas não era menos importante mostrar saúde física e mental para reverter a situação em que a equipa tinha caído, e dar garantias de ter condições para enfrentar os desafios que tem pela frente. Ganhar de goleada, e com uma exibição ao nível daquelas a que a equipa nos habituara, seria a cereja no topo do bolo, e porventura o empurrão decisivo que faltava para recuperar a embalagem perdida.

Cumprido o jogo, e à luz deste caderno de encargos, os adeptos saíram da Luz com "mixed feelings". O jogo foi ganho, mas pelo magro 1-0. A exibição teve bons momentos, especialmente na primeira parte, e foi suficiente para um resultado dilatado, para uma vitória expressiva. Mas não foi suficientemente robusta para afastar fantasmas. Especialmente tendo em conta que, na teoria, este seria à partida o "mais fácil" dos seis jogos que faltavam quando se iniciou.

Poderia este jogo cumprir todo o caderno de encargos que lhe estava destinado?

Dificilmente, nesta altura. Até porque se a equipa revelou melhorias, o jogo mostrou que a estrelinha anda distante, e que as arbitragens "não dormem".  Noutro contexto as oportunidades de golo teriam tido outro aproveitamento. Os penáltis que nos jogos dos outros estão sempre ali, prontos a desbloqueá-los, nos do Benfica nem a ferros. E quando, a ferros do VAR, lá saiu um, João Mário voltou a falhar. 

O Benfica poderia ter resolvido o jogo na primeira parte, quando conseguiu impor um ritmo alto e muitas vezes sufocar a equipa do Estoril, exclusivamente dedicada a tapar os caminhos da sua baliza, defendendo com todos os jogadores em cima da sua grande área. Ocasiões de golo não faltaram para isso. 

Só num espaço de 10 minutos, entre os 13 e os 22, João Neves, Gonçalo Ramos e Rafa desperdiçaram três, antes de Rui Costa fazer vista grossa a um penálti cometido sobre Aursenes. Voltaria a fazê-la 10 minutos depois, valendo desta vez o VAR. Mas nem de  penálti, mais uma vez, e o golo apenas surgiria já perto do intervalo, à quinta oportunidade, pela magia nos pés de Neres, e pela cabeça de Otamendi.

Pensou-se que o mais difícil estava feito e que, como a equipa estava a jogar, e com a tranquilidade que o golo traria, o resultado iria crescer na segunda parte. Mas não. O jogo continuou a ter a baliza de Dani Figueira como sentido único, mas sem oportunidades de golo.

Roger Schemidt mexeu na equipa logo no início do segundo quarto de hora, substituindo bem Chiquinho e Gonçalo Ramos por Florentino e Musa. A equipa aumentou o ritmo e voltou então a criar novas oportunidades para marcar. Marcaria mesmo, pelo internacional croata, a finalizar, com classe, a melhor jogada da segunda parte. Mas não valeu. No início da jogada Aursenes recebera a bola quando estava a recuperar de posição adiantada, e o VAR anulou - bem - o golo.

O relógio avançava, e nas bancadas temia-se o magro 1-0. Chegou a fazer-se silêncio, mas durou pouco. O Benfica mantinha firme o controlo do jogo, ninguém tremia, e isso fez regressar o apoio dos adeptos.

Gonçalo Guedes, então sim, tardiamente, ainda entrou. Ter-se-ia justificado entrar mais cedo, e para o lugar de Rafa. Como já foi tarde (a 4 minutos dos 90), serviu para os - merecidos - aplausos a Neres.  

O árbitro Rui Costa, para além de ser peça do sistema, é péssimo. Quando um árbitro é mau, e quer fazer mal, penáltis só obrigado. Queimar tempo, é à vontade. E qualquer disputa de bola é falta. Rui Costa, o árbitro, foi isto. E isto é o que nos espera até ao fim do campeonato!

Aos outros, voltamos ontem a ver com o que contam: amarelos a todos os adversários, expulsões bem cedo, penáltis, uns atrás dos outros, e impunidade total em todas as zonas do campo, e especialmente dentro da sua área.

 

 

 

Intervalo para a Taça

Decisivamente a Taça não é para o Benfica. Não. O Benfica não foi eliminado, não é isso. Apenas não parece a mesma equipa nos jogos desta competição.

Esta noite, de volta ao Estoril três dias depois, não jogou tão pouco como na eliminatória anterior, nas Caldas da Rainha. Nem passou pelos problemas que aí criou a si mesma. Mas nem por isso deixou de voltar a estar muito distante do nível apresentado no campeonato e na Champions. 

Não há dois jogos iguais, diz-se no futebol. Mas este foi muito diferente daquele de há três dias, para o campeonato. Se não tem a ver - não pode ter - com qualquer parti-pris com a Taça,  o sub-rendimento da equipa, e de praticamente todos os jogadores individualmente, terá que ter alguma coisa a ver com algum facilitismo induzido pelo que fez no jogo do passado domingo.

E no entanto Roger Schemidt não foi em cantigas, não facilitou. Ao apresentar o que tem sido o onze titular, sem sequer prescindir de Vlachodimos, contrariando aquela velha teoria da rotação dos guarda-redes, o treinador disse claramente que não contava com facilidades. Mas não deve ter conseguido passar essa ideia aos jogadores. 

Notou-se logo pela entrado no jogo. O Estoril entrou a empurrar o jogo para o campo dos duelos na disputa da bola, e manteve-o assim durante todo o primeiro quarto de hora. Os jogadores do Benfica perderam praticamente todos esses duelos, o que permite admitir que Schemidt não tenha mesmo conseguido passar-lhes a ideia.

É verdade que, esgotado esse primeiro quarto de hora o jogo de duelos acabou, e o Benfica passou a controlá-lo em absoluto.

A viragem coincidiu com o remate de Grimaldo à barra da baliza do Dani Figueira, em mais um pontapé de excelência, na cobrança de um livre, mesmo à entrada do segundo quarto de hora da partida. O melhor período do Benfica, com três grandes oportunidades para marcar, a última com Rafa, isolado, e com tudo para marcar, a optar pelo poste mais próximo e a acabar por não acertar na baliza.

A partir daí, com o Estoril cada vez mais fechado - como nunca estivera no jogo do passado domingo - passou a ser notório que faltava inspiração, e até velocidade, aos jogadores do Benfica.

Logo no início da segunda parte, numa das poucas transições rápidas que o Benfica conseguiu realizar no jogo, Rafa, isolado, foi travado em falta pelo Chico Geraldes, obrigando o árbitro Veríssimo a deixar o Estoril reduzido a 10 jogadores. Se já só defendia, a partir daí só defendeu ainda mais.

O Estoril defendia com todos lá atrás. Ao Benfica faltava inspiração para abrir espaços, e eficácia para concluir nas jogadas em que os conseguia. E foi preciso que o guarda-redes do Estoril socasse mal uma bola, e que Neres fosse por uma vez bafejado pela inspiração que não abundava para, numa bicicleta espectacular, marcar o golo que valeu o apuramento, mas que nem por isso desbloqueou o jogo. 

Faltava pouco menos de meia hora para o fim. E foi uma meia hora igualzinha à anterior. Com controlo absoluto do jogo, mas só isso!

Agora é só esperar que regresse o campeonato. E a normalidade ao futebol do Benfica. Porque depois vem a interrupção para o Mundial. E, depois, sabe-se lá o que virá!

Futebol para todos os gostos

Mais uma exibição categórica do Benfica, e mais uma goleada, no regresso ao nosso campeonato, depois da brilhante noite de Haifa.

Hoje, na Amoreira, frente ao Estoril, o Benfica fez uma nova demonstração que tem futebol para todos os gostos. É impossível não gostar deste futebol que a equipa apresenta, jogo após jogo!

Tem futebol para quem gosta dele jogado ao primeiro toque. Para quem gosta dele intenso e pressionante. Para quem gosta dele mais rendilhado. Para quem gosta dele imprevisível. Para quem gosta dele em ataque continuado. Para quem gosta mais dele em transição e vertigem. Para quem gosta dele carrossel. E até para quem só gosta de golos. Rigorosamente para todos os gostos!

Tem tudo isto, este futebol do Benfica, como hoje ficou mais uma vez demonstrado. Mas tem mais que isto. Tem uma imensa, como a chama, capacidade competitiva. E uma insaciável fome de golos.  

Tem todos os jogadores numa condição física incomum, e numa condição mental à prova de bala. Por isso, jogue quem jogar, tudo sai bem.

Só assim se compreende o resultado de Haifa. E só assim se compreende que, esta noite, a ganhar por três, nunca tenha abrandado. Que, a ganhar por quatro, ninguém tenha pensado em descansar. Que, a ganhar por cinco, tenha acabado a partida num ritmo competitivo como se o jogo, que tinha de ganhar, estivesse empatado.

A entrada no jogo foi a esperada. Com o Benfica a começar logo a tomar conta dos acontecimentos, e o Estoril a correr atrás da bola pelo campo todo, e a tentar fazer o campo curto. Aos 3 minutos já o Benfica perdia a sua primeira grande oportunidade de golo, no primeiro alarde do grande futebol que tinha para apresentar. A extraordinária abertura de João Mário, foi complementada por uma grande desmarcação de Musa, que rematou para a bola rasar o poste esquerdo da baliza adversária. A ameaça despertou o Estoril que, praticamente de imediato, na primeira vez que passou do seu meio campo, poderia ter marcado, não fosse a excelente defesa de Vlachodimos perante um adversário isolado. A dar golo, seria eventualmente anulado  - o lance deixou dúvidas de fora de jogo e ainda de domínio da bola com a mão. 

Mas animou os jogadores do Estoril, a ponto de os pôr a correr ainda mais, e a colocar ainda mais intensidade e poder físico na disputa dos lances. A maturidade e a solidez do futebol do Benfica tem resposta para tudo, e também a tem para a fase do jogo que isso implicava. E pegou no jogo de outra forma, acalmando-o e circulando a bola para esgotar esse tipo de reacção, e partir depois para novos e sucessivos assaltos à baliza dos canarinhos.

A meio da primeira parte já estava de novo tudo sob controlo. E começaram a surgir os golos. Primeiro de Musa, hoje titular por impedimento físico de Gonçalo Ramos, respondendo com um perfeito golpe de cabeça a um grande cruzamento de Grimaldo. O que pouco antes não tinha feito Chiquinho, pela primeira vez titular, em vez do lesionado Aursenes, desperdiçando a segunda oportunidade do encontro.

Logo depois, cinco minutos apenas, surgiu o golo de estreia no campeonato do menino António, na sequência de um canto e ... de calcanhares. Assistência de calcanhar de Chiquinho (sim, até ele está a revelar dotes desconhecidos na utilização do calcanhar), e finalização no calcanhar do menino. Tomou-lhe o gosto e, de novo no seguimento de um canto, 10 minutos depois marcou o seu segundo golo. O terceiro com que o resultado foi para o intervalo. Pelo meio, Musa cortou uma bola para a trave da baliza de Vlachodimos, e evitou o golo ... e o canto. Dois em um. Na resposta, contra-ataque exemplar do Benfica, com Enzo a acertar no corpo do guarda-redes Pedro Silva.

Três a zero não é razão para descansar. É apenas razão para continuar a procurar mais golos. E foi essa a história da segunda parte, feita de sucessivas oportunidades de golo. E de golos.

No primeiro quarto de hora foram três as vezes em que o golo esteve iminente. A última no remate ao poste de Musa, pouco ante de substituído por Henrique Araújo, na tripla substituição que incluiu ainda Chiquinho por Diogo Gonçalves, e Rafa por David Neres. Que, acabado de entrar, lançou João Mário - que acabara de, isolado, fazer passar a bola ligeiramente por cima da barra -  para a cara do golo. E foi o quarto.

Logo a seguir Pedro Silva negou o golo a Henrique Araújo. E depois foi o VAR a negar-lhe o mais espectacular dos golos do jogo, chamando o árbitro Nuno Almeida a ver um fora de jogo de Florentino. Que não tocou na bola, mas ameaçou tocar-lhe. Mesmo que bem assinalado, não deixa de ser quase criminoso anular um golo daqueles. De uma execução (a imagem diz tudo) soberba!

Não contou esse extraordinário golo, mas contou outro. Três minutos depois de substituir Grimaldo, Ristic fez então o quinto, aos 89 minutos, num espectacular remate. Uma bomba, do meio da rua!

O resultado parecia estar encontrado - uma goleada de 5-0, que poderia ter sido de oito ou nove. Só que, já na compensação, uma escorregadela de Enzo acabou por deixar Serginho isolado frente ao surpreendido Vlachodimos, que não conseguiu evitar o golo. O primeiro que o Benfica sofreu fora de casa neste campeonato. Alguma vez teria de ser!

Acabou por ser quando menos se esperava. Mas também quando menos prejuízos causou! 

 

Copo meio cheio ou meio vazio?

Com meia casa na Luz, no segundo jogo consecutivo em casa no regresso ao campeonato depois da vitória em Amesterdão e de se ficar a saber que o Liverpool é o freguês que segue nos quartos de final da Champions, o Benfica recebeu o Estoril. Tem sido em casa que as coisas têm corrido mal - ou pior, para bem dizer, porque tem corrido mal praticamente em todo o lado - mas hoje não havia que lembrar isso. Hoje importava saudar a equipa pelo feito na Champions, e ajudar a encaminhar os jogadores no rumo para a recuperação.

Por isso não faltou apoio à equipa, como de resto também não tem faltado. Não tem sido por aí que as coisas têm falhado.

A verdade é que hoje voltaram a falhar, acabando por se salvar o resultado - melhor, os três pontos da vitória. Nem deu para ficar com aquela sensação que a equipa até entrou bem no jogo, porque logo aos oito minutos o Estoril só não marcou porque a bola bateu no poste esquerdo da baliza de Vlchodimos. Que, logo a seguir, evitou o golo do espanhol Sória, com uma grande defesa. E seguiram-se mais de vinte minutos de de falso equilíbrio no jogo porque, se na verdade o Estoril não voltou a desfrutar de de oportunidades de golo - já tinha tido as mais flagrantes - estava melhor no jogo, controlando-o e jogando até de forma mais vistosa.

O Benfica era então um deserto de ideias, e tacticamente cheio de equívocos. O maior desses equívocos é já estrutural: os jogadores da defesa, com medo das suas costas, não sobem; e os do meio campo, com medo da defesa, encostam-se a eles atrás, deixando uma cratera entre os avançados e o resto da equipa. Nessa cratera jogam os adversários, à vontade, sem qualquer tipo de pressão. 

É assim sempre, não foi só hoje. Só não é assim quando jogam todos a defender, como em Amesterdão. Aí já não há costas dos defesas, e os do meio campo e os da frente estão juntinhos numa única linha, encostados aos defesas. 

Outro equívoco é Meité a jogar ao lado de Weigl. A defender e a segurar a bola, em registo puramente defensivo, é útil. Viu-se como o foi com o Ajax, na passada terça-feira. Fora desse registo é um travão. Não reconhece os momentos do jogo, acha que o seu papel é apenas o de segurar e prender a bola. E por isso mata à nascença qualquer transição ofensiva rápida. Se a bola lhe chegar, e na zona do terreno que ocupa é difícil que não lhe passe ali perto, é garantido que o adversário tem todo o tempo para se recolocar defensivamente.

Estava o jogo nisto, com a equipa do Estoril confortavelmente instalada no jogo a cobrar mais um canto, quando Rafa interceptou a bola, junto à linha lateral da grande área defensiva. Com um primeiro drible tirou da frente o primeiro adversário, o destinatário da bola no canto, e olhou à volta. Não apareceu ninguém a quem passar a bola, e resolveu arrancar por ali fora, sozinho. Correu, correu, correu ... sempre com a bola nos pés. Passou por um, dois, três ... Quando acabou de passar por todos,  já só restava o guarda-redes. Estava demasiado encaminhado para a esquerda, e o Dani Figueira tinha-lhe fechado o  ângulo de remate, mas conseguiu encontrar engenho e arte para lhe colocar a bola fora de alcance.

Um golo do outro mundo. Só ao alcance de Maradona. Ou de Messi. Poborsky também fez com o manto sagrado uma coisa muito parecida. 

Um golo destes nunca se imagina que possa acontecer. Aconteceu neste jogo, e só poderia acontecer num jogo jogo como este. O relógio marcava o minuto 34.

Até ao intervalo a equipa pareceu ficar contagiada por aqueles segundos mágicos que Rafa demorou a ir de uma baliza à outra, e teve então o seu melhor período. Mesmo assim apenas por uma vez esteve próxima do segundo golo, por Gonçalo Ramos.

À entrada para a segunda parte foi o Estoril que voltou à carga, e Vertonghen salvou o golo do empate em cima da linha de golo. O que parecia ser o regresso do Estoril ao comando do jogo acabou por ser liquidado por Gonçalo Ramos - definitivamente um valor confirmado - que aos 8 minutos fez o segundo golo. Iniciou e concluiu a jogada com o golo, depois de tabelar com Gilberto.

O Estoril sentiu o golo, como sentira o primeiro. E o Benfica começou a levantar a questão do copo meio cheio ou meio vazio. Se quisermos ver o copo meio cheio, diremos que vinha de um jogo super desgastante, de elevada exigência, e que, por isso, teria que entrar em regime de controlo. De poupança. E iremos buscar aquela estória do acrescido grau de dificuldade dos jogos pós Champions. Se virmos o copo meio vazio, diremos que a equipa voltou a fazer uma demonstração de falta de ambição para partir para uma exibição e um resultado galvanizador e, depois, de falta de qualidade para assegurar o controlo dos jogos. E diremos que esta equipa nunca marca mais de dois golos. E que sofre sempre pelo menos um.

O golo de André Franco, praticamente no último lance do jogo, e até a sua própria exibição, se calhar leva-nos a ver o copo meio vazio.  

 

 

Que filme!

Falava-se de um jogo difícil para o Benfica, nesta curta deslocação ao Estoril. Ia defrontar o quarto classificado do campeonato, que é dado como uma boa equipa, com um futebol positivo e bem jogado. Não foi no entanto um jogo difícil de ganhar, o que vimos. Não vimos um adversário a justificar os créditos que lhe eram atribuídos, não vimos uma equipa do Estoril de grande competência, nem nunca vimos um jogo que levantasse grandes dificuldades ao Benfica. 

O que vimos é aquilo que temos visto - uma equipa do Benfica incompetente, a criar a si própria as dificuldades que o adversário não lhe coloca. Se é um adversário que se fecha lá atrás, o problema é que só defende e o Benfica não consegue criar espaços para o desequilibrar. Se, pelo contrário, como fez o Estoril, o adversário joga no campo todo, o Benfica não consegue atacar os espaços que ficam livres. Este Benfica é preso por ter cão, e preso por não ter cão. É sempre preso!

Na verdade nunca, em nenhum momento do jogo, vmos que fosse um jogo difícil. Para que fosse ainda mais fácil, o Benfica marcou logo a abrir o jogo. De canto, por Lucas Veríssimo, ainda não estava esgotado o segundo minuto de jogo. Tudo fácil!

As dificuldades começaram a ser criadas pela própria equipa, logo de imediato. Com aquele futebol do costume, de passo para trás e para o lado, de jogo morno e adormecido, a deixar passar o tempo. A atacar o relógio, em vez de atacar o jogo. 

Com um adversário inofensivo, espalhado pelo campo mas sem chegar à baliza de Vlachodimos, o Benfica ia trocando a bola sem sair do mesmo sítio, com os jogadores parados à espera que a bola lhe chegasse aos pés. Sem um rasgo, sem uma desmarcação, sem nunca atacar o espaço. Sem dinâmica colectiva, como onze jogadores que se encontram por acaso para um jogo de futebol. Como se durante a semana não tivessem horas de treino diário pela mão do mais caro treinador de sempre em Portugal. E um dos mais caros do mundo. Este é o take 1 do filme. 

No take 2, os avançados pressionavam a saída de bola do Estoril, mas os médios ficavam vinte ou trinta metros mais atrás. Eram presa fácil para os defesas do Estoril, que depois batiam a bola na frente, sobrevoando o meio campo, onde encontravam os seus avançados em igualdade numérica com a defesa encarnada. Que normalmente ganhava a primeira bola, sobrando depois a segunda para o meio campo estorilista. Que depois a perdia por não saber muito bem o que fazer com ela.

Nos intervalos era Rafa, como sempre tem sido, o úníco a procurar desequilibrar, romper com a bola e dar uma sapatada naquela dormência. Mas Rafa não dá para tudo, mesmo que às vezes até pareça que dá. Não pode atacar uns espaços, descobrir outros, criar e finalizar. Nem ele nem ninguém.

Depois vem o take 3, dedicado às substituições. Aí, o realizador tem a tarefa simplificada. Mas só em metade. Há cinco substituições para fazer, e escolher os cinco que saem é muito fácil. Se há oito ou nove que não estão lá a fazer nada, é muito fácil acertar em cinco. Aí Jorge Jesus acerta sempre. Já só tem para errar nas escolhas para entrar, mesmo que aí também se perceba, por tudo o que tem feito até aqui, que não tem muito por onde acertar. Estão todos fora de forma, e em miserável condição mental.

Pizzi e Rafa não podem jogar juntos, garante o mestre. Não defendem. Mas, Rafa com Everton, já pode ser. Então entra o Everton. E quando chegar a vez de Pizzi entrar tem de sair o Rafa. Mesmo que continue a ser o único que justifica estar em campo. Mesmo que tenha acabado de criar mais uma das poucas situações de possível golo.

É este o filme que vi. Um filme que se repete a cada jogo, sem uma surpresa, nem um momento de suspense. É sempre o mesmo, só muda o nome. Este poderia chamar-se "quem com ferros mata, com ferros morre". Ao segundo minuto do início marcou, de canto, por um central. Ao segundo minuto do fim, sofreu o golo do empate, por um central. Pelo meio, simplesmente medonho. No fim, só o estrondo da queda de primeiro para terceiro. Quedas com estrondo é tudo o que pode ser anunciado nos próximos números desta saga de terror que Jesus criou especialmente para o Benfica!

 

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