Solta um, passando os olhos pela revista: "Os portugueses são dos que mais mentem sobre as férias. Um estudo concluiu que 31% dos portugueses mente sobre as suas férias. No estudo começaram por perguntar aos entrevistados se tinham mentido sobre qualquer aspecto das suas férias e, logo aí, 60% respondeu que sim".
Apressa-se o outro: "E os autores do estudo acreditam nas respostas" ...
Os estudos servem normalmente para isso mesmo, para nos dizerem aquilo que já sabemos. O estudo hoje - nem de propósito, em dia de debate do Estado da Nação - promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e coordenado por Augusto Mateus, conclui que o nível de vida dos portugueses recuou 25 anos, que Portugal tem a taxa de população emigrada mais alta da União Europeia, ou que o emprego é hoje dos mais precários da Europa.
Nestas "Três Décadas de Portugal Europeu" começamos por nos aproximar dos níveis de vida da média europeia, mas em 2013 já estávamos 25% abaixo dessa média. O mais grave é que, mesmo assim, isso foi à custa do endividamento das famílias que, com a adesão ao euro, passou de 35% para 118% do seu rendimento disponível, período em que o aumento do peso da dívida no rendimento das famílias portuguesas foi superior a 50 pontos percentuais, cerca de duas vezes mais intenso que o padrão europeu.
Nada que não se soubesse, é certo. Mas que é bom que se saiba assim, desta forma. Preto no branco. Num estudo mesmo...
Ao passar os olhos pelas notícias dparei-me com um título irresistível, daqueles que obrigam a abrir e vasculhar: "E o político em que os portugueses mais confiam é..."
Desvendo já: Marcelo Rebelo de Sousa!
Ninguém ficaria muito surpreendido se os portugueses o achassem o mais inteligente. Ou o mais perspicaz. Ou o mais popular. Ou o mesmo político que mais admiram. Mas... em quem mais confiam?
O estudo - diz ainda a notícia - revela também que "no geral, 96% não confia nos políticos e 83% não confia no atual Governo de Passos Coelho". Nem nos sindicatos (81%), no sistema judicial (73%), nos bancos (72%) e na União Europeia (71%).
Ao contrário da escolha de Marcelo Rebelo de Sousa (mesmo que apenas com um resultado de 14%) estes resultados não surpreendem. Todos temos a ideia que os portugueses não confiam nas instituições e que o país atravessa uma crise institucional e de regime ainda mais grave que a económica.
A notícia refere-se ao estudo Marcas de Confiança, realizado anualmente pelas Seleções do Reader’s Digest, que anda há 14 anos a tentar dar-lhe a sua marca de confiança. Que, como se pode ver na fotografia não engana ninguém: "votado pelos leitores". Assim á maneira das aldrabices dos televotos que os operadores de tv descobriram para esconder que querem apenas ganhar dinheiro.
Já a notícia sim. É enganadora. Só no fim, mesmo no fim, informa que "o estudo teve por base 12 mil assinantes da revista Reader’s Digest".
E eu que até estava a gostar... Sempre era um estudo confirmar uma ideia empírica bem enraizada na minha cabeça... Não foi o estudo que me decepcionou. Foi a notícia!
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