Num Wembley arrepiante disputaram a final a selecção com o melhor futebol e a selecção com os melhores jogadores. Selecções, não equipas. Porque, no caso particular da Inglaterra, nem sempre teve os melhores jogadores na equipa. Arrepainte pelo ambiente, e arrepiante pela lotação esgotada por uma multidão alheia ao período pandémico que continua a marcar - e de que forma - a humanidade. Sem uma máscara... Nas imagens não vimos mais que meia dúzia de italianos, uma ínfima parte dos espectadores presente, com essa protecção. Entre os mais de 60 mil ingleses, nem uma.
O jogo iniciou-se com o golo da Inglaterra, ainda antes de concluído o segundo minuto. Muito cedo, ainda sem se ter percebido no que daria o jogo. No entanto em circunstâncias de jogo que se repetiriam com grande frequência durante toda a primeira parte, e por isso a revelar que não foi por acaso. Vale pena resumir a jogada, porque ela tem tudo do que estava preparado para o jogo. Nasce de um canto a favor dos italianos, provocado pela pressão alta da selecção com o melhor futebol. A defesa inglesa interceptou a bola, que sobrou para Shaw, no lado esquerdo, para a entregar a Kane, no meio do seu meu campo. Que a lançou para Trippier corria desalmadamente pela ala direita, para cruzar de primeira para o lado contrário, onde surgiu Shaw, sozinho, a rematar para o golo, com os defesas italianos no centro da área a marcar três jogadores ingleses que serviram de engodo.
Este lance marcou a final. As coisas tinham corrido de forma perfeita a Southgate logo à primeira. Os ingleses passaram a dominar o jogo, mas com o problema de fazerem disso o objectivo do jogo. Pretendiam dominar o jogo apemas para isso, nada mais. E a verdade é que, mesmo dominada, foi a Itália a única equipa a construir ocasiões que poderiam cabar em golo. Apenas duas, é certo, mas as únicas.
Na segunda parte Mancini mexeu na equipa. E bem. A Itália não tem um 9. Tinha um em campo, mas não dá para aquele futebol. Immobile, não dá. E, no banco, outro - Belloti - pior ainda. Por isso tirou o que tinha em campo e jogou sem nenhum.
Os ingleses mantinham que era boa ideia defender o golo madrugador de Shaw - o mais madrugador da História das finais do Camepontao da Europa, e o primeiro deste lateral esquerdo na selecção. Enquanto ia fazendo isso a Itália crescia, e cresceu tanto que quando os ingleses deram por isso era já demasiado grande. As oportunidades de golo apareciam apenas na baliza inglesa. E à terceira o golo acabou por aparecer, a meio da segunda parte. E logo a seguir só não apareceu outro porque não calhou.
E ficou assim até ao fim dos 90 minutos, seguindo-se o prolongamento, naquilo que foi a regra neste europeu. Nunca a competição tivera tantos jogos com prolongamento. E com decisões nos pontapés de penalti, pois apenas dois jogos ficaram resolvidos no prolongamento.
Southgate continuou fiel à sua estranha ideia de manter de fora os melhores. Depois do empate ainda recorreu a um - Grealish, sempre a sua primeira opção- e isso notou-se logo. Parece até ironia, mas os deuses não dormem, e até Sterling estava até a fazer o seu pior jogo. Mais irónico ainda, guardou para o minuto 119 a entrada de Reshford e Sancho. Para os penaltis. E ambos os falharam!
Os deuses do futebol penalizaram, e bem, Southgate. E premiaram, e bem, Mancini. Basta ver que Donnarumma, designado como o melhor jogador da competição, não fez uma defesa durante 120 minutos. Do outro lado, Pickford, teve muito mais trabalho, e de muito maior exigência. E negou o golo até por duas vezes.
Penaltis à parte, mesmo que até aí o guarda-redes inglês tenha feiro a sua parte, ao defender um deles. Porque aí, Donnarumma voltou a ser gigante.
Fica bem entregue a Taça de que Éder - lembram-se? - hoje se despediu em Wembley, para deixar nas mãos de Chiellini.
Não sei se os ingleses ainda querem que amanhã seja feriado. Mas desconfio que não queiram saber para nada que Southgate tenha trazido outro futebol à selecção inglesa. Pena que o tenha traído ao pensar que era assim que ganhava, provavelmente iludido por Fernado Santos.
Foi um dia sem surpresas. Sem surpresa a notícia (do dia) da detenção de Luís Filipe Vieira, e sem surpresa o apuramento da selecção inglesa para a final do Europeu, no próximo domingo, com a Itália.
Sem surpresa porque era favorita perante a sensacional selecção dinamarquesa. Uma grande equipa, e uma grande selecção. Quando se fala em cair de pé, é o que se tem de dizer destes dinamarqueses.
Foi um grande jogo, mais um numa competição de grandes espectáculos de futebol. Com mais um grande golo, o da Dinamarca e primeiro do jogo, o único de livre directo até agora, que já só falta a final. As equipas foram alternando no comando do jogo, sempre altamente competitivo e disputado em alta intensidade.E por isso muito equilibrado.
A Dinamarca marcou aos 30 minutos, no tal livre directo soberbamente cobrado pelo espectacular Damsgaard, um miúdo de 21 anos que este Europeu mostrou ser grande. E não se podia dizer que os dinamarqueses não mereciam esse golo, e a vantagem. Que não durou muito, menos de 10 minutos. A Inglaterra empatou com mais um auto-golo, o 11º da prova. Este daqueles inevitáveis, Kjaer apenas tentou evitar e inevitável. Que como se sabe ... é impossível. Também não se poderia dizer que os ingleses não merecessem esse golo, até porque, pouco antes Schmeichel - verdadeiramente sensacional durante todo o jogo, a acrescentar lenda ao apelido, já dela bem recheado - o tinha evitado.
Na segunda parte o jogo não se alterou muito. A Inglaterra tinha alguma supremacia, mas a Dinamarca soube sempre responder à altura, mesmo sem que alguns dos jogadores que mais se têm destacado tenham tido oportunidade para de sobressair. Foi sempre mais a equipa, que os jogadores, mas passou a ser menos boa quando o seleccionador dinamarquês começou a tirar os melhores. Desde logo Damsgaard. Até porque Joakin Maehle nunca esteve ao nível que tem mostrado, facto a que não é alheia a atenção especial que Southgate pediu aos seus jogadores para aquele flanco esquerdo dinamarquês, que foi notória.
O seleccionador inglês dispõe do melhor lote de jogadores deste europeu, e por isso mais pena deu ver que, para garantir mais alguma criatividade à equipa - apenas Sterling não chega - tem de recuar Kane, quando no banco estão Folden, Grealish e Redford, talento de primeira água. Desperdiçar talento é das coisas mais feias em futebol, mas mais vale tê-lo no banco, como acontece na selecção inglesa, do que desperdiçá-lo em campo, como sucede na portuguesa.
É curioso que o esquema táctico da equipa inglesa seja invariavelmente apresentado em 4x2x3x1. O 1 da frente é Kane. Que mentira! Para a equipa jogar, o Kane nunca pode lá estar à frente. E não está!
Com a Dinamarca a perder qualidade com as substituições, Southgate ao fazê-las só podia ganhar. Começou por fazer entrar Grealish, e notou-se logo. Mas não deu para evitar o prolongamento. E aí entrou Foden, e a partir de então sim, a Inglaterra tomou decisivamente conta do jogo. Mas...
Mas Schmeichel ia chegando para as encomendas, e os ingleses passaram mais a jogar para o penalti - não para os penaltis - do que para o golo. E com Grealish, mas especialmente com Sterling, até é fácil. E foi o que aconteceu, mesmo que a mim me pareça que nunca houve penalti. Mas o árbitro - o tal que não viu a bola de Cristiano Ronaldo meio metro dentro da baliza na Sérvia - viu. E o VAR também, tanto que até viu outro, que não o mesmo. O que deu no mesmo!
No último minuto da primeira parte do prolongamento. Kane marcou, e Schemeichel, que defendeu tudo, defendeu-o. Mas com azar - a bola sobrou direitinha de novo para o pé do inglês fazer finalmente o golo do apuramento inglês. Merecido, mas provavelmente, como na tal marca de cerveja dinamarquesa, falso!
Na segunda parte do prolongamento já não houve jogo. O seleccionador inglês tinha talento mais - para o seu gosto - em campo, e não teve pudor em tirar Grealish para entrar mais um defesa, Trippier. E montou um muro à frente da área, de todo intransponível para uma equipa dinamarquesa já de rastos.
A Itália vai estar na final de Wembley para discutir o título de campeão europeu, para encontrar a selecção que sucederá à portuguesa, que ainda assim é a segunda selecção que durante mais tempo foi detentora do título. Mais uma ano que qualquer outro campeão. Para fazer melhor, a Espanha teve de ganhar dois europeus consecutivos; a Portugal bastou-lhe que este Euro 2020 se realizasse em ... 2021.
Pelo que Espanha e Itália fizeram na competição, e mais ainda se contarmos com a fase de qualificação, os transalpinos merecem estar na final. Por este jogo de hoje, talvez nem tanto. Hoje a Espanha foi melhor que a Itália durante mais tempo, qualquer que seja a perspectiva com que se olhe para o jogo.
Um jogo que começou de forma verdadeiramente sensacional, e a prometer mais do que acabou por dar. O início dos jogos, e especialmente destes, decisivos, normalmente as equipas adoptam uma estratégia expectante, assim a modos de quem está à espera de ver o que aquilo dá. Os entendidos chamam-lhe mesmo "período de estudo mútuo".
Hoje não houve nada disso. Não havia nada para estudar, tinham feitos os trabalhos de casa. Pareceu que mais por culpa dos italianos, que entraram no jogo a todo o gás, como que a dizer que vinham convencidos que eram os melhores, e que tinham os galões de melhor equipa do torneio para puxar. Pressão alta, e a tratar dos espaços como sabem fazer como poucos.
Os espanhóis não pareceram muito surpreendidos com o feito - lá está, trabalho de casa! - e muito menos atemorizados. Pelo contrário, puxaram do seu futebol, o tal de que já aqui falamos, de "muita parra e pouca uva" . E fizeram muito bem, porque esse futebol desta vez tinha muito para lhe dar. Desde logo, e não era o menos, era mesmo decisivo, tirava a bola aos italianos. E sem bola, nem os italianos jogam, por muito que bem saibam jogar sem ela.
E foi isto toda a primeira parte, o que não quer dizer que tenha sido desinteressante. Não foi, mesmo que também não tenha dado para cumprir as promessas dos minutos iniciais. E ia sendo assim pelo tempo fora, sempre a deixar no ar que os espanhóis não tiravam uvas debaixo daquela parra, e que os italianos haveriam de encontrar ali maneira de chegarem eles às uvas. Ou através de um contra-ataque ou, sabe-se lá se não lhes passou pela cabeça, através de um bónus de Unai Simón, que é um mais vezes um susto que um guarda-redes. Se passou, não estavam de todo enganados. A sua parte não ficou por fazer.
Quando, chegada a hora de jogo, Chiesa marcou mais um grande golo deste campeonato europeu, pensou-se que .. já estava. O inevitável não se pode evitar. É assim por definição!
O golo confirmou todas as expectativas. Até na forma como foi construído - Donaruma recebe a bola de um ataque espanhol, coloca-a rapidamente a rolar aos pés de Chielini ali à saída da área, um passe longo seguido de um segundo, e bola em Chiesa, para uma execução daquelas de que se fazem os grandes golos.
E os minutos que se seguiram foram de uma equipa italiana em controlo absoluto do jogo. Foram 20 minutos, que somados aos primeiros sete ou oito, no arranque da partida, perfazem o tempo em que a Itália foi melhor que a Espanha neste jogo. Esses 20 minutos acabaram quando a selecção espanhola recuperou uma bola no meio campo italiano e "engatou" uma bela jogada de bola, concluída por Morata, acabado de entrar, numa tabelinha perfeita com Dani Olmo, um jogador que aqui há uns anos, num jogo para a Liga Europa entre o Dínamo de Zagreb e o Benfica, era ainda uma criança, deixou toda a gente impressionada. Mas parece que só os tipos do Leipzig é que repararam nele.
Faltavam 10 minutos para o fim do jogo, e a Espanha voltou a estar melhor. E melhor continuou na primeira parte do prolongamento, não tanto na segunda, quando toda a gente passou a pensar nos penaltis. Que os espanhóis estavam fartos de treinar na competição. Mas sem grandes resultados, mesmo que tivesse sido assim que tinham eliminados a Suíça.
De resto nem foi muito diferente o que se passou desta vez. Só que ao contrário. Também a Itália desperdiçou o primeiro, com defesa de Unai Simón. E a Espanha marcou o seu primeiro, e passou para a frente. O pior veio depois, com os dois da tabelinha do golo a desperdiçarem sucessivamente, deixando ao italo-brasileiro Jorginho a ocasião de arrumar o assunto. Superiormente, com uma classe tremenda!
Os quartos de final também já lá vão. Hoje foi dia de conhecer os dois restantes semi-finalistas.
Em Baku, a Dinamarca confirmou a sua boa carreira neste Europeu, depois de estabilizar as emoções fortes do seu primeiro jogo, há precisamente três semanas. Tem o futebol mais estruturado das selecções nórdicas, aliando o tradicional poderio físico do futebol desta região europeia ao perfume do futebol latino, com executantes de muito bom nível técnico.
Entrou bem no jogo, e marcou muito cedo, logo aos cinco minutos, por Delaney, na sequência de um canto, com os defesas checos (ou chéquios?) a preocuparem-se com as torres da defesa dinamarquesa, e a deixarem aquele médio solto.
Este golo obrigou a equipa da Chéquia (!) a subir à procura do empate, deixando espaços para os dinamarqueses aproveitarem em contra-ataque. Assim fizeram, e assim foram criando as melhores oportunidades do jogo, até marcarem o segundo, já perto do intervalo, por Dolberg, depois de mais uma assistência do seu lateral esquerdo, o excelente Joakin Mahele, que não me tenho cansado de aqui elogiar.
O 2-0 ao intervalo parecia ter arrumado com a questão. Mas não. Ao intervalo o seleccionador checo mexeu na equipa, e a entrada na segunda parte foi simplesmente arrasadora. Nos primeiros três minutos criaram três grandes oportunidades para marcar, sempre negadas pelo também excelente Schemeichel, e marcaram mesmo. Por Schick, novamente com classe, que assim igualou Cristiano Ronaldo no topo da lista dos marcadores da prova. E sem penaltis.
O jogo estava aberto, e o resultado longe de parecer fechado. Mas estava. O seleccionador dinamarquês não estava a dormir, e reagiu rapidamente. Mexeu no meio campo e em pouco tempo abafou aquela entrada diabólica dos checos, fazendo o jogo regressar aos dados da primeira parte. Ou seja, voltando a sair com frequência, e com perigo, para o contra-ataque. E voltaram a pertencer-lhe as melhores oportunidades para golo.
Nos últimos minutos os checos apostaram no futebol directo, à procura desesperadamente do empate. E a verdade é que poderiam lá ter chegado, mesmo sem a qualidade do futebol dos dinamarqueses. Que não terão agora tarefa fácil em Wembley. Mas não se pode exigir mais aos dinamarqueses do que aquilo que já fizeram.
Em Roma, a Inglaterra fez hoje o seu único jogo fora do conforto do lar. Mas não sentiu qualquer desconforto, nem deu tempo para isso. Marcou logo aos 4 minutos (grande jogada, com assistência soberba de Starling - provavelmente o melhor jogador deste Europeu, e conclusão de Kane, como só ele sabe), e matou à nascença a estratégia de Sevchenko, que os três primeiros minutos tinham deixado clara: entregar toda a iniciativa de jogo aos ingleses, e defender em bloco baixo. Esperar por eles lá atrás.
Aquele golo deitou essa estratégia por terra, tiveram de ser os ucranianos a fazer pela vida, e conforto maior não podiam os ingleses sentir. E gozaram desse conforto durante toda a primeira parte, jogando a seu bel-prazer.
A entrada para a segunda parte foi uma catástrofe para a selecção da Ucrânia. Na bola de saída um jogador ucraniano faz falta sobre Cane (pisadela), e o livre acabou em golo, de Maguire. Estavam passados 11 segundos. E menos de 5 minutos depois já Kane bisava (abriu o ketchup, e já é, mesmo que apenas com três golos, o principal candidato a destronar Ronaldo … e Schik), noutro belo golo, agora de cabeça. E dez minutos depois, na primeira vez que tocou na bola - mais uma bola parada, agora num canto - Henderson marcou o seu primeiro golo pela selecção inglesa, e deu ao resultado a expressão mais desnivelada deste Europeu, igualando o feito da Dinamarca, nos oitavos de final, com Gales.
Foi pesado para a Ucrânia? Claro que foi, e não merecia tão pesado castigo. Mas quando tudo corre mal, e sai ao contrário do que está no guião, em futebol é assim que acontece. Agora a Inglaterra regressa ao conforto de Wembley, e ninguém poderá deixar de a considerar a principal candidata a suceder à selecção portuguesa, e a conquistar o seu primeiro título europeu. Como aconteceu há 55 anos com o seu único título mundial.
Itália e Bélgica discutiram em Munique o acesso às meias-finais, no mais entusiasmante jogo destes quartos de final.
A Itália confirmou todos os créditos que tem vindo a conquistar nesta competição, com o seu futebol de autor, e com assinatura. Confesso que, tendo sido grande admirador do futebolista Mancini, o treinador Mancini nunca me tinha entusiasmado. Até aqui!
O que Mancini fez do futebol da squadra azurri é deveras impressionante. É sem dúvida o grande futebol deste Europeu!
Os italianos começaram logo por impor o seu futebol de campo todo, ora de pressão em todos os metros quadrados, ora de colocação milimétrica a anular linhas de passe ao adversário. De ocupação de espaços, de circulação, da bola e dos jogadores, e de exploração dos espaços do adversário, tudo isto numa dinâmica de jogo absolutamente única neste Europeu.
Não obstante tudo isso foram dos belgas, em transições rápidas a criar as duas primeiras, e as melhores oportunidades para marcar. Duas, ambas negadas por Donaruma, provavelmente, aos 22 anos (parece um veterano, não é?), o melhor guarda-redes do mundo, mesmo que ainda no primeiro quarto de hora de jogo Bonucci tenha feito entrar a bola na baliza de Courtois, depois anulado por fora de jogo.
Quando à passagem da meia hora Barella fez o primeiro golo, numa excelente execução, rodeado de adversários, apenas aconteceu a coisa mais natural deste mundo. E quando, pouco mais de 10 minutos depois, Insigne executou mais uma obra de arte para a galeria deste Europeu, aconteceu exactamente o mesmo.
A equipa belga estava encostada às cordas, e a superioridade italiana era demasiado flagrante. Só que … Há sempre um que. Em cima do intervalo o lateral direito italiano, Di Lorenzo, cometeu penalti - afastou com o braço, dentro da área, o endiabrado Doku, hoje o melhor dos belgas - e Lukaku reduziu para o 2-1, que faria o resultado final.
Com este golo a Bélgica foi para o intervalo com condições de discutir o resultado, coisa que antes não era fácil de imaginar. No regresso para a segunda percebeu-se que os belgas até poderiam ter condições de discutir o resultado, de discutir o jogo é que parecia que não. Os italianos continuaram a mandar no jogo, e a espalhar futebol pelo relvado, com os belgas incapazes de contrariar tamanha superioridade, até porque De Bruyne, ao contrário de Eden Hazard, havia sido recuperado para o jogo sem que nunca parecesse recuperado. Menos ainda à medida que o tempo ia passando.
Só que … Desta vez é diferente. Mas a verdade é que nos vinte minutos finais - mais com o coração. é certo, mas o jogo também se faz de alma e de querer - a Bélgica virou o rumo do jogo. E poderia até ter chegado ao empate. Só não chegou porque Spinazzola conseguiu, só porque estava ali, desviar uma bola tocada por Lukaku - que assim igualaria Cristiano Ronaldo - a centímetros da baliza (na foto).
Spinazzola. o melhor lateral esquerdo deste europeu - se bem que com muitos rivais, esta é a posição em que mais jogadores se distinguiram nesta competição - evitou este golo e, logo a seguir, esteve na última oportunidade de golo da Itália, que poderia ter fechado o jogo, antes de se lesionar, com aparente gravidade, e abandonar o campo e certamente a prova. Vai ser uma baixa de relevo na equipa de Mancini para o que resta do Europeu.
E o que resta à Itália dificilmente se reduzirá ao próximo jogo. Ficará ainda a faltar provavelmente o da final, com a Inglaterra. Provavelmente … o tal slogan da tal cerveja dinamarquesa.
Em S. Petresburgo Espanha e Suíça abriram os jogos dos quartos de final. Depois da surpreendente eliminação da França, e apesar disso, a Suíça não parecia ter grandes possibilidades de impedir a presença da Espanha nas meias-finais. E no entanto esteve tão perto disso…
Os espanhóis apresentaram-se com o seu futebol habitual, certinho, a fazerem tudo bem feito. E cedo chegaram ao golo, que tem sido sempre a sua maior dificuldade. E ainda por cima com sorte, a bola rematada por Jordi Alba não entraria na baliza se não tivesse para lá sido encaminhada pelo defesa suíço, Denis Zakaria, a fazer o décimo auto-golo deste Europeu. Um recorde!
Tomaram conta do jogo, com o seu futebol tipo relógio … suíço. Os suíços não tinham relógio, nem bola, que era o que mais lhe importaria. Corriam atrás dela e dos jogadores espanhóis, que não a largavam.
Mas também não voltariam a marcar, nem sequer a criar grandes situações para isso. É que este relógio suíço em que se transformou o futebol desta Espanha de Luís Henrique, é mesmo isso. Certinho, sempre no mesmo tic-tac - não confundir com tiki taka, que isso era outra coisa, que Xavi e Iniesta levaram quando se retiraram - monocórdico e inconsequente. Falta-lhe rasgo e velocidade. Principalmente mudanças de velocidade, coisas que partam a louça toda, que provoquem distúrbios na organização das equipas adversárias.
E assim é relativamente fácil aos adversários resistirem àquele futebol, e depois aproveitarem um erro qualquer - há sempre erros a acontecerem, mesmo que sejam poucos - para lhes trocarem as voltas ao resultado. Tem sido demasiado assim nesta competição, onde os espanhóis apenas ganharam um jogo no tempo regulamentar, e foi à Eslováquia.
Hoje voltou a ser assim, e uma hora depois de terem sofrido o golo que marcaram na própria baliza, os helvéticos empataram. Desta vez não foi o guarda-redes, foram os dois centrais: Laporte e Pau Torres foram ambos à mesma bola, um cortou-a contra o outro e ela sobrou para Shaquiri fazer o golo.
Ia a segunda parte a meio, os espanhóis tinham ainda muito tempo para voltar a acertar o relógio do resultado. Não seria muito difícil, e menos ainda porque poucos minutos depois, Freuler, o possante centro campista suíço, que era um dos que mais corria atrás da bola e dos espanhóis, foi expulso. Nem assim, com um a menos, as coisas passaram a ser mais difíceis para os suíços. Porque a roja jogava exactamente da mesma forma certinha, rodando o jogo, circulando a bola, mas sempre ao mesmo ritmo, à mesma velocidade.
Os jogadores da Suíça não saíam da sua área, nem precisavam. Bastava-lhes esperar lá pela bola, e voltar a entregá-la para voltar a esperar por ela. E assim sucessivamente. Durante os vinte minutos finais da partida e os mais os trinta e tal do prolongamento. Quando assim não era, lá estava Sommer, certamente um dos melhores guarda-redes deste Europeu.
E lá vieram os penaltis, com tudo para correr mal à Espanha. Tinha falhado todos - e já tinham sido muitos - os que tivera para marcar. E do outro lado estava um guarda-redes super inspirado e moralizado pela excelente exibição que acabara de fazer. E jogadores que tinham eliminado a França dessa maneira, convertendo cinco em cinco.
Para que a tempestade fosse perfeita, chamado a marcar o primeiro penalti, Busquets falhou, atirou ao poste. E Granavovic. logo a seguir, marcou o primeiro da Suíça. Só que foi o único a acetar nas redes. Até deu para Rodri voltar a falhar, e a Espanha apurar-se convertendo apenas três pontapés!
E a verdade é que a Espanha chega às meias-finais sem convencer ninguém. Mas lá está, e o importante é lá estar. Sem lá chegar não se chega a lado nenhum!
Caiu o pano sobre os oitavos de final do Euro, em palcos britânicos. Em Wembley a Inglaterra eliminou a Alemanha. Mas a norte, em Hampden Park, a Ucrânia fez o mesmo à Suécia.
Agora vêm aí os quartos de final, onde não chegou ninguém do chamado grupo da morte. o tal que juntava os dois últimos campeões do mundo e o campeão europeu. E o único que não tem representação nos quartos de final, todos os restantes, fraquinhos, lá têm alguém. E alguns até têm dois, como são os casos da Bélgica e da Dinamarca, e da Inglaterra e da Chéquia, como agora se chama a pátria dos checos.
Dos três campeões do grupo da morte nenhum se ficou a rir, foram todos para casa à primeira. E não ganharam mais que um único jogo cada um.
O jogo na Escócia foi pouco, ou mesmo nada, interessante. Suécia e Ucrãnia deram um pobre espectáculo. E ainda por cima se arrastou por mais 30 e muitos minutos - tantas paragens teve - de prolongamento. O resultado (1-1) no final dos 90 minutos veio da primeira parte. Marcou primeiro a Ucrânia, por Zinchenco, pouco depois do meio da primeira parte, um tanto ou quanto contra a corrente do jogo. Empatou a Suécia, já em cima do intervalo, por Forseberg, o médio goleador dos escandinavos.
A segunda parte só teve uns breves minutos de algum frisson, ali por volta do meio, com três bolas nos ferros, uma para a Ucrânia, primeiro, e logo depois duas para a Suécia, pelo inevitável Forsberg. E mais uma boa oportunidade pelo fantástico, mas intermitente, Isak. Tudo o resto foi um arrastar do jogo para o prolongamento, e deste para os penaltis.
Aos 7 minutos do prolongamento a Suécia ficou reduzida a 10, por expulsão (vermelho directo, após intervenção do VAR) do central Danielson. A Ucrânia não tirou grande proveito disso, até porque praticamente não houve jogo durante o penoso prolongamento. Pareceu até que que os jogadores só pensaram em jogar alguma coisa quando acreditaram que já nada impediria o recurso aos penaltis. O que viria a ser fatal para os suecos, já que no período de compensação - 4 minutos, mas não haveria minutos que compensassem todas as paragens - permitiram que a bola fosse jogada, e chegasse à cabeça Dovbyk, para marcar no coração da área.
E lá está a Ucrânia nos quartos de final, para surpresa de toda a gente. Até deles próprios.
Bem diferente foi o jogo de Wembley. Um grande jogo, muito agradável à vista, e de uma riqueza e de uma espectacularidade táctica fora do comum. Ingleses e alemães mostraram muito do que raramente se vê nos jogos de futebol.
A primeira parte foi bastante equilibrada, com o jogo muito dividido, mas também muito disputado. E sempre tacticamente muito bem jogado. A Alemanha superiorizou-se na segunda parte, com o seu futebol de régua e esquadro, e de gestão de espaços - ora procurando-os, ora ocupando-os. Só que a Alemanha tem quase tudo, mas não tem Sterling. Nem Harry Kane, que pode andar um jogo todo desaparecido, mas sempre aparece.
Aos 70 minutos Southgate lançou Jack Grealish, e mudou o jogo. Cinco minutos depois esteve na excelente jogada em que Shaw assistiu Sterling para o 1-0. Dez minutos depois, numa cópia perfeita da anterior, assistiu Kane, para uma grande execução de cabeça. Pelo meio, Muller falhou um golo cantado, que daria o empate. Mas não deu, e a Alemanha, a quem Fernando Santos tinha garantido vencer na final, também caiu à primeira.
O terceiro dia dos oitavos foi memorável, com dois grandes jogos. Com tudo o que de melhor há a esperar de um espectáculo de futebol. Com muitos golos, que é aquilo que sempre mais se espera de um grande jogo, com reviravoltas no marcador, e muitas surpresas. A maior, claro, a eliminação do campeão do mundo, a super-favorita França..
A jornada começou em Copenhaga, no Parken Stadium, com um emocionante Croácia - Espanha com oito golos. A história deste jogo começa aos 20 minutos, quando o miúdo Pedri, aos 18 anos um craque da cabeça aos pés, atrasou a bola para o seu guarda-redes que ... deixou-a passar por baixo do pé para dentro da baliza.
Foi o primeiro grão de areia na engrenagem da máquina do futebol espanhol, uma máquina muito nova, pela primeira vez sem uma peça do Real Madrid, mas que não engana. É fiável, como já são as máquinas espanholas. Talvez pela juventude, a equipa ressentiu-se, e andou um bocadinho por ali atrapalhada. Demorou 20 minutos a chegar ao empate, por Sarabia, com que terminou a primeira parte.
Cedo, ainda antes de se esgotar o primeiro quarto de hora da segunda parte, passou para a frente, com um belo golo de Azpilicueta. Em desvantagem, os croatas vestiram de espanhóis e, armados da fúria espanhola, passaram a discutir o jogo e o resultado palmo a palmo. Estavam por cima do jogo quando, já dentro do último quarto de hora, Ferran Torres fez o terceiro da Espanha.
Um rude golpe, uma machadada, nas aspirações croatas? Qual quê. Nem pensar!
Menos de dez minutos depois reduziram, num golo de Orisic em que a bola se fartou de ser pontapeada até entrar. E entrou mesmo, disse a tecnologia de baliza, porque a olho nu não ficava fácil de ver. Faltavam 5 minutos para os 90, e o seleccionador croata meteu o que tinha e o que não tinha dentro da área dos espanhóis, impedindo-os de se espraiarem pelo campo, e de "matarem" as suas jogadas à nascença. E ao segundo minuto dos 4 ou 5 da compensação, empataram o jogo com um golo de Pasalic (só nomes desconhecidos), e mandaram-no para prolongamento.
Era já uma surpresa, e não apenas uma meia surpresa. O prolongamento permitiu à maquina espanhola retomar, se não o seu normal funcionamento, pelo menos a sua matriz operacional. E ainda na primeira parte do prolongamento, em três minutos fizeram dois golos - aos 100, Morata (finalmente; e que execução!) e aos 103, Oyarzabal, fecharam o resultado de um jogo louco.
E lá está a Espanha, à espera da ... Suíça!
Que noutro jogo fantástico, em Bucareste, com o mesmo resultado - e até com a mesma evolução do marcador - no final dos 90 minutos, e certamente na surpresa maior deste Europeu, eliminou a França.
A Suíça começou bem cedo a surpreender, ao impor-se à super-favorita selecção francesa. Chegou ao golo, por Sefevorivic, numa excelente execução de cabeça, aos 15 minutos, e nunca se deixou inferiorizar no jogo. Ao intervalo vencia, justamente.
Nos 10 minutos iniciais da segunda parte o jogo manteve as mesmas características, não obstante as alterações que Deschamps introduziu na equipa. Sem lateais esquerdos, com Hernandez e Digne lesionados, tinha optado, sem sucesso, pela moda dos três centrais, e na segunda parte achou por bem regressar à defesa a quatro, recuando Rabiot e fazendo entrar Coman.
A melhor oportunidade de golo tinha já pertencido aos helvéticos quando, precisamente aos 10 minutos, Pavard faz penalti. Rodriguez marcou fraco e permitiu a defesa a Lloris, e o que poderia ter sido o 2-0 da machadada final nos campeões do mundo, acabou por virar o jogo. Empolgou os franceses e destruiu a moral e a organização dos suíços. Nos 3 minutos seguintes a França criou a sua melhor oportunidade de golo (Mbappé) e marcoiu dois golos por Benzema.
Estava dada a volta ao marcador, a equipa suíça estava destroçada, e pensava-se que só poderia acontecer o que era inevitável. Mais ainda quando precisamente à entrada do último quarto de hora Pogba fez um dos melhores golos deste Europeu.
Nada disso. A Suíça renasceu das cinzas e, a menos de 10 minutos dos 90, Seferovic voltou a marcar mais um belo golo, de cabeça. Para aos 90, Gavranovic empatar o jogo.
Para que a emoção fosse ainda maior, na compensação Coman atirou à trave, o prolongamento não deu em nada e vieram os penaltis. Ninguém falhou até ao último penalti. O décimo, que Mbappé - veja-se bem - não concretizou, permitindo a defesa de Sommer.
Levou cigarros para um mês. Depois do enxovalho dos alemães, em Munique, apressou-se a dizer que iríamos ganhar na final com a Alemanha. Disse e redisse que era muito difícil a qualquer selecção ganhar a Portugal; em quatro jogos disputados, perdeu dois - metade, nem mais, nem menos. Que era muito difícil marcar golos à selecção portuguesa; em quatro jogos sofreu 7 - quase dois de média por jogo. Só um adversário, apenas a Hungria, não conseguiu marcar; 75% dos adversários marcaram golos.
“Agora é olhar para a frente e ganhar o Mundial” - proclamou ontem Fernando Santos na conferência de imprensa, depois da vitória moral que inventou.
É demasiada charlatanice. Fernando Santos, um homem antes respeitado, está transformado num charlatão. E ninguém está a dar por isso!
Acabou-se o Euro 2020 para a selecção de Portugal!
Em Sevilha, onde era para nos deslocarmos em massa, a despedida portuguesa fez-se de dois jogos O primeiro, nos primeiros 45 minutos, foi de xadrez, tão ao gosto de Fernando Santos. O jogo de xadrez foi muito pouco interessante, aquilo foi pouco mais que trocar peões por peões, sem atar nem desatar. Até que quando aquilo já estava a ser demasiado maçador, a ver-se que não se saía dali, em cima do final veio o cheque-mate da Bélgica.
Terminado o jogo de xadrez teria que se passar ao jogo da bola. Perdido o jogo de xadrez, tinha de se ganhar o jogo da bola. Não seria fácil, até porque dizem os donos do jogo que a selecção belga é a melhor, a número um.
Foi mais interessante o joga da bola que o de xadrez. Mas não foi bem jogado. A selecção nacional está muito virada para o xadrez, e tem alguma dificuldade em jogar à bola, mesmo tendo muita a gente a saber fazê-lo bem. Mas é assim, e já há muito que sabemos que é assim.
Claro que se poderá dizer que não merecíamos ter perdido o jogo de xadrez, e que merecíamos ter ganho o da bola. Naquilo que são as estatísticas demos uma cabazada à Bélgica. Em remates, em remates enquadrados, em cantos… Até em posse de bola. A Bélgica fez apenas um remate à baliza - por acaso, ou talvez não, quando a selecção portuguesa jogava xadrez -, e Portugal até teve um remate ao poste. O que, como se sabe, é muito bom para a catarse nacional - foi azar. Ou, na melhor das hipóteses, foi uma questão de eficácia.
Talvez não tenha sido assim. Talvez tenha sido o castigo merecido para quem prefere o jogo de xadrez ao da bola. Quem aposta tudo no xadrez depois não consegue jogar à bola. Os jogadores desgastam-se a jogar xadrez, e quando querem jogar à bola já não conseguem.
Não. Portugal não jogou bem. Dos 24 remates (Fernando Santos já diz que foram 29) apenas três são dignos desse nome. E jogadas bem construídas, realmente passíveis de acabar em golo … não me lembro. Mas deve ser da minha memória.
Nem vale a pena falar das opções de Fernando Santos. Nem perguntar se João Cancelo não poderia até estar já hoje em condições de jogar, sem termos de levar com o Dalot. Vale a pena é perguntar por quanto mais tempo se vai continuar a desperdiçar o talento da actual geração de jogadores portugueses.
"Isto é futebol", diz Fernando Santos. Não é, não!
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